Discurso durante a 107ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração do Dia do Pescador, celebrado em 29 de junho, e crítica ao Governo devido às dificuldades impostas para a liberação das licenças de pesca da tainha, com ênfase nos trabalhadores de Santa Catarina (SC).

Comemoração do Dia do Caminhoneiro, celebrado em 30 de junho.

Comentários acerca da PEC nº 241/2016, que limita o crescimento do investimento público à inflação do ano anterior, e defesa da priorização das despesas nos ramos de saúde e educação.

Comentários sobre a história política do orador, e defesa da importância da reforma política, com ênfase no fim das coligações partidárias.

Autor
Dário Berger (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Dário Elias Berger
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PESCA E AQUICULTURA:
  • Comemoração do Dia do Pescador, celebrado em 29 de junho, e crítica ao Governo devido às dificuldades impostas para a liberação das licenças de pesca da tainha, com ênfase nos trabalhadores de Santa Catarina (SC).
HOMENAGEM:
  • Comemoração do Dia do Caminhoneiro, celebrado em 30 de junho.
CONSTITUIÇÃO:
  • Comentários acerca da PEC nº 241/2016, que limita o crescimento do investimento público à inflação do ano anterior, e defesa da priorização das despesas nos ramos de saúde e educação.
GOVERNO FEDERAL:
  • Comentários sobre a história política do orador, e defesa da importância da reforma política, com ênfase no fim das coligações partidárias.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Raimundo Lira, Reguffe.
Publicação
Publicação no DSF de 01/07/2016 - Página 33
Assuntos
Outros > PESCA E AQUICULTURA
Outros > HOMENAGEM
Outros > CONSTITUIÇÃO
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, PESCADOR, CRITICA, GOVERNO, MOTIVO, EXCESSO, BUROCRACIA, LIBERAÇÃO, LICENÇA, PESCA, ENFASE, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC).
  • COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, MOTORISTA, CAMINHÃO.
  • COMENTARIO, PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO (PEC), LIMITAÇÃO, GASTOS PUBLICOS, INFLAÇÃO, EXERCICIO FINANCEIRO ANTERIOR, DEFESA, PRIORIDADE, DESPESA, SAUDE, EDUCAÇÃO.
  • COMENTARIO, HISTORIA, ATIVIDADE POLITICA, ORADOR, DEFESA, IMPORTANCIA, REFORMA POLITICA, ENFASE, ERRADICAÇÃO, COLIGAÇÃO PARTIDARIA.

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador José Medeiros, meus cumprimentos a V. Exª.

    O Senador Telmário concluiu o seu pronunciamento uns minutinhos ou segundinhos antes de eu prever que ele ia assim proceder.

    Bem, eu quero ocupar a tribuna nesta quinta-feira, nesta tarde, não para fazer mais uma retórica a respeito da crise, a respeito da inflação, a respeito do juros, a respeito do desemprego, a respeito da taxa Selic. Enfim, eu quero dar hoje um tom mais poético ao meu pronunciamento. E quero começar, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senador Cristovam Buarque, mencionando que redes, barcos, o horizonte, o sol, o mar, a lua, a chuva e os ventos são os cenários e os instrumentos de trabalho de um dos personagens mais importantes das nossas vidas, que é o pescador.

    Ontem, Senador Cristovam Buarque, foi o Dia do Pescador. E ontem, quarta-feira, foi um dia meio atribulado e eu não tive condições de prestar homenagem a esse trabalhador que é quase um artesão, que tanto luta no seu cotidiano contra as adversidades da natureza e também da burocracia humana.

    A pescadores e amigos pescadores não só do litoral da minha Santa Catarina, mas de todo esse extenso litoral brasileiro, as minhas mais sinceras homenagens, mais do que isso, as minhas palmas, mais do que isso ainda, o meu reconhecimento e o meu agradecimento pela dedicação e pelo trabalho que fazem em prol do desenvolvimento de Santa Catarina e do Brasil.

    Mas, Sr. Presidente, não venho a esta tribuna apenas para falar poeticamente dessa profissão milenar. Como Senador, é meu dever expressar a minha indignação, que já trouxe a esta tribuna inúmeras vezes, com as dificuldades pelas liberações das licenças para a pesca da tainha em Santa Catarina e no restante do País.

    A pesca começou no dia 1º de maio, a pesca da tainha, e até agora foram liberadas apenas 40 licenças para todo o País e somente quatro delas para Santa Catarina.

    Isso é inconcebível, Srªs e Srs. Senadores. Pela primeira vez em 70 anos não há barcos industriais catarinenses em busca da pesca da tainha. Muitos barcos e centenas de pescadores continuam parados.

    Há mais de seis meses, venho alertando o Governo sobre essa problemática, e o Governo não fez a sua parte. Lamentavelmente, o Governo não fez a sua parte, mas a Justiça fez a parte que o Governo deveria fazer, porque os pescadores de Santa Cataria entraram com mandado de segurança e, infelizmente ou felizmente para os pescadores, a Justiça fez o trabalho que deveria ser feito pelo Governo Federal.

    Ora, não é possível que os pescadores de Santa Catarina receberam a licença em 2013, receberam a licença em 2014, receberam a licença em 2015, e em 2016, Senador Cristovam Buarque, não receberam a licença. E Santa Catarina é o maior produtor de pescado do Brasil, mas não é simplesmente o maior. É disparadamente o maior produtor de pescado do Brasil.

    Então, essa é uma demonstração de que o País, infelizmente, não funciona, não avança. Ele continua burocrático. As sucessivas alterações dos Ministérios acabam complicando, infelizmente, essa realidade, que é apenas um exemplo do que está acontecendo no Brasil.

    Portanto, fica aqui a minha homenagem ao pescador, mas também a minha indignação e a minha revolta com o tratamento que eles receberam do Governo Federal nesses últimos tempos.

    Hoje é o Dia do Caminhoneiro, e eu quero também aqui registrar minha homenagem aos profissionais que transportam, todos os dias, a riqueza nacional, o progresso e o desenvolvimento do Brasil.

    A profissão de motorista, a profissão de caminhoneiro requer dedicação, sacrifício no seu dia a dia para exercer essa importante profissão. Quero registrar ainda o meu respeito a todos os caminhoneiros do Brasil. Mais do que isso, também o meu reconhecimento a quem quero transmitir um forte abraço: a pessoa do Sr. Elias.

    O Sr. Elias, Senador Cristovam e Senador Reguffe, é o meu pai, que foi caminhoneiro, foi lavrador e foi caminhoneiro. Hoje tem 85 anos, mas ainda está com saúde em dia, está firme. É um dos maiores incentivadores da minha carreira, mas, sobretudo, estou me recordando de que, há 20 e tantos anos, quando resolvi ser candidato, Senador Raimundo Lira, V. Exª que é o nosso Presidente da Comissão Especial de Impeachment, só para concluir o meu pensamento, que eu tenho certeza de que V. Exª vai entender... Eu dizia que há 20 e tantos anos, quando resolvi comunicar ao meu pai que eu iria ser candidato a vereador no Município de São José, na Grande Florianópolis, resumindo a nossa conversa, ele imediatamente me disse assim: meu filho não faça isso, cuide da sua vida, cuide das suas coisas.

    Nessa época, como administrador de empresa que sou, eu já estava bem encaminhado na iniciativa privada e exercia um cargo extremamente relevante e promissor naquele momento. Ele me disse para não enfrentar esse desafio, porque o grande problema do Brasil era o setor público. E olhe que meu pai é um homem de pouco estudo, mas, nem por ele ter pouco estudo, ele não tinha a sabedoria de vinte e tantos anos atrás de que o problema do Brasil era o setor público e hoje o problema do Brasil continua sendo o setor público.

    Veja só, Senador Raimundo Lira, de tudo o que produzimos hoje no Brasil, 50% ou mais, em alguns Estados, em alguns Municípios e até na União, mais de 50% vão para pagar salário de servidor público. Já começa por aí. Faço uma indagação: e os serviços oferecidos pelo setor público hoje? Francamente, são de péssima qualidade.

    Ouvi atentamente o aparte que o Senador Cristovam Buarque fez ao belíssimo pronunciamento do Senador José Medeiros. Ele abordou a questão da vinculação das despesas à inflação do exercício anterior e disse que tem preocupação com a educação, com a qual também tenho preocupação. E eu também sou favorável à vinculação das despesas às metas de inflação ou à inflação propriamente realizada do exercício anterior. Agora, quero fazer uma ressalva, Senador Medeiros, de que existem despesas e despesas. Temos que diferenciar despesas de investimentos.

    Não defendo as despesas em saúde pública ou em educação como despesas de diárias, despesas de veículos, despesas de passagens de avião, enfim, despesas correntes, despesas de manutenção da máquina, de material de expediente, etc. Nós não podemos enquadrar a saúde como uma despesa e vincular necessariamente, objetivamente, seus recursos à inflação do exercício anterior, porque não estamos tratando de papel, não estamos tratando de metas, Senador Raimundo Lira. Estamos tratando, nesse caso, de vidas humanas. E nós não podemos tratar a vida humana meramente como um número, porque não somos números. Nós somos humanos e, como tal, merecemos um tratamento diferenciado nessa questão.

    Feito isso, concedo, com muito prazer, um aparte ao Senador Raimundo Lira, que tem se destacado nesta Casa e, sobretudo agora, tem com a árdua, porém honrosa missão de dirigir os trabalhos da Comissão Especial de Impeachment, que ontem chegou à conclusão de uma primeira fase com a oitiva das testemunhas de acusação da Presidente da República que está afastada.

    O Sr. Raimundo Lira (PMDB - PB) - Meu amigo, Senador Dário Berger, V. Exª abordou assuntos diversos e todos importantes na sua fala, mas o mais importante de todos foi quando V. Exª falou do Sr. Elias, porque me fez lembrar o meu pai, José Augusto Lira, conhecido pelos amigos como Zé Augusto. Meu pai, o início da vida dele foi como comerciante. Em 1946, ele comprou o primeiro caminhão, um Chevrolet que a gente chamava - eu era quase recém-nascido - Chevrolet Cara Branca ou Canela Fina...

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Chevrolet Brasil.

    O Sr. Raimundo Lira (PMDB - PB) - Toda a vida dele foi como comerciante, com uma empresa de ônibus, armazéns, etc. e tal, mas ele sempre foi ligado ao caminhão. Ele sempre teve caminhões para transportar as mercadorias do seu comércio e sempre teve um carinho muito grande por essa atividade. Depois eu me transformei em concessionário da marca Mercedes Benz, na época em que mais de 80% dos caminhões do Brasil eram Mercedes Benz. E a maior clientela da nossa concessionária em Campina Grande e em Goiânia, Goiás, era de caminhoneiros, os clientes mais fiéis, os mais amigos da empresa, os mais ligados e, sobretudo, os melhores pagadores. Na década de 70, quando financiamento bancário era muito difícil, nós financiávamos diretamente pela própria empresa aos caminhoneiros, e nunca tivemos nenhuma dificuldade, nenhuma inadimplência com esses caminhoneiros. Às vezes acontecia algum acidente e a concessionária reformava o carro e financiava o serviço. E os caminhoneiros sempre foram excepcionalmente bons pagadores, corretos e fiéis. Faziam o nome da empresa por onde chegaram. E isso me fez lembrar também os taxistas. Nós tínhamos concessionária de automóveis, Fiat e Volkswagen, e também financiávamos os taxistas. Estes também eram rigorosamente bons pagadores, pessoas corretas, pessoas trabalhadoras, pessoas dedicadas. Isso fez com que a minha vida toda fosse ligada ao trabalho, ao labor, à produção, porque sempre estive cercado dessas pessoas, caminhoneiros, taxistas, enfim, pessoas que constroem no dia a dia o Brasil. Então, quando V. Exª falou no Seu Elias, eu me lembrei do meu pai, José Augusto. E eu acho que é motivo de orgulho para todos nós saber que fomos educados no trabalho, na correção e no amor ao País. Quero, portanto, neste momento em que parabenizo o Seu Elias pelos 85 anos - o meu pai já faleceu; se fosse vivo hoje, teria 106 anos, algo pouco provável -, dizer que foi um homem totalmente voltado ao trabalho, de tal modo que ele, apesar de ter direito àquela época de se aposentar, nunca se aposentou, nunca aceitou receber a aposentaria. E dizia o seguinte: "O homem, quando passa dos 70 anos, se deixa de trabalhar, vira um aposentado.", o que não deixa de ser honroso, uma atividade honrosa, todos os aposentados são pessoas que trabalharam durante a vida. Mas ele tinha esse conceito, ou seja, se a pessoa parava de trabalhar, virava aposentado; se continuava trabalhando, continuava sendo um homem experiente. E devido a esse conceito de experiência é que, até o seu último dia de vida, ele continuou trabalhando, nunca aceitou parar, porque tinha começado a trabalhar aos 10 anos de idade e achava que a coisa mais importante para o homem e para o país é o trabalho. Muito obrigado, Senador.

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB - SC) - Bem, eu agradeço a V. Exª, Senador Raimundo Lira, e incorporo, com muita alegria e até com certa emoção, o aparte de V. Exª.

    Todos nós temos uma origem, e a minha origem foi alicerçada no trabalho, no dia a dia, comendo poeira e amaçando barro, para vencer as barreiras e os obstáculos da vida, que não são pequenos. Sempre tive, no meu pai, uma referência e continuo tendo até hoje. Ele certamente estará - ou está - muito emocionado de eu prestar-lhe, vamos dizer assim, uma singela, mas uma justa homenagem, que teve essa repercussão, inclusive de V. Exª, como também terá do Senador Cristovam Buarque, a quem, com muito prazer, ouvirei em seguida, e também do Senador Reguffe.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Senador Dário, eu hoje fico curioso para saber qual é a opinião que ele tem, o Sr. Elias, sobre o senhor ter entrado na política, porque o senhor disse que ele não foi favorável, como os pais da gente em geral. A minha mãe foi contra, aliás, foi contra não a eu entrar, porque ela também não me viu na primeira eleição, pois morreu naquele ano. O meu pai morreu bem antes. Eles me viram militante estudantil. Viram-me ficar nove anos fora do Brasil. Quando eu voltei, meu pai ainda estava vivo, por algumas semanas. A minha mãe dizia: "Nem advogado, nem político.", o que para ela era a mesma coisa. Eles em geral não querem. E agora, o que eles diriam, no meu caso, no caso do Raimundo, no caso do Reguffe? Lembro quando o pai dele faleceu, eu era professor dele. O que diriam? E o Sr. Elias? Eu não sei. Agora, no seu caso, o que o senhor diria de ter entrado na política? São raras as pessoas que escolhem ou que caem nessa vida. São raras as pessoas, no mundo inteiro. Eu estou falando de seres humanos que, de repente, Senador Raimundo, caminham para uma atividade esquisita, rara, confusa, que ninguém entende, que é a política. Eu não sei o que leva a gente a fazer isso. Só uma psicanálise de cada um para saber o que a gente busca com isso. Entretanto, ao passar a fazer serviço público, por meio da política,...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - ... nós nos dividimos em alguns grupos. E alguns grupos - e a Lava Jato está mostrando - fazem política para se locupletarem, para ganharem dinheiro, para se aproveitarem do Estado, para pegarem propina. Alguns são assim; felizmente, é a minoria, embora eles que aparecem. Outro grupo, bem intencionado, acredita que precisa fazer com que as coisas sociais funcionem para continuar naturalmente. São o que chamo de conservadores, respeitosamente. Outro grupo entra nisso, dizendo: "Eu tenho um sonho para o futuro." E esse futuro não chegará automaticamente, é preciso agir, é preciso estar dentro do processo político. São aqueles que acho que a gente pode chamar de políticos progressistas. Quando a gente olha os progressistas e olha para trás, antes e depois de fazer a sua atividade, aí que vem a avaliação: valeu a pena ou não? Valeu a pena quando a gente compara o resultado de termos mudado o mundo com o resultado do sacrifício que a gente faz e também das compensações - porque isso de dizer que a vida pública, política, só tem sacrifício não é verdade. Não falo salário, porque aqui a maioria de nós, com a competência que tem para chegar aqui, ganharia mais do que aqui.

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB - SC) - Com certeza.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Estou falando os honestos, qualquer um de nós aqui. De mim, não tenho a menor dúvida: seria muito mais. A gente vem aqui por outras razões e até porque já ganha bastante; o salário já é alto, não precisa mais do que isso. Mas, quando a gente compara os sacrifícios com os benefícios pessoais - prestígio, reconhecimento nas ruas, o nome na história -, com o que a gente fez, fica a dúvida. Nesse instante, aqui com o Reguffe, estava conversando, fica uma dúvida se valeu a pena, se conseguiu. Tive a sorte, como o senhor, de passar pelo Executivo; no Executivo, a gente vê mais o que a gente deixou. Quando vou à rua, no Distrito Federal, e vejo, Senador, os carros parando para que as pessoas atravessem, lembro: poxa, isso aí fui eu que consegui organizar, Senador Medeiros! Quando vejo, no mundo inteiro, milhões e milhões recebendo bolsa, seja escola, seja família ou seja um dos 25 nomes que vi recentemente, que se chama bolsa escola em outros países, digo: caramba, valeu a pena, porque bolei isso quando era Reitor, como Professor; escrevi um livro sobre isso, mas, se não tivesse sido governador, ficava no livro, não virava realidade. Nunca me esqueço do maior elogio que considero, como político, de um jornalista que disse: "Cristovam é um cara que leva, para o Diário Oficial, o que ele escreve nos livros." Há uma diferença grande entre aquilo que a gente escreve no livro e aquilo que a gente assina no Diário Oficial: vira realidade. Não dá para a gente fazer a avaliação plena se valeu a pena ou não. Mas gostaria que o senhor perguntasse meu nome ao Seu Elias, se, como pai, ele acha que valeu a pena que o senhor tenha escolhido essa carreira em vez de ser um grande empresário; em vez de ter qualquer outra atividade, além de empresário, que tivesse escolhido. Fica aqui o meu pedido para que faça a pergunta para ele, como pai, se valeu a pena ou não.

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB - SC) - Eu o farei e já concedo a palavra ao dileto e estimado amigo, Senador Reguffe.

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) - Primeiro, Senador Dário, eu tenho certeza de que o seu pai, o Seu Elias, ao ver esta sessão, deve estar com muito orgulho de V. Exª, porque V. Exª tem honrado a população de Santa Catarina, aqui, nesta Casa. Tem feito um mandato preocupado com a população, com o cidadão. É sempre muito criterioso nas suas observações, nas suas argumentações. E, ao ver V. Exª falar aqui do seu pai, do papo com ele antes de entrar na política, veio-me aqui a lembrança do meu. Como o Senador Cristovam colocou aqui, e, na época, ele era meu professor na universidade, eu perdi o meu pai. Meu pai, infelizmente, não está mais aqui. Ele era um oficial da Marinha, uma pessoa muito correta e muito rígida, que passou para mim os valores e os princípios que tenho hoje - ele, junto com a minha mãe, e aos quais sou muito grato. Valores de que vale mais, nesta vida, o que a gente é do que o que a gente tem; do que o poder. Mas o seu pai, o Seu Elias, deve estar muito feliz, inclusive com a discussão que V. Exª colocou aqui. Acho que este País precisa passar por uma reforma, por algumas reformas. Às vezes, eu me impaciento, me inquieto, quando vejo as pessoas irem para as ruas apenas contra algo. Se é contra um governo, temos uma multidão aqui na Esplanada dos Ministérios; se é contra algo, há uma multidão. Agora, quando é pró alguma coisa, aí é mais difícil. Quando é pró uma reforma política, de que vou falar daqui a pouco, uma reforma do Estado, como V. Exª colocou... A gente precisa devolver o Estado para o contribuinte. Hoje, o Estado está apropriado pelas máquinas dos partidos políticos, por outros interesses, mas não serve ao contribuinte, àquele que paga impostos. É preciso introduzir meritocracia no serviço público. É preciso introduzir um sistema de metas e resultados. É preciso ter uma reforma tributária que reduza nossa carga tributária e que aplique melhor também esses recursos. Mas, do mesmo jeito que eu acho que o meu pai, lá em cima, deve estar com orgulho de mim, se me perguntar se valeu a pena - essa colocação que o Senador Cristovam fez aqui -, valeu. Às vezes, as pessoas não notam a contribuição que a gente dá. O mandato parlamentar é muito mais do que só projetos. Cada votinho que a gente dá, representando as pessoas, quando a gente vota com a nossa consciência, pensando no que é melhor para a população, e não pensando, às vezes, em governos, no jogo político, a gente está dando uma contribuição, representando as pessoas naquele voto; nas nossas emendas ao Orçamento; quando a gente traz recursos para a nossa cidade; nos projetos que a gente apresenta. Mas o mandato é feito... Às vezes, uma fala gera uma ação no governo. Às vezes, num discurso seu, você fala sobre um remédio num hospital público, alertando que ali não tem remédio. Para nós que fazemos política por vocação - e me desculpe por me estender neste aparte -, claro que este é um momento triste, porque é o momento de criminalização da atividade política, em que um político é considerado um criminoso até que prove o contrário todos os dias. E nós que somos de bem temos de, todos os dias, reafirmar a nossa honestidade e a nossa eficiência como Parlamentar. Quero dizer a V. Exª que, com certeza, o Seu Elias está muito orgulhoso de V. Exª. Não só ele, mas a população de Santa Catarina tem de ter orgulho, porque eu posso testemunhar que é um Parlamentar aqui que segue a sua consciência, sempre pensando em fazer o melhor pela população, inclusive dialogando muitas vezes comigo, muitas vezes inconformado com às vezes o andamento das coisas. Mas é alguém que está aqui preocupado com a população. Eu acho que esse é o norte, porque pensar igual na vida ninguém pensa, nem dentro da casa da gente. O importante é a gente colocar as nossas posições, ter espaço para defendê-las, lutar pelo que a gente acredita e respeitar também a opinião dos outros. Neste momento tão triste que a gente vive no País de intolerância, em que pensar diferente virou um crime, é muito importante que V. Exª coloque isto que colocou aqui: o orgulho do porquê de ter entrado na política, dos valores que o colocaram na política e da prática belíssima que V. Exª tem desempenhado no seu mandato.

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB - SC) - Bem, eu, sensibilizado e honrado com os apartes recebidos tanto do Senador Raimundo Lira, como do Senador Cristovam Buarque e, agora, do Senador Reguffe - um jovem e extraordinário amigo, expoente da política do Distrito Federal e do Brasil -,...

(Soa a campainha.)

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB - SC) - ... eu me atrevo, se o Presidente me der mais alguns minutinhos, apenas a fazer uma pequena referência da minha vida política e da minha vida pública.

    Bem, na juventude, a gente tem um grau de rebeldia. O Prof. Cristovam Buarque conhece isso muito melhor do que eu. A gente é movido por desafios. Quanto maiores, mais em desejosos eles acabam se transformando. E eu acabei entrando na vida pública porque, olhando o cenário, eu imaginava que eu podia fazer melhor do que as pessoas que estavam no poder, naquele momento.

    Realmente eu posso dizer que, quando eu tive oportunidade de fazer, eu fiz. Vou dar um exemplo na educação. Eu poderia falar em saúde, poderia falar em infraestrutura, etc. e tal, mas vou destiná-lo ao meu primeiro mandato em educação no Município de São José, onde iniciei o meu mandato, se não estou equivocado, em 1996, como Prefeito.

    Fui Vereador, fui Presidente da Câmara, fui Prefeito, fui Prefeito reeleito com 85% dos votos. Eu tinha 94,6% de aprovação popular. E o que aconteceu? Na educação, na saúde, na infraestrutura, em praticamente todas as áreas, eu fiz mais, em apenas oito anos, do que todos os governos anteriores juntos fizeram. Eu fiz mais salas de aula em oito anos do que todos os governos anteriores juntos fizeram, não só em São José, como também em Florianópolis. Eu fiz mais saúde - e eu precisaria de mais tempo para discorrer sobre esse assunto - pois eu construí UPAs e policlínicas.

    Para se ter uma ideia, em Florianópolis, quando eu assumi a Prefeitura, havia, aproximadamente, um pouco mais de 500 funcionários na área da saúde pública de Florianópolis. Quando entreguei, havia quase 3 mil funcionários. Mas entreguei com quase 3 mil funcionários por quê? Porque os atendimentos se multiplicaram, e nós, na nossa administração, não fizemos uma vez mais do que todos os governos anteriores juntos fizeram. Nós fizemos quatro ou cinco vezes mais do que fizeram.

    Então, eu tenho a minha consciência tranquila, porque, quando eu tive a oportunidade de fazer, eu procurei fazer. Tenho certeza de que a minha consciência revolucionária, naquele momento, contribuiu para a melhoria da qualidade de vida de milhares e milhares de pessoas, tanto no Município de São José, onde iniciei a minha carreira, como na capital do Estado de Santa Catarina, tanto é que o reconhecimento que recebi nesses Municípios foi muito maior do que os serviços que eu próprio prestei à comunidade. Evidentemente, é por isso que, hoje, estou no Senado Federal, não representando só estes dois Municípios - São José e a Grande Florianópolis -, mas também o Estado de Santa Catarina inteiro.

    Dito isso, eu também queria abordar outros assuntos, como logística, reforma política e vinculação de despesas pela inflação do exercício anterior, temas que nós temos que debater aqui mais profundamente.

    Mas eu queria ainda, nestes dois minutos que me restam - se V. Exª me der mais 30 segundos... -, abordar um tema sobre o qual o Senador Reguffe vai falar no pronunciamento que vai fazer em seguida.

    Estou me recordando, Senador Reguffe e Senador Cristovam, da última sessão do Congresso Nacional, que foi concluída por volta de 4h30, se não estou equivocado, e na qual apreciamos um número significativo de vetos. Desses vetos, alguns destaques foram feitos - se não me engano, 14, ou 15, ou 16 vetos foram destacados -, e tivemos que ouvir inúmeros discursos - foi uma sessão tortura -, os mesmos discursos nos 15, 16 vetos que foram destacados.

    Tivemos a oportunidade de ouvir ali Líderes deles mesmos. Eu nunca vi isto na minha vida: o cidadão ser Líder dele mesmo. Ora, um líder precisa de pessoas para serem lideradas. No Congresso Nacional, não! Aqui, oportunisticamente, o cidadão acaba indo para um partido ou se elege em um partido em que ele é o único representante desse partido e é Líder dele mesmo, com prerrogativas especiais: falar mais, falar primeiro, falar sempre, enquanto nós, que não somos Líderes, temos essa dificuldade.

    Então, a reforma política, na verdade, é essencial, primordial, fundamental, vital para o futuro do Brasil e para a credibilidade dos Parlamentares desta Casa e da Câmara dos Deputados. Com a atual situação eu não posso me conformar.

    E há algo pior também. Nós temos que estabelecer as cláusulas de barreiras, que já foram discutidas nesta Casa, mas não avançaram. Nós temos que avançar no fim das coligações partidárias, porque não é possível que esses partidos pequenos, nanicos muitas vezes, continuem a persistir, a existir, para que numa eleição vendam o seu tempo de televisão, façam uma estratégia extremamente peculiar, danosa à democracia, que não contribui em nada para a formação de um projeto político que possa sustentar a governabilidade depois. E aí nós conseguimos implantar, definitivamente, no Brasil, o corporativismo, o clientelismo, o toma lá dá cá. Há muito tempo isso já acontece.

    Mas, quando eu fui prefeito, eu tinha as minhas secretarias das quais eu não abria mão. Eu poderia... E o sistema é esse, nós temos que entender que, lamentavelmente ou não, nós temos que nos submeter às regras, e as regras foram essas. E elas foram aprimoradas, mas aprimoradas no sentido negativo da palavra. Essa que é a tristeza.

    E hoje nós estamos vivendo um presidencialismo de coalizão em que ninguém consegue governar. Quando há qualquer insatisfação, e determinado setor, determinado Parlamentar não é atendido, naturalmente, já se cria um grande problema de governabilidade no Brasil.

    Portanto, a reforma política, Sr. Presidente, na minha opinião, parece-me que é a reforma da reforma. Porque com isso, talvez, nós possamos mudar essa triste realidade da criminalização da política que nós estamos vivendo. Isso é muito ruim, porque a democracia, se não é um dos melhores regimes, perfeita, mas não encontramos no mundo ainda nenhum regime que seja melhor do que o regime democrático para nós enfrentarmos as nossas dificuldades, as nossas barreiras e o nosso dia a dia.

    Sr. Presidente, eu ainda teria mais um longo discurso a fazer, se tivesse tempo, mas eu agradeço já muito a benevolência de V. Exª e agradeço os apartes dos eminentes Senadores que me antecederam e vou ficando por aqui, desejando a V. Exª, Sr. Presidente, mais uma vez, muito sucesso à frente da Comissão Especial do Impeachment.

    V. Exª, às vezes, é até criticado por um alguns que são mais enérgicos e açodados, mas, na minha opinião, V. Exª tem agido como um democrata que está colocando o direito da defesa e da democracia acima de qualquer discussão política, não pairando nenhuma dúvida quanto aos encaminhamentos que V. Exª tem dado àquela Comissão. Portanto, mais uma vez, meus cumprimentos e meus parabéns pelo desempenho que V. Exª tem demonstrado à frente da Comissão Especial do Impeachment.

    Muito obrigado, era isso que eu tinha a relatar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/07/2016 - Página 33