Discurso durante a 149ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre a derrota do Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições municipais.

Autor
José Medeiros (PSD - Partido Social Democrático/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Comentários sobre a derrota do Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições municipais.
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/2016 - Página 9
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • COMENTARIO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, RESULTADO, PERDA, ELEITORADO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MOTIVO, CORRUPÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, DISCURSO, PROMESSA, AUSENCIA, VERDADE, CRITICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOVERNO, DILMA ROUSSEFF, EX PRESIDENTE, RESPONSAVEL, CORTE, PROGRAMA DE GOVERNO, NATUREZA SOCIAL, FUNDO DE FINANCIAMENTO AO ESTUDANTE DE ENSINO SUPERIOR (FIES), FALTA, DINHEIRO, PRONUNCIAMENTO, SENADOR, OPOSIÇÃO, IMPEACHMENT, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PROPAGANDA ELEITORAL.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos que nos acompanham pela TV Senado, pela Rádio Senado e também pelas redes sociais, no último domingo, houve uma eleição e, em todo o País, os brasileiros foram às urnas. Eu fiquei perplexo, esta semana, ouvindo uma Senadora aqui, na tribuna, dizendo que o Partido dos Trabalhadores não saiu derrotado dessas eleições.

    Eu não queria tocar nesse tema, mas nós temos que fazer o contraponto nessas falas, porque, às vezes, aquela teoria do Goebbels acaba se tornando uma realidade, falam tanto uma mentira que isso acaba se cauterizando, que isso acaba se impregnando nas mentes das pessoas. A grande verdade é que saiu derrotado, sim, o Partido dos Trabalhadores. No meu Estado, por exemplo, elegeu, de 141 Municípios, 2 prefeitos, mas a Senadora dizia que ninguém foi o grande vencedor das eleições, porque houve abstenção. E eu fui dar uma olhada na história. Logo após o impeachment do Presidente Collor, a abstenção também foi muito grande. Então, o fato de ter havido abstenção, de ter havido voto nulo, de ter havido voto em branco não anula o fato de que a população reprovou, sim, o Partido dos Trabalhadores nas urnas, de que a população, sim, exigiu que esse governo tivesse fim.

    Aqui foi criado um discurso de golpe, o qual V. Exª combateu desta tribuna aqui, com a Presidente Dilma sentada nessa cadeira, e V. Exª refutou também esse discurso de golpe - uma cantilena que soltaram mundo afora e que acabou, de certa forma, em um dado momento, prejudicando a imagem do Brasil no exterior. Mas o fato é que se tratava, na verdade, da vontade da população que foi às ruas. Eu nunca tinha visto a Avenida Paulista lotada de ponta a ponta, e a população exigiu, diante de várias manifestações, até que este Parlamento se tocou e mandou o impeachment para frente. Mas a população não parou por aí, chegou o momento das urnas e ela praticamente varreu do cenário político o Partido dos Trabalhadores.

    Eu estou falando isso aqui para comemorar? De jeito nenhum, porque cada brasileiro que mexia com política tinha um carinho especial e, se não era do Partido dos Trabalhadores, pelo menos tinha uma admiração pelo discurso, pela forma consistente.

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Exatamente. Pela forma consistente como o Partido se portava e, mais ainda, pelo carinho especial, pela forma bonachona, pela forma fácil de se comunicar do seu líder principal, que era o Lula.

    Aliás, independente de Partido, os brasileiros tinham orgulho do seu líder ser uma pessoa com uma história linda; ser uma pessoa que era orgulho no exterior; uma pessoa simples que, de repente, fazia um discurso simples, mas direto, nas Nações Unidas e por onde passava. Ele era o nosso grande líder mundo afora. Nós tínhamos personalidades como Ayrton Senna, como Pelé, conhecido mundialmente, como os Ronaldinhos, e nós tínhamos o Lula, na política. Nós tínhamos um Presidente para quem o Presidente da principal nação olhou e disse: "Esse é o cara!" Era uma brincadeira, mas que demonstrava a importância e como ele o tinha cativado. Isso nós admirávamos.

    De repente, o véu da realidade se descortinou. Veio uma denúncia, primeiro, no início do governo - e é como aquela esposa que ama muito e não quer acreditar. E aí veio o mensalão, que passou e... Nós já desconfiávamos, mas ninguém queria acreditar. Nem o mundo político nem a oposição queriam cassar o Lula, porque aquela figura era tão grande e tão mítica. Esse era o carinho que todo mundo tinha... As coisas foram caminhando. E aquela mentira contada várias vezes foi se perpetuando. E aí vieram outras denúncias. E outras, e outras e outras.

    Ficou parecendo a história do Michael Jackson. Eu vi o Chris Rock, aquele comediante norte-americano, fazendo stand-up, na época daquela história do Michael Jackson, quando foi acusado por um terceiro menino. Aí o Chris Rock disse o seguinte: "Michael Jackson, um, a gente não quis acreditar; dois, não, estão querendo inventar. Mas três? Três!" Ele, que é negro, também fez uma piada: "Pô, negão! Aí não dá, né?" Então, é que nem a história do Michael Jackson, aquela figura mítica. Mas, de repente, a decepção.

    E aí, no caso do Partido dos Trabalhadores, no caso do Lula, a expectativa frustrada, o carinho frustrado, o amor frustrado é o que descortinou, que virou tudo isso e que, de repente, caiu, como um castelo de cartas. E veem aqui, acusar a oposição ao subirem aqui, nesta tribuna. O que me deixa perplexo, Senadora Ana Amélia, é que nunca eu ouvi - e sempre estou ali, naquela cadeira, ouvindo - uma unha sequer de mea culpa, de fazer uma autocrítica e dizer: "Olha, nós erramos. Erramos e erramos feio. Nós fizemos tudo o que dissemos que não iríamos fazer."

    Eu não sou daqueles que gostam de subir aqui e apontar dedo. Eu não faço do combate à corrupção um biombo, porque penso que isso aí é natural. Todos os brasileiros que levantam todos os dias cedo e vão trabalhar, mais de 90% são pessoas de bem, são pessoas que, se acharem uma carteira na rua e identificarem o dono, procuram-no e a devolvem a ele. Então, o combate à corrupção não faz parte da minha atuação política, porque eu penso que existem organismos prontos e não sou eu que vou ficar apontando dedo. Acho que isso é obrigação de cada pessoa.

    Então, sou daqueles que não ficam apontando o dedo. Ninguém é obrigado a vestir roupa da Marinha, ninguém é obrigado a vestir roupa branca, mas, no momento em que veste roupa branca e faz disto uma propaganda, um marketing pessoal, é bom ficar longe da lama, é bom ficar longe do petróleo. E essas pessoas subiram a escada do poder apontando o dedo, pisando na cabeça dos outros, mostrando-se como vestais da honestidade, da probidade, como pessoas impolutas.

    Na internet, hoje... Esses vídeos são guardados no Youtube, nesses canais todos. Há poucos dias, eu ouvi os discursos do próprio Presidente Lula. Ele atacava a figura do corrupto de uma forma terrível. Eu ouvi um discurso, Senadora Ana Amélia, em que ele dizia que queria que acabassem essas verbas de indenização que há aqui para os Parlamentares trabalharem. Eu, por exemplo, sou servidor público. Meu Estado tem 141 Municípios e nele cabem dez portugais. Se não tivesse como pagar a passagem, eu não teria como trabalhar. Eu não tenho de onde tirar para andar em um Estado daquele tamanho. Mas essas verbas o Lula considerava privilégios terríveis que acabavam com as finanças do País. Ele criticava tudo. Eu ouvi uma fala dele que me deixou... Foi, inclusive, num programa do Sílvio Santos, quando ele ainda era Deputado. Criticava tudo, até essas coisinhas.

    Bem, aí fiz um paralelo. Depois que passou o tempo, ele foi pilhado com um sítio de propina e com um triplex no Guarujá. E ele dizia: "Uma coisinha. Estão implicando até com os patos da Marisa".

    Eu falei: "Como mudou, né? Criticava até uma verba legítima, legal, dos Parlamentares para trabalhar, as passagens para irem para o Estado..." E, com esse sistema de aviação de hoje, Senadora Ana Amélia, Parlamentar que fizesse quatro viagens ao Estado já gastaria seu salário se acabassem com isso. Mas esse era o discurso, de santidade. E eu me lembro do bordão. Eu ainda era um pouco menino... Todos eles, os players do PT iam para a propaganda. Aparecia a estrela, a sagrada estrela, a cor vermelha, e eles diziam: "Acabar com a corrupção e melhorar a vida da gente". E todos, talvez bem treinados por media trainning, faziam uma cara de seriedade, de consternação, combatendo a corrupção. E se afundaram nesse mar. Ninguém tem culpa de terem se afundado. E não estou julgado aqui, não; quem está julgando é o Sérgio Moro, quem está julgando é a população. Eu só estou dizendo que foram derrotados por suas condutas, por suas ações e, principalmente, por terem frustrado não só o seu eleitorado, mas todo o País.

    Não é verdade que o PT... "Ah, estão perseguindo, o PT sempre foi perseguido". Não é verdade. Não é verdade. Enquanto se conduziam, enquanto, aliás, a gente pensava que se conduziam de forma correta, todo o Brasil apoiava, todo o Brasil estava de mãos dadas, e não trocava. Tanto é que houve eleições com candidatos ótimos e o Brasil continuou reconduzindo. E depois, mesmo enganado, quando ele resolveu eleger... Com todo o respeito pela figura da Presidente Dilma, a figura política que ela representava era como se fosse um poste, não tinha representatividade alguma.

    E o Lula, por toda credibilidade, conseguiu eleger um poste político. E reelegeu. De repente, ele pegou um rapaz que ninguém conhecia e o elegeu. Pregou um poste aqui em Brasília e outro poste na principal capital do País, São Paulo: Dilma aqui e Haddad lá. E aí vem dizer que o PT era perseguido? Não, não era perseguido.

    Agora, no momento em que se descortina, no momento em que se descobriu que uma montanha de dinheiro do tamanho dessa cúpula tinha sido desviado e que não tinha como, foi aquela coisa tão clara... E houve casos aqui em que as provas são mais claras do que a luz do sol, como coisa de holerite, essa coisa toda que não tem como... É como esse negócio da empresa que está dando calote aqui nos funcionários, que não tem como fugir.

    E vêm dizer que não, que isso é uma perseguição do Ministério Público e dessa oposição. É perseguição daquela Ana Amélia, que fica sempre falando da tribuna, daqueles Senadores...

    A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Fora do microfone.) - Medeiros.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Então, é importante a gente dizer isso aqui, Senadora Ana Amélia, porque eu ouvi dizer: "Olhem os algozes, os abutres, na Comissão do Impeachment, ficaram acusando uma Presidenta inocenta, eleita com 54 milhões de votos". Além de tudo, assassinando a inculta e bela Língua Portuguesa.

    Mas, nesse pleito eleitoral, o eleitor, quieto - incrível como essa eleição estava, Senadora Ana Amélia -, o eleitor quieto, não dizia nada, foi lá e colocou o seu voto.

    Eu digo, nem com tanta satisfação, que o PT, que, no seu início, cabia numa kombi, voltou para um fusca. E eu percebi que havia um prenúncio de isso acontecer, porque passei num dos Estados do Nordeste e vi um candidato a prefeito do Partido dos Trabalhadores pedindo voto. Estava num semáforo, fazendo panfletagem, e ele pedindo voto, entregando santinhos. À tarde, na TV, eu escutei a agenda dos candidatos: fulano de tal vai para a reunião no bairro tal; sicrano vai se reunir com empresários não sei aonde; beltrano vai conversar com as comunidades; e o candidato do PT, reunião no centro acadêmico da universidade tal.

    Aí eu falei: pronto, voltaram realmente para os semáforos, para entregar santinhos e voltaram para os centros acadêmicos para fazer sua pregação, porque era assim que o PT fazia. Ficavam aqueles candidatos sem expressão política nenhuma entregando santinhos. Voltou ao tamanho que era. Voltou ao tamanho que era.

    O que se nota é que eles criticavam muito, dizendo que se fazia essa política orgânica, porque era política de conversa direta com o povo, mas, no momento em que colocaram a mão na bufunfa, as campanhas eram suntuosas. Nós, por exemplo, disputamos a eleição com um candidato do PT em Mato Grosso. O material dele era tão bonito que dava para pentear o cabelo: espelhado, aquele material de primeiríssima qualidade, aquela coisa, aqueles arroubos, jatinhos cortando o Estado para lá e para cá. Mas acabou. O eleitor colocou o Partido dos Trabalhadores não foi nem no purgatório político; mandou direto para as profundezas. Essa é a grande realidade.

    Como eu disse, não falo isso com alegria. Falo isso aqui para que fique bem claro que o grande derrotado desta eleição se chama Partido dos Trabalhadores. Por que isso aconteceu? É lógico que houve a parte da corrupção, mas boa parte do que aconteceu foi por uma coisa pior do que a corrupção. É o discurso da mentira, é o discurso de acusar o outro do que eles fazem, é o discurso de sempre contar a mesma coisa sabendo que não é verdade.

    Anteontem nós estávamos numa reunião do Congresso e estávamos para votar o Fies. Eles resolveram obstruir a sessão. A todo tempo diziam: "Nós queremos votar o Fies". Mas obstruíam a sessão e, ao mesmo tempo delongavam, da mesma que faziam aqui na Comissão do Impeachment, para não ter reunião, para esvaziar o quórum. Foram fazendo aquilo, mas dizendo: nós queremos votar o Fies. Falando uma coisa e fazendo outra. Durante todo o tempo em que estiveram no poder foi assim: fazendo uma coisa e dizendo outra.

    Por falar em Fies, no ano passado, Senadora Ana Amélia, eles disseram que os estudantes começaram a não ter acesso. Na verdade, tinha acabado o dinheiro para o Fies, porque a Presidente Dilma - é bom que se diga aqui - cortou 87% de todos os programas sociais. Tinha acabado o dinheiro. Ela cortou o Fies, o Pronatec e tudo o mais. Tinha acabado o dinheiro do Fies. Como fazer? Como contar para a nação, logo depois da eleição, que tinha acabado o dinheiro para o Fies? De repente, deu problema no sistema. E eu vi no Jornal Hoje uma matéria com uma senhora de idade. Um aluno estava esperando o sistema entrar. Com medo de o sistema entrar e ele não conseguir fazer a sua inscrição no Fies, colocou a tia, a irmã, a mãe e a avó. Eles se revezavam durante todo o dia na frente do computador e à noite, também. Cada um tirava um turno para ver se conseguia a inscrição. Eu falei: isso é que nem o sebastianismo. Estão esperando Dom Sebastião. Não vai ter. Ali estava claro que era falta de dinheiro. E o sistema nunca voltou. Não conseguiram. Enfim, os estudantes depois descobriram que realmente era falta de dinheiro, mas faziam discursos terríveis de que este Governo está acabando com o Fies. Acabando nada. Havia acabado boa parte do Fies porque não tinha dinheiro. "Ah, esse Governo está querendo acabar com os direitos trabalhistas!"

    Eu tenho dito que o direito mais sagrado quem tem é o trabalhador. Eu falo isso porque fiz praticamente toda a escala trabalhista que existe. Cheguei a ser auxiliar de serviços gerais, Senadora Ana Amélia. Mas não há direito mais sagrado, não há coisa melhor do que estar empregado. Eu me lembro de que o primeiro emprego que tive foi esse e da alegria de estar empregado. Esse é o principal direito, é o direito mais sagrado que existe. E esse direito foi tirado pelo Governo da Presidente Dilma com esses milhões de desempregados que estão aí, que a gente acha que são 12, mas são mais de 20, porque há os desalentados que não estão mais procurando, que não entram nas estatísticas, há aqueles que já foram para a informalidade, que também não entram. Enfim, são muitos desempregados sem direito algum, porque não têm mais direito a nada. Isso sim é o principal. Agora, ficam nessa cantilena aqui, nesse biombo.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - E o que me revolta mais com o Partido dos Trabalhadores é usar os menos favorecidos como biombo. E esse discurso de criticar as elites. Se a pessoa tem mais de R$10,00 no bolso já virou elite, é como se fosse um vilão da pátria. Tudo bem. Se pelo menos eles acreditassem nisso... Vamos respeitar. Eu respeito pessoas que têm teses. Tudo bem, ele é contra os ricos. Tudo bem. Não concordo, mas tem que se respeitar. Mas não. A Lava Jato mostrou para todo o Brasil que a galera dessa turma eram as elites.

    E me lembro do Presidente do Senado então, Antonio Carlos Magalhães, que já naquela época... Olhe o feeling dessas pessoas. Por isso esses caras viraram mitos, Ulysses, Antonio Carlos Magalhães... Quando o PT nem estava no poder, um dia ele falou aqui. Eles estavam falando que temos que pensar pelo País, aquele discurso do PT. Desta tribuna ele falou: "O Brasil dessa gente é o dinheiro". Já naquela época ele fazia isso. Aí o PT vai ao poder e confirma a tese de Antonio Carlos Magalhães.

    Mas eles usaram o pobre como biombo, usam como catapulta. E depois que chegaram aqui esqueceram os pobres. Esse pessoal que fica invadindo terra e batendo lata para o PT passou 13 anos sem ter um palmo de terra demarcado. A última demarcação de terra foi Fernando Henrique que deu. E ficam batendo lata para o Partido dos Trabalhadores. Agora eles voltaram, mas ficaram abandonados, amordaçados. Vão falar o quê? Disseram que o PT era o partido que defendia a reforma agrária. Aí o PT sai, eles começam: "Nossa, este Governo do Temer não fez reforma agrária". Há três meses que o Temer está no poder, e eles estão pregando o caos, como se fosse o Temer que tivesse acabado com tudo.

    Então, vamos à questão das elites. Os bancos nunca ganharam tanto dinheiro. E eu vejo o discurso de que o Temer e o Meirelles estão querendo fazer o rentismo, é a banca que manda neste País. Ora, a banca sempre mandou e mandou mais no governo do PT do que em qualquer governo. "Não, mas eu sou contra as elites."

    Relembro novamente Aluísio Azevedo, porque para mim é o exemplo mais claro, aquele personagem de "O Mulato" que ele foi adotado. Ele era filho de um escravo e foi adotado por um ricaço que o mandou para Coimbra, para estudar Direito. Lá ele se desenvolveu, estudou, voltou doutor e era um moço muito bonito. Ele volta e as damas, todas encantadas. Ele voltou extremo valsista. Mas como fazer? Não se podia dançar com um mulato. Ele era negro. Era o chamado "barriga suja". Mas elas estavam apaixonadíssimas por ele. Então, faziam o quê? Faziam o que o PT fez com as elites: em público, elas o enxotavam; no privado, chamavam para a alcova.

    O PT se sentou nos 13 anos de poder... Não foram os sem-terra que se sentaram à mesa do PT, não foram os trabalhadores que se sentaram à mesa do PT.

    À mesa de gala quem se sentou foram os bancos, as grandes construtoras, as chamadas campeãs.

    A Senadora Ana Amélia, com certeza, estava naquela audiência em que nós perguntamos ao então Ministro Tombini sobre qual seria o critério para escolher as empresas - esses que iam participar do butim. Ele falou: "foram escolhidas as campeãs". Na verdade, foram escolhidos os amigos do rei, na mais clara demonstração do capitalismo de Estado. E esse é o mais pernicioso que existe, porque o partido que se propôs a fazer socialismo fez o pior tipo de capitalismo que existe. Que capitalismo é esse? Eu pego os meus amigos, injeto dinheiro, e eles vampirizam todo o resto dos concorrentes, acabam com a concorrência.

    E o que dizer da JBS, lá no meu Estado, que fechou quase todas as plantas frigoríficas? Estão fechadas lá. Em Vila Rica, que tem um dos maiores rebanhos de gado do meu Estado, está fechado o frigorífico. Por quê? A JBS fechou. Eram as campeãs.

    Então, fizeram o pior tipo de capitalismo que existe, Senadora Ana Amélia. Refestelaram-se com os ricos e os chamaram para a alcova durante os 13 anos.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Essa foi a demonstração, esse é o retrato do motivo por que, nessas eleições, o eleitor foi lá e disse: "Olha, chega. Chega! Não dá mais". E essa foi a mais plena demonstração do amadurecimento da nossa democracia.

    A Senadora Ana Amélia, uma Senadora respeitada aqui, com uma vivência grande na política brasileira, por diversas vezes foi desrespeitada aqui, chamada de golpista. As pessoas berravam aqui desta tribuna conosco: "golpistas, golpistas". Como faltava argumento, só vomitavam essas ofensas. Outros subiram aqui e nos chamaram "canalhas, canalhas, canalhas". E o povo vendo. Nós não tivemos muito direito a nos defender, porque sabíamos que, quanto mais falássemos, mais se procrastinava aquele processo. E ficamos quietos.

    E o povo foi lá na urna e deu o troco.

    E, agora, em vez de golpista estar virando ofensa - e não falo isso com alegria -, o que está virando ofensa é ser chamado de petista.

    Eu estava no aeroporto de Brasília há poucos dias, e eu pensei que um rapaz tinha pego uma pombajira ou algum encosto, porque, de repente - era um rapaz bonito, moço, estava com a namorada -, ele se rasgou todo e começou a berrar no aeroporto: "golpista, golpista, golpista". Eu passei perto dele, e ele falou: "você vai me agredir?". Eu falei: "não; só vim te chamar de petista". E ele ficou bravo. Falei: "está bravo?". E segui o meu caminho. Mas ficou lá esbravejando. Na verdade, falta o que dizer em defesa, falta o debate. Simplesmente esbravejam.

    Eu, já marchando para o final, digo que compreendo, eu consigo compreender esse esperneio, esse inconformismo. É próprio de quem está condenado e vê que não tem mais o que fazer se indignar.

    Mas eu digo e repito o que falei aqui para a Presidente Dilma: a falta da prestação jurisdicional pretendida não pode ser confundida com ilegalidade ou com golpe, como eles disseram. Então, eu digo: houve golpe? Houve. Um dos maiores golpes que um partido podia levar da sua população: o brasileiro foi às urnas e, com um golpe certeiro, implacável, parecendo os samurais com a catana, extirpou praticamente da política brasileira o Partido dos Trabalhadores.

    Agora, resta aos poucos que ficaram, talvez tardiamente, fazer a autocrítica e, quem sabe, se reconstruir. Eu não sei se conseguirão, porque estão dizendo, estão criticando aqui, Senadora Ana Amélia, que a campanha do Governo está querendo varrer o Partido, porque falaram que o Brasil tem que sair do vermelho. O Brasil tem que sair do vermelho mesmo. Agora, eles dizerem que é subliminar? Não é subliminar. Sabe por quê? Porque eles já tinham varrido o vermelho da política.

    D. Jandira, no Rio de Janeiro - ela é do PCdoB, um dos puxadinhos do PT -, fez campanha de verde. Eu quase não a reconheci. Estava de verde! Lá no Mato Grosso do Sul, eles já tinham feito campanha de azul. De repente, eu vi aquela estrela azul e falei: é o Cruzeiro? Parecia a camisa do Cruzeiro. E por aí foi. Em um lugar eles fizeram a campanha de laranjado, de laranja. Eu não sabia se eram os funcionários da GOL, os sindicalistas da Petrobras ou o pessoal do PSB. Quando olhei, era o PT. Eu falei: não acredito.

    Então, realmente, isso está parecendo aquela história: quando o produto não é bem aceito no mercado, trocam a embalagem. Não vai funcionar.

    Então, neste momento, a mensagem que fica é a seguinte: the house is down. A casa caiu, e o PT se construiu e se destruiu por si próprio. Esse é o enredo.

    Muito obrigado, Senadora Ana Amélia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/2016 - Página 9