Pronunciamento de José Medeiros em 27/09/2016
Discurso durante a 143ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Críticas à gestão do Governo Federal pelo Partido dos Trabalhadores e aos discursos contrários ao Governo do Presidente Michel Temer.
- Autor
- José Medeiros (PSD - Partido Social Democrático/MT)
- Nome completo: José Antônio Medeiros
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
GOVERNO FEDERAL:
- Críticas à gestão do Governo Federal pelo Partido dos Trabalhadores e aos discursos contrários ao Governo do Presidente Michel Temer.
- Publicação
- Publicação no DSF de 28/09/2016 - Página 16
- Assunto
- Outros > GOVERNO FEDERAL
- Indexação
-
- CRITICA, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), LUIZ INACIO LULA DA SILVA, DILMA ROUSSEFF, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, DISCURSO, AUSENCIA, VERDADE, REPUDIO, OPOSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SAUDAÇÃO, PRESENÇA, SENADO, ALUNO, COLEGIO MILITAR, GOIAS (GO), ESTADO DE GOIAS (GO), NECESSIDADE, ATENÇÃO, ELEITOR, ELEIÇÃO MUNICIPAL.
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos que nos acompanham pela TV Senado, que não são poucos, Senador Cristovam.
Quero aproveitar para parabenizar aqui toda a equipe de comunicação do Senado Federal, a Rádio Senado, porque tenho andado o meu Estado, Mato Grosso, um Estado de dimensões continentais, um Estado em que cabem quase três Franças, cabem quase dez países como Portugal, e, por onde ando, vejo as pessoas mandando parabéns para os Senadores e mostrando que acompanham a Agência Senado. Isso é muito importante para que todos os brasileiros possam acompanhar o trabalho aqui da Casa.
Tenho andado. Estive há poucos dias, nessas andanças, no Município de Guiratinga, em Mato Grosso, onde conversava com o meu amigo Jaimão, e ele justamente me perguntava sobre infraestrutura e sobre a questão de como dotar o Município de energia elétrica, para que possa gerar emprego. O que eu tenho notado, Senador Cristovam, é que todos os Municípios brasileiros neste momento estão preocupadíssimos: como gerar emprego?
Agora há pouco uma Senadora estava aqui na tribuna dizendo – eu não vou nem dizer, não vou nem falar o adjetivo, a palavra – umas coisas que não faziam o menor sentido, colocando aqui como se todas as mazelas do Brasil tivessem começado há três meses, após a posse do Presidente Michel Temer, como se todos os programas sociais estivessem sendo precarizados após a posse do Presidente Michel Temer.
É bom que todos os brasileiros saibam que, já em 2014, a Presidente Dilma fez um corte de 87% em todos os programas sociais que havia, Bolsa Família, Pronatec, Fies, enfim. Não havia mais dinheiro, e fez esses cortes. E aí é bom lembrar que, quanto a boa parte do programa de habitação, as empresas todas acabaram quebrando, porque não recebiam.
De repente, não mais do que de repente, começam a anunciar aqui que o caos começou há três meses. E ficam com essa cantilena de que é um Presidente sem voto e que é um Presidente que, de repente, está impondo ao País uma agenda que não foi votada.
É bom que todos os brasileiros saibam que, dois dias após a posse da Presidente Dilma – após a posse, não; dois dias após a eleição –, a Presidente já começou a subir juro, que ela falou que não ia subir; começou a subir gasolina, que ela cantava em verso e prosa que era a mais barata; começou a subir energia, que ela dizia que era a mais barata do País. Então, ela vendeu um programa e entregou outro.
E aí vêm aqui, num misto de cinismo – eu até admiro a coragem disso, mas é muito mais cinismo –, e simplesmente passam uma borracha.
E eu creio que o PT está caindo justamente por esse misto de cinismo e muita mentira, porque foi um Partido que vendeu ao Brasil para chegar ao poder. E qual era a bandeira deles? Eu creio que muita gente aqui se lembra – tirando os mais jovens – do que eles diziam: combater a corrupção e melhorar a vida da gente.
Pois bem, hoje, o Partido vem com a desculpa, quando toda a sua cúpula está presa – atacam o Judiciário, a Procuradoria, acusam todo mundo –, de que há uma perseguição contra o PT. Na verdade, o PT está sendo implodido por eles próprios, por brigas internas, por uma série de equívocos.
O que eu não entendo – eu até entendo o esperneio e o direito de se defender – é a forma tacanha, a forma pequena de se defender. Usam o espaço de defesa simplesmente para atirar pedras. Incrível como em nenhum momento assumem o erro ou fazem uma autocrítica. Uma vida sem autocrítica realmente é uma coisa complicada. O Partido dos Trabalhadores nunca fez uma autocrítica. O Governo da Presidente Dilma nunca fez uma autocrítica, muito menos o do Presidente Lula.
O Presidente Lula é o rei de toda essa construção, de tudo de bom e de tudo de ruim. Dilma, inclusive, foi eleita a partir de uma ideia dele. Alguns dizem que Lula elegia até um poste. Pois bem, o poste caiu por cima da cabeça do PT.
Mas o que nos pasma, o que nos deixa extremamente admirado é ver o cinismo daqueles que sobem a esta tribuna simplesmente para apontar o dedo: "Ora, o Presidente Michel Temer quer atender aos bancos."
Agora há pouco, eu olhava na internet e conferia: os maiores doadores de campanha da Presidente Dilma e do Presidente Lula foram os bancos. Em meados de 2014, antes de terminar o pleito, Senador Cristovam Buarque, a Presidente Dilma já tinha recebido R$15 milhões só dos bancos. É muito dinheiro que receberam! Agora, simplesmente dizem que são os bancos que estão mandando nesse programa, que o Presidente Michel Temer está a serviço dos bancos, que está a serviço das elites. Eu não vou entrar no mérito da discussão. O que me deixa indignado é saber que usam o pobre como biombo, jogando algumas migalhas que caíram da mesa desse governo durante treze anos e que se refestelavam com a elite.
Eu não sou contra a elite. Como eu disse, Senador Cristovam, meu pai era analfabeto. Poderia haver um homem pobre igual a ele, mas, mais pobre, impossível. Só que ele sempre dizia: "Eu não sou contra os ricos; eu quero que essas pessoas fiquem mais ricas ainda, para que eu possa sempre ter emprego para trabalhar." E ele sempre dizia – isto eu aprendi com ele – que o direito mais sagrado que havia era o direito ao trabalho.
Não que a gente não deva ter direitos, mas o que deixa a gente estupefato é que o tempo inteiro esse pessoal fez o pobre. O pobre era como uma melodia na boca deles, mas a gente viu depois. Os números não deixam – a Matemática é implacável – mentir.
Quando foi feito o balanço, a gente viu que essa galera que espalhava aqui, que gritava "socialismo", "comunismo", na verdade praticou o capitalismo agressivo, que é o pior que existe, que é o capitalismo de Estado. Elegem-se as campeãs, elegem-se os amigos do rei, dá-se bastante dinheiro para eles, eles acabam com a concorrência e devolvem um pouco. Foi o que aconteceu.
Certa feita, na Comissão de Assuntos Econômicos, estava o Ministro Tombini, e eu perguntei para ele como foi o critério para fazer os aportes financeiros através do BNDES. Ele falou: "Nós elegemos as campeãs, os players – eu até achei interessante o nome – do mercado, e foram dados."
Vejam como isso é pernicioso: em várias cidades do Mato Grosso, Senador Cristovam, como Vila Rica, onde estive no domingo, vi um frigorífico maravilhoso, uma planta extraordinária, que gerava milhares de empregos, em um dos Municípios em que mais existe rebanho. Portanto, gerava emprego, desenvolvia o Município. E havia gado ali, havia matéria-prima. Quando a JBS comprou todos os frigoríficos praticamente de Mato Grosso, o que fez? Fechou a planta, porque, de acordo com o plano da empresa, ela já tinha um frigorífico nas redondezas. Então, acabou com a concorrência, e milhares de empregos dos cidadãos de Vila Rica se perderam.
Então, são inúmeros os prejuízos que o capitalismo de Estado acarreta. E essas empresas, hoje – esta semana eu ouvia –, foram as que fizeram aportes financeiros e que estão sendo investigadas pela Lava Jato.
Sobre a Lava Jato, uma Senadora acabou de sair daqui dizendo que é um instrumento que foi feito e que está sendo praticado para acusar o PT. Não, não é isso. Acontece que, nesses 13 anos, elegeram as campeãs, fizeram todo um grande conluio para arrecadação e manutenção do poder, e depois foi descoberto que havia operações que eram verdadeiras operações criminosas. Aí, aconteceu o quê? Surgiu a Lata Jato.
Há quem diga que a Lava Jato surge de uma briga interna entre o grupo de Lula e o grupo de Dilma. Para quem não sabe, eu vou falar agora. Já ouvi de diversos membros aqui, à boca pequena, que havia um acordo: Dilma ficava quatro anos, Senador Cristovam, só para esquentar a cadeira, e Lula seria o candidato. Acontece que ela gostou da cadeira do Planalto, começou a montar o seu grupo, e eles começaram a fratricida guerra interna. E, quando chegou a época da eleição, esse grupo teria ameaçado Lula, que, diante do que havia para explodir, acabou recuando, e Dilma foi a candidata.
Mas a guerra continuou. Vale lembrar que em torno de sete Ministros do Lula caíram no primeiro ano do governo Dilma. Essas pessoas brigaram entre si, fizeram o poder pelo poder, a política pela política umbilical, e agora vêm contra tudo o que é medida estruturante para a gente mudar um pouco a vida do País. Eles não falam, nem uma vez que vêm a esta tribuna, que os Municípios estão quebrados, que os Estados não estão conseguindo pagar folha. Não se fala nada disso. Não se preocupam que as pessoas estão perdendo os empregos aos milhões, aos rodos. Não. Estão preocupados simplesmente com o fuxiquinho: "O Ministro disse não sei o quê, o Ministro disse que sabia."
Ora, se for para colocar essas coisas aqui, o Ministro José Eduardo Cardozo, por quem tenho um grande respeito, o ex-Ministro, que fez brilhante defesa da Presidente Dilma, recebeu as pessoas da Lava Jato. E há quem diga que era para eles montarem as estratégias de defesa dentro do Ministério da Justiça aqui.
Então, esse disse me disse, essa conversa pequena não cabem nesta tribuna. Eu digo que tem hora que falam tanta asneira aqui, Senador Cristovam, que eu fico olhando para ver se o Ruy Barbosa não balança a cabeça. Eu sei que esta Casa sempre foi histórica pelos grandes debates, e hoje pouco se faz de grandes debates aqui, porque é esse fuxico, esse Fla-Flu, como diz V. Exª.
Novamente sem jogar confete, é V. Exª que, de vez em quando, puxa o manche disso aqui e traz os verdadeiros temas que importam ao País, que são os grandes temas. O Senado Federal brasileiro, considerado a Câmara Alta, é o lugar de tratar de grandes temas, e não do fuxico do folhetim que saiu de manhã cedo. Mas é o que temos visto aqui. E eu tenho dito o seguinte: eu não me importo de ir para o embate, de fazer o contraponto, porque a população brasileira não pode ficar refém disso.
Há poucos dias, conversava com o próprio Senador Cristovam, e ele me falava uma coisa interessantíssima, que, com certeza, saiu daqui, destas tribunas – daqui e da Câmara Federal –, porque soltam as mentiras aqui e acabam chegando ao simples cidadão. O Senador me contava que um taxista reclamava para ele que estava difícil a vida, porque, depois que o Temer entrou, ele inventou esse Uber. Então, vejam V. Exªs e todos que nos ouvem: o Temer inventou o Uber, daqui a pouco vão dizer que o Temer inventou a zika, porque é o que eles fazem aqui todo dia!
Então, não cuidaram da saúde, não cuidaram das finanças públicas, não cuidaram do dinheiro público, mas não fazem o contraponto. Nunca pediram ajuda; aliás, rechaçaram-na. Eu sempre repito isso aqui.
Eu queria aproveitar para parabenizar os alunos que agora chegaram aqui. De qual escola são?
(Manifestação da galeria.)
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – De Goiás?
(Manifestação da galeria.)
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Colégio Militar de Goiás. Eu queria parabenizar os alunos, até porque, Senador Cristovam, meu sonho era ter ido para o Colégio Militar, mas acabei não conseguindo. Então, eu queria parabenizar esses alunos que estão aqui nos assistindo agora.
Mas, como eu dizia há pouco, é um discurso da política do "quanto pior, melhor". Não estamos preocupados, não há um sentimento de corpo.
Quando Itamar entrou aqui, boa parte da oposição, menos o PT – menos o PT –, fez um trabalho de coalizão: "Nós precisamos pegar o Brasil e fazê-lo dar certo." E aquilo construiu as bases para darmos um salto economicamente em todos os sentidos.
A Bíblia diz que uns plantam e outros que colhem. O PT colheu tudo aquilo, mas não teve a ombridade de dizer, por exemplo, que o Bolsa Família teve origem no pensamento, por exemplo, do Senador Cristovam Buarque, que vários outros programas tiveram a inspiração no que Dona Ruth Cardoso fez. Pelo contrário, fizeram um dossiê fajuto para tentar desconstruir a imagem daquela grande mulher após sua morte.
Eu não sou niilista, mas a vida, às vezes, tem a lei do retorno. A vida, às vezes, é uma quadra de squash: você manda a bola, e ela volta na mesma intensidade, porque há uma lei da Física que é implacável. Eu estou aqui, na frente dos alunos do Colégio Militar, que, com certeza, estudam muito a área de exatas, a Física, a Matemática. E há a Lei da Ação e Reação: a força em sentido contrário e com a mesma intensidade.
É isto que está acontecendo com o PT: a maldade o tempo inteiro, o discurso maldoso, o discurso pequeno, o discurso não de contrapor os argumentos, mas de destruir o dono do argumento.
É engraçado que essa era a principal ação, era o principal modus operandi dos fascistas, mas nunca vi uma palavra tão rápida na boca dos petistas e dos seus puxadinhos como chamar uma pessoa de fascista quando discordam deles. É rápido. Todos que discordam são chamados de fascistas, de golpistas, de todas essas inflamações, de tudo quanto é "ista".
Há poucos dias, eu embarcava no aeroporto de Brasília, e começou um rapaz – um rapaz bonito, com a namorada – a esgoelar no meio do aeroporto: "Golpista, golpista!" E eu também acabei tomado por aquele ímpeto raivoso na hora e devolvi com uma ofensa mais grave ainda: eu o chamei de petista, porque, nesses tempos, é ofensa, sim, porque boa parte está lá em Curitiba.
Falo isso com dor no coração. Na minha juventude, Senador Cristovam, naquela época de 1992, eu era um dos que cantavam aquela música, com esperança de que este Brasil iria mudar: "Lula lá, Lula lá."
Mas, infelizmente, não tenho compromisso com erro, não tenho compromisso com essas coisas e não faço papel de Torquemada, aquele padre inquisidor, que gostava de espezinhar e de matar os adversários políticos usando a Bíblia e a inquisição como pano de fundo.
Faço este contraponto toda vez que sobe uma vestal aqui – quer dar uma de vestal –, quando alguém está sendo processado, está sendo quase preso. Que contrassenso é esse? É o cúmulo do cinismo subir aqui e acusar todo mundo!
Penso o seguinte: quem tem telhado de vidro não deve entrar em guerra de estilingue. Como diz o filósofo mato-grossense Waldemir Moka, barata sabida não atravessa galinheiro. Esse povo gosta de atravessar galinheiro. Vem aqui falar dos outros! Gente, nós temos tanto o que fazer!
Eu ando por esses Municípios e vejo pessoas chegarem implorando: "Senador, estou há quatro meses, estou para morrer." Chegou agora um senhor e falou: "Meu filho precisa de um medicamento de alto custo. Ele não está se desenvolvendo na mesma velocidade que os órgãos, ele precisa crescer, mas não consigo." Não sei como é o nome do remédio. É um remédio caríssimo. "Eu precisava que o senhor visse na regulação." Eu falei: "Infelizmente, eu não posso. Isso vai dar advocacia administrativa, porque, com certeza, há mais gente na fila."
Mas essas pessoas não estão nem aí para isso. Elas querem aqui o fuxico, a diminuição, querem aqui atacar, atacar e atacar; e dizer que foram atrapalhados de governar, quando é mentira. Agora há pouco eu lembrava disso.
O Senador Cristovam Buarque – estou aqui na presença dos alunos do Colégio Militar, dos demais Senadores e dos funcionários do Senado –, em determinado momento, chamou um grupo de Senadores aqui e falou – já disse isto várias vezes aqui, mas não vou me cansar de repetir, para que o Brasil saiba –: "Aqui está havendo um Fla-Flu. Terminaram as eleições, um grupo acusa o outro de ter fraudado as eleições, de ter cometido estelionato eleitoral, e o outro rebate. Não estamos avançando. Precisamos montar um grupo de Senadores independentes que pensem numa saída para o Brasil e que tentem vencer esse bloqueio, para que haja consenso, e a Presidente volte a conversar com o Parlamento, quebre essa resistência, para que a gente possa fazer o Brasil andar."
E fomos ao Palácio do Planalto nove Senadores; dentre eles, os Senadores Waldemir Moka, Ana Amélia, Romário, Randolfe, Reguffe, Capiberibe, eu, Fernando Bezerra e Cristovam, que está aqui e não me deixa mentir. Ainda bem que ele está na Presidência da Casa hoje. Bom, chegamos lá e não fomos atendidos pela Presidente Dilma; também não fomos atendidos pelo ministro; não fomos também atendidos pelo chefe de gabinete do ministro. Fomos atendidos por um rapazinho que era, talvez, o segundo-secretário do chefe de gabinete. Ele achou bonitinha a ideia, falou que ia passar para o ministro e que nos retornaria depois. Até o dia do impeachment, não tínhamos recebido esse retorno. Por insistência e grandeza do Senador Cristovam, depois, ele foi ao Planalto, um dia, num jantar, quando a Dilma já estava caindo pelas tabelas. Aí, sim, chamou. O Senador Cristovam até me chamou, mas eu, menos maduro que sou na política, falei: "Senador Cristovam, eu não vou lá falar com ela, porque nós nos dispusemos em determinado momento." Mas ele foi; deu uma segunda chance, junto com alguns outros Senadores. Sabe o que aconteceu? Não aconteceu nada! Ela não pegou as ideias que ele tinha dado, da mesma forma que não tinha pegado as daquela carta que ele tinha enviado – eu já contei aqui esta história – dos meninos de Pernambuco. Mas não faltou interlocução, porque houve Senadores grandes aqui que propuseram essa articulação. O PT caiu por si só, eu quero dizer mais esta vez aqui para combater esses discursos.
Eu estava, há poucos dias, nos Municípios de Mato Grosso e ficava agoniado de ver aqui aqueles discursos: "Nós somos santos, injustiçados, e nos tiraram do poder." Ninguém tirou. Quem tirou a Presidente do poder não fomos nós Senadores da República, não foram os Deputados Federais, mas foram milhões de pessoas que foram para as ruas, dizendo: "Isto nós não queremos mais: não queremos mais nosso dinheiro indo para países estrangeiros e voltando para financiar campanha; não queremos as nossas escolas doutrinadas; não queremos esse modelo mais; não queremos o pobre como biombo, enquanto vocês se refestelam com os ricos."
E me faz lembrar novamente de Aluísio Azevedo e do seu O Mulato. Um mulato muito bonito, um rapaz, filho de escrava, que tinha sido adotado, foi estudar em Coimbra e voltou para a sociedade no Rio de Janeiro. Quando ele voltou – exímio dançarino, advogado, falando bem –, encantou as damas. Mas e aí? Como faz? A sociedade não permitia que as meninas dançassem com um mulato. Como fariam? Mas elas eram apaixonadas pelo mulato. Então, ficou a seguinte situação: em público, elas o enxotavam, nem o olhavam, mas, no privado, elas o chamavam para a alcova. Foi isso o que aconteceu com esse partido que se diz santo e que fica aqui, a toda hora, jogando pedras nos outros. Em público, enxotam as elites; em público, babam – babam! –, espumam a boca como se estivessem com hidrofobia. Mas, no privado, aí é blue label, é o melhor uísque; é o guardanapo da França; são as viagens de jatinho para cima e para baixo; são os empréstimos; os planos PSI; as medidas provisórias vendidas para dar isenção de bilhões. É assim. "Mas vamos fazer o seguinte: vamos dar uma migalhinha aqui para os pobres para justificar esses empréstimos."
Quando saiu, pela primeira vez, o discurso da Lava Jato, Lula, com sua verve e com o discurso inflamado, como se ainda detivesse o tridente da verdade, dizia: "A Presidente Dilma fez as pedaladas, mas foi para pagar o Bolsa Família!" Pagar Bolsa Família coisa nenhuma! Quando saíram os números, o Bolsa Família era isso, e o resto era de grandes empréstimos: 260 milhões para um, 500 para outro, 300 para outro. E o Bolsa Família como pano de fundo. Quando a coisa pegou mesmo: "Não, a Presidente Dilma não pedalou." Depois, disseram: "Pedalou, mas todo mundo pedalou." E ficou naquele vai e volta. Tiveram tempo de defesa, e mais defesa, e mais defesa, e não conseguiram fazer defesa nenhuma, porque, como eu disse, aquilo ali era igual à bola de Rogério Ceni quando batia falta: era no ângulo.
Agora vêm com esse discurso em um período pré-eleitoral das eleições municipais. Eu digo que o eleitor tem uma chance maravilhosa que é dada a cada quatro anos. Sei que há muita gente preocupada com a Lava Jato, Senador Cristovam. "Olha, não deixem que acabem com o Lava Jato! Não façam com que a Lava Jato...". Tudo bem, a Lava Jato é uma operação policial, como todas as outras, muito importante, e é importante que não acabe mesmo. Mas, gente, o eleitor tem uma arma mais poderosa do que a Lava Jato. E é domingo! No domingo, o eleitor pode mudar muita coisa. Eu fico preocupado, porque não sei se vai mudar.
Fui ao Município de Porto Alegre do Norte. Há um candidato do PT lá sobre o qual vieram me falar: "Ele vai ganhar a eleição porque está dando tijolo". Falei: "Normal!" Mas eu disse no discurso: "Cuidado com esses tijolos que vocês estão recebendo em Porto Alegre do Norte, porque vocês podem levar uma tijolada depois." Então, fico muito preocupado com esse povo que está com muito dinheiro ainda comprando votos.
Vi uma coisa nas redes sociais. As redes sociais são uma maravilha! É a criatividade do brasileiro borbulhando em tempo real. O sujeito falou: "Olha, cuidado ao pegar R$100, porque depois você fica sem educação, sem saúde, sem segurança, você fica sem nada!" E essa é a grande realidade.
Então, neste momento, é muito importante que o eleitor possa fazer toda essa reflexão, possa fazer essa diferenciação de quem simplesmente está querendo fazer discurso umbilical. Agora o discurso aqui, nesta tribuna, só é feito, em boa parte, para se defenderem ou para atacar o Juiz Sérgio Moro.
Mas é engraçado porque o discurso é tão incoerente. Há horas em que eles vêm aqui acusar Renan e Jucá de quererem acabar com a Lava Jato, mas, ao mesmo tempo, eles vêm aqui e arrebentam com o Dallagnol, arrebentam com o Moro, passam gravação deles combinando como politizar o discurso para descredibilizar o Moro.
É por isso que eu chamo os brasileiros a uma reflexão para que possamos, de uma vez por todas, limpar esses que fazem esse discurso demagógico, mentiroso e que só demonstram uma coisa: estão aqui no poder pelo poder.
Toda vez que chega um assunto sério aqui, que mexe nas estruturas, nas entranhas do País acontece isso que o Senador Cristovam falou agora há pouco: "Não, vamos debater mais, vamos falar mais sobre isso."
Eu era menino – estou com quase 50 anos – e o Senador Cristovam já falava que a educação não estava boa. E esse pessoal quer debater mais! "Vamos debater mais cinco, dez anos." Vamos fazer a reforma política? "Não, vamos debater mais". Olha, de conversa o povo está cheio. Essas pessoas foram para a rua porque não aguentam ser mais enroladas.
Eu chamo à reflexão todos nós que estamos berço político, os prefeitos que vão entrar: cuidado com as promessas, cuidado com a conversa vazia, porque de conversa vazia o povo está cheio.
E, com relação à promessa, há um negócio bem complicado. Há poucos dias, eu conversei com um candidato e falei: "Olha, cuidado com a promessa porque não há coisa pior do que a expectativa frustrada." Ele falou: "Não, eu não estou fazendo promessas. Estou só fazendo compromisso." O compromisso parece que é até mais firme do que a promessa. Mas o certo é que nós temos que começar a fazer essa reflexão.
Eu sei que o Brasil tem sido muito enxovalhado, Senador Cristovam, e eu disse isso há algum tempo. Saiu uma matéria no Times dizendo que, se o Brasil não ganhasse as Olimpíadas, ou melhor, que as Olimpíadas não haviam começado, mas que o Brasil, antes de elas começarem, já havia ganhado a medalha da corrupção. Pode até ser, mas acho que há uma coisa muito positiva acontecendo no País: o Brasil talvez seja, no momento, o único país do mundo que está fazendo uma depuração, que está mexendo com os seus alicerces, esses alicerces do jeitinho, da gambiarra. É o único país que talvez esteja prendendo ex-governadores, ex-presidentes, que está cassando uma Presidente dentro da lei, que tem a sua democracia em plena ebulição.
No meu Estado do Mato Grosso, boa parte da classe política está presa há mais de ano. Então, nós temos de também olhar o lado positivo dessas coisas.
(Soa a campainha.)
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – A população, nas ruas, cobrando dos seus políticos. E eu estou vendo que há reflexão. Vejo nessas cadeiras, nas conversas, vejo os discursos, já à boca pequena, nos comitês: "Não façam tal coisa. Cuidado com os smartphones". Vejo que há uma coisa nova na seara política. Vejo que há gente que vem para a política com outros ideais.
Eu me lembro de que, certa feita, o Senador Cristovam estava no Estado de Mato Grosso. Talvez quem esteja acostumado com ele aqui não saiba, porque ele é sempre muito humilde, mas, quando ele vai aos Estados, é um acontecimento, é um verdadeiro pop star. Ele estava sentado – não sei se ele vai se lembrar disso –, e um político de muito dinheiro estava falando o seguinte: "Olha, nós temos de ver que, para a pessoa se candidatar, tem, primeiro, de se arrumar na vida. Ele tem, primeiro, de ter um bom aporte financeiro para cuidar da sua campanha. Há candidato aí que não tem como andar de ônibus. Como quer ser candidato? Uma pessoa assim vai para a política e vai querer se arrumar na vida." Eu falei: "Bom, ele não percebeu, mas está fazendo uma ofensa a um ilustre brasileiro que está aqui, na mesa, e que não é nenhum bilionário." Estava ali o Senador Cristovam, que, quando eu era menino, já era político.
Então, esse entendimento de político de sucesso que se fez com o Erário está mudando. Eu não gosto nem de fazer esse tipo de discurso, porque cada um deve cuidar da sua vida. Mas acho que, cada vez mais, nós vamos ter políticos como Pedro Simon, como Cristovam Buarque, como tantos outros que estão aqui como exemplo para as nossas crianças, a ponto de, daqui a algum tempo, um aluno ter orgulho de dizer que vai ser político.
Hoje, sinceramente, Senador Cristovam, quando eu me mudei para Brasília, pedi a meus filhos que não dissessem, na escola, que eram filhos de um político por um motivo muito simples: vão começar a xingá-los, vão chamar seu pai de ladrão. Isso só vai causar conflito. Não falem. Eu tive de fazer esse pedido, porque essa é a realidade da classe política hoje.
Mas não tenho dúvida de que, com essa ebulição, com esse reboliço todo que está acontecendo no Brasil, nós vamos começar a ter uma política... Não uma nova política. Vejo muita gente falando: "Olha, nós vamos ter a nova política". Não existe nova política. Existe a política correta de se fazer e a não correta.
Estou fazendo esse discurso aqui – talvez tenha sido o único – justamente para fazer este contraponto: não quero ser mais santo do que ninguém, não gosto de apontar o dedo para ninguém. Fazer as coisas corretas é minha obrigação, e a lei está aí para todos.
Ouvi, agora há pouco, uma Senadora dizer que a lei está aí para todos, mas está aí para todos os nossos inimigos, porque, quando é contra o Partido dos Trabalhadores, é injustiça, estão fazendo seletividade. De repente, alguém me pergunta: "Senador, mas a maioria é do PT." É do PT, porque o PT estava, nos últimos 13 anos, no poder, e foi nesse governo que estourou tudo. Os escândalos estão sendo investigados. É isso. Então, é natural que a maioria seja do PT. "Ah, mas se outros partidos receberam?" Sim, mas quem controlava o caixa era o PT. "Ah, mas o Fulano de Tal também recebeu doação de campanha." E aqui fazemos um ponto: existe uma diferença entre doação de campanha... O sujeito foi à tal empresa e solicitou... O Senador Cristovam é um empresário. Eu chego lá e digo: "Senador, eu sou candidato, estou precisando tocar a minha campanha e queria uma doação." "Medeiros, eu vou te fazer uma doação." Faz uma doação de campanha, o candidato registra essa doação no TRE, e tudo bem. Isso é diferente de eu dizer: "Cristovam, você tem uma empresa que está tocando obra. Ou você me dá dez milhões ou, na próxima medição da sua obra, você não vai receber." Isso é uma diferença monstro. É um Grand Canyon de diferença. É diferente a doação da extorsão. Estamos vendo que vários empresários, grandes empresas até quebraram, porque chega um Presidente da República, chega um enviado da Presidente da República e fala: "Olha, você tem que dar 12 milhões". Doze milhões não se acham em qualquer lugar. O BDI de obras é curto, então, tem que jogar a obra para cima para dar conta. O empresário chega, já preocupado, e fala: "Presidente, o Fulano de Tal me procurou e está pedindo 12 milhões. O que faço?" "É para pagar. É para pagar. É para pagar!" Olha só: o sujeito que está doando está hipossuficiente. Não seria o contrário? "É para pagar!" Isso é o quê? Então, é natural que a polícia esteja chegando. É como aquele seriado norte-americano do Frank Underwood: vai ficando tão cauterizado na mente do sujeito que ele passa a achar que o dinheiro do outro é dele, porque ele está no poder. E foi isso o que aconteceu, nada mais do que isso.
Todos os brasileiros, enquanto estava dando certo o projeto da economia, estavam com o Lula. Dizem que, na casa em que falta pão, todo mundo briga, ninguém tem razão. Mas, na verdade, o povo não quis nem saber disso. Quando viram que aquele negócio era cheque sem fundo, foram às ruas e raparam o governo. E, se este Congresso não tivesse tido a sabedoria de tirar a Presidente do poder, teria sido todo mundo varrido daqui. Essa é a grande verdade.
Então, esses discursos de coitadismo... Voltaram o coitadismo. Até poucos dias, estavam na arrogância, agora voltou todo mundo aqui. E aí me pasma a falta de argumento para se defender, porque se defende simplesmente dizendo: "Presidente usurpador sem voto" Mentira! O Presidente Temer só foi para aquela chapa porque eles queriam os votos do PMDB, porque sem o PMDB não teriam sido eleitos. Então, o Presidente Temer tem voto sim, foi eleito naquela chapa, por quem votou 13. Eu digo: eu não votei no Temer. Eles votaram. Então, é um Presidente com voto. "O Presidente usurpador que não está conseguindo, ou que está pondo um programa aqui, que não foi votado, está querendo mexer na educação, está querendo fazer a reforma da educação, está querendo fazer reforma trabalhista, está querendo fazer reforma política, está querendo fazer reforma previdenciária".
O Senador Cristovam um dia quase foi agredido aqui porque no Governo de Dilma, quando eles disseram da necessidade, ele levantava justamente essa questão, ao dizer: "nós não temos como fazer outra coisa se não começarmos a fazer a reforma previdenciária". Ele foi desacatado aqui por membros do PT naquela época. Agora, não. Eles estavam propondo, e agora estão dizendo que não, que estão querendo acabar com os aposentados. A educação nem vou falar, porque você já sabe a bandeira dele. Quero cumprimentar novamente aqui os alunos – parece que é outra turma – do Colégio Militar de Goiás. Então, esse discurso é que não se sustenta e, aí, vou falar uma coisa para a alegria do Brasil: essas pessoas estão sendo varridas, esse grupo está sendo varrido da política brasileira porque onde eu passo, no Brasil inteiro, ninguém quer saber desse discurso; ninguém quer saber do PT e dos seus puxadinhos. E sabe por quê? Porque mentiram, abusaram da inteligência do eleitor, abusaram da inteligência das pessoas e as pessoas não estão naquela que, às vezes, dizem: "Olha o eleitor não sabe votar". Sabe sim, sabe e sabe muito bem. Então, ficam essas reflexões, Senador Cristovam, porque eu fico pasmo de ver essa conversa de que agora está tudo se acabando, de que os programas sociais vão ser acabados, de que a educação vai virar uma porcaria porque está se propondo uma reforma. Gente, o que que é isso?
Como disse o Senador Cristovam agora há pouco, os alunos não têm mais prazer. Quando saem de casa, parece que vão para uma prisão porque não têm a menor vontade de estudar e, me perdoem meus amigos professores – eu fui professor durante sete anos –, mas há tempos que a profissão de professor virou bico. Virou bico. Há tempos que muito professor não ensina. Fica lá o aluno, virou aquele chamado velho pacto da mediocridade: eu finjo que aprendo, você finge que ensina e vamos tocando a vida. Tanto é verdade que passou no País inteiro, virou moda. Aquele grande programa que eu acho um programa bacana se fosse colocado na sua totalidade, a escola cíclica, mas aproveitaram somente a parte que não reprova, somente a parte que não avalia.
Como é que eu posso avançar, Senador Cristovam, se eu não tiver nenhum parâmetro de avaliação? Há poucos dias eu vi num ranking que o Senador Cristovam está entre os melhores avaliados Senado. Tive a grata satisfação de também estar nesses bem avaliados. Mas se não avaliassem, como é que eu ia saber que o Senador Cristovam estava ali? É bom que tenham os números. Tudo que é lugar tem avaliação, mas na escola não. Sabe por quê? Senão, vai traumatizar essa criança. Mas acontece que a vida é implacável, a realidade é assim: se eu chegar a um emprego e não tiver desempenho, eu perco o trabalho. E como é que vou estar preparado para a vida se na minha na escola eu aprendi a vida inteira que não, que eu não preciso ter desempenho porque eu passo de ano do mesmo jeito?
Então, são essas reflexões que a gente tem que fazer, e eu não tenho dúvida de que, se a gente não fizer agora a lição de casa... Isso era antes. O Senador Cristovam dizia isso há 20 anos, mas acontece que nós passamos 20 anos gastando o tempo. Como dizia Machado de Assis, os prazos longos são fáceis de prescrever porque o tempo os torna eternos.
E agora nós não temos mais tempo. Nós temos que fazer essas reformas é para ontem, porque agora, essa semana, os Governadores vão vir aqui, ao Presidente Michel Temer, dizer que, se não receberem o FEX, e se não receberem uma ajuda de R$7 bilhões, eles não pagam folha. No meu Estado, o Governador Pedro Taques já teve que escalonar este mês o salário.
E aí, as pessoas ficam discutindo aqui o sexo dos anjos. E aí, ficam passando como se tudo que foi feito tivesse sido perfeito. Os Estados estão mendigando R$7 bilhões; R$7 bilhões hoje resolveriam o problema dos Estados, esse ano. Sabe quanto só de aporte foi feito para – vou citar só uma empresa aqui – a JBS? Bilhões. Bilhões. Mas não são R$10 bilhões, R$15 bilhões, não: são R$40 bilhões, sendo que R$7 bilhões resolveriam o problema dos Estados brasileiros.
Se a gente for ver aportes que foram feitos no exterior: "mas era importante, porque eram empresas brasileiras, que tinham..." Tá, mas nós temos... O Senador Alvaro Dias disse hoje: perdoaram uma leva de empréstimos na África – tudo bem, a África precisa, mas e aí? E aqui no Brasil? As filas nos prontos-socorros?
Então, essas discussões nós temos que fazer aqui.
Muito obrigado, Senador Cristovam.
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Senador Medeiros, eu não resisto a fazer alguns comentários, embora pequenos. Primeiro, nós estamos muito acostumados a ouvir falar da corrupção que tomou conta do Brasil do ponto de vista do roubo de dinheiro público. Mas tem outra corrupção que a gente se esquece, que é a corrupção da narrativa falsa, mudando a realidade, para enganar as pessoas. E essa é muito grave. Essa às vezes é mais permanente que a corrupção de dinheiro, porque a corrupção do roubo, felizmente tem uma Lava Jato que vai prender, vai recuperar dinheiro, está recuperando. Eu creio que vamos aprender a escolher melhor os candidatos. Mas a mentira, ela fica. E é difícil você fazer avançar na política.
E uma delas é essa maneira de jogar toda a culpa no Governo que já chegou. Nós discutíamos isso aqui antes. O senhor lembra que eu disse: "Para salvar o Brasil, vamos terminar dando um tiro no pé das próprias forças de oposição ao Governo Dilma, porque o PT vem jogando toda a culpa no novo Governo". A própria Senadora Gleisi falou aqui da concentração de renda no Brasil: que os ricos ficaram mais ricos muito mais do que os pobres deixaram de ser pobres.
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Em três meses, né?
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Como se fosse coisa desses últimos meses.
Um taxista ontem me disse que a situação deles está muito difícil. E realmente está. Não tem uma categoria que trabalhe mais horas por dia do que taxista. Ontem eu tomei um táxi, e ele está achando que já não está trabalhando tanto mais. Sabe por quê? "Porque não adianta", ele disse. Veja que tragédia! Antes ele trabalhava 14 horas. Ele agora, chega uma hora que ele diz: "Eu desanimo e vou para casa, na situação difícil que está".
E, não foi ele, foi um outro, que me disse que é culpa do Uber, inventado pelo Temer, que o Temer é que trouxe o Uber para o Brasil.
Então, essas mentiras são uma forma de corrupção muito grande.
A outra forma de corrupção, para mim, é um grupo que se encontra de esquerda não defender reformas – isso é uma corrupção – e não entender as mudanças que estão acontecendo no mundo, como com a própria Previdência. Mentem ao povo ao dizer que não vai precisar de reforma da Previdência, quando duas coisas acontecem: a gente está vivendo mais do que antes. Então, fica mais tempo aposentado...
(Soa a campainha.)
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – ...e nós estamos com menos gente na base, porque as famílias estão tendo menos filhos e estão vivendo mais.
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Como é que vai sustentar?
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – É claro que vai ter que ter um ajuste aí. O ajuste pode ser: só recebe aposentadoria até tal ano. Depois daí, pronto. Morre. Ninguém vai querer isso. A outra solução é dizer: só se aposenta mais tarde, já que vai viver mais tempo. A terceira é dizer: não, vamos emitir dinheiro para pagar. E aí vem a inflação, que é a pior das mentiras. Você continua pagando cem, mas só vale oitenta. E eu temo que, no fim, quisesse ir para esse caminho o governo anterior, porque já estava em 10% a inflação e ia chegar a 15%, a 20%, rapidamente.
Então, o senhor trouxe esta afirmação, que acho muito interessante, de que estão querendo criar, outra vez, narrativas.
A Senadora, de quem todos nós gostamos muito, a Gleisi, falou do danoninho. O Lula disse que, quanto mais danoninho vendido, melhor para todos. É verdade. Eu me orgulho muito de que, como Governador aqui, eu colocava esse tipo de produtos na merenda escolar, mas dentro dos limites de recursos. Nunca gastei mais do que o governo dispunha, porque, se você começa a dar isso sem dinheiro, aí você se endivida ou emite dinheiro. E aí vem a inflação, e o povo não percebe que é o povo que está pagando, de uma maneira ilusória, desvalorizando o dinheiro que carrega no bolso graças ao seu trabalho.
Então, o senhor trouxe esses assuntos. Eu agradeço muito. Fico satisfeito em termos aproveitado bem esta tarde, com este debate.
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Muito obrigado, Senador Cristovam.
Eu não tenho dúvida de que, fazendo essas discussões... De repente as pessoas falam: "Olha, estavam lá só conversando." É nessas conversas de esclarecimento que boa parte das pessoas que estão nos ouvindo, como os taxistas, vão realmente compreender o que está acontecendo. Nada melhor do que um povo esclarecido, porque um povo enganado é terrível, porque o que se faz aqui, às vezes, é induzir as pessoas ao erro. E aí não tem pior coisa do que alguém errado pensando que está certo. Isso é perigoso.
O SR. PRESIDENTE (Cristovam Buarque. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Pior é estar errado pensando que está certo ou estar no caminho errado pensando que está no caminho certo.
O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Exato.