Discurso durante a 89ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o pedido de prisão do ex-Presidente José Sarney e destaque à influência política que exerce.

Autor
João Capiberibe (PSB - Partido Socialista Brasileiro/AP)
Nome completo: João Alberto Rodrigues Capiberibe
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MINISTERIO PUBLICO:
  • Considerações sobre o pedido de prisão do ex-Presidente José Sarney e destaque à influência política que exerce.
Publicação
Publicação no DSF de 08/06/2016 - Página 62
Assunto
Outros > MINISTERIO PUBLICO
Indexação
  • COMENTARIO, PEDIDO, PROCURADORIA GERAL DA REPUBLICA, PRISÃO, JOSE SARNEY, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ENFASE, INFLUENCIA, POLITICA, TENTATIVA, IMPEDIMENTO, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO.

    O SR. JOÃO CAPIBERIBE (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente Jorge Viana, Srªs Senadoras, Srs. Senadores.

    Com esta expressão "sem meter advogado no meio", foi assim que o ex-Senador José Sarney, em gravações feitas pelo ex-Presidente da Transpetro Sérgio Machado, comprometeu-se a ajudar o amigo investigado a escapar da primeira instância, a se evadir do juiz Sérgio Moro e finalmente se safar da cadeia.

    José Sarney foi Governador do Maranhão, Presidente da República e Senador pelo Amapá por três mandatos, entre outros cargos ocupados, e também se notabilizou por ter enorme prestígio, poder político e uma longevidade única no exercício do poder. Nada parecia atingi-Io, até que, nessa manhã de terça-feira, 7 de junho de 2016, o jornal O Globo deu conhecimento à Nação de que o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, finalmente o encontrou e pretende vê-lo usando uma tornozeleira eletrônica.

    No dia 1º de abril de 2004, eu e minha companheira de vida e de luta, Janete Capiberibe, tomamos conhecimento desses movimentos do hoje investigado José Sarney de buscar soluções judiciais desprovidas de advogados para seus problemas políticos. Naquele dia, sentimos toda a força de sua influência no julgamento que cassou nossos mandatos, o meu, de Senador, e o dela, de então Deputada Federal mais votada da história do Amapá, acusados de comprar dois votos por R$26,00 cada um, pagos em duas prestações.

    Sr. Presidente, tenho o acórdão do TSE, mandei emoldurá-lo e o pendurei na sala da minha casa. Nós fomos cassados com base em duas testemunhas que, mais tarde, descobrimos que haviam sido compradas para depor contra nós.

    Assim, a minha vaga no Senado foi entregue para um afilhado político do hoje investigado e com prisão pedida pela PGR José Sarney. Isso já teria sido suficiente para revelar ao Brasil a extensão do poder e da influência do Senador Sarney perante os tribunais e dentro das instituições, mas, em 16 de abril de 2009, outra demonstração objetiva disso foi dada ao País quando o TSE cassou o mandato de governador e médico Jackson Lago, histórico opositor e primeiro líder político a conseguir derrotá-lo no Maranhão, seu Estado natal, em mais de 40 anos. Naquele dia, o TSE não apenas cassou o mandato do governador do Maranhão, mas determinou a posse imediata da filha do ex-Senador Sarney, Roseana Sarney, derrotada nas urnas, o que se configura, para qualquer observador desatento, como uma clara impressão digital.

    Diante desses fatos eloquentes e de resultados políticos tão objetivos, não é absurdo supor que, de fato, Sarney acreditasse que poderia, entre aspas, "sem advogado", evitar a investigação de Sérgio Machado na primeira instância, também sua prisão e mais a negociação de uma possível - tanto que já realizada e homologada - delação premiada.

    Por que o plano não deu certo? É evidente que o Brasil continua sendo um País dividido, onde um grupo minoritário comanda e continua, não obstante os avanços evidentes, confiante na impunidade.

    Ocorre, Sr. Presidente, que algo está em movimento em nosso Brasil. O encarceramento dos maiores empresários, empreiteiros do País, já era um sintoma disso, mas agora o pedido de prisão feito pelo Procurador-Geral da República, não só do ex-Senador maranhense, mas de Senadores do PMDB e do próprio Presidente desta Casa, por recear, legitimamente, como pôde ser constatado por todo o Brasil no conteúdo dos áudios gravados por Sérgio Machado, uma tentativa de solução por fora das instituições, é claro, e tentar livrar a pele de Machado e assim de todos, é prova cabal de que, se o Brasil ainda merece a medalha de ouro em corrupção, como escreveu ontem o prestigioso jornal americano The New York Times, isso não acontece sem uma reação firme das instituições e da sociedade.

    O Brasil inteiro espera que esse movimento tenha um único sentido: para frente e para o fundo nas investigações. É isso que o Brasil espera. O Brasil espera que se passe a limpo definitivamente e que se dobre essa página tenebrosa da vida política brasileira, em que uns poucos se apropriam do esforço coletivo, da energia produzida pelo País.

    Era isso, Sr. Presidente.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/06/2016 - Página 62