Discurso durante a 111ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento do ex-Senador André Franco Montoro.

Autor
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SP)
Nome completo: Aloysio Nunes Ferreira Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Comemoração do centenário de nascimento do ex-Senador André Franco Montoro.
Publicação
Publicação no DCN de 07/07/2016 - Página 78
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, EX SENADOR, ANDRE FRANCO MONTORO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, POLITICA, RESPEITO, DEMOCRACIA, DEFESA, MEIO AMBIENTE.

    O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco Social Democrata/PSDB - SP. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, nós acabamos de ouvir depoimento comovente do Senador Aécio Neves, que acompanhou seu avô Tancredo no governo de Minas Gerais e na sua caminhada para a vitória no Colégio Eleitoral e esteve ao lado dele no drama final. Ele ressaltou o papel de Montoro na construção da Frente Democrática, que solapou as bases do regime autoritário e acabou por restaurar a democracia política no nosso País.

    Montoro tinha princípios. Montoro era um político prático. Montoro sabia organizar uma campanha eleitoral como ninguém. Montoro foi um Governador extremamente meticuloso no cumprimento dos seus deveres administrativos - não passava um texto, um decreto, uma portaria importante que Montoro não tivesse escrutinado logo cedo pela manhã e anotado à margem, com sua mão, as observações que ele julgava pertinentes. Mas Montoro era, além disso, um homem de valores, um político prático apegado a valores, à ética, sim, da responsabilidade, mas à ética dos princípios. E o valor da democracia o acompanhou a vida inteira.

    O impressionante, meus amigos, é que, na sua pregação pela conquista do governo de São Paulo, que foi efetivamente, como a luta de Tancredo em Minas Gerais, o aríete final que derrubou o muro do autoritarismo, Montoro nos deu lições de como poderíamos vislumbrar um Brasil democrático para além da conquista das instituições políticas, na sua pregação constante da descentralização, da participação, do enraizamento da democracia nos Municípios e nas regiões.

    Montoro foi pioneiro no lançamento do tema da defesa do meio ambiente como um ponto crucial na agenda política. Quando Montoro falava em ecologia, as pessoas não sabiam direito do que se tratava. E Montoro explicava - professor que era - que ecologia vem de oikos, que quer dizer casa. O meio ambiente é a nossa casa, nós devemos zelar por ela. Esse era Montoro.

    Montoro, meus caros amigos, na administração - eu acompanhei a sua administração como seu Líder, assim como o Deputado Manoel Moreira -, formou uma equipe brilhante e governava prestigiando os seus auxiliares. Ele nunca disputou liderança com seus auxiliares; pelo contrário, ele queria que todos nós brilhássemos.

    Ele foi realmente um Parlamentar brilhante. Lembrou-se, ainda há pouco, Ricardo Montoro de que, quando se despediu do Senado para caminhar rumo ao governo, ele disse: "Eu continuo parlamentando". E ele fez isto governando: ele parlamentou, dialogou, foi amplo, ele compreendeu a grandeza da luta democrática, trazendo para o seio do seu movimento, o nosso movimento, as pessoas, sem nenhum tipo de discriminação política. Ele colocou na Liderança do Governo na Assembleia um comunista - ele, um democrata cristão. Portanto, Sr. Presidente, é alguém que eu admiro, cuja dimensão cresce à medida que o tempo passa.

    Quero apenas lembrar a última fase da minha convivência com ele. Tive o privilégio de ser colega de Franco Montoro, na Câmara dos Deputados. Montoro escrupulosamente entrava na fila dos Deputados para se inscrever naquele livro do Pequeno Expediente e fazia questão de ocupar a tribuna no Pequeno Expediente, sempre com seus temas, os temas a que me referi e o tema da América Latina, da nossa América.

    O seu último trabalho parlamentar foi sobre o parlamentarismo. Havia na Câmara dos Deputados à época uma espécie de um grupo parlamentarista pluripartidário: havia lá Goldman; havia colegas do antigo PFL, como Ney Lopes; nós tínhamos o Almino Affonso; uma quantidade grande; João Almeida; companheiros nossos do PT, como João Paulo Cunha e José Genoíno, e nos reuníamos em torno do Montoro, e, em torno do Montoro, foi construída a Emenda Eduardo Jorge, que instaurava o parlamentarismo no País. Essa emenda foi aprovada na Comissão de Justiça, e a batalha, depois, era aprovar o mérito. O Relator era o Deputado Bonifácio Andrada. Montoro trabalhou incessantemente para que a emenda tramitasse, para que todas as opiniões fossem ouvidas, para que o texto refletisse realmente a maioria na Câmara. No seu último dia na Câmara, no seu último dia de trabalho, meu caro Ricardo Montoro, nós nos aproximávamos do recesso de julho - ele morreu, creio eu, no dia 14 -, e não havia quórum para que a comissão especial votasse o parecer do Deputado Bonifácio Andrada. Pois Montoro foi batendo à porta de todos os Líderes da Câmara, pedindo a eles que substituíssem os eventuais faltosos por Deputados que estivessem presentes para que pudéssemos realizar a reunião daquela comissão, e assim foi feito, assim foi feito. A matéria foi aprovada e espera agora a votação na Câmara, a Emenda Franco Montoro do Parlamentarismo.

    É a lembrança viva que tenho da minha convivência de tantos anos com esse extraordinário político, que foi o seu pai, que foi o meu amigo André Franco Montoro.


Este texto não substitui o publicado no DCN de 07/07/2016 - Página 78