Discurso durante a 111ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reprovação à indicação do Sr.Sebastião Peternelli Júnior, General da Reserva do Exército, para a Presidência da FUNAI.

Autor
Telmário Mota (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RR)
Nome completo: Telmário Mota de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
  • Reprovação à indicação do Sr.Sebastião Peternelli Júnior, General da Reserva do Exército, para a Presidência da FUNAI.
Publicação
Publicação no DSF de 07/07/2016 - Página 71
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
Indexação
  • CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIAL CRISTÃO (PSC), INDICAÇÃO, MILITAR DA RESERVA, GENERAL DE EXERCITO, PRESIDENCIA, FUNDAÇÃO NACIONAL DO INDIO (FUNAI), MOTIVO, FALTA, CONHECIMENTO, NECESSIDADE, COMUNIDADE INDIGENA, PEDIDO, DESISTENCIA, NOMEAÇÃO, ENFASE, RECUSA, GRUPO INDIGENA, GESTÃO.

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Amorim, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado, queridos povos indígenas, a imprensa nacional divulgou hoje que o General da Reserva do Exército Sebastião Peternelli Júnior, de 61 anos, foi indicado para ser o Presidente da Funai a pedido, Senador Amorim, do PSC (Partido Social Cristão).

    Em março do ano passado, o General Peternelli divulgou um manifesto contra o comunismo. Dizia o manifesto: "Cinquenta e dois anos que o Brasil foi livre do maldito comunismo. Viva nossos bravos militares! O Brasil nunca vai ser comunista."

    Desculpe-me, General, mas V. Sª precisa voltar aos bancos escolares e entender o que é o comunismo. Pelo seu posto e pela sua frase, podemos ver que V. Sª é um grande militar, mas um péssimo historiador sob o ponto de vista de valores igualitários, de direitos humanísticos, de distribuição de renda, etc.

    Caros membros do PSC nesta Casa, meus queridos ilustres e competentes Senadores Eduardo Amorim e Pedro Chaves, apesar de todo o respeito e carinho que tenho por V. Exªs, venho lamentar que o seu Partido indique alguém sem nenhuma afinidade com a pauta indígena para a gestão da Funai. Eu lhes peço encarecidamente: desistam dessa ideia. Não deixem o seu Partido fazer um desserviço aos povos indígenas, já tão massacrados ao longo da nossa história. Caros Senadores, o PSC é cheio de quadros excelentes, iguais a V. Exªs.

    O movimento indigenista evoluiu, é independente, esclarecido e combativo. Já me comunicaram que não vão aceitar essa indicação.

    O General apoiou e enalteceu a saída de João Goulart, que queria justamente trabalhar em favor dos mais pobres e injustiçados. Ora, se os injustiçados de hoje são também os povos indígenas, com que argumentos o General vai defender os povos indígenas?

    Aqui, nesta Casa, por exemplo, temos um Senador que é civil, que foi eleito, inclusive, pelo meu Estado, que se beneficiou dos povos indígenas e que fez uma grande lambança durante sua gestão na Funai, provocando o genocídio contra esses povos, conforme está relatado na Comissão Nacional da Verdade.

    O que se pode esperar de uma pessoa alheia às causas indígenas? Preocupa-me, Srs. Senadores, por demais, os rumos da Funai. Minha origem e minha história não me permitem ser brando. Desculpe-me a franqueza, General, mas presidir a Funai é para quem sabe dialogar, para quem sabe negociar. Não duvido da sua inteligência, General, mas V. Sª não foi preparado para lidar com o sofrimento e as necessidades dos povos indígenas.

    Passa na cabeça de quem que o General vai empunhar a bandeira contra a PEC 215 e contra os fazendeiros assassinos? Jamais! Não acredito nisso. Respeito sua carreira e suas conquistas dentro do Exército. Com certeza, haverá um cargo no Ministério da Defesa que possa reconhecê-lo.

    General, para entrar no campo do inimigo, o senhor sabe muito bem disso, temos que conhecer a fundo onde vamos pisar. Como é que V. Sª quer entrar num assunto que não conhece? Perdão, General, mas não vou permitir que V. Exª comande os povos indígenas à mão de ferro do Exército brasileiro, que, muitas vezes, fez isso.

    Espero, sim, de coração, que o Governo ora aí posto desista da sua nomeação, General, ou V. Sª terá dificuldade imensa para gerir a casa dos povos indígenas, que é a Funai.

    Era o que eu tinha, Sr. Presidente, para colocar aqui, nesta tribuna.

    Meu muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/07/2016 - Página 71