Pela Liderança durante a 122ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento de Ivo Pitanguy, médico cirurgião plástico.

Autor
Ronaldo Caiado (DEM - Democratas/GO)
Nome completo: Ronaldo Ramos Caiado
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Pesar pelo falecimento de Ivo Pitanguy, médico cirurgião plástico.
Aparteantes
Rose de Freitas.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2016 - Página 41
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, IVO PITANGUY, ENCAMINHAMENTO, VOTO DE PESAR, APRESENTAÇÃO, PESAMES, FAMILIA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

    O SR. RONALDO CAIADO (Bloco Social Democrata/DEM - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, diante deste momento importante da vida política nacional, quando estamos aí às vésperas de votar, amanhã, no plenário, o libelo acusatório, que já foi apreciado na Comissão Especial do Impeachment - matéria que será amplamente discutida amanhã -, quero dizer que, na data de hoje, vou me ater a um outro assunto, um assunto extremamente relevante, não só para o setor da saúde, como para nós médicos.

    Posso garantir que todos nós, brasileiros, tomamos conhecimento do que foi a trajetória de Ivo Pitanguy, cujo nome sempre foi sinônimo de cirurgia plástica e que veio a falecer no último sábado. Sem dúvida alguma, a cirurgia plástica está de luto, e esse fato atinge não só as fronteiras brasileiras, mas também internacionais, pela credibilidade desse homem.

    A cirurgia plástica antes de Ivo Pitanguy era sinônimo de uma elite formada por algumas pessoas que tinham acesso a um tratamento diferenciado. As pessoas que nasciam com deformidades graves ou eram vítimas de acidentes ou de mutilações normalmente eram atendidas em qualquer posto de saúde, sem a menor preocupação com a estética daquele paciente que ali chegava, aquele acidentado. Isso era olhado como secundário.

    Tive a oportunidade de conviver com o Pitanguy já que a minha formação foi na área ortopédica, e, àquela época, ele foi o chefe do serviço da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Santa Casa de Misericórdia. Lá ele montou indiscutivelmente uma das enfermarias que passou a ser referência, não só no País, mas no mundo.

    Esse homem produziu muito mais do que técnicas cirúrgicas; Ivo Pitanguy soube mostrar a essência, a doutrina da cirurgia plástica. Ele, com aquela elegância culta, aquela maneira de ensinar, soube mostrar que não era apenas o ato de operar o paciente, mas sim conhecer e entender, muitas vezes, o drama que aquela pessoa estava vivendo, valorizar o que ele identificava como mais grave, que o constrangia, que o limitava, muitas vezes, de participar do dia a dia, de conviver com as pessoas e de se retrair.

    Era este o Ivo Pitanguy: um homem que se sentava à cabeceira do leito de um paciente, na Santa Casa do Rio de Janeiro, que conversava, ouvia, ponderava e que, a partir dali, com a inspiração que Deus lhe deu, elaborava técnicas que foram utilizadas por cirurgiões plásticos do mundo todo.

    A enfermaria de Ivo Pitanguy na Santa Casa era disputada não só pelos médicos à época residentes que queriam ter indiscutivelmente aquele rótulo de que foram formados e preparados pela escola Pitanguy, mas também por várias escolas renomadas - de onde vinham residentes - da Europa, dos Estados Unidos, da Ásia para aqui aprenderem com aquele homem que era extremamente educado, sincero, exigente no cumprimento do conhecimento científico daquele colega que estava ali fazendo o curso. Ele exigia do médico uma visão mais ampla, um conhecimento e uma cultura geral e uma habilidade de como se dirigir a uma pessoa.

    Enfim, Ivo Pitanguy construiu uma escola, uma escola de cirurgia que deu aos cidadãos mais simples, àquelas pessoas mais humildes a oportunidade de chegar à Santa Casa do Rio de Janeiro e ser operado por aquele que sempre foi uma referência da cirurgia plástica. Ou seja, no Brasil, à época, nós não falávamos "cirurgia plástica", nós falávamos "Pitanguy". Ele significava aquilo que todos desejavam quando tinham alguma lesão ou alguma deformidade: ter a oportunidade de ser tratado por ele.

    Convivi com o Ivo Pitanguy, até porque meu professor, Nova Monteiro, que foi chefe do serviço também na Universidade Federal do Rio de Janeiro, era amigo de mesma geração dele, com quem conviveu intimamente ali, cada um dentro do seu serviço médico. E tive a oportunidade de vê-lo operar, de ver ali a sua habilidade cirúrgica, a sua humildade e, ao mesmo tempo, a sua capacidade de decidir.

    Esse homem, infelizmente, nos deixou: no último sábado, veio a falecer.

    E vejam vocês: a duas semanas atrás, eu tive a oportunidade de receber um título, uma menção, uma honraria do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, uma das entidades que, sem dúvida alguma, reverencia os grandes nomes da cirurgia brasileira. E, naquele dia, ele fez questão de me telefonar, a exatamente duas semanas atrás. Depois, eu o vi em cadeira de rodas, levantando e caminhando com a tocha dos Jogos Olímpicos.

    É um homem que mostrou toda a sua capacidade e, com isso, mostra a escola, faz uma escola, e são centenas de milhares de cirurgiões plásticos hoje no Brasil que seguem a doutrina Ivo Pitanguy.

    Eu queria - eu quero! -, neste momento, aqui, render minhas homenagens a esse homem e, ao mesmo tempo, a todos os seus familiares que também são seguidores da sua técnica cirúrgica, tais como o seu neto Antonio Paulo.

    E, ao me dirigir a Antonio Paulo, eu quero render homenagens a toda a família e dizer que o Brasil hoje tem conhecimento de que, na área da saúde, o nosso Ivo Pitanguy trouxe para o mundo técnicas, doutrina e a essência da boa Medicina. Isso é o que nós esperamos de todos que têm o compromisso e o juramento de poder exercer e exercitar a Medicina no País. É um exemplo a ser seguido.

    Aqui da tribuna do Senado Federal, rendo minhas homenagens a ele, parabenizo esse homem que honrou o Brasil e que, indiscutivelmente, fez, por milhares de pessoas, algo, sem dúvida alguma, sublime: recuperar a sua autoestima, a sua dignidade e propiciar-lhes a volta ao seu dia a dia de trabalho. Ninguém poderá substituí-lo.

    Muito obrigado, Sr. Presidente, pelo tempo que me concede. Encerro minhas palavras...

    A Srª Rose de Freitas (PMDB - ES) - V. Exª, antes de encerrar, permite-me um aparte?

    O SR. RONALDO CAIADO (Bloco Social Democrata/DEM - GO) - Pois não, Senadora Rose.

    A Srª Rose de Freitas (PMDB - ES) - Senador Caiado, veja V. Exª como é a vida, as circunstâncias que a envolvem. Esse homem tão fantástico, esse profissional reconhecido mundialmente, que tantos alunos aperfeiçoou ou induziu ou estimulou para seguir a sua profissão com essa dedicação exclusiva na questão da cirurgia plástica, esse ser humano de grande qualidade que eu tive a oportunidade de conhecer pessoalmente, ao final de sua vida, de uma forma surpreendente, levanta um símbolo que, no momento, historicamente, afeta o coração de todos. Não há um brasileiro hoje que não acompanhe as Olimpíadas, que não torça por elas, que não queira estar perto do evento ou saber dele. Então, Pitanguy, de repente, num momento desses, um dia antes da sua morte, é capaz de se encontrar, com aquele símbolo da alegria dos brasileiros na mão. Eu o conheci também como ambientalista. Tive a oportunidade de visitar o projeto dele naquelas fazendas marinhas, estimulando a criação de vieiras, coquilles saint-jacques, e tive o ensejo de conversar com ele também. E eu vi que ali há umas coisas que são importantes para que o ser humano possa abrilhantar tanto a vida desta Nação e fora dela: é ter, junto do profissional, do médico dedicado, um ser humano de qualidade, sensível, capaz de largar tudo, arregimentar sua força profissional e ir para dentro de um conflito, de um acidente e se colocar à disposição. Encontrei pessoas inúmeras, inclusive do meu Estado, que foram operadas por ele, como se fossem, por exemplo, uma Sophia Loren, e receberam o mesmo tratamento, a mesma distinção. E é isso que faz a diferença. Não há tantos Ivos Pitanguys no Brasil, mas deve haver espalhadas por alguns lugares pessoas com essa condição. Quando V. Exª sobe à tribuna e faz essa homenagem, quero dizer que eu me sinto enquadrada nesse sentimento, embora não seja da área médica, e que perdemos. A vida é isto: perde-se e ganha-se. Mas, quando a morte leva um desses homens, ou mulheres, seja quem for, com tantas qualidades, podemos dizer que ficamos um pouquinho mais pobres, como estamos hoje. Mas ele foi capaz, antes de ir, de erguer a Tocha Olímpica, e o Brasil teve a oportunidade, mais uma vez, de vê-lo com o tamanho, com a galhardia, com a coragem, com o brilhantismo e com o simbolismo que ele deixa para todos nós como exemplo de cidadão brasileiro. Eu agradeço a V. Exª.

    O SR. RONALDO CAIADO (Bloco Social Democrata/DEM - GO) - Eu que agradeço o aparte de V. Exª e faço questão de incluí-lo também no meu pronunciamento para que seja parte da homenagem que presto ao grande cirurgião Ivo Pitanguy.

    Muito obrigado, Sr. Presidente, pelo tempo que me concede. Agradecido.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2016 - Página 41