Discurso durante a 122ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Crítica à decisão do Ministro de Minas e Energia, Senhor Fernando Bezerra Filho, de cancelar a concessão da Companhia Energética de Roraima (CERR), e anúncio de convocação do Ministro para a Comissão de Direitos Humanos e a de Comissão de Infraestrutura, a fim de obter explicações acerca da atitude tomada.

Esclarecimentos acerca dos motivos que levaram o orador a defender a Presidente Dilma Rousseff.

Autor
Telmário Mota (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RR)
Nome completo: Telmário Mota de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MINAS E ENERGIA:
  • Crítica à decisão do Ministro de Minas e Energia, Senhor Fernando Bezerra Filho, de cancelar a concessão da Companhia Energética de Roraima (CERR), e anúncio de convocação do Ministro para a Comissão de Direitos Humanos e a de Comissão de Infraestrutura, a fim de obter explicações acerca da atitude tomada.
GOVERNO FEDERAL:
  • Esclarecimentos acerca dos motivos que levaram o orador a defender a Presidente Dilma Rousseff.
Aparteantes
Magno Malta.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2016 - Página 28
Assuntos
Outros > MINAS E ENERGIA
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • CRITICA, DECISÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA (MME), CANCELAMENTO, CONCESSÃO, COMPANHIA, ENERGIA ELETRICA, RORAIMA (RR), APREENSÃO, INFLUENCIA, BEM ESTAR SOCIAL, DESEMPREGO, ANUNCIO, CONVOCAÇÃO, MINISTRO, COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS (CDH), COMISSÃO DE SERVIÇOS DE INFRAESTRUTURA, OBJETIVO, OBTENÇÃO, ESCLARECIMENTOS.

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Paulo Paim; Srs. Senadores; Srªs Senadoras; telespectadores da TV Senado; ouvintes da Rádio Senado, hoje, venho a esta tribuna, de certa forma, com o coração partido de ver mais uma decisão discriminatória contra meu Estado. Aliás, um dia, ouvi até o Senador Caiado, aqui, por várias vezes, defender o que eu mesmo vou defender aqui.

    Fizeram com a CERR, de Roraima, Senador Caiado, o mesmo que fizeram com a companhia elétrica do seu Estado. Eu não consigo entender por quê.

    Eu queria antes fazer aqui uma retrospectiva. Faço uma retrospectiva. Quando cheguei a este Senado, em Roraima, havia vários entraves que impediam o desenvolvimento do Estado. Dos quatro Estados que passaram, Rondônia, Amapá, Roraima e Tocantins, Roraima ficou o primo pobre. Políticas de corrupção permanentes no Estado impediram o Estado de cair no desenvolvimento. E olhem que o Estado de Roraima é, sem dúvida, a entrada do Brasil pela Venezuela e pelos países caribenhos, países que vivem do turismo, para os quais o Brasil, através do Estado de Roraima, poderia ser um grande fornecedor principalmente de matéria-prima, de gêneros alimentícios etc.. No entanto, as políticas adotadas no meu Estado não levaram a esse caminho.

    Roraima, quando era Território, vivia da pecuária, da agricultura, do minério, da madeira. Era um Estado independente, uma economia independente. Depois que passou a ser Estado, foi viver do contracheque, do contracheque federal, estadual e municipal. Então, reduziram a economia do nosso Estado a um Estado do contracheque, do empreguismo, de tudo que for "ismo": clientelismo, favoritismo, nepotismo, "roubalhismo". E botaram Roraima no abismo. Então, essa situação do meu Estado tornou o Estado um Estado carente, dependente do Governo Federal, absolutamente do Governo Federal.

    E olhem, fico observando que, nessa questão do impeachment, dos oito Deputados Federais de Roraima, sete foram a favor do impeachment. Então, era até para o atual Governo do PMDB olhar para Roraima com um olhar mais carinhoso, com um olhar mais grato.

    Mas vejam vocês, foi já na gestão do Sr. Michel Temer, o Ministro Osmar Terra, Ministro do Desenvolvimento, foi fazer uma visita ao Estado de Roraima, e, no lugar de conversar com a Governadora, que é do PP, a Governadora é do PP, de um partido que dá sustentação a Michel Temer e um partido que, quase na sua totalidade, fechou questão a favor do impeachment. E a Governadora não recebeu a visita deste Ministro do PMDB, que foi a Roraima conhecer apenas um programa social da Prefeitura de Boa Vista, enquanto o Estado de Roraima tem vários programas, e esse Ministro esteve lá, gastando fortuna, com avião particular, e não deu atenção à Governadora, fazendo um papel de discriminação ao Governo do Estado de Roraima.

    Em seguida, foi o Presidente do Incra. Ora, em Roraima, estão sendo passadas terras da União para o Estado. Então, necessariamente, esse Presidente do Incra teria que conversar com a Governadora, porque há muitas questões pendentes nessa transferência. E, para nossa surpresa, também o Presidente do Incra sequer teve uma audiência com a Governadora, que é do PP.

    Então, para completar agora a dosagem, esta em escala bem maior, o Ministro de Minas e Energia, Sr. Fernando Bezerra Filho, de uma canetada, surpreendentemente, baixou uma portaria, cancelando, numa atitude jamais vista, a concessão da CERR, Companhia Energética de Roraima. Então, na hora em que for suspensa a autorização para a CERR distribuir ou fornecer energia para 14 Municípios do Estado, exceto a capital, a partir daí, ela tem que fechar as suas portas.

    Agora, a atitude desse Ministro e do Governo Federal do PMDB contra o Estado de Roraima é avassaladora. Primeiro, quem vai pagar a dívida da CERR? Segundo, como vão ficar os 700 servidores da CERR? Terceiro, os 14 Municípios correm o risco de um verdadeiro apagão, porque os servidores já entraram em estado de alerta, de greve, e podem, se a greve for prorrogada, até não cumprir os 30%, que são necessários para o fornecimento básico da energia e gerar um verdadeiro apagão no Estado de Roraima. Olhem o ato da irresponsabilidade!

    O próprio PMDB, com o PSDB, no Governo passado, tomou emprestado da Caixa Econômica mais de 600 milhões para sanear a CERR e, em seguida, federalizá-la. Mas a atual Governadora, muito teimosa - não é, Governadora? -, muito teimosa... V. Exª não trocou os gestores da CERR, deixou os mesmos que eram subordinados ao Senador do mal, e, aí, veio o resultado: a CERR não teve o seu saneamento, a CERR não foi recuperada e, hoje, a CERR está com as portas fechadas, e o Governo do Estado, portanto, que era o gestor da CERR, perdeu, contudo, essa autoridade.

    E aí fica agora o nosso questionamento. Hoje iniciamos aqui requerimento pedindo informações ao Ministro de Minas e Energia. Qual foi a motivação para tomar essa decisão inédita, essa decisão do Governo Federal, para cancelar o processo de prorrogação de concessões de serviços públicos e de distribuição de energia? O sindicato, humanitário, afirma que os mais de 700 servidores da CERR, no interior, estão sem receber salários e não há quem se responsabilize pelos prejuízos financeiros dos trabalhadores e pelo cumprimento da legislação trabalhista. Quem vai fazer isso, Sr. Ministro? O Senhor está vendo como o senhor recebeu alguma informação errada de pessoas que só querem prejudicar o Estado de Roraima, fazer politicagem com o Estado de Roraima?

    Sr. Ministro Fernando Bezerra Filho, segundo a entrevista da Folha de Boa Vista, por um Presidente da CERR, a CERR fez esse financiamento de 600 mil. Hoje vai caber ao Estado pagar mais de 1 bilhão. Quem vai pagar isso, Ministro? É a nova empresa que vai receber as concessões? É o Governo Federal ou é o suor do povo de Roraima, que já não tem nem emprego para sobreviver?

    O PMDB do meu Estado faz um discurso - não é o PMDB do Senador Raupp; é o PMDB do mal, do meu Estado - e pratica outra coisa. A Prefeita atual é do PMDB. Ela assumiu dizendo que iria dar 20 mil empregos. Ela demitiu 4 mil e, até hoje, não empregou ninguém, a não ser a família dela.

    Em seguida, agora, eles vinham a esta tribuna dizer que a Dilma tinha de cair, que o desemprego chegou a 12 milhões, que não pode, que o quadro tinha de mudar, que a economia tinha de se fortalecer, que tinha de haver energia etc. E aí? Temer! Temer, quer dizer que aos Deputados que votaram em V. Exª, a eles V. Exª responde demitindo 700 pais de família?

    O Sr. Magno Malta (Bloco Moderador/PR - ES) - Senador Telmário, pode me dar um aparte?

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RR) - Senador Magno.

    O Sr. Magno Malta (Bloco Moderador/PR - ES) - Senador Telmário, não sei se há, porque V. Exª expressa um amor muito grande pelo seu Estado e por toda essa área da Amazônia, que é um complexo. São muitos Estados dentro desse complexo, o Estado do Amazonas. V. Exª, lá na sua área, que é uma área com dificuldades muito grandes, apesar de ter lideranças importantes no Governo Federal, aqui, ao longo dos anos... O Estado já poderia estar vivendo momentos melhores. E V. Exª, quando pega uma causa para brigar, briga, e briga aguerridamente. Tenho visto também - V. Exª me permita a ousadia! - que V. Exª tem lutado aguerridamente na defesa da ex-Presidente Dilma, afastada. E estou falando ex-Presidente, porque só vai ser sepultada mesmo, porque já foi, já dançou. Nós teremos o sepultamento. Mas V. Exª tem ido para a tribuna aguerrido: briga, vai para o enfrentamento, faz. E fiquei impressionado, porque o PT, quando precisa da gente, trata a gente com carinho e nos chama de irmãos. Sabia? E, assim, nossa, eles são... Para convencer a gente a ficar do lado deles, há um carinho. E eu vi como o senhor virou um ídolo deles aqui: "Telmário? O Telmário é arrojado, o Telmário fala!" E fala mesmo. Sou testemunha, porque o Brasil é testemunha dos debates que eu faço com V. Exª e que V. Exª faz com qualquer um. Mas soube que agora o PT não quer apoiar o seu candidato a prefeito, lá no seu Estado. Achava assim: o PT não vai apoiar ninguém; só vai apoiar o candidato de Telmário, porque, pelo o que o Telmário tem feito aqui, vai apoiar Telmário. Agora, fiquei sabendo que não apoiaram o candidato de V. Exª. O PT, Senador Paim - com todo o respeito a V. Exª, porque V. Exª se desassociou; continua, é filiado, mas V. Exª é uma figura diferente, que o Brasil respeita... Mas eu convivi com isso, com esse amor, quando eles querem a gente, para brigar por eles. E, depois, eles desaparecem. Não sei se é verdade a informação, mas soube que, quando V. Exª precisou, para apoiar o seu candidato a prefeito, porque V. Exª tem um jovem com muita capacidade, no seu Estado, e que vai disputar bem a eleição, o PT virou as costas para o maior combatente dele nesta Casa, que é V. Exª.

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RR) - Senador Magno, muito obrigado pela participação de V. Exª. O serviço de informação de V. Exª é melhor do que o do tempo, porque não acredito que o tempo tenha consciência dessa discriminação no nosso Estado de Roraima.

    Eu aqui sempre tive uma posição em defesa da Presidente Dilma - e V. Exª me dá essa oportunidade, talvez de, mais uma vez, esclarecer isso à Nação brasileira -, exatamente por essa razão de que estamos falando. Imaginem, assumi o mandato como Senador da República, mas sem nem ter uma dimensão do trabalho, etc., das coisas aqui. O Estado é um Estado pequeno, um eleitorado relativamente pequeno, e a Presidente Dilma teve um olhar diferenciado com as nossas solicitações. Em Roraima, foi colocada pelo PMDB e pelo PSDB, quando passaram as terras da União para o Estado de Roraima, uma cláusula que amarrava, o Estado tinha que criar um parque nacional do lavrado, uma savana de preservação. Roraima já tem muitas áreas de preservação, inclusive a área de indígena é quase toda parque do lavrado. Isso engessava o Estado, dificultando e criando uma dificuldade na questão fundiária dentro do nosso Estado.

    Então, ninguém queria investir, e quem estava lá dentro não queria comprar terra, não queria investir na terra. Quem estava fora não queria vir. Então, estávamos tendo uma série de dificuldades com relação a isso tudo.

    Falei isso com a Presidente Dilma. E ela teve a sensibilidade, tirou isso do decreto. E, em um ano, ela foi duas vezes ao Estado Roraima: uma vez, entregar casa; na outra, entregar casa de novo e tirar esse decreto.

    Outra coisa é a energia de Tucuruí. Roraima é o único Estado que não está interligado, porque lá eles primam pelas hidrelétricas; pelas termoelétricas, energia mais cara, mais poluente, que tem mais corrupção e um bocado de político vagabundo no meio roubando.

    Então, o que acontece especificamente com a questão da hidrelétrica chegando lá? Estava parada quatro anos, e a Presidente nem sabia disso. Os líderes políticos de Roraima não falavam para ela que estava quatro anos parada, por uma questão indígena, pois se precisava de uma autorização, e ela, em 15 dias, resolveu isso, foi ao meu Estado e tirou isso aí.

    Então, fiquei muito grato pelo olhar diferenciado que a Presidente Dilma teve em relação ao Estado de Roraima. Então, a minha gratidão, o meu trabalho aqui não foi um trabalho para defender o PT, não - não foi para defender o PT, não! -, mas entendo também que o PT ainda continua a serviço do Senador do mal, porque perdeu uma oportunidade ímpar de somar com a gente. Respeito a posição do PT, respeito o candidato do PT, mas deveria ter, sim,...

    O Sr. Magno Malta (Bloco Moderador/PR - ES) - Eles lançaram candidato lá?

    O SR. TELMÁRIO MOTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RR) - Vão lançar um candidato lá, com respeito, mas o candidato saiu sozinho. Então, dividiu a oposição, e nós, naturalmente, vamos trabalhar com um tempo muito escasso, quando poderíamos ter melhores propostas para esclarecer à população.

    Então, sem dúvida, acho que o PT pensou nele sozinho, não pensou no grupo. Eu fiz isso também, pensando no meu Estado, pela Presidente Dilma e agradeço a sua posição.

    Queria deixar isso claro, porque as pessoas, às vezes, dizem que o Senador Telmário é um soldado defensor do PT. Não! Eu não defendo o PT. Eu defendia a Presidente Dilma e defendo, porque entendo - cada vez mais entendo isso -, porque vejo agora que o Governo do Michel Temer está de joelhos para um Senador do meu Estado que chegou lá e só levou na mala denúncias de corrupção, e hoje é bilionário sem explicação. É o Senador mais denunciado em corrupção, e o Governo Michel Temer está de joelhos para ele, prejudicando o Estado de Roraima. É isso que me traz à tribuna, porque não aceito isso de nenhuma forma.

    Então, eu queria, Sr. Presidente, fazer esse registro. Concluindo o meu discurso, aqui para não perder o raciocínio, eu quero saber qual a indenização que receberá o governo do Estado em face dessa extinção de concessão para a CERR. Também, diante da extinção da concessão, o Governo de Roraima está legalmente impedido de aportar recursos financeiros, particularmente para manutenção da geração e distribuição de elétrica no interior do Estado. Ademais, o Sindicato dos Urbanitários afirma que a CERR está aí praticamente com as suas portas fechadas, sem poder naturalmente agir como deveria.

    Então, fica aí a minha interrogação. E hoje fiz esse requerimento ao Ministro de Minas e Energia, que não se encontra em Brasília, nem também o Diretor não se encontra, mas nós estamos acionando. Estamos convocando aqui para a Comissão que é presidida pelo ilustre e nobre Senador Paulo Paim, que é a CDH. Nós estamos convidando ali pessoas envolvidas nesse fato para ver essa questão desse desemprego, de 700 pais de família, Senador Paulo Paim, e muitos deles com mais de 25 anos de trabalho. Como é que vai ficar? E há outros que estão com o salário atrasado, sem o seu direito trabalhista.

    E também na CI, que é a Comissão de Infraestrutura, para saber o que levou o Governo a tomar uma decisão dessa, tão radical, sem posicionar politicamente, sem preparar politicamente e tomado de surpresa o próprio Governo do Estado.

    Então, aqui fica o meu registro, fica o meu protesto. Eu peço até desculpas ao povo brasileiro de a gente estar tratando de um assunto que é muito paroquial, muito ligado ao Estado de Roraima, mas é o povo que me elegeu, é o povo para o qual eu tenho que trabalhar também. E, sem nenhuma dúvida, eu, como Senador, tenho que defender o Estado de Roraima. E vejo aqui, neste momento, o Governo Temer fazendo uma grande discriminação ao Estado de Roraima.

    Espero que o Temer não esteja sendo conivente com isso, que também não tenha nem conhecimento disso. Porque, quanto à Presidente Dilma, muitas vezes, o PT foi castigado e algumas decisões não chegaram nem ao ouvido da Presidente Dilma. Eu tiro pela questão do Parque do Lavrado e a questão da energia de Tucuruí.

    Meu muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2016 - Página 28