Discurso durante a 117ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre as últimas pesquisas Datafolha publicadas no jornal Folha de S. Paulo acerca do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Considerações sobre as últimas pesquisas Datafolha publicadas no jornal Folha de S. Paulo acerca do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.
Aparteantes
Lindbergh Farias, Roberto Requião.
Publicação
Publicação no DSF de 23/07/2016 - Página 12
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMENTARIO, PESQUISA, INSTITUTO, VINCULAÇÃO, FOLHA DE S.PAULO, ASSUNTO, LEGALIDADE, CONSTITUCIONALIDADE, PROCESSO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, REJEIÇÃO, IMPEDIMENTO.

  SENADO FEDERAL SF -

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COORDENAÇÃO DE REDAÇÃO E MONTAGEM - COREM

 14/07/2016


    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Eu quero agradecer a V. Exª, Senador Requião, em especial, ao Senador Lindbergh, os senhores que me permitem falar rapidamente, visto que nem inscrita eu estava.

    Na realidade, eu estou passando por Brasília, acabei de chegar, desembarquei, vindo de Manaus, e estou indo para o interior do Estado de São Paulo, para fazer várias reuniões com integrantes dirigentes do meu partido, o PCdoB. E, quando vinha, Senadora Gleisi, no carro, do aeroporto, eu liguei o rádio na Rádio Senado e vi que o Plenário estava funcionando. Então, eu disse, eu vou rapidamente lá, para ver se consigo um espaço de cinco minutos para falar, mesmo porque, quando escuto a fala de V. Exª, Senadora Gleisi, de Requião e do Senador Lindbergh, obviamente que nos acende um desejo muito forte de também entrar no debate, de também entrar no diálogo.

    Estamos, nessas duas semanas, sem sessões deliberativas, o que não significa dizer recesso parlamentar, mesmo porque, de acordo com o nosso Regimento, de acordo com a legislação brasileira, não é possível recesso do Congresso Nacional quando tramita processo de impedimento contra um Presidente da República, que é o que ocorre agora. Mas, coincidentemente, esta é exatamente a fase da apresentação das alegações finais, o período, os 15 dias, que a Comissão, que Senado Federal concede à Defesa da Senhora Presidenta Dilma Rousseff para elaborar as suas considerações, as suas alegações finais. Então, por isso é que este Plenário está funcionando de forma irregular e somente para os debates.

    Mas, que bom que, nesta sexta-feira, estejamos nós aqui, nós que temos feito um esforço até quase que sobre-humano, Senadora Gleisi, no sentido de mostrar ao País, efetivamente, concretamente, o que está acontecendo. E digo a V. Exª, digo ao Senador Requião: apesar dos dados publicados através da pesquisa Datafolha, no último domingo, no jornal Folha de S. Paulo, apesar de serem análises ruins, não compatíveis com os próprios números pelo jornal publicados, quando nós tomamos conhecimento da parte da pesquisa feita, e não divulgada, digo a V. Exªs que me acende ainda mais a luz da esperança, por uma razão muito simples, entre os vários questionários apresentados à população, um deles foi para perguntar para o povo, brasileiros e brasileiras, o que achava do processo de impeachment, se considerava um processo legal, um processo que vinha cumprindo as normas da legislação brasileira, a Constituição Federal, ou não.

    E, vejam, 49% disseram achar que o processo é legal - 49%! - o que significa que a maioria não pensa que o processo seja legal. Isso diante de uma ofensiva dos meios de comunicação nunca vista antes na História do nosso País: uma ofensiva que só passa uma versão dos fatos; uma ofensiva da maioria do Parlamento que se formou e que encontrou, na forma do impeachment, o único mecanismo para afastar a Presidente, e ficam falando disso. Então, apesar de sermos minoria, acho que esse trabalho que estamos realizando no Congresso Nacional, assim como o trabalho que muitas entidades realizam Brasil afora, intelectuais, artistas, escritores...

    Esses últimos dias - eu, infelizmente, não pude participar, mas lá esteve a nos representar o Senador Lindbergh Farias, ao lado da Deputada Federal Jandira Feghali -, um tribunal internacional foi realizado no Rio de Janeiro, entre os dias 19 e 21. É um tribunal, obviamente, muito mais político, mas que analisa as questões técnicas que estão sendo debatidas no âmbito do processo de impedimento, que nada mais é do que um golpe contra a Presidenta Dilma. Então, acho que esse trabalho, apesar de ser um trabalho pouco visível para a grande maioria da população, tem surtido muito efeito.

    E mais, o que é importante, a matéria de chamada do último domingo diz exatamente que o Brasil, os brasileiros preferem que fique na direção e no poder o Presidente Michel Temer. Cinquenta por cento, segundo o jornal, da população brasileira é favorável à permanência de Michel Temer; 32%, favorável à volta da Presidente Dilma. E, de forma incrível, Senadora Gleisi, nesse mesmo item, nesse mesmo questionário, publicam que 3% somente das pessoas são a favor de antecipação das eleições, sendo que esses 3% apareceram ali não porque foram questionados, mas apareceram de forma espontânea.

    Segundo análise dos técnicos do Datafolha, publicada ontem no jornal Folha de S.Paulo, quando esse percentual espontâneo mesmo não configurando das perguntas iniciais aparece, tem de ser publicado, porque passa a ter uma relevância. De fato, eu concordo com essa análise técnica, mas tão relevante quanto o fato de 3% da população, mesmo sem ter sido perguntado, sem ter sido questionada, dizer que é a favor da antecipação das eleições é a necessidade de o jornal publicar o outro questionário, que, este, sim, perguntava sobre eleições antecipadas no Brasil. E 62% disseram que sim.

    É esse dado, Senador Requião, que nos importa. É esse dado, Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores, que nos interessa, porque, vejam, nós estamos aqui trabalhando contra esse golpe, primeiro, porque não é impeachment, porque é um golpe, porque não há crime. A cada dia, uma nova notícia, uma nova decisão, seja do Judiciário, seja do próprio Tribunal de Contas, desmonta as próprias denúncias que eles inventaram a cada dia.

    Pedalada não existe mais. Pedalada não é e nunca foi crime. Aliás, pedalada é um apelido que encontraram para execução de alguns programas por parte do Governo Federal através de bancos públicos. Aí inventaram esse nome de "pedalada".

    No caso do Plano Safra, que é o que compõe a denúncia, além de não haver a participação da Presidente Dilma, não é crime, mesmo porque não é empréstimo, Senadora Gleisi. Eles querem. Querem não. Eles inventam, na maior cara de pau, novas teorias sem que haja lei que defina essas tais novas teorias.

    Quer dizer, uma operação de um banco, o pagamento de uma subvenção virou operação de crédito. E, para quem não sabe o que é operação crédito, é simples. É empréstimo. Este, sim, a Constituição brasileira proíbe que ente público faça com seus próprios bancos públicos. Mas eles inventaram que isso seria uma operação de crédito.

    Os decretos, nenhuma novidade, nem no ano de 2015, nem nos anos anteriores, porque, se é fato que a Presidente Dilma assinou vários decretos de suplementação orçamentária, o Vice-Presidente Michel Temer também assinou. Mas, antes, o Presidente Lula, de igual forma, assinou; o Fernando Henrique, idem.

    E meta: "Ah!, porque feriu a meta!" Que meta? Meta do exercício - está lá escrito na Constituição brasileira. A meta é do exercício. Então, não há como medir meta antes do final do exercício, muito menos, Senador Requião, dizer que feriu a meta.

    Então, não é um processo. É um projeto que está em curso e que exige da parte deles o afastamento da Presidente Dilma, para que façam aquilo que o Senador Lindbergh falou no longo aparte que fez à Senadora Gleisi, que é aplicar a tal da política das maldades - a tal da política das maldades! É mudar completamente o projeto, trazer de volta para o Brasil...

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) - Meus protestos quanto ao longo aparte.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Mas muito bom.

    A SRª PRESIDENTE (Gleisi Hoffmann. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) - Pode fazer outro. (Risos.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Trazer de volta ao Brasil as privatizações. É esse o grande objetivo.

    Então, nós estamos imbuídos com essa tarefa. E eu tenho ficado na minha cidade esses últimos dias e tenho falado muito com a minha gente, tenho falado com jornalistas, com os repórteres, com os proprietários dos meios de comunicação. E digo o seguinte: a minha postura não é só uma postura de fidelidade a uma pessoa ou de fidelidade a um projeto, é uma postura de coerência, daqueles que venceram as eleições em 2002, para aplicar um projeto diferente para o Brasil. E era isto que estava em curso, um projeto com o qual eles nunca concordaram, porque são contra o Mais Médicos, são contra o Bolsa Família, são contra a possibilidade da expansão das universidades para o interior deste grande País, desta grande Nação. Então, é isso que está em jogo.

    O Senador Requião, acho que de todos nós, é aquele que fala com mais ênfase: nós vamos mudar o quadro, nós vamos barrar esse impeachment, que nada mais é do que barrar o golpe. De fato, na próxima votação do Plenário, dia 9, eles precisam de uma maioria simples. Eles a terão, mas não sei se já alcançarão os dois terços.

    Mas, lá para o final do mês de agosto, quando ocorrerá efetivamente o julgamento, eles têm que alcançar 54 votos. E nós, Senador Requião, sob a orientação de V. Exª, e de tantos outros Senadores, que tem uma larga experiência administrativa e política, que viveu momentos terríveis, mas momentos bons também, momentos bons na História do nosso País, da evolução da nossa jovem democracia, temos essa chance muito grande de barrar esse golpe.

    Agora, nós também não deixamos de reconhecer que a Presidente Dilma só foi afastada, porque perdeu o apoio da maioria parlamentar. E, mesmo que alcancemos os 28 votos, Senador Requião, qual é a possibilidade de a volta dela garantir-lhe a governabilidade necessária, para que possamos atravessar esse momento difícil, esse momento de grave crise econômica? Então, o que estamos fazendo é dialogando muito entre nós os Senadores, entre nós os Senadores e a Presidente da República, entre nós os Senadores e várias outras figuras políticas importantes.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) - V. Exª me concede um aparte?

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - No início agora do mês, Senador Lindbergh, teremos excelentes notícias para a população.

    Então, eu digo que não tem sido em vão a nossa luta, muito dolorida - muito dolorida! -, principalmente para alguns. O Senador Requião é de um Partido que não defende, que não tem a posição que ele defende, mas ele olha, antes do seu Partido, o País, ele olha a História, ele olha da democracia. Eu sou Senadora única de um Partido aqui, não é fácil, não é fácil fazer isso. No meu Estado, eu tenho dito que eu fui a única Parlamentar dos oito Deputados Federais e dos três Senadores a votar, e não só votar, a lutar, a falar contra isto em relação a que eu tenho convicção: não é um impeachment; é um golpe.

    Então, o que nós queremos é trazer a Presidente Dilma de volta ao poder, mas em cima de um conjunto de medidas que entendemos devam ocorrer no País, para garantir-lhe a governabilidade e, sobretudo, consultar a população brasileira. E a população brasileira está sendo consultada: ela quer, neste momento de crise, antecipar as eleições, porque a crise da democracia não tem outra forma de ser resolvida a não ser com a própria democracia. Se é a democracia que está em crise, então vamos buscar na democracia a resolução da crise.

    Concedo um aparte, Senador Lindbergh, a V. Exª.

    Pois não, Senador Requião.

    Muito agradecida.

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - Eu, inclusive, sugiro que a Mesa, durante esta reunião plenária de hoje, não conceda mais aparte ao Senador Lindbergh. Ele já excedeu e bateu o recorde de tempo de aparte na história do Congresso Nacional.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Na minha viagem do aeroporto até aqui, eu só ouvi o Senador Lindbergh.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) - E a Senadora Vanessa falando isso, a Senadora Vanessa que é merecedora aqui. Todo mundo fala que é a Senadora que mais fala nessa tribuna. (Risos.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Mas recebo longos apartes. Agora, V. Exª está vendo, na prática, o que significa isso. (Risos.)

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - Senadora Vanessa, V. Exª cometeu um equívoco. Eu não estou isolado no PMDB. A cúpula do PMDB está isolada do Partido.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Muito bem.

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - O PMDB não é o Partido que quer acabar com a aposentadoria do trabalhador. O PMDB não é o Partido que quer privatizar a educação e a saúde. O PMDB não é o Partido do Ricardo Barros, que está tentando destruir o SUS no Brasil. O meu PMDB é o das bases, é o Partido das classes populares. Aliás, o famoso documento "Uma Ponte para o Futuro" apresentado na última reunião nacional da Fundação Ulysses Guimarães foi contestado por mim e por 17 diretórios que estavam presentes. E os famosos donos da Fundação Ulysses Guimarães não tiveram coragem de colocá-lo em votação e em discussão; ele foi simplesmente retirado da pauta. Agora, Senadora, é preciso que se entenda melhor que história é essa de impeachment. V. Exª se lembra de quando o Presidente Renan e outras Lideranças estavam falando de semiparlamentarismo? Já era uma demonstração clara de que eles sabiam que não havia crime de responsabilidade para pedir o impeachment da Presidente Dilma. E, não havendo crime de responsabilidade, não há impeachment. Eles queriam introduzir um sistema parlamentar que admite o voto de desconfiança em relação a um Presidente da República. Era um sistema híbrido que eles estavam imaginando. Eles poderiam, com essa modificação constitucional que pretendiam fazer, afastar a Presidente da República com um voto de desconfiança, uma vez que não havia nenhuma possibilidade de arguirem a existência de um crime, de resto, hoje, comprovadamente inexistente. Então, eles começaram com esse processo. Agora, eu gostaria, Senadora, dentro do espaço desse tipo de aparte inaugurado pelo Senador Lindbergh, colocar um quadro maior sobre essa questão do impeachment no Brasil. O que está ocorrendo no País? Eu acho que o que está ocorrendo é uma reação do capitalismo vadio, do capital não produtivo contra o Estado social. Tenho reiteradamente feito uma análise que é semelhante à dos discípulos de Adorno na Alemanha. O Estado social se estabeleceu com a derrota do nazismo. O que é o Estado social? É o respeito às mulheres; à igualdade de gênero; é o respeito aos direitos do trabalhador; é o respeito às minorias; é o respeito à sustentabilidade; é o respeito à natureza; e é a consciência de que não podemos acabar com a natureza em nome de lucros rápidos que possam ter certos empreendimentos. É como dizia Otto Maria Carpeaux definindo a democracia: a democracia é o regime que procede pela maioria, mas se define pela sua essência; e a essência da democracia é o respeito ao direito de as minorias terem voz para poderem se manifestar e, dessa forma, se transformarem pelo convencimento em maioria também. A democracia é isso. Mas o Estado social eliminou consagrados direitos do capital vadio de exploração absoluta do trabalho, de apropriação da mais-valia, de sobrecarga nas jornadas dos trabalhadores e, fundamentalmente, do domínio sobre os interesses do capital. Isso levou a uma reação que se consubstancia em um tripé. Tudo, modernamente, se baseia em tripé, não é? É o tripé da economia brasileira, que não deu certo; e o tripé da reação do capital vadio. O primeiro apoio desse tripé é a precarização dos Executivos, é a transformação do Executivo em um gendarme, em uma polícia para, com leis contra o terrorismo, contestar e reprimir manifestações do povo e do trabalhador quando agredido nos seus direitos. Essa precarização se dá, fundamentalmente, com a criação do Banco Central independente. Então, o Executivo passa a ter quase nenhuma importância - a importância só de ser entendido como um Estado polícia para segurar as manifestações de protesto do povo -, e o Banco Central passa a ser o verdadeiro Governo, na mão dos detentores do capital. Essa é a história do Banco Central independente. E aqui no Brasil temos um exemplo do que está acontecendo: o Meirelles, ex-Presidente do Banco de Boston, um braço da Febraban; o Ilan Goldfajn, ex-chefe da economia do Itaú; e o Grazie, diretor ou Vice-Presidente também - não me recordo exatamente de qual era o seu cargo - do Bradesco.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Bradesco.

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - Então, entrega-se a condução da economia ao setor financeiro, à banca. E não foi à toa que o Presidente interino Temer desmentiu o Padilha nesta semana. O Padilha disse que o Presidente deseja que o juro seja reduzido. Imediatamente, o Presidente interino Temer contestou, dizendo que o Banco Central tinha autonomia. A autonomia do Banco Central significa independência dos interesses nacionais do desenvolvimento do emprego. Bom, esse é um pé do tripé da reação do capital.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - O segundo apoio, Senadora Vanessa Grazziotin, é a precarização do Parlamento através do financiamento privado, principalmente de pessoas jurídicas em campanhas eleitorais. Então, não temos mais partidos; temos, à moda de dizer dos gaúchos, mandaletes dos financiadores de campanha. Não respondem mais ao programa dos seus partidos, aos compromissos que assumem durante a campanha com os eleitores e passam a ser operadores do capital que os financiou. É a precarização absoluta do Parlamento. E isso nós vemos ocorrer hoje no Brasil com o financiamento privado de campanha e principalmente com o financiamento de campanha de pessoas jurídicas. O terceiro tripé da reação do capital contra o Estado social é a precarização do trabalho; é o avençado valendo mais que o legislado. E, em um processo recessivo como o que vivemos, isso significa que os trabalhadores são reduzidos à condição de verdadeiros escravos do sistema dominado pelo capital não produtivo. No Brasil, vemos uma aliança feita pelo capital vadio, pelos interesses geopolíticos de países que querem a dominação dos recursos da natureza: do petróleo, da água e, provavelmente, no futuro, o domínio da própria Amazônia, como o que está ocorrendo na Grécia, que está pagando dívidas com um patrimônio territorial. Isso tudo ameaça o nosso País. E, nesse processo, uma crise pessoal entre a Presidente Dilma e o Vice-Presidente Temer levou o Temer a ser presa desses interesses. A sua vaidade em ser Presidente da República e a sua irritação por dificuldades na relação com a Presidente fizeram o Vice-Presidente Temer embarcar nessa história do impeachment, que foi inventado através da simulação de um crime de responsabilidade da Presidente da República. Nós, na verdade, estamos nessa situação. E qual é a posição que devemos tomar nesse impasse? Não é "Volta querida!", mas muito menos "Abaixo o Temer!". Temos de defender os interesses nacionais. E os interesses nacionais passam hoje não por entregar os destinos do País a um Congresso financiado pelo capital privado, pelas pessoas jurídicas, mas devolver o Brasil à sua população. Isso seria feito com um acordo que está sendo encaminhado - e muito bem encaminhado -, com o fim do impeachment, com o voto de mais de trinta Senadores patriotas e conscientes da situação que existe no mundo e que existe no Brasil, rejeitando o impeachment no plenário do Senado, e com a Presidenta da República previamente concordando com a convocação de um plebiscito a ser convocado constitucionalmente pelo Congresso Nacional. Ele pode ser convocado pela Câmara Federal ou pelo Senado Federal, com o apoio do Executivo, para que o povo volte a ser protagonista do seu destino. O que estamos vendo é que o preço que o Temer está pagando pelo impeachment é um preço que ele jamais pretendeu pagar, porque não faz parte da sua história, das suas posições políticas, ao longo da sua vida. É o fim da aposentadoria dos trabalhadores; é a entrega da Petrobras, bandeira do José Serra num conluio denunciado pelo WikiLeaks, com a Chevron e com a Shell; é a privatização da educação; é a privatização da saúde. Então, hoje diz-se: "Não, o PMDB está no Governo. O Requião está isolado." O meu PMDB não está no Governo. Não. O Ricardo Barros não é do PMDB. E, nesse Ministério todo, não vejo figuras históricas do PMDB. Agora, eu me pergunto: onde está o PMDB, que, por exemplo, levou um militante como o Jader Barbalho à política? No grupo autêntico, na vontade de mudança que não se manifesta não a favor da Presidente; não no "Volta querida!", mas não se manifesta contra a violação de toda uma história construída no seio desse Partido. O PMDB, na verdade, nunca se constituiu verdadeiramente como um Partido. Ele era uma frente que se caracterizava, como toda frente, por se opor à alguma coisa. Nós éramos uma frente contra a ditadura. "PMDB - Você sabe o porquê." Todo mundo sabia, e foi fundamental na derrubada da ditadura, na eliminação daquele processo autoritário. Ele fez um estatuto maravilhoso, que foi sendo modificado ao longo do tempo com a entrada de pessoas que não pensavam como Ulysses Guimarães e os pais do Partido na sua criação, no seu início. Mas o PMDB não se constituiu verdadeiramente num Partido programático mas como uma verdadeira federação de lideranças estaduais. Na minha opinião, o PMDB ainda é o grande espaço para a formação de um partido político popular nacionalista e democrático no Brasil. Essa é a nossa luta agora. Eu tenho cá comigo, por convicção, a certeza de que muito mais do que trinta Senadores patriotas existem no plenário. Há os entreguistas, sim, mas há os equivocados. Há os que se colocaram em uma posição nessa pinimba, nessa briga, nesse atrito entre a certa irascibilidade da Presidente Dilma com o Parlamento e o desrespeito pelo qual se sentiu atingido o Vice-Presidente Temer. Mas, na medida em que essas discussões se aprofundam, em que o trabalho de vocês na Comissão de Impeachment esclarece através da televisão do Senado à população, vemos que, dentro do próprio Senado da República, um sentimento de restauração da dignidade e de preservação da soberania nacional se estabelece. Tenho a convicção de que muito mais do que trinta Senadores - que é o número com o qual eu, nas minhas avaliações, conto hoje - votarão contra o impeachment, mas votarão contra o impeachment pedindo que a Presidenta apoie um plebiscito e devolva à população brasileira a discussão dos destinos do País. O Brasil não pode ser decidido por dois ou três políticos que estão insatisfeitos com o tratamento pessoal que receberam de uma eventual Presidente da República; não pode ser discutido nas salas das embaixadas de países do mundo desenvolvido que discutem os seus interesses geopolíticos; e não pode ser decidido nos corredores dos bancos nem por um Banco Central dominado pela banca brasileira, pensando única e exclusivamente nos lucros de capital. E, para terminar esse meu aparte, Senadora Gleisi, quero trazer ao plenário o exemplo da Grécia. Em 2010, a Grécia estava em uma situação que diziam que estava o Brasil ontem. Hoje já dizem um pouco diferente porque é o Temer que está comandando a República. A Grécia estava com um déficit de 104% sobre o PIB, mas a Grécia é um país muito limitado em relação ao Brasil. A Grécia tem uma estrutura de turismo sofisticada e produz azeite de oliva. Azeite é o óleo de oliva. O Brasil não, o Brasil tem uma economia mais complexa. Mas, então, propôs-se - era a proposta da União Europeia - o liberalismo econômico, à moda do Meirelles. Aliás, esse Meirelles, que dominava a economia no Governo do Lula, foi, a meu ver, o responsável por tudo isso que está acontecendo agora e ressurge como o salvador dos erros que ele próprio cometeu. Acho que o Meirelles, no comando da economia, vai repetir o que fez anteriormente: lucros recordes dos bancos e desindustrialização do Brasil, com apreciação do dólar para satisfação da classe média. Mas vamos lá. A Grécia tinha um déficit de 104% sobre o Produto Interno Bruto. Daí veio a "meirellada". Eu chamo de "meirellada" isso. O Brasil viveu "meirelladas", "levyandades" e "barbosidades", todos na mesma linha. Com um período diferenciado, curto, do Mantega, que tentou derrubar o valor dos juros e viabilizou uma retomada relativa do desenvolvimento industrial do Brasil. Mas muito bem. Em 2010, a Grécia estava quebrada, 104% do PIB era o seu déficit, o seu default. Aplicou-se a política liberal. Qual foi o resultado disso? Acabaram com a aposentadoria, acabaram com as leis trabalhistas, privatizaram empresas públicas importantes. A saúde e a educação foram arrasadas. E a Grécia passou a ser pressionada por uma dívida muito maior. Não era mais de 104%. O resultado dessa política liberal, em 2015 - este é o último ano em que tenho um dado oficial -, é que foi para 184% a dívida da Grécia sobre o PIB. E, hoje, a Grécia está totalmente arrasada, na mão da União Europeia. Na última reunião que tivemos em Lisboa, inclusive com sua participação, obtive a informação de que a União Europeia ou a banca alemã havia dado um empréstimo de €$206 bilhões para a Grécia. Em um primeiro momento, pensei: puseram a mão na consciência e resolveram detonar o processo de desenvolvimento da Grécia. Não era assim, pois 95% desses €$206 bilhões foram para a mão das bancas alemãs, dos bancos alemães, não entraram na Grécia. Ela ficou com 5% desse valor, totalmente desestruturada. É o que pretende o liberalismo na mão dos banqueiros. E, de resto, o próprio Papa, no encontro de Davos entre os líderes mais importantes do mundo e as pessoas que representam o capital financeiro mais rico e mais influente no Planeta, dava um recado: o capital é bom, é uma acumulação que pode ser utilizada para a inovação tecnológica, para o progresso tecnológico, e que pode ser utilizada para montar uma fábrica, para produzir bens, para dar empregos, para viabilizar a vida das pessoas, mas não pode dominar o mundo na forma de capital vadio, transformando o trabalho em mercadoria. Hoje, o que vemos no Brasil, com o protagonismo limitado da vaidade presidencial de Michel Temer e de certa irascibilidade da nossa Presidente Dilma, é uma disputa maior, a disputa do domínio do capital financeiro sobre a economia do mundo e os seus reflexos no Brasil. E daí atores menores, como Serra, estão querendo acabar com a luta dos nossos antepassados, dos nossos avós, dos nossos pais pelo petróleo. Há essa visão equivocada vendida por uma mídia controlada pelo capital de acabar com os direitos trabalhistas, de acabar com a aposentadoria. O Senador Lindbergh, naquele seu brilhante e longo aparte, mostrava que no Nordeste do Brasil...

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ) - Que foi superado pelo de V. Exª.

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - Ele mostrou que, no Nordeste do Brasil, por exemplo, em Alagoas, a aposentadoria é obtida com 68 anos e 8 meses. Mas essa é a média. No interior, não é assim. O trabalhador rural não vive isso tudo. É a média puxada por uma sobrevida nas grandes cidades, que têm uma estrutura do SUS mais eficiente, onde a renda das pessoas possibilita um atendimento de saúde mais complexo. No Brasil, esse tipo de corte da aposentadoria vai pôr pelo menos 30% dos contribuintes sem a menor possibilidade de alcançar sua aposentadoria. Então, nem "volta, querida", muito menos "abaixo, Michel Temer"! Nós precisamos acabar com o impeachment, fazer um acordo com a Presidente da República, um acordo que nos leve a uma situação de equilíbrio no Brasil, para, através de um plebiscito, levar essa discussão ao povo brasileiro. Estamos na linha do Papa, porque rejeitamos o domínio absoluto do capital vadio, do mamom da Bíblia, ou nós queremos nos transformar em um Estado associado, como Porto Rico é dos Estados Unidos? Isso que está ocorrendo não se dá só no Brasil, mas também na Argentina, através de uma eleição e de uma mídia de guerra que demoliu o prestígio peronista de Cristina Kirchner, e na Bolívia. Inclusive, acabaram com Evo Morales, inventando um filho para ele que não existia. Hoje se sabe que o tal filho de Evo Morales não teve vida, porque morreu no momento do parto da mãe. Mas aquilo tudo, muito bem orquestrado, demoliu um projeto que estava levando a Bolívia a um sucesso relativo na economia. Vamos devolver ao Brasil o protagonismo do brasileiro e liquidar, de uma vez por todas, com esse impeachment. Eu tenho - e tenho certeza de que V. Exª tem também e de que os Senadores presentes neste plenário igualmente têm - a convicção de que existem muito mais do que 30 Senadores esclarecidos, patriotas, para derrubar essa farsa do impeachment, que, na verdade, é o entreguismo em ação, transformando o Presidente interino Michel Temer em um instrumento de interesses que não são os interesses da Nação brasileira, da construção de um projeto nacional do Brasil. Muito obrigado pela tolerância com este curto aparte que dei ao seu pronunciamento.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Senador Requião, V. Exª sabe do prazer que tenho sempre de ouvi-lo, porque V. Exª não fala, V. Exª dá uma aula à população e à Nação brasileira. Fala não só com muita convicção, mas com muito conhecimento, e isso é muito importante.

    Senadora Gleisi, quero concluir meu pronunciamento exatamente como concluiu o Senador Requião no seu aparte. Quando nós lutamos contra o impeachment, nós não estamos lutando para trazer o caos ao Brasil. Muitos dos Senadores que aqui estão votaram a favor da admissibilidade para decidirem depois, mas uma das questões que eles levantam é que a Presidente teria perdido a capacidade de governar o Brasil. Então, o que nós estamos fazendo, como disse V. Exª? Dando alternativas. São alternativas! E alternativas se socorrem em quê? Na democracia.

    As pesquisas estão mostrando. Não tenho dúvidas, Senador Requião, de que essa é a primeira de muitas que virão. A população brasileira, no seu subconsciente, tem clareza de que a Presidente está sendo afastada por questões políticas, não porque cometeu crime. E, quando o impeachment não vem recheado de crime, ele deixa de ser impeachment e passa a ser golpe. Esses Senadores e essas Senadoras levarão para o resto de suas vidas, junto com eles, a placa daqueles que, infelizmente - caso isso se viabilize -, ajudaram a romper, neste momento, com a democracia e com os objetivos de que V. Exª fala.

    Tenho aqui uma postagem que fiz, Senador Requião. Vi no jornal aqueles diretores do Copom, todos sorridentes, no final de uma reunião em que se mantiveram as taxas. Fiz uma postagem mostrando a origem de cada um: Banco Itaú - o maior banco privado do Brasil -, Safra, BMG, Santander, Bradesco. Essa é a origem dos diretores, daqueles que participam, e são essas instituições que eles ouvem, e não ao povo brasileiro.

    Então, muito obrigada, Senadora.

    Obrigada, Senador, pelo aparte...

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - Na verdade, Senadora, o que V. Exª...

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - ...que fica incluído no meu pronunciamento.

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - O que V. Exª está dizendo é que não é a manutenção do Temer, de interino para Presidente permanente. Votando a favor do impeachment, nós estamos votando o domínio absoluto da banca sobre a estrutura do Estado brasileiro. Isso é muito ruim para todos nós.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Muito obrigada, Senador.

    Obrigada, Senadora Gleisi.

    A SRª PRESIDENTE (Gleisi Hoffmann. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) - Parabenizo a Senadora Vanessa pelo pronunciamento.

    Aliás, Senadora Vanessa, sua família mora no Paraná, mora em Curitiba. Estive no interior do Estado nesta semana e trouxe muitos abraços para V. Exª. Estive em várias cidades, na região centro do Estado, em Guarapuava, em Laranjeiras.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Em Guarapuava, tenho parentes. Meus parentes estão espalhados pelo Brasil. Muito obrigada.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/07/2016 - Página 12