Discurso durante a 133ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Inquirição do Sr. Luiz Gonzaga De Mello Belluzzo, professor da Unicamp e economista, sobre as gestões econômicas dos governos do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso e da Presidente Dilma Rousseff, e solicitação de esclarecimentos acerca do déficit aprovado pelo Governo interino de Michel Temer.

Autor
Kátia Abreu (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/TO)
Nome completo: Kátia Regina de Abreu
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Inquirição do Sr. Luiz Gonzaga De Mello Belluzzo, professor da Unicamp e economista, sobre as gestões econômicas dos governos do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso e da Presidente Dilma Rousseff, e solicitação de esclarecimentos acerca do déficit aprovado pelo Governo interino de Michel Temer.
Publicação
Publicação no DSF de 27/08/2016 - Página 45
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • INQUIRIÇÃO, INFORMANTE, LUIZ GONZAGA DE MELLO BELLUZZO, ASSUNTO, SOLICITAÇÃO, COMENTARIO, GESTÃO, ECONOMIA NACIONAL, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PEDIDO, ESCLARECIMENTOS, DEFICIT, APROVAÇÃO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE, INTERINO.

    A SRª KÁTIA ABREU (PMDB - TO) - Obrigada, Sr. Presidente.

    Quero cumprimentar o Prof. Belluzzo, dizer que é um prazer, uma honra, uma alegria tê-lo aqui conosco.

    Sinceramente, fico um pouco pesarosa pela ausência dos Senadores da Base do Presidente interino Michel Temer num momento tão importante para o Brasil. Com todo o respeito à ausência desses Senadores, o que é um direito de cada um, mas eu tenho certeza de que o senhor teria muito a esclarecer sobre as dúvidas ou não de cada um deles.

    E nessa hora eu fiquei aqui pensando o que significaria essa ausência. Por que essa ausência de perguntas? Além da pressa, e ninguém entende o porquê de acelerar este processo. Lembro-me de Caetano Veloso, que diz: "Narciso acha feio o que não é espelho".

    Então, eu vou à minha primeira consideração, mas o senhor saiba que é muito bem-vindo a esta Casa.

    Os indicadores econômicos, comparativamente, Fernando Henrique e Dilma - e quero aqui ressaltar a minha admiração e o meu benquerer pelo Presidente Fernando Henrique, não tenho nenhuma amizade, proximidade com ele, mas sei admirá-lo como governante pelas coisas boas que ele fez -, então, é apenas uma comparação que é impossível de não ser feita. Para que todo o Brasil possa entender por que alguns insistem, com tanta obsessão, em dizer que a Presidente é uma irresponsável e que esta é a maior crise que o Brasil já teve.

    Então, vamos lá rapidamente.

    Desemprego em 2002, 18,5%, segundo o DIEESE; Dilma, 16,8%. Portanto, maior do que da Presidente Dilma. Desemprego, segundo o IBGE, 11,5% com Fernando Henrique; 8,2% - são cálculos diferentes - com a Presidente Dilma. A inflação em 2002 foi de 12,53%, com o Presidente Fernando Henrique; e de 9,28% com a Presidente Dilma - também maior. Nós tínhamos uma dívida bruta de 76,1% do PIB;.

    (Soa a campainha.)

    A SRª KÁTIA ABREU (PMDB - TO) - ... com a Presidente Dilma, 67%. A dívida externa era de 41% do PIB; com a Presidente Dilma, 19%. Lembrando as reservas cambiais - que também naquela época nós não tínhamos o costume, o hábito, a prática de exportar, por isso, faço aqui uma defesa ao Presidente Fernando Henrique -, as reservas eram de 37 bilhões; e a Presidente Dilma deixa 376 bilhões de reservas. Os investimentos diretos estrangeiros: Fernando Henrique, 2002, 14; Presidente Dilma, 72 bilhões. Taxa média Selic: Fernando Henrique deixou com 19%; e a Presidente com 14%. E cansei de ouvir que as maiores taxas de juros foram com a Presidenta Dilma. E, ainda, por último, o PIB per capita: Fernando Henrique, 22.900; e na Presidente Dilma, 28.800.

    Eu gostaria que o senhor comentasse isso. Sinceramente, sem nenhuma crítica...

    (Interrupção do som.)

    O SR. PRESIDENTE (Ricardo Lewandowski) - Prof. Belluzzo.

    O SR. LUIZ GONZAGA DE MELLO BELLUZZO - As taxas médias de crescimento do Fernando Henrique foram em torno de 2,3%, 2,4%, a taxa média do período dele; e a da Dilma foi um pouco abaixo disso, não é? Eu estou sem os dados aqui, mas eu sei de cabeça. E do Lula foram mais elevadas as taxas de crescimento.

    No caso da taxa Selic, eu queria lhe dizer que a taxa média Selic real do período Fernando Henrique - real, não estou falando nominal - foi de vinte e dois por cento ao ano, o que fez com que a dívida pública desse esse pulo que a senhora mencionou aí. Ela chegou a setenta e poucos por cento do PIB.

    Eu vou fazer uma propaganda. Eu tenho um livro escrito com o Prof. Júlio Gomes de Almeida que se chama Depois da Queda e tem uma análise muito cuidadosa do Plano Real. O Plano Real foi realmente um sucesso, estabilizou a economia, mas teve suas dores de cabeça. Essas dores de cabeça foram: a valorização excessiva do câmbio, que termina em 1999. Aí a inflação deu esse salto, nós começamos com a política de metas de inflação. O Presidente do Banco Central, Armínio Fraga, teve que rever a meta, mudar a meta, porque o choque da desvalorização foi muito grande.

    Então, essa é a gestão de política econômica, que tem que ser vista de maneira mais pragmática. Quando ela é muito doutrinária, acontece que você acaba dando com os burros n'água. Tem que ser uma coisa mais pragmática, mais prática e tal.

    O fato é que por nenhum critério se pode dizer, do ponto de vista econômico, que o governo Lula e Dilma foi um fracasso, por nenhum critério.

    O que se pode dizer, sim, é fazer a crítica da reação - eu vou repetir: da reação - da política econômica em 1974, 1975, a pressão que surgiu...

    (Soa a campainha.)

    O SR. PRESIDENTE (Ricardo Lewandowski) - Mais um minuto.

    O SR. LUIZ GONZAGA DE MELLO BELLUZZO - Eu estou escrevendo um livro que eu chamo assim: Manda quem pode, obedece quem tem prejuízo. Esse é um livro mostrando quais são as conexões de poder que existem na economia moderna, como o mercado financeiro funciona, como isso entra por dentro da política, etc.

    Então, é preciso deixar claro que o poder real não está aqui nesta Casa, nem está na Presidência da República. O poder real em uma economia como essa está com as articulações econômicas e financeiras que estão por dentro da sociedade. Os senhores sabem muito bem disso, que isso é assim.

    A ideia de que, na verdade, tinha sido todo um fracasso, foi construída, foi construída ideologicamente. Lembro-me muito bem do debate. Muito bem. E disse com todo...

    (Interrupção do som.)

    O SR. PRESIDENTE (Ricardo Lewandowski) - V. Exª poderá complementar quando a Senadora Kátia Abreu fizer a réplica agora.

    A SRª KÁTIA ABREU (PMDB - TO) - Obrigada, Sr. Presidente.

    Prof. Belluzzo, repetindo que a Base do Governo interino Michel Temer diz que a Presidente está sendo acusada por falta de responsabilidade fiscal, e o senhor, uma pessoa, um economista renomado da Unicamp, nos diz que o pecado dela foi ter exagerado na responsabilidade fiscal - isso me deixa bastante, mais ainda tranquila do que já estava -, que nós praticamos uma farsa fiscal, uma terra arrasada, aprovaram um déficit novo de 170 bilhões, e estão divulgando, em verso e prosa, o tamanho da irresponsabilidade de um rombo que a Presidente deixou de 170 bilhões. Ela tinha proposto 96.

    Desses 170 para 2016, o primeiro semestre deu apenas 23,8 de déficit. Se nós imaginarmos que isso possa ser até dobrado, que possa ter o dobro de déficit no segundo semestre, seria 40 com 20, seriam 60. Eles aprovaram 170. Então, eu imagino que esses 170 fazem parte da estratégia do impeachment para colocar a Presidente da República, diante dos olhos da sociedade, como uma maluca e irresponsável.

    Então, no ano passado, nos 12 últimos meses, de julho a junho, deu 151, com uma ressalva: a Presidente pagou todo o passivo de recursos, mais de R$56 bilhões que este ano não terá.

    Então, eu gostaria que o senhor comentasse sobre esse superávit de 170, que muitos têm a maior alegria em propagar... O déficit, desculpe, o déficit de 170 bi, para trazer adeptos e votos e opinião pública e imprensa contra a Presidente.

    Então, eu gostaria que o senhor falasse a respeito da aprovação deste Governo interino desses 170 bilhões.

    O SR. PRESIDENTE (Ricardo Lewandowski. Fazendo soar a campainha.) - Prof. Belluzzo com a palavra.

    O SR. LUIZ GONZAGA DE MELLO BELLUZZO - Acho que isso é uma capitulação diante da realidade, porque, na verdade, estou vendo que tem gente que está insistindo... Eu li hoje nos jornais, aliás, li nos jornais de ontem, porque estou impedido de ler os de hoje, que muita gente está dizendo: "Precisa cortar mais, precisa cortar mais, precisa cortar mais". Ou seja, na verdade, o que está acontecendo, o que se está fazendo é uma espécie de arranjo fiscal, digamos assim, para impedir que as coisas se agravem, não é? Eu só espero que, depois de aprovada a coisa do teto, depois de estabelecidas as regras fiscais, o Banco Central decida baixar a taxa de juros, porque, se não, não vai acontecer nada.

    O SR. PRESIDENTE (Ricardo Lewandowski) - Obrigado.

    A SRª KÁTIA ABREU (PMDB - TO. Fora do microfone.) - Acabou?

    O SR. PRESIDENTE (Ricardo Lewandowski) - Senadora, já acabou, V. Exª já usou...

    A SRª KÁTIA ABREU (PMDB - TO. Fora do microfone.) - Ainda economizei 56 segundos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/08/2016 - Página 45