Pela ordem durante a 127ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Crítica ao incidente diplomático com o Uruguai e à interferência brasileira na presidência do Mercosul pela Venezuela, e elogio à gestão do ex-Presidente Lula na política internacional.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela ordem
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL:
  • Crítica ao incidente diplomático com o Uruguai e à interferência brasileira na presidência do Mercosul pela Venezuela, e elogio à gestão do ex-Presidente Lula na política internacional.
Publicação
Publicação no DSF de 17/08/2016 - Página 68
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL
Indexação
  • CRITICA, INTERFERENCIA, JOSE SERRA, MINISTRO DE ESTADO, ITAMARATI (MRE), PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, PRESIDENCIA, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), ELOGIO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, GESTÃO, POLITICA INTERNACIONAL, BRASIL, FAVORECIMENTO, COMERCIO, GRUPO, PAIS, VIZINHO.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente.

    Eu não poderia deixar de me manifestar nesse assunto, porque acho de grande gravidade esse incidente envolvendo o Uruguai, aliás, a política externa brasileira em relação aos nossos parceiros do Mercosul, Senador José Aníbal. Realmente, eu acho que nós temos que tratar com mais cuidado essas relações.

    Desde que o Chanceler José Serra assumiu, nosso colega aqui do Parlamento, nós temos tido por parte dele falas, posições que são muito polêmicas, inclusive posições contrárias ao próprio Mercosul, ao próprio Parlasul, quer dizer, contestando, que seja, uma organização que beneficiou os nossos países e que, por consequência, beneficia muito o Brasil.

    O Chanceler uruguaio fez a afirmação, como disse V. Exª, na Câmara dos Deputados do Uruguai, na Comissão de Relações Exteriores deles lá. Isso está registrado em notas taquigráficas. Se não fosse verdade, por que iria o Chanceler se dirigir aos Deputados do seu país falando que havia uma tentativa de negociação pelo Chanceler brasileiro envolvendo relações com a China, desde que o Uruguai votasse com a posição brasileira de impedir a Venezuela de assumir o Mercosul. São graves essas acusações, elas têm que ser esclarecidas, não negadas. E penso que o Brasil deve retratação ao Uruguai, um pedido de desculpas por essa situação.

    Além do mais, nós não estamos aqui, quando defendemos que a Venezuela assuma a Presidência do Mercosul, fazendo uma defesa do Presidente Maduro, da política interna da Venezuela. Isso não nos cabe. Nós estamos defendendo a Venezuela enquanto país, enquanto integrante do bloco e, pelo Tratado de Assunção e pelo Protocolo de Ouro Preto, seu direito de assumir a Presidência Pro Tempore do Mercosul.

    Aliás, é importante que este Parlamento aqui saiba, que o Senado da República saiba que a oposição da Venezuela - a oposição da Venezuela -, na reunião da Mesa Diretora do Parlasul, foi contra a posição do nosso Ministro das Relações Exteriores, José Serra, que não quer que a Venezuela assuma a Presidência do Mercosul. O que diz a oposição na Venezuela, que é oposição ao Maduro, que o critica, que quer fazer o plebiscito revogatório? O que eles disseram? Que não é uma questão de governo, é uma questão de país e que eles não iriam contra o seu país.

    Então, quem somos nós para falar das questões internas da Venezuela? Não estou aqui a defender, eu acho que eles têm uma crise profunda, mas não vai ser uma posição do Brasil, uma posição externa a resolver o problema interno deles.

    Portanto, eu acho que nós temos que ter muita cautela mesmo em relação a isso. Nós não podemos voltar a ter a política que Chico Buarque falava que o Brasil tinha, em que nós falávamos fino com os Estados Unidos e grosso com os países aqui do Mercosul, grosso com o Paraguai, grosso com o Uruguai, grosso com a Argentina. Nós mudamos essa relação. Hoje nós temos uma integração e uma relação de respeito.

    É importante dizer, Senador Aníbal, que as relações não podem ser ideológicas de um país para outro; nós temos que olhar inclusive o resultado que essas relações trazem para a economia brasileira e, portanto, para o povo brasileiro.

    Quando a Venezuela entrou no Mercosul, nós exportávamos para aquele país R$608 milhões; passamos a exportar R$5 bilhões por ano. O nosso saldo, nos últimos anos, foi de 29 bilhões. Deve estar mais agora, mas não tenho os dados de um período mais recente. É bem provável, no entanto, que, com a crise da Venezuela, assim como com a crise da Argentina, tenham caído nossas exportações. Mas não é porque a Argentina está em crise que nós vamos deixar de ter relações comerciais com ela.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) - Então, é muito benéfica para o Brasil essa relação.

    E aqui eu não posso terminar, sem antes fazer uma defesa da política externa conduzida pelo Presidente Lula, que foi uma política ativa e altiva. O Lula é, hoje, um grande líder reconhecido internacionalmente, primeiro pelas relações políticas externas que desenvolveu, Senador Elmano, pelas visitas, pela respeitabilidade que tem, pela solidariedade que deu aos países; segundo, porque trouxe ao Brasil dividendos importantes na exportação.

    Quando Lula assumiu, nós tínhamos uma exportação de US$60 bilhões por ano; nós subimos para US$280 bilhões. No Mercosul, o valor era de 4 bilhões; subimos para 35 bilhões. Se houve um momento, nessa história, em que o País foi reconhecido, foi no governo do PT, foi no governo do Presidente Lula.

    Quem hoje pode ter vergonha somos nós, os brasileiros, porque estamos passando para todo mundo a imagem de um país golpista.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/08/2016 - Página 68