Comunicação inadiável durante a 111ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas a correligionários da Presidente afastada Dilma Rousseff, pelas alegações de que o impeachment seria um golpe antidemocrático.

Autor
José Medeiros (PSD - Partido Social Democrático/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
SENADO:
  • Críticas a correligionários da Presidente afastada Dilma Rousseff, pelas alegações de que o impeachment seria um golpe antidemocrático.
Aparteantes
Waldemir Moka.
Publicação
Publicação no DSF de 07/07/2016 - Página 63
Assunto
Outros > SENADO
Indexação
  • REPUDIO, ATO, AGRESSÃO, OFENSA, AUTORIA, GRUPO, APOIO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESTINATARIO, COMISSÃO ESPECIAL, JULGAMENTO, IMPEACHMENT, ACUSAÇÃO, PROCESSO, AFASTAMENTO, GOLPE DE ESTADO, REGISTRO, DESRESPEITO, SENADO, CRITICA, GOVERNO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MOTIVO, FRAUDE, ORÇAMENTO, CRIME DE RESPONSABILIDADE, CRISE, ECONOMIA NACIONAL.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

    Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos que nos acompanham pela Rádio e TV Senado, eu tenho ouvido muitos discursos aqui, e existe um ditado que, às vezes, é melhor ouvir do que ser surdo, mas as coisas têm passado um pouco do limite.

    Nós começamos os trabalhos na Comissão do Impeachment - V. Exª ali participou e acompanhou muito bem - e nos portamos com toda a fidalguia possível, com todo o respeito possível à investigada e aos seus defensores. Entretanto, desde o dia do início desse processo, as agressões não cessam. São agressões de toda a sorte. Aqui temos ouvido "golpista", "fascista", de tudo o que é tipo de "ista" temos sido acusados. Há poucos dias, até recebi um twitter por meio do qual o internauta dizia o seguinte, Senador Moka: "Vocês não vão ganhar uma porque vocês estão lutando esgrima e eles estão no vale-tudo."

    Mas continuaremos assim, Senador Dário Berger, continuaremos assim porque não vamos diminuir o nível do debate, ainda mais aqui, nesta Casa, nesta tribuna que já foi ocupada por pessoas como Rui Barbosa, Afonso Arinos e tantos outros. Não vamos diminuir o nível do debate.

    Agora do contraponto não vamos nos furtar a falar.

    Hoje, por exemplo, é dia de carta, Senador Dário Berger. Logo a Presidente afastada, que tanto disse que não tinha direito à defesa, que lhe estava sendo cerceado o direito à defesa. Entretanto, quando chega o momento de ela fazer a defesa na Comissão do Impeachment, o que faz ela? Manda uma carta. Justo ela, que critica tanto carta... Certa vez recebeu uma carta e a propagou aos quatro cantos deste País, colocou-a na imprensa. Lembrei-me até de um verso de uma música do saudoso Milionário, da dupla Milionário e José Rico, que dizia o seguinte:

Estou escrevendo esta carta meio aos prantos

Ando meio pelos cantos

Pois não encontrei coragem

De encarar o teu olhar

    Acho que encaixou como uma luva. O que parece é que a Presidente, que exalta tanta coragem, que fala tanto de luta, não teve coragem de encarar a Comissão do Impeachment. Essa é a impressão que ficou. E não teve coragem por quê, Senador Moka? Porque os fatos gritam nos autos. E, para parafrasear o seu Advogado de Defesa, eu tenho dito: "A peça de Acusação e as perícias que ali foram aportadas são de clareza solar."

    Hoje, do mais simples brasileiro ao mais erudito, todos sabem o que aconteceu. E o que aconteceu, Senador Waldemir Moka, foi uma farsa. Eu devolvo o termo de farsante. O que aconteceu foi uma farsa, uma farsa no Orçamento da República. E não é fatozinho, não é coisa pequena.

    Aqueles que nos assistem e nos ouvem neste momento devem-se lembrar da grande empresa, de uma das maiores empresas, uma empresa global que se chamava Enron. O Senador Waldemir Moka vai-se lembrar, porque essa empresa esteve lá pelo Mato Grosso do Sul, porque era uma empresa do ramo de energia e espalhou dutos por este País afora. Mas a Enron tinha, inclusive, um lema que era: Ask why. Era mais ou menos o seguinte: "Pergunte o porquê." E qual era esse "porquê"? Por que ela dava tanto lucro? Os seus investidores ganhavam dividendos bem acima dos que o mercado pagava, e ninguém sabia por quê. E ela tinha este lema: "Pergunte o porquê."

    E eu faço esse comparativo porque esse governo distribuiu - e se jacta disso, como todos os que assomam à tribuna sabem - pacote de bondades de toda sorte. E todo o mundo de repente perguntava: "Por quê?". Pergunte o porquê. Ninguém perguntava o porquê, Senador Moka; estava escrito: usavam o mesmo dinheiro para pagar dois, três compromissos. Essa que é a farsa. Fica muito fácil governar quando se tem dinheiro à rolê. Essa que é a grande verdade. Então, não tinham limite para nada. Podiam gastar o que quisessem com educação, com saúde.

    E hoje me surpreende muito alguém falando aqui em legado quando nós estamos em 131º lugar no mundo em termos de qualidade em Ciências e Matemática. Este que é o nosso lugar na educação. Que legado é este?

    Mas distribuíram bondades. Distribuíram bondades, por exemplo, no setor de transportes, encharcando o mercado com 300 mil caminhões a mais. Quase enfrentaram uma greve dos caminhoneiros porque o preço do frete baixou. O mercado funciona assim.

    Mas continuam dizendo que o processo do impeachment é golpe. A lei é clara quando diz que um Presidente não pode mexer no Orçamento, não pode editar decretos se não tiver autorização do Legislativo. Mas a Presidente deu de ombros para essa lei. A Presidente maquiou os balanços tanto para o mercado quanto para os eleitores. E fica brava quando se diz que isso foi uma fraude. Fraude gigante de bilhões. "Todo mundo fez, Fernando Henrique fez, Lula fez." Não é verdade! O próprio Tribunal de Contas da União disse: "Não é verdade. Eles não fizeram. Havia pequenos atrasos." A pedalada é como se fosse um cheque especial. Se você atrasa dez dias, até os próprios bancos não cobram juros. Agora, se você atrasa um ano, aí sim, vira uma dívida. Esse foi o caso. "Não! Lula fez, Fernando Henrique fez." Mesmo que tivessem feito, não justificaria. Agora tenta dizer que foi um "fatozinho", que está sendo injustiçada. Não é verdade! Na verdade, está faltando dignidade na hora do adeus. Falta dignidade, falta respeito à indumentária do cargo. Aliás, nos últimos momentos, quando saía do Planalto, ela transformou aquilo ali num grêmio estudantil: havia faixas, havia ... Vergonha alheia era o que nos fazia sentir.

    Concedo, com muito orgulho, um aparte ao Senador Moka.

    O Sr. Waldemir Moka (PMDB - MS) - Senador José Medeiros, V. Exª, que tem sido muito atuante na Comissão do Impeachment, certamente há de se lembrar de quando lá esteve o Dr. Júlio Marcelo, que é Procurador do Tribunal de Contas da União, representando o Ministério Público. E lá ele exibiu exatamente aquilo que caracterizou como crime de responsabilidade. Aliás, disse isso quase um ano e meio atrás, em uma audiência pública, na CAE. O Tribunal de Contas, que é o órgão especializado para fazer esse tipo de auditoria, afirmou e reafirmou, parece-me que por duas vezes. E aí é que vem uma incoerência. Foi pedido lá pela base da Presidente afastada uma perícia. E aí o Plenário rejeitou isso, e recorreram. Acabou sendo conferido o direito à perícia. E o nosso Presidente aqui pegou os melhores técnicos, consultores do Senado nessa área de orçamento. E qual foi o resultado? Exatamente confirmou aquilo que o Tribunal de Contas da União disse. E aí eu vejo a maior incoerência: eles passaram a contestar a auditoria que eles mesmos pediram. Então isso é incompreensível. E hoje, aqui, deixando isso de lado, eu vi uma série de Parlamentares destilando... Parece que, nos últimos 50 dias, quando assumiu o Presidente Michel Temer, o pessoal resolve falar de banco, resolve falar de taxa de juros, resolve falar de... Parece que, em 50 dias, tudo isso aconteceu!

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Em 13 anos, não falaram nada.

    O Sr. Waldemir Moka (PMDB - MS) - Em 13 anos, eles nunca falaram. Nunca fizeram. Agora, falam em taxar a grande fortuna, em baixar juros, e criticam... E eu pergunto: e nesses 13 anos? Será que não foi possível fazer? É por essa incoerência que a população que nos ouve fica incrédula. Não é possível que esse pessoal fale isso depois de ter ficado 13 anos governando, e não foram capazes de fazer tudo o que eles criticam agora. Em 13 anos, eles não fizeram absolutamente nada para que isso não acontecesse. Deixaram, sim, um grande legado: quase 13 milhões de desempregados neste País. Muito obrigado, Senador José Medeiros.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Eu que agradeço o aparte, Senador Moka. V. Exª sempre pontual e contundente.

    A incoerência não para por aí, Senador Waldemir Moka. Ela passa, por exemplo, quando vamos para o campo da probidade. São peritos em apontar o dedo, mas não falam nada de Pasadena, de Abreu e Lima, de Petrobras, da Eletronuclear. Não falam nada de uma esteira de tesoureiros presos.

    Eu não gosto de apontar o dedo, Senador Moka.

    O Sr. Waldemir Moka (PMDB - MS) - Já podem até pedir música. Depois de três tesoureiros presos, podem pedir música no Fantástico.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Exatamente. E não fico feliz de desfiar esse rosário aqui, mas resolvi que não ia mais me calar, porque eles não perdoam o argueiro no olho de ninguém, mas não reparam na trave que está no seu olho.

    Então, Senador Moka, para ir finalizando já, o que temos de fazer aqui é o contraponto, porque o Governo do Presidente Michel Temer tem pouco mais de 30 dias. E eu vou falar, para não dar o art. 14, que um Senador há poucos dias subiu aqui e disse que esse Governo já é o pior da história deste País.

    Então, como avaliar um governo em pouco mais de 30 dias? Temos que ter coerência no nosso discurso.

    A economia. Na economia, o que se vê é o cidadão já com esperança, vendo que está nascendo um horizonte, e temos de torcer para isso.

    Pensa que essa gente se preocupa com o País? Não! E aí isso me faz lembrar, certa feita, de um debate quente aqui no Senado.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Eu ainda era adolescente e me lembro do saudoso Antonio Carlos Magalhães, que disse: "Essa gente fala que é pelo Brasil, mas o Brasil desse povo é o dinheiro."

    Então, quando eu vejo aqui que, na verdade, falavam o tempo é pela Nação, é pelo Brasil, e agora não estão nem aí para a economia, dá para notar que não estavam mesmo preocupados com o Brasil. Estão adeptos do "pior, melhor".

    Eu vi aqui gente falando que ia votar contra indicação de embaixador, Senador Lasier, mas não era por questão do currículo da pessoa, mas porque o Governo está indicando. Veja se pode uma incoerência desse tipo?

    E, aqui, estamos num momento em que o Brasil está se firmando. Deixaram um rombo de R$170 bilhões, mas querem jogar para os outros.

    Por exemplo, esses acordos, Senador Dário Berger.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Esses acordos sobre o aumento dos salários dos servidores foram todos feitos pela Presidente. Agora estão criticando, chamando o Presidente Michel Temer de gastador - olha a falta de coerência! Há poucos dias, quando tratamos da MP sobre aviação, começaram a criticar aqui;. A MP era da Presidente afastada; no meio do caminho, recebeu uma emenda, e fizeram um escândalo do tamanho do mundo dizendo que o Presidente estava querendo entregar o nosso patrimônio nacional e a soberania nacional, e por aí vai. Temos que fazer esse contraponto porque, quando o debate é um debate à altura, Senador Lasier, temos que respeitar; mas, quando há má-fé, quando existe a rasteirice e quando perdura a mentira, não dá para tolerar.

    Eu gostaria de estar tratando de outros temas, de grandes temas aqui, Senador Dário, mas, infelizmente, temos que vir aqui fazer esse contraponto. Não é possível que um grupo que está com boa parte dos seus dirigentes presos, do qual só o baixo clero sobrou para fazer a gritaria, tente se sobrepor sobre a verdade deste País, sobre o que está acontecendo de fato. Na verdade, isso que está acontecendo é o legado, é a herança maldita de um Governo perdulário; temos que dizer isso aqui. É a verdade, e tentam jogar para os outros.

    Eu penso que é cada um no seu quadrado, cada um que assuma a sua culpa. Não tenho compromisso com o erro, mas não posso tolerar que venham aqui posar de santos, que venham querer fazer guerra de estilingue quando o telhado é de vidro.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/07/2016 - Página 63