Discurso durante a 105ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário sobre o laudo pericial da Junta Pericial do Senado e defesa da gestão da Presidente Dilma Rousseff no Governo Federal, e crítica às medidas contrárias aos interesses sociais adotadas pelo Presidente interino Michel Temer.

Autor
Ângela Portela (PT - Partido dos Trabalhadores/RR)
Nome completo: Ângela Maria Gomes Portela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Comentário sobre o laudo pericial da Junta Pericial do Senado e defesa da gestão da Presidente Dilma Rousseff no Governo Federal, e crítica às medidas contrárias aos interesses sociais adotadas pelo Presidente interino Michel Temer.
Publicação
Publicação no DSF de 29/06/2016 - Página 32
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMENTARIO, LAUDO PERICIAL, JUNTA, SENADO, OBJETO, ACUSAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESCUMPRIMENTO, LEI FEDERAL, REFERENCIA, ATRASO, PAGAMENTO, BANCOS, OBJETIVO, REPASSE, BENEFICIO, PROGRAMA DE GOVERNO, DEFESA, GESTÃO, PRESIDENTE, GOVERNO FEDERAL, CRITICA, DECISÃO, MICHEL TEMER, INTERINO, MOTIVO, OPOSIÇÃO, INTERESSE, POPULAÇÃO.

    A SRª ANGELA PORTELA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Senador Jorge Viana, Presidente, agradeço também a compreensão do Senador Garibaldi Alves, mas nesta tarde trago um tema que é recorrente aqui no Senado e que só vem fortalecer a tese de que a Presidenta Dilma não cometeu nenhum ato que pudesse justificar o seu impeachment. Isso está muito claro na perícia feita por técnicos do Senado Federal, a pedido da Comissão Especial do Impeachment. Reforça o nosso discurso, a nossa tese de que não houve nenhum crime de responsabilidade cometido pela Presidenta Dilma.

    Impressiona-me muito também a manifestação de alguns Senadores que propõem um diálogo, uma compreensão, que propõem que, de certa forma, nós, que somos contra o impeachment, fiquemos quietos, calados e não nos manifestemos sobre os equívocos, os erros que são cometidos pelo Governo interino.

    Não é possível um entendimento nesse sentido. Por isso nós precisamos sim, rebater, esclarecer, mostrar. É muito cômodo: o Governo da Presidenta Dilma sofreu um golpe e nós, que a apoiamos, ficarmos todos calados, compreensivos, com uma atitude que mostra a cada dia... E essa perícia feita pelos competentes técnicos do Senado mostra claramente que foi um golpe Parlamentar.

    A junta pericial concluiu que Dilma não fez as chamadas pedaladas fiscais, conforme acusam aqueles que querem a todo custo tomar o mandato que os 54 milhões de eleitores consagraram a ela nas urnas, livremente, em 2014.

    A junta pericial identificou responsabilidade da Presidenta na edição de decretos de liberação de créditos suplementares. Aliás, apenas três e não seis como foi anunciado.

    Mas verdade seja dita, Sr. Presidente: a perícia fortaleceu a nossa denúncia de que a Presidenta Dilma sofreu um golpe desferido por um grupo político que não aceita a derrota sofrida nas eleições presidenciais de 2018.

    Portanto, não há mais dúvidas de que o processo de impeachment contra Dilma é inteiramente político e não tem base legal para derrubá-la do poder.

    Nestes 46 dias de Governo interino, os acontecimentos nos convenceram de que se trata de um Governo ilegítimo, impopular e também um Governo contrário aos anseios da maior parte da população, exatamente aquela mais carente de políticas públicas, de inclusão social, econômica e cultural. É um Governo contrário ao modelo implantado nos últimos 13 anos, claramente comprometido em assegurar a todos o estado de bem-estar social.

    Um exemplo do que digo: é do Governo interino a proposta de emenda à Constituição que limita os investimentos nos serviços públicos, destinada a reduzir gastos em despesas primárias do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário. A PEC atinge em cheio os concursos públicos e o reajuste do funcionalismo, sem contar que a PEC abre brechas para se fazerem cortes imperdoáveis em duas áreas fundamentais: a saúde e a educação. Com esta PEC também sofrerão contenções recursos destinados ao Ministério Público e à Defensoria Pública.

    Outro exemplo: o Governo do Vice em exercício está discutindo e enviará ao Congresso Nacional um projeto com novas regras para a idade mínima de aposentadoria.

    Pelo que se sabe, a proposta do Governo é de uma idade mínima de 70 anos com uma regra de transição.

(Soa a campainha.)

    A SRª ANGELA PORTELA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RR) - De antemão nós podemos dizer que a proposta irá afetar diretamente as mulheres trabalhadoras, pois a intenção da equipe econômica é clara e transparente: igualar a idade da aposentadoria entre homens e mulheres.

    Mais um exemplo do modelo impopular do Governo: a articulação no Parlamento de mudança na medida provisória que trata do controle de capital das companhias aéreas.

    O texto da MP, enviado pela Presidenta afastada, previa a elevação de 20% para 49% a participação do capital estrangeiro nas companhias aéreas brasileiras, porém, Deputados Federais ligados ao Governo interino retiraram o limite de 49%, permitindo que essa participação possa chegar a até 100%, ferindo a soberania nacional.

    Eu sou Relatora dessa MP aqui no Senado e entendo que a integração nacional é benéfica para o Brasil, especialmente para o meu Estado de Roraima, para os Estados do Norte, onde o isolamento regional é um obstáculo ao desenvolvimento.

    Eu poderia dar muitos outros exemplos, mas os já destacados deixam clara a intenção de impor à sociedade um pacote de injustiças sociais. A pauta que tem sido imposta à sociedade nem de longe - nem de longe, Sr. Presidente - reflete o desejo do eleitor nas eleições de 2014.

    A propósito, está no Diário Oficial da União que o Governo interino transferiu para a Presidência da República todas as dotações orçamentárias da Secretaria de Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. Essa medida significa corte nas verbas para políticas destinadas às pessoas com deficiências, para o enfrentamento ao trabalho escravo, ao tráfico de pessoas e à homofobia. Também foram transferidos os recursos destinados à proteção das pessoas idosas, das mulheres, das crianças e dos adolescentes.

    O Governo ilegítimo de Temer também está ferindo de morte as políticas de resgate da história da ditadura e o sistema de captação de denúncias de violação de direitos humanos. Enfim, o Governo pratica um verdadeiro atentado às políticas sociais e à promoção dos direitos das minorias brasileiras.

    No caso da educação, setor estratégico para qualquer projeto de Nação, o Governo atua na perspectiva de interromper um processo acelerado de aumento nos investimentos. Investimentos esses que registraram desde 2008 um aumento de 117% em valores reais só com despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino. Esses investimentos superaram em 28% o mínimo determinado pela Constituição.

    O Governo golpista acabou de interromper a bolsa mensal de estudantes de doutorado que fazem curso em universidades da Itália, Holanda e Reino Unido por meio do programa Ciência Sem Fronteiras. Os estudantes que têm contrato de quatro anos com o Governo Federal não foram sequer comunicados da decisão do MEC de interromper o programa e estão agora passando um sufoco fora do País.

    Não bastasse todo esse desmonte do Estado de bem-estar social, o Governo do Vice em exercício também está longe, longe, de cuidar da ética e da moralidade pública. Enfim, o Governo já tem as marcas da insensibilidade social e da instabilidade decorrente de seus sérios problemas com a Justiça.

    Sr. Presidente, era isso o que eu tinha a dizer.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/06/2016 - Página 32