Discurso durante a 149ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao Partido dos Trabalhadores (PT) por sua gestão do Governo Federal e por sua atuação política, principalmente na últimas eleições municipais.

Defesa da reforma agrária para regularização e titulação de terras assentadas.

Crítica à proposição legislativa utilizada pelo Governo para a suplementação orçamentária do Fies; e elogio ao Senador Cristovam Buarque pela autoria de artigo referente à reforma do ensino médio.

Defesa da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição nº 241/2016, de autoria do Presidente Michel Temer, que institui o Novo Regime Fiscal.

Registro da participação de audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, para debater sobre a importação desmesurada e sem controle de laticínios do Uruguai; e expectativa de crescimento da safra 2016/2017.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Críticas ao Partido dos Trabalhadores (PT) por sua gestão do Governo Federal e por sua atuação política, principalmente na últimas eleições municipais.
POLITICA FUNDIARIA:
  • Defesa da reforma agrária para regularização e titulação de terras assentadas.
EDUCAÇÃO:
  • Crítica à proposição legislativa utilizada pelo Governo para a suplementação orçamentária do Fies; e elogio ao Senador Cristovam Buarque pela autoria de artigo referente à reforma do ensino médio.
ECONOMIA:
  • Defesa da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição nº 241/2016, de autoria do Presidente Michel Temer, que institui o Novo Regime Fiscal.
AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO:
  • Registro da participação de audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária, para debater sobre a importação desmesurada e sem controle de laticínios do Uruguai; e expectativa de crescimento da safra 2016/2017.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/2016 - Página 13
Assuntos
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Outros > POLITICA FUNDIARIA
Outros > EDUCAÇÃO
Outros > ECONOMIA
Outros > AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO
Indexação
  • CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), GESTÃO, GOVERNO FEDERAL, FALTA, COMPROMISSO, VERDADE, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, FORMA, ADMINISTRAÇÃO, GOVERNO, APARELHAMENTO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), AUMENTO, CRIAÇÃO, EMPRESA ESTATAL, AUSENCIA, RECONHECIMENTO, ERRO, ATIVIDADE POLITICA, RESULTADO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, PERDA, ELEITORADO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, ELOGIO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE, NECESSIDADE, RENOVAÇÃO, POLITICA.
  • DEFESA, REALIZAÇÃO, REFORMA AGRARIA, CONCESSÃO, TITULARIDADE, TERRA PARTICULAR, ORIGEM, ASSENTAMENTO RURAL, REGULARIZAÇÃO, ORGANIZAÇÃO FUNDIARIA, CRITICA, UTILIZAÇÃO, CHANTAGEM, POLITICA.
  • CRITICA, PROJETO DE LEI DO CONGRESSO NACIONAL (PLN), AUTORIA, GOVERNO FEDERAL, OBJETIVO, SUPLEMENTAÇÃO, ORÇAMENTO, FUNDO DE FINANCIAMENTO AO ESTUDANTE DE ENSINO SUPERIOR (FIES), PROPOSIÇÃO LEGISLATIVA, DEMORA, TRAMITAÇÃO, SOLUÇÃO, APRESENTAÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), SUGESTÃO, RENAN CALHEIROS, PRESIDENTE, SENADO, COMENTARIO, ORGANIZAÇÃO, PARTIDO POLITICO, OPOSIÇÃO, GOVERNO, ELOGIO, CRISTOVAM BUARQUE, SENADOR, AUTOR, TEXTO, ASSUNTO, REFORMULAÇÃO, ENSINO MEDIO, DEFESA, NECESSIDADE, RENOVAÇÃO, METODOLOGIA, ENSINO.
  • DEFESA, APROVAÇÃO, PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO (PEC), AUTORIA, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETO, LIMITAÇÃO, ACRESCIMO, GASTOS PUBLICOS, NATUREZA SOCIAL, EQUIVALENCIA, INFLAÇÃO, EXERCICIO FINANCEIRO ANTERIOR, RESULTADO, ATUAÇÃO, GOVERNO, RESPONSAVEL, CONFIANÇA, BENEFICIO, POPULAÇÃO, REDUÇÃO, TAXA, JUROS, OPOSIÇÃO, GESTÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AUMENTO, CRIAÇÃO, EMPRESA PUBLICA, PREJUIZO, ECONOMIA NACIONAL, COMENTARIO, PAGAMENTO, INDENIZAÇÃO, TRABALHADOR, LIMPEZA, SENADO, NECESSIDADE, ADOÇÃO, CRITERIOS, CONTRATAÇÃO.
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, AUDIENCIA PUBLICA, LOCAL, COMISSÃO DE AGRICULTURA E REFORMA AGRARIA, PRESENÇA, REPRESENTANTE, MINISTERIO DA AGRICULTURA (MAGR), ITAMARATI (MRE), OBJETIVO, DEBATE, ACORDO INTERNACIONAL, BRASIL, URUGUAI, IMPORTAÇÃO, LATICINIO, MOTIVO, AUSENCIA, MEDIDA, CONTROLE, RESULTADO, PREJUIZO, PEQUENO PRODUTOR RURAL, LEITE, COMENTARIO, EXPECTATIVA, CRESCIMENTO, SAFRA, ANO, AUXILIO, UTILIZAÇÃO, TECNOLOGIA.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Caro Senador José Medeiros, que preside esta sessão, nossos telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado e os milhares de brasileiros que dão à TV Senado e à Rádio Senado uma audiência impressionante, caros servidores desta Casa, zelosos e atentos, a audiência que a TV Senado ganhou com o processo de impeachment é impressionante, ou seja, o consumo de política, ao contrário do que se podia imaginar, foi ampliado extraordinariamente pelo interesse da sociedade brasileira em acompanhar aqui não só o trabalho da Comissão Especial, mas, depois, o daquela histórica sessão neste plenário, quando foi feito e aprovado o impeachment por 61 votos.

    V. Exª fez uma análise ao seu jeito, com uma ilustração até literária, sobre tudo o que aconteceu, de maneira leve, que agrada o telespectador, porque essa forma de falar que o senhor usa é uma forma muito mais fácil de compreender. Nada de palavra difícil, de coisa para comprometer a forma de interpretação do telespectador. Todos eles, qualificados, entendem melhor quando nós somos muito claros, muito transparentes, honestos, porque a palavra expressa também a sua alma, o seu sentimento, a sua integridade e a sua coerência. Às vezes, aqui, as pessoas dizem uma coisa e, lá, fazem outra.

    Eu ia começar o meu pronunciamento falando sobre um tema que vou abordar em seguida, mas falo agora sobre os comentários feitos por V. Exª.

    No meu Estado também não foi diferente, Senador José Medeiros, em relação à questão do uso do vermelho. Os candidatos do Partido dos Trabalhadores não usaram vermelho; usaram um tom lilás, violáceo, eu até diria, todos eles.

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Cor de caixão de defunto.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - O Senador Medeiros faz uma boa provocação.

    É, essa cor difusa, não é nem rosa, nem roxo; essa cor difusa. Alguns mudaram até nome, tiraram o sobrenome, para não contaminar mais, porque era uma marca muito grande em relação ao Partido.

    Ora, há dois pontos fundamentais nesse processo: se o próprio Partido e os seus candidatos não estão assumindo a sua identidade nessa hora em que nos atacam, ou nos atacaram, qual é a moral que têm para continuar a crítica de quem aqui aprovou, com soberania, com altivez, o impeachment? Não podem fazer isso, não podem ter essa incoerência. Esse é o primeiro fato.

    O outro fato é a falta de absoluto compromisso com a verdade transparente, que é na política um erro imperdoável - imperdoável! -; a falta de humildade para reconhecer o erro.

    Nos Estados Unidos, Senador, o Bill Clinton, quando teve um caso com a secretária Monica Lewinsky, foi à televisão e disse: "Errei. Peço desculpas, primeiro, à minha mulher e à minha família, e peço desculpas aos americanos". E a mulher dele disse: "Eu confio no meu marido". Simples assim. Transparente assim.

    Não têm que ficar escondendo nos cantos e botar embaixo do tapete, Senador. Têm que ter clareza, têm que ter honestidade intelectual, Senador Cristovam. E faltou isso ao grande líder, tudo aquilo que V. Exª falou a respeito de Lula. Eu também, eu fui jornalista e muitas vezes entrevistei Lula quando ele não era... Ele era ainda, digamos, afastado. Eu falava com ele até pela relação que ele teve com o Brizola - e o Brizola o chamava de sapo barbudo num determinado momento em que os dois entraram num enfrentamento de uma disputa presidencial. Então, eu sempre tive por ele um grande respeito.

    Ele, aliás, me distinguiu. Eu fui, talvez, uma das poucas jornalistas convidadas por ele, pessoalmente, para acompanhá-lo nas obras de duplicação da 101, que foi uma herança importante do governo dele. Mas isso não lhe deu o direito de cometer os erros que cometeu.

    E, hoje, o Presidente Lula, com os cabelos muito mais brancos, com mais rugas no rosto, portanto, com mais experiência de vida, poderia salvar o Partido - partido que perdeu 60%! Repito: 60% foi a perda do Partido nessas eleições. E não foram os "golpistas" que fizeram isso; foi a população brasileira. Não fomos nós Senadores. Então, esse era o gesto que eu esperaria do Lula, desse grande líder que criou esse partido; o primeiro operário a chegar à Presidência da República, o que o americano chama de self-made man, o homem que se fez por si próprio e se tornou um grande líder sindical.

    Ontem, ouvindo uma entrevista da Miriam Leitão com o João Doria, Prefeito eleito, fiquei impressionada com a serenidade. Ela: "mas o senhor não tem experiência de administração pública". Desculpa, a Miriam é uma pessoa muito inteligente, mas fez essa pergunta. Eu poderia dizer: mas o que o Lula foi antes de ser Presidente da República? Deputado Federal, Constituinte e presidente de sindicato. E foi um grande Presidente no primeiro mandato. Mostrou ao Brasil, mostrou ao mundo que um líder operário, com a liderança que tinha, de atrair multidões, chegou à Presidência e obteve espaço na agenda internacional, entrando em questões do Irã, do Oriente Médio, coisas que as potências não conseguiram. Ele entrou nesses processos com a ousadia que um grande líder tem.

    O único político do PT que teve, eu diria, com certo desconforto... Eleito com 300 mil votos Vereador em São Paulo, o nosso ex-colega desta Casa, Eduardo Suplicy, ao sair da eleição, deu uma entrevista e disse: "Cometemos muitos erros. Precisamos reavaliar para continuar". Pelo menos um líder admitiu que foram cometidos erros. Esse é um gesto que respeito. Por isso o Suplicy é respeitado. Por isso o Suplicy fez 300 mil votos.

    O PT e as esquerdas não conseguiram ir ao segundo turno em uma capital, eu diria, esquerdista, que é Porto Alegre. O PT saiu da disputa no segundo turno, com uma figura respeitada, Raul Pont.

    Então, não fomos nós Senadores, mas a população, que antes do impeachment, um ano antes, bem antes, como disse V. Exª, ocupou a Avenida Paulista. Não era a elite que estava lá; era muito mais gente, Senador. É a pobreza, são as pessoas que ganham salário mínimo e que hoje esperam numa fila e não sabem quando vão se aposentar. E a ex-Presidente, atrás da porta, manda o Sr. Eduardo Gabas para fazer a sua aposentadoria na mesma hora.

    Como foi dito no exemplo do Aloysio: na aparência, uma honestidade cristalina; por baixo dos panos, fazendo essas tramoias. Um trabalhador não tem esse direito. E o trabalho, Senador... V. Exª começou como ajudante de serviços gerais, eu comecei como balconista na Casa Sanson, no interior, em Lagoa Vermelha. Essa casa, que era de uma família com esse nome, não existe mais. Fui balconista. E, quando eu peguei o emprego - nas férias, porque eu era interna no colégio -, meu pai disse: "mas o salário é muito baixo, minha filha". E eu disse: "Não importa, meu pai. Com esse dinheiro, mesmo pouco, eu posso comprar o uniforme e os livros que eu vou estudar".

    Eu acho que é exatamente o trabalho, Senador, que tem que dar o pão nosso de cada dia. É com o suor do nosso rosto que nós pegamos o pão de cada dia. A valorização do trabalho.

    V. Exª falou sobre a questão da reforma agrária. A questão não era apenas regularizar assentamentos; era a regularização fundiária, a titulação da terra para aquele que chegou ali e que precisava, como exemplo do seu Estado do Mato Grosso, que examinamos na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária. Esse assentamento se transformou em um Município, mas continuam, há 20 anos, sem titulação. É o título da terra, como a nossa Certidão de Nascimento, que dá a ele o direito de trabalhar. Ele não pode fazer nada; não pode dar como garantia, porque não tem a titulação da terra. A terra não é dele.

    Foi tempo perdido, Senador, fazer essas coisas. O único capital político que se tinha, mas por que não aconteceu, por que a titulação não aconteceu, Senador, por que a regularização fundiária não aconteceu? Porque usam essas pessoas como massa de manobra para fazer isso, Senador. Não há outra explicação.

    Na segunda-feira, eu também estava nesta tribuna, fazendo a mesma análise que V. Exª mencionou. "A popularidade do Temer está lá embaixo." A estatística mais importante aconteceu domingo, no dia 2 de outubro. A estatística mais importante foi a da liberdade, da autonomia de cada cidadã e de cada cidadão brasileiro, que foi às ruas dizer o que pensava. Esta foi a grande estatística, o grande Ibope, o grande Datafolha, a grande pesquisa de popularidade: a eleição. E não há o que discutir sobre isso.

    Como disse V. Exª, a falta de humildade política poderá... E o Lula ainda tem tempo ou, talvez, tenha já perdido o timing, porque, na política, se você não faz a coisa certa na hora certa, você já não recupera mais.

    Em relação à própria ex-Presidente Dilma - e ali está o Senador Cristovam -, quantas vezes foram alertá-la: "Presidente, faça isso, mude o rumo." Foi alertada. Quem avisa, amigo é; quem avisa, quem critica, responsabilidade tem. E não foram poucas as vezes em que um grupo de Senadores independentes foi à Presidência da República falar sobre isso. Nada aconteceu. Está aí o preço.

    Senador, nós estamos examinando aqui a PEC 241. Assim como a questão do golpe, a narrativa já acabou. Quando V. Exª reage, quando falam golpista, o cara chama de petista, e ele fica bravo. Então, a narrativa do golpe parou. A terceirização aparece agora, de vez em quando, nessa questão, como nesse escândalo do Senado Federal de uma empresa que presta serviços ao Senado. Não pagaram os seus servidores, e eles estão aguardando o resgate dos seus direitos.

    Não é possível! Tem que haver um critério. Na contratação, deve-se saber o passado dessa empresa. Não se pode contratar, numa licitação, sem avaliar a responsabilidade.

    Acho que o Senado agiu de boa-fé, os dirigentes do Senado agiram de boa-fé. Agora, tem que cobrar dessa empresa, onde for, imediatamente, e invocar, para evitar que esse episódio venha a contaminar todo o sistema. Nunca se pode imaginar que você vai ter 300 mil servidores para fazer a limpeza, contratados pelo Senado, pagos pela folha do Senado. Não é assim também.

    Então, não podemos ir aos extremos. Temos que corrigir os equívocos.

    Agora, veio a questão do Fies, que V. Exª muito bem definiu, nem vou falar, mas o Governo errou. O Governo errou ao ter colocado o recurso necessário para fazer uma suplementação orçamentária para pagar, para não deixar dois milhões de estudantes sem o Fies, que é o sistema de financiamento estudantil.

    As universidade que têm esse sistema do Fies, que atendem aos alunos do Fies estão em uma situação de crise. Ontem, ligou-me um Reitor, dizendo que iam entrar com judicialização, porque não recebem e não podem pagar os servidores, os professores, a manutenção, Senador.

    O erro do Governo foi ter posto a matéria em um PLN. Cada sessão do Congresso Nacional precisa antes votar vetos, que são complicados, que seguem em processos lentos. E a oposição, que não sabia antes governar, sabe fazer oposição. Governar não é muito a especialidade deles, mas, na oposição, são muito competentes. E o Governo, com uma maioria folgada, está totalmente desorganizado. A oposição, organizada; e a maioria, desorganizada. Então, deu no que deu. A saída foi, ontem, sugerida pelo Presidente Renan Calheiros: uma medida provisória. Fazem medida provisória para tudo. Por que não fazem uma medida provisória para suplementar também o recurso para pagar os dois milhões de estudantes que estão desesperados, aguardando, como aqueles que sofreram, fazendo um rodízio de avô, tio e irmã para conseguir uma vaga no Fies? Naquela época, no governo passado, o problema é que não havia mais condições de oferecer as vagas. E essa suplementação foi para dar garantia de que aqueles que estão no sistema Fies continuem. Essa é a questão.

    O Governo errou, ao não ter feito isso de cara, correndo o risco de os reitores das comunitárias... No meu Estado, existem muitas universidades comunitárias de excelente qualidade. O Senador Cristovam conhece muitas delas: Unijuí, Unisc, Universidade de Caxias do Sul, UPF, em Passo Fundo, e tantas outras mais.

    Essas coisas precisam ser clareadas como são, Senador.

    Quero cumprimentar o artigo do Senador Cristovam, que foi até o primeiro a fazer referência à reforma do ensino. Levantam como se a Casa fosse receber, como se tivéssemos que engolir o que chega do Poder Executivo e dizer "amém", como vaquinhas de presépio. Não. Estamos aqui para modificar, para aperfeiçoar, para negar ou para aprovar. O nosso trabalho é esse. Então, vamos fazer uma reforma de ensino necessária, e eu me valho do artigo do Senador Cristovam. "Mas tiraram a Educação Física". Eu respeito demais os professores de Educação Física. Eu fazia muito Educação Física na minha escola, quando eu era interna em Lagoa Vermelha. Eu os respeito demais. O líder disse: "Nós vamos ficar desempregados." Não é essa a questão. Como vai ser? Isso vai melhorar a qualidade do ensino? Vamos trabalhar com uma outra dialética, não corporativa. Vamos dizer: "nós podemos fazer tais e tais coisas para aperfeiçoar a forma de fazer Educação Física." E não aquela coisa que nem o aluno mais gosta. O aluno prefere entrar em um computador. Deve-se fazer com que a própria aula de Educação Física seja mais atrativa, Senador. Eu acho que as aulas de Educação Física, hoje, são iguais às da minha época.

    É preciso criar, inovar em todas as áreas.

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Piorou, Senadora, porque, às vezes, os professores ficam só na sala de aula, explicando o que é um cabeceio no futebol. Ninguém quer saber isso. O aluno quer ir lá cabecear a bola.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Exatamente.

    Eu fui professora primária e, na hora do recreio, eu ia para o recreio com as crianças para me exercitar com eles. Jogávamos bola, tudo isso, eu usava o uniforme - eu tinha uniforme -, porque eu queria ser igual aos alunos, eu queria me tornar mais igual a eles. Eu fiz estágio, não cheguei a ser contratada.

    Então, Senador, eu faço essa análise sobre a questão da reforma do ensino. Eu acho que a oposição deveria ter um pouco mais de respeito com a sociedade, com coisas necessárias a serem feitas na reforma do ensino. Tem que ser mudado, do jeito que está não pode ficar. É uma proposta de discussão que está no Congresso Nacional.

    A outra coisa é a questão do teto, a 241. Essa agora, sim, é o novo espantalho que foi colocado no cenário político. Só que essa PEC 241 é o eixo essencial para o Governo, um Governo que tenha uma mínima credibilidade, uma capacidade de governança. E governabilidade se dá num âmbito político, de governança de um País que está arrasado, terra arrasada.

    Veja só, Senador, nos 13 anos de governo, foram criadas 40 - 40, 40 - empresas públicas. Foram 40 estatais, Senador, em 13 anos, como se nós já não estivéssemos inchado como Estado o suficiente. É como se fosse uma casa pequena, e compram-se muito mais móveis do que cabe na casa. Aí, coloca uma em cima do outro. Mas aquilo custa, entra no orçamento das pessoas. Vai pagar, compra financiado, a estatal tem que ter custeio. O prejuízo operacional dessas estatais criadas é estimado em R$8 bilhões; R$8 bilhões as 44 estatais, 43 precisamente, 43 das quais 41 ativas. Há 41 em atividade.

    Eu li, Senador, hoje, a respeito disto: o que é limitar gasto. Não é criar nenhum problema para a educação e para a saúde. Não é isso. Ela submete as despesas primárias do Estado, da União a um teto determinado pelos gastos do ano anterior, corrigidos pela inflação. Sem que o Congresso aceite essa imposição do teto, não adianta nem pensar nas outras reformas. Ali estão especialistas.

    Mas eu li, hoje, uma frase, digo, lapidar de um jornalista muito conhecido, chamado Helio Gurovitz. Helio Gurovitz é um jornalista com curso no exterior, muito preparado. E eu vou usar a frase dele, acrescentando apenas um aditivo. Ele diz assim: "Para fazer o elefante emagrecer [e o meu aditivo é Estado brasileiro], não basta dizer quantos quilos ele precisa perder. O mais importante é fazer a dieta. Disso, a PEC dos gastos não trata", escreveu ele. Foi muito, eu diria, ao ponto, cirúrgico.

    Acho que, com esse exemplo do nosso Helio Gurovitz, que é do articulista econômico do G1, ele conseguiu dizer com uma frase, explicar muito bem o que nós estamos tratando.

    Eu queria cumprimentá-lo pela frase: “Para fazer o elefante [eu coloquei entre Estado brasileiro], emagrecer, não basta dizer quantos quilos ele precisa perder. O mais importante é fazer a dieta. Disso, a PEC dos gastos não trata.”

    São 43 estatais, 41 funcionando, a gente nem sabe, mas é um ralo de dinheiro público sem eficácia, porque esses 8 bilhões, antes de ter inchado a máquina pública, inchado o Estado brasileiro, deveriam concentrar esse esforço, esses 8 bilhões - é muito dinheiro, Senador Cristovam, é muito dinheiro -, para melhorar a educação, melhorar a saúde, o atendimento, dar o seguro-desemprego nessa hora de tanto desemprego.

    Penso que nós temos que, de fato, colocar os pingos nos is. Acho que a Câmara fez o dever de casa ao tê-la aprovado na comissão especial. Imagino que o Plenário do Senado aprove. É isto, é uma organização mínima do Estado brasileiro com a fixação desse teto de gasto. Não há como fazer isso. Então, os que pregam o contrário, Senador... E aqui também de novo, vem aqui para negociação. A gente vai negociar o que nós vamos fazer e quais serão os limites.

    Com muita alegria, concedo um aparte ao Senador Cristovam Buarque.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Senadora, aqui, os apartes a gente faz sentado. Eu vou fazê-lo em pé. Considero que não é um aparte apenas, é uma espécie de diálogo provocado pela sua fala. Eu vou analisar duas coisas. A primeira é essa ideia, Senador Medeiros, da PEC 241. Ainda hoje, de manhã, eu liguei para um Deputado que eu respeito muito, o Deputado Molon, para conversar com ele sobre isso, porque eu vi a sua participação na comissão. E estão vendendo, mais uma vez, narrativas falsas.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - É isso, Senador. Que bom!

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Essa PEC é fundamental para a gente aqui lembrar as contas, baixar a dívida, os juros caírem, retomar investimento, voltar o emprego. Mas tem uma coisa por trás que eu estou gostando mais ainda: essa PEC vai permitir descobrir quem daqui, do Congresso inteiro, dá prioridade a alguma coisa. Peguemos a educação. Agora, vai ser possível aumentar recursos para a educação, mas vai ter que dizer de onde tira. É fácil defender educação e tudo o mais, como a gente vê as pessoas fazendo, Senador Medeiros. Acabou a demagogia quando for aprovado. Agora, para você defender aumento de salário de professor, você vai ter que dizer quem você defende para aumentar salário, porque não dá para aumentar tudo igual. Até porque a valorização de um profissional não vem só do aumento do seu salário; vem da brecha entre o seu salário e o dos outros. Agora, não vai dar para a gente ficar defendendo mais escolas e mais portos com dinheiro do Governo, mais saneamento e mais aeroportos. A gente vai ter que escolher. Isso vai ser muito bom para a política brasileira. Eu imagino que, se desde a Constituição de 1891, a primeira da República, já existisse esse item em nossa Constituição. A política teria sido feita de uma maneira muito mais séria, porque não vai bastar ser a favor de um item. A pessoa terá que ser contra outros. Por exemplo, essas estatais. Quanto elas custam? Daí, a gente tira esse dinheiro e manda para a educação. Eu vou mostrar como é possível aumentar muito o dinheiro para a educação, mesmo com a PEC. Espero que outros façam para a saúde, que outros façam para qualquer outra coisa, e aqui a gente vai discutir quem é que vai ganhar. Aí eu ouvi um dizer: "Mas a educação nunca vai ganhar." Bem, se não vai ganhar, porque aqui não representam,...

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Não vai perder.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - ... vamos tirar a máscara de todos nós, mas não vamos mentir dizendo que a gente aumenta para a educação, para a saúde, para os portos, para as estradas, e, no fim, engana todo mundo com a tal da inflação, desrespeitando a lei da aritmética. Porque o que a gente vem fazendo ao longo do tempo? A gente só tem R$4 para gastar. Aí gasta R$2 num lugar e R$3 no outro. Como é que se pode resolver a aritmética de, tendo R$4, gastar R$5? Sabe como é? É que os R$5 só valem R$4, com a inflação de 20%. É assim que a gente tem administrado o Brasil: colocando mais em tudo e enganando a todos. A gente aumenta salário e, depois, rouba com a inflação. Fica todo mundo bem, todo mundo enganado. Vamos cair na real. É nesse sentido que eu acho positiva a PEC. Eu não sei como este Governo que está aí - eu não votei nele - não está se comunicando melhor. Essa PEC deveria se chamar a PEC do óbvio ou da responsabilidade, não a PEC do teto. O teto é óbvio! É a PEC da responsabilidade. É a PEC do óbvio: não se gasta mais do que se tem. Mas é o global que não vai aumentar.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Não se pode aumentar este baixando esse. Então, esse é o ponto. Mas eu não queria deixar de falar que, finalmente, a gente vai saber quem defende saúde, quem defende educação, quem defende portos, porque vai dizer o que não defende. Acabou essa ilusão, falsidade, mentira de que tudo é prioritário. Corromperam até o dicionário. Prioridade significa algo que você prioriza. Pode ser até mais de uma coisa, mas é um conjunto pequeno. Agora, sobre o discurso do Senador Medeiros, que a senhora repercute, eu acho que o PT perdeu uma eleição terrível; do ponto de vista eleitoral, foi uma derrota brutal. Mas essa nota do PT, depois da eleição, é uma derrota pior ainda, porque é a derrota de quem não entendeu nada, de quem não reconheceu nada, de quem não pediu desculpas e de quem não sinaliza para onde vai. Vou falar dos quatro. Primeiro, não entendeu. O PT está achando que perdeu votos por causa da corrupção. Esse foi um item importante - mas foi um item importante, no caso do PT, porque era o Partido não corrupto. Se fosse um partido com tradição de corrupto - pois já houve, no Brasil, candidato que dizia: "Rouba, mas faz"... Mas, não. Esse é contra todos os roubos. E de repente caiu nisso. Mas não foi isso: os erros na economia, a inflação e, sobretudo, o desemprego é que eu acho que são a grande causa dessa derrota. E não entenderam. Não entenderam também os limites das narrativas, os limites do marketing. O marketing só engana até um certo ponto. Creio que foi Lincoln quem disse que é possível enganar todo mundo por pouco tempo e enganar poucos por muito tempo, mas é impossível enganar todos por muito tempo; o PT acreditou que podia. A outra coisa, que eu acho que é mais grave - e isso, sim, pode levar a um certo desfazimento do PT, até se refazer -, é que não está mais em sintonia com o espírito do tempo; não está mais em sintonia com a realidade, como ela avança. A senhora tocou em um ponto aí, por exemplo: a terceirização. Não podemos deixar que continuem os nossos trabalhadores aqui... Enquanto nós temos salários, seguro saúde, tudo, os terceirizados aqui nem salários estão recebendo direito. Não podemos. Nós entramos no tempo em que certas profissões são provisórias. Para profissão provisória não pode existir uma carreira permanente. Então, uma profissão que vai acabar daqui a algum tempo, como estão falando até de motoristas... Os carros vão ser automáticos - eu ainda confesso que não acredito muito nisso. A gente vai ter carreira por 35 anos. Eu nem sei se, com a revolução da cibernética, a gente também não vai ficar obsoleto aqui. Vai haver um grande computador que recebe o que o povo quer, processa, vê as consequências, elabora a lei e manda para a gráfica automaticamente - nem para gráfica, manda para casa das pessoas. Uma série de atividades estão ficando obsoletas. O PT não entendeu que a provisionalidade dos tempos de hoje nas relações trabalhistas exige uma reforma trabalhista. Não entendeu! Ai gera desemprego. Não entendeu que nós estamos vivendo muito mais anos e, portanto, a aposentadoria exige uma reformulação. E mais grave: nós vivemos mais anos e nascem menos meninos e meninas. Então, a base que paga diminui e aqui aumenta o teto que gasta, que recebe, como eu. Tem que mudar as regras. Não entendeu, por exemplo, que a Petrobras não tem condições de explorar o pré-sal na totalidade, e nem entendeu que estamos caminhando para o mundo sem combustível fóssil. O petróleo vai ficar uma coisa obsoleta. Não entendeu que petróleo debaixo do mar não serve. Só serve se você tira, transporta, refina e distribui - e tirar, transportar, refinar e distribuir exige investimentos. E a Petrobras não vai ter para colocar 30% em todos os poços de petróleo. E não vai ter porque, de qualquer maneira, o pré-sal é maior do que a Petrobras, e porque o PT quebrou a Petrobras. A gente vai precisar recuperá-la. O Brasil, quando eu digo, somos nós. Não digo o atual Governo - nós, o Brasil vai ter que recuperá-la. Enquanto isso, o petróleo enterrado. Eu inclusive fico revoltado com essa posição porque nós conseguimos, depois de muito esforço, votar a ideia de que os royalties do petróleo iriam para a educação - e não que os royalties do petróleo ficariam enterrados debaixo do subsolo do mar, porque é lá que estão os royalties. Eu quero é tirar esses royalties. E isso exige todas essas operações que a Petrobras, sozinha, não tem. E olhe que a proposta aprovada ontem ainda diz: a Petrobras tem o direito de dizer se quer ou não colocar 30% em cada poço. Quando ela disser "não tem como", aí o Brasil não fica sem explorar aquele poço. E ainda tem gente que resiste a essa realidade. Eu acho que essa foi uma das causas maiores da derrota do PT: ficou um partido reacionário, porque reacionário é quem não percebe a evolução das coisas e fica com nostalgia do passado. É isso que é reacionarismo, a nostalgia do passado e não olhar lá na frente. E é claro que para olhar lá na frente existe uma maneira de direita e uma maneira de esquerda. Eu ainda insisto nessa palavra, pode ser outra. Tomemos um caso, Senadora. Desculpe estar tomando muito o seu tempo. A senhora está com muita pressa ou não?

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Não, eu quero que o senhor continue, Senador Cristovam. Eu estou aqui encantada porque esse aparte é a complementação, e eu estou anotando outras coisas para seguir. O que o senhor fez está fantástico.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Ótimo, porque, às vezes, nessa hora, tem que tomar o avião.

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Esse aparte a gente teria que colocar em uma moldura.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - É verdade.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - O Senador Medeiros também não vai tomar avião agora, não é? Muito bem. Então, veja o caso, Senadora: o que é uma posição progressista e uma posição conservadora. Uber. Eu, pela minha relação pessoal com os taxistas, especialmente no Distrito Federal, confesso que nunca tomei Uber e vou evitar tomar, porque os nossos taxistas estão em fase de inanição. Agora, como a gente encara o problema do Uber? Tem a maneira reacionária, que é dizer: "Proíbe-se Uber." Não há como, é uma tendência - e não é só de táxi, não, vai ser de tudo, a "uberização" do mundo. Há uma outra, que é a dos conservadores não reacionários, que dizem: "O Uber é fundamental, os taxistas que se virem." Eu tenho uma terceira. Quer dizer, é inevitável a "uberização" do mundo; portanto, se eu tenho um sentimento social, eu tenho que saber o que eu faço com os taxistas. Vamos prepará-los para serem parte do Uber? Vamos definir uma regra de transição para a adoção do Uber? Isso devia ter sido feito quando substituíram condutor de carruagem por motorista de carro. Gerou-se um desemprego imenso naquela época, porque transformar um condutor de carruagem em motorista de carro é difícil, mas poderia ter havido um processo. Então, veja: o PT não foi capaz de entrar nessa terceira via - aliás, não é bom terceira via, não -, nessa...

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Não deu certo.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - ... via progressista de dizer que certas mudanças que a realidade está fazendo exigem de mim uma postura para poupar os prejudicados, mas sem interromper a marcha do progresso. Ficaram reacionários, querem interromper a marcha do progresso - e eu não falo no caso do Uber, especificamente, eu falo no caso da Previdência, no caso das leis trabalhistas, por exemplo, que é uma marcha de progresso. É viver mais tempo; logo, tem que contribuir mais.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - É ter trabalho provisório. Logo, as regras feitas 80 anos atrás por Getúlio Vargas têm que ser adaptadas. Quando as leis trabalhistas foram feitas, não existia máquina de escrever elétrica. Hoje, não só existe digitador, que é diferente de datilógrafo - exige mais formação -, como já se tem... Em alguns momentos, você dita e a máquina escreve. O meu telefone, aqui. Eu tenho uma neta com cinco anos. Ela não sabia escrever quando tinha cinco anos, ela ditava e me mostrava escrito, sem saber o que estava escrito. O telefone fazia. E a gente mantém as mesmas regras para datilógrafo? Não pode, não pode. Então, eu acho que foi isso que levou à derrota do PT: a falta de sintonia com os avanços. Não assumiu-se um partido conservador, como o é, e não soube ser um partido progressista. Não foi capaz de respeitar as regras da economia; não entendeu, por exemplo, Senadora, que na esquerda, daqui para frente, nos progressistas, temos que entender que a economia é uma questão quase que totalmente técnica. O lugar do debate ideológico é o que fazer com uma economia eficiente; mas, se ela não for eficiente, a gente não consegue fazer nada. E, para ela ser eficiente, a gente tem que respeitar as regras, porque outra coisa que eles não perceberam se chama globalização. As coisas hoje estão entrelaçadas. Você não fecha mais. Nem a moeda é fechada mais, ela está entrelaçada com as outras. Mas eu quero mais um ponto. Nessa declaração do PT, além de mostrar que não entendeu, ele não reconheceu os erros - e isso é trágico. Não reconhecer os erros é trágico. Na política aí fora, quando perde, toda a direção do partido renuncia; toda a direção. O diretório chegaria ali e entregaria a renúncia. Não vou dizer para fundar outro partido, mas renunciar, entregar. Isto acontece em qualquer lugar do mundo: a renúncia dos responsáveis. Não houve reconhecimento. Não houve pedido de desculpas. E aí eu termino. Ele não entendeu a marcha do progresso, não reconheceu seus erros e nem pediu desculpas, para fazer o quarto, que é reciclar-se, ajustar o discurso à realidade sem transigir nos princípios. O que são princípios? Princípios são um povo livre, um povo eficiente, um povo que se reconheça como um só povo. No Brasil de hoje, a gente está reconhecendo corporações. Hoje pela manhã eu ouvi, pelo rádio, uma fala sobre a máfia da saúde, médicos que recomendam próteses desnecessárias. Hoje, nós estamos vivendo num Brasil de milhão de máfias. Não vou dizer que sejam tão graves como essa, não vou dizer que são máfias da criminalidade, mas são máfias que defendem seu interesse, não o do conjunto do País. É máfia, é família. Você defende a família, a sua família trabalhista, a sua família até partidária, não a família de 210 milhões de pessoas. Está faltando isto. E parece que o PT não entendeu nada, não reconheceu nada, não pediu desculpa nenhuma, e aí não conseguirá se reciclar se continuar assim. Eles tinham que ter entregue uma renúncia de toda a direção. Convocar um congresso para daqui a um ano? Tinham que convocar para amanhã e começar a debater: "Onde é que nós erramos, cara? Vamos reconhecer que nós erramos, gente! Vamos inventar algo novo!" E aí, para concluir, o que nos falta hoje, em geral, na política é, às vezes, uma grande ideia para o País. Às vezes, falta um grande líder para o País, um partido, um conjunto de pessoas. Lamentavelmente, hoje estamos precisando destas duas coisas: uma ideia hegemônica, como dizem os sociólogos, que unifique, e uma liderança que carregue essa ideia ou bandeira. A verdade é que uma vez a gente teve isso democraticamente para valer, que foi com Juscelino, com a ideia da industrialização, da marcha para o oeste, democraticamente. O Fernando Henrique teve um detalhe, que foi a inflação. Ele fez as ajudas da bolsa família, mas não foi uma ideia renovadora, do conjunto da sociedade. O Lula seria o cara para fazer isto, porque ele representou de fato um avanço: veio do povo, chegou sem fortuna, sem diploma superior. Tem gente que diz que isso é um defeito, mas ser eleito e se comportar bem na Presidência, sobretudo na primeira, sem diploma, é um exemplo de que o povo brasileiro tem condições. Mas ele não soube ser o Mandela do Brasil - eu até dizia o "Mandula". Não soube. E sabe por quê? Porque ficou preso nas corporações. Ele tentou atender a cada grupo, mas não atendeu ao total. A soma é diferente da soma. O povo é diferente da soma das pessoas. O povo é uma entidade maior do que a soma de todos os habitantes. Então, ele não soube fazer isso ou não quis fazer isso e, lamentavelmente, nos deixou na situação em que estamos, que é uma das piores que a história do Brasil já teve, apesar de tantos avanços que tivemos. Não há dúvida: na estabilidade monetária, apesar de perder um pouco; na democratização, apesar de precisar de uma reforma política; no crescimento, apesar da recessão. Mas tivemos avanços. Mas não estamos com uma ideia unificadora nem com uma liderança unificadora. É melhor liderança do que líder - uma liderança, um partido, um conjunto. Por isso, seu discurso é importante. O do Senador Medeiros também. E, quem sabe, o PT... A gente não pode nem comemorar simplesmente essa dificuldade exagerada do PT. A gente pode até comemorar a vitória eleitoral dos outros, mas a derrota política, a diminuição do PT, isso não é bom para o Brasil. Bom para o Brasil é perder, por causa dos erros, mas se extinguir, ficar pequeno demais não é bom. Mas, para ele ser grande, do tamanho que o Brasil precisa, um partido como o PT, os seus líderes não estão preparados nem têm as ideias necessárias. Ficaram corporativizados e imediatistas, duas coisas que anulam um discurso que possa ser chamado de esquerda. O PT, com sua derrota, levou a esquerda, mas o grave é que ele perdeu por não ser de esquerda, por ser um partido reacionário. Reacionário, eu repito, mas querendo votos da esquerda. Aí, perdeu. Vamos ver se nós, juntos aqui, recuperamos e construímos uma ideia hegemônica, motora, para o futuro do Brasil. E que surja uma liderança para isso, porque, se não fizermos isso logo, o Brasil vai sofrer muitos anos. E aí corre o risco de cair até numa desagregação: cada pessoa, cada grupo sente em si o País e não mais parte de uma nação. Esse é um desafio que nós temos e que espero estejamos à altura de enfrentar, Senadora Ana Amélia.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Eu vou pedir, Senador Cristovam, aos alunos de uma escola de Sergipe que estão aqui: vamos aplaudir o que disse o Senador Cristovam Buarque. (Palmas.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Vamos aplaudir os alunos.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Senador Cristovam, eu sou a primeira a aplaudi-lo pela aula que acaba de nos dar: aula da racionalidade, de pragmatismo, de sabedoria, mas, sobretudo, de uma pequena questão que falta no Brasil: bom senso, senso comum das coisas. O senhor deu uma aula aqui abordando política, sociologia e economia.

    Eu queria saudar os jovens do Instituto Federal de Sergipe na pessoa da Profª Luciana Bittencourt Oliveira. Obrigada. Vocês são do ensino médio - e nós discutimos aqui, foi pena que não ouviram o Senador Cristovam, que foi Ministro da Educação - da cidade de Nossa Senhora do Socorro, do Estado de Sergipe. Então, bem-vindos! Boa visita a Brasília! O Senador Cristovam Buarque acabou de nos dar, a nós Senadores, uma grande aula de racionalidade, de respeito com o País.

    Eu estou do seu lado, Senador, o senhor me representa. Essa aula que o Senhor deu agora foi exatamente uma aula que o comandante que está do lado de lá, o Presidente da República, deveria ouvir. O senhor está dizendo tudo que precisa ser feito, da forma como precisa ser feito. A política hoje precisa de pessoas que pensem o País e não pensem no seu umbigo, não pensem apenas no seu interesse particular. Essa é a política de que precisamos.

    Eu queria dizer ao senhor que o maior pecado na política e na vida, na relação humana, é não reconhecer o erro, errar e não reconhecer o erro. E, mais ainda, manter uma arrogância que em política é imperdoável, Senador, considerar-se sempre acima dos outros, acima do bem e do mal. Essa nota é isso, acima do bem e do mal. Não foram tocados pela realidade.

    Os taxistas de Brasília tiveram um comportamento que o partido político que comandou o País por 13 anos não teve. Por quê? Primeiro, foram extremamente agressivos com os motoristas do Uber, até com os passageiros, usando violência. Isso é condenável! Isso aconteceu em Porto Alegre, em São Paulo. Depois, pensaram e repensaram, tiveram a inteligência de perceber que assim não venceriam a guerra, a disputa, mas oferecendo ao passageiro, ao cliente, que é o dono de suas escolhas, uma vantagem quando toma um táxi que não seja um Uber, como 30% menos em determinadas horas, oferecer alguma condição que faça o cliente se sentir bem, como limpar o táxi, deixar o táxi perfumado. Os taxistas de Brasília, de Porto Alegre, de São Paulo deram um exemplo ao PT quando o Uber chegou ao encalço deles e eles mudaram a atitude.

    O PT não mudou a atitude, são gestos, são símbolos, são sinais para mostrar essa arrogância. Em 2014, e eu me lembro bem, porque eu estava ao lado do Aécio Neves, no Rio Grande do Sul, onde ele ganhou a eleição. O Aécio ligou para a Dilma, vitoriosa. Em algum momento a ex-Presidente disse que havia recebido um telefonema dele cumprimentando-a? Não. Esse é um gesto de arrogância na convivência política e institucional.

    Eu também me surpreendo com o Alessandro Molon, que tenho acompanhado. Um jovem de cabelos brancos, mas um jovem, que foi relator de uma lei importante, a Lei da Informática, da internet. Espetacular! Ele estava aqui, fez até um discurso, mas o Molon voltou a um comportamento que, para a juventude, para a capacidade dele, inteligente, não está... Eu diria que lhe faltou o aggiornamento, que V. Exª sabe bem, a atualização.

    E o PT, em vez de dizer: vamos nos reinventar, porque a sociedade já não nos vê com bons olhos. Então, vamos nos reinventar para que a sociedade entenda que mudamos, porque a sociedade exigiu que nós mudássemos. Não. A nota é a prova disso.

    Há também, nessas relações internacionais que V. Exª lembrou, e citou o Uber, eu citaria essa automação, Senador: 31 dias de greve no sistema bancário, houve algum problema para as pessoas no sistema bancário? Houve? As pessoas notaram que havia greve? Não, porque as pessoas vão ao banking, vão ao computador, Senador. E olha que isso está mostrando, exatamente... Pega o seu celular e faz o serviço no celular, em casa, sentado, sem preocupação, de pijama. Então, as pessoas precisam perceber que a tecnologia está mudando as atitudes. Nós nos conectamos daqui, lá.

    Deng Xiaoping reinventou a China, mudou de um sistema comunista, socialista puro para um sistema aberto, claro, de uma economia de estado. Não interessa! Ele entendeu que precisava gerar riqueza para produzir alimentos para um bilhão de chineses. E Deng Xiaoping disse: "Não importa que o gato seja preto ou pardo, desde que ele cace o rato". Singelo.

    O Gorbachev, na Rússia, posteriormente, nos anos 70, 80, fez a Glasnost, uma abertura que foi primeiro política e depois também econômica. Eles reinventaram, porque precisavam dar uma resposta à sociedade.

    Nós precisamos de um Deng Xiaoping no Brasil. Nós precisamos de líderes que tragam uma nova forma de comandarmos a sociedade, que o novo tempo, o século XXI está exigindo de nós, Senador.

    E o seu discurso foi a palavra de um líder do século XXI caminhando para o século XXII, com a sua serenidade, com a sua racionalidade, com o seu conhecimento, com a sua fundamentação. O senhor, como eu, nós não votamos o impeachment para botar o Temer no poder; nós votamos para dizer "não" aos erros cometidos contra o País - pedalada fiscal, irresponsabilidades. Sequer, Senador, foi feito em 2011, como deveria ter sido feito, em respeito à sociedade, o censo agropecuário, que não é apenas para atender a agricultura, é para atender as necessidades da Nação brasileira. Os nossos dados estatísticos estão defasados. E por que não fizeram? Por que não fizeram?

    Com muito prazer, Senador Cristovam Buarque.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Uma frase só, inspirado no Deng Xiaoping, com a história de que não importa a cor do gato. Na política, é preciso adaptar-se todos os dias à realidade, para não mudar os princípios que você tem. O PT preferiu abandonar os princípios para não se adaptar à realidade do real, da realidade. É uma pena. Preferiu perder os princípios, o sonho, a ética, para continuar defendendo interesses pequenos, que não são mais viáveis nem corretos diante das reformas e da mudança na globalização e no avanço científico e tecnológico. Aí perdeu os princípios. Por isso que a situação deles é tão difícil. É preciso se adaptar à realidade sem perder os princípios que você tem, para uma sociedade livre e justa.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Senador Cristovam, eu li, como se o autor fosse Aldous Huxley, autor de Admirável Mundo Novo - atribui-se a ele a frase - uma frase que eu acho extremamente atual. Pode não ser dele, mas a frase é muito boa: "O mundo hoje não se divide mais entre esquerda e direita, mas entre rápidos e lerdos". Eu acho que está tão simples de entender esse conceito novo de fazer e de mudar.

(Soa a campainha.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Então, eu penso que nós estamos, de fato, precisando de uma compreensão melhor, mais aberta, despida de preconceitos. Veja só o caso da Petrobras, que V. Exª citou muito bem, e do que foi aprovado na Câmara. Dá para imaginar, com a votação que houve do projeto de autoria do Senador Ministro Chanceler José Serra, que seja uma venda do patrimônio brasileiro? Absolutamente. V. Exª usou a frase: "a Petrobras terá preferência", terá preferência, como a questão da prioridade. Terá preferência. Então, primeiro ela. Ela tem a preferência. Então, primeiro ela. Na alocação de um imóvel, se for ser vendido, o locatário é quem tem preferência na venda do imóvel. Está na lei. Então, a Petrobras terá preferência na exploração.

    E, de fato, não se pode imaginar - "é a direita", diz aquele discurso antigo, velho, surrado - que José Serra, o autor, possa ser considerado um homem de direita, um político de direita. Um homem que foi asilado, que combateu duramente o regime militar! Então, não se pode imaginar que Serra seja um entreguista, logo ele. Não tenho procuração para defender José Serra, mas tenho a convicção de que é um político com responsabilidade, pensando o Brasil nos dias de hoje.

    E foi exatamente pelo domínio do partido, imaginando que a Petrobras fosse patrimônio exclusivamente seu, patrimônio seu - este é o erro que precisamos mostrar -, por ter considerado a Petrobras patrimônio seu, os brasileiros patrimônio seu, o Rio Grande do Sul patrimônio seu e trabalhar sempre com essa perspectiva histórica e de governo que ruiu e reduziu em 60% os votos na eleição de domingo, que é a eleição mais importante, que é a eleição nos Municípios, onde pulsa mais a relação política e o entendimento. As pessoas entenderam. E, se o partido não entender, é isso.

    Então, Senador Cristovam, de fato, nós temos que entender. E é preciso que o Governo abra os olhos e não fique num joguinho singelo de imaginar que tem uma maioria. Ele tem 80 dias para fazer e dar uma resposta ao Brasil. Caso contrário, V. Exª e eu estaremos aqui sempre vigilantes. O Senador Medeiros, da mesma forma. Nós somos do mesmo time, estivemos sempre do mesmo lado, nós vamos estar vigilantes.

    E, quando criticamos, nós, pela responsabilidade que temos, estamos auxiliando. Nós criticamos a ex-Presidente, e ela não entendeu, ela não ouviu. Se Temer não entender e não ouvir, se Temer não entender e não ouvir as nossas críticas de organizar adequadamente a Base que lhe dá sustentação política, se não oferecer ao País rapidamente uma atitude para que a sociedade entenda essa PEC 241 - e eu fico muito feliz com o Senador -, mostrando os impactos que ela vai representar na economia do cidadão comum.

    A redução da taxa de juros tem que acontecer com essa atitude da PEC 241, Senador. E quem vai ser beneficiado? É o trabalhador assalariado, que vai comprar uma geladeira, e o juro vai ser menor. Ele vai pagar menos pela geladeira. É o País, que vai deixar de pagar essa enormidade de juros pela dívida que tem. E é dinheiro que vai para o sistema financeiro e não para a produção. Não vai dinheiro para a área social. Não vai dinheiro para todos os programas importantes que temos para a educação e para a saúde. Simples assim. A PEC é isso. E, sem ela, nós não vamos tirar o pé do barro.

    Não é porque é o Temer. É porque "é a economia, estúpido!", como disse um Líder, ao falar sobre essas questões. Não adianta! Dois mais dois são quatro. Não são cinco, Senador. Não são cinco, do seu exemplo magistral, didático e precioso. Não são cinco. Dois e dois são quatro. É essa economia e é essa lógica que o Governo precisa entender e que nós precisamos entender aqui nesta Casa e em todas as nossas atitudes em relação à gestão.

    E, finalmente, concordo plenamente com V. Exª. Mais do que uma ideia, precisamos de um líder que leve uma nova ideia, para que o Brasil seja um novo Brasil, o Brasil do século XXI. Nós ainda estamos patinando no século passado em muitas questões.

    Eu agradeço enormemente esse aparte do Senador Cristovam Buarque, que me deixou não só lisonjeada, mas muito feliz, Senador. Hoje é uma sexta-feira. Nós estamos encerrando. Eu não, porque, às 14 horas, terei uma audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária - estão convidados -, Senador Medeiros, para debater um problema sério, que são acordos entre o Brasil e o Uruguai em relação à área de laticínios, à importação desmesurada e sem controle. Não há cotas de leite do Uruguai e de outros países. Isso está arrasando os produtores, e a maior parte da produção de leite no Brasil vem de pequenos produtores de leite. Então, vou debater esse tema, às 14 horas, na Comissão da Agricultura e Reforma Agrária. E eu penso que é uma coisa importante, porque essa é uma produção que emprega muita gente, é uma questão de renda para a agricultura familiar especialmente. E vamos tratar essa matéria de maneira muito séria, trazendo aqui representantes do Ministério da Agricultura e do Ministério das Relações Exteriores, porque depende de acordos no âmbito do Mercosul. Então, nós vamos continuar trabalhando hoje à tarde, nesta sexta-feira.

    Mas agradeço mais uma vez, Senador. Hoje estou de alma lavada com o aparte de V. Exª. Agradeço ao Senador José Medeiros também, pelo brilhante pronunciamento que fez na manhã de hoje.

    Muito obrigada.

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Senadora Ana Amélia, quero parabenizar os dois, por propiciar esse debate de alto nível.

    O que os brasileiros esperam, Senador Cristovam, Senadora Ana Amélia, é justamente isto: o debate de grandes temas. Às vezes, a gente vê essa tribuna, que já foi ocupada por tantos ilustres brasileiros... Eu até brinquei esses dias: nós temos aqui o busto do Rui Barbosa, e, há poucos dias, eu ouvi tanta coisa imprópria para se falar nessa tribuna, que eu falei: "Olha, o Rui Barbosa está com a mão sobre os olhos." (Risos.)

    Então, este é o ponto e esta é a essência do Parlamento: tratar do que interessa ao País. Não ter medo de sonhar e de contar esses sonhos, conforme V. Exª tantas vezes vem falando aqui. Às vezes, as pessoas falam: "Cristovam é um visionário." E eu me lembro do Policarpo Quaresma, quando ele vai apresentar uma solução para a agricultura brasileira e, aí, o Floriano Peixoto diz: "Quaresma, você é um visionário".

    Mas o interessante é que aquelas ideias de Lima Barreto, no personagem do Policarpo Quaresma, são tão atuais... Nós continuamos com a pequena agricultura com os mesmos problemas que ele apontava naquela época. E as soluções que ele apresentou para o Floriano Peixoto, que não foram ouvidas, são reais até hoje e ajudariam a agricultura.

    Então, diante desse debate de a gente vir aqui e o senhor propor soluções, e a Senadora Ana Amélia levantar todos esses pontos, eu só vou dizer o seguinte, Senadora Ana Amélia: na verdade, o projeto do Serra, a decisão deste Parlamento... é entreguista, sim. Ela está entregando a Petrobras...

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Para os brasileiros.

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - ... de volta aos brasileiros.

    Eu não tenho dúvida disso, porque o PT se mostrou como cavalheiro que se propôs a proteger os bens dos brasileiros e da Petrobras contra terceiros, mas os estava tomando para si. E, nesse momento, a gente sente que está sendo entregue de volta ao Brasil.

    Então, maravilhosa a sua fala, como sempre. E, quanto a esse aparte do Senador Cristovam, como eu disse, a gente tinha que...

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Emoldurar.

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - ... emoldurar e colocar ali, num lugar de destaque, para ficar, porque...

(Soa a campainha.)

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - ... talvez o senhor não tenha consciência, aliás, por ter tanta facilidade, Senador Cristovam, de fazer análises, mas talvez o senhor não tenha consciência dessa análise que o senhor fez aqui. Ela é muito grande e muito importante, muito importante mesmo, e é uma pena que outros Senadores não tenham oportunidade de ter tido o privilégio que eu, a Senadora Ana Amélia, os funcionários da Casa que estão aqui e o povo brasileiro que está nos ouvindo tivemos, de ouvir essas suas palavras.

    Nós precisamos realmente refletir sobre isso. O senhor fez uma provocação certa vez em Mato Grosso, Senadora Ana Amélia, que me inquieta. Eu estou inquieto até hoje. Ele falou: "O Mato Grosso é hoje cantado em verso e prosa como o maior produtor de tudo". Ele falou: "Mas vocês já se prepararam para o pós? Vocês exportam produtos primários, hoje vivem de commodities...". Ele falou: "Isso é muito bom, mas isso já aconteceu com Olinda, já aconteceu com Ilhéus, já aconteceu com o Vale do Paraíba." Ele falou: "E vocês já pensaram em produzir conhecimento?" E fez a comparação entre Detroit e o Vale do Silício. E aquilo até hoje me incomoda, porque já faz quase três anos que ele disse isso numa palestra, lá em Mato Grosso, e até hoje eu vi que a gente não tomou um rumo.

    E é por isso que eu digo: o senhor, às vezes, vem aqui e diz verdades inquietantes. Talvez seja por isso que nem sempre as pessoas gostam muito do que o senhor diz, mas é muito importante para o Parlamento brasileiro.

    Muito obrigado.

    E eu fico contente por ter...

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Eu agradeço, Senador Medeiros, por essa relevância, por essa provocação que o Senador Cristovam fez ao senhor sobre o Mato Grosso. É importante exportar.

    Há um dilema em que o próprio Fidel Castro entrou, quando o Brasil passou a ser um exportador de álcool combustível. "Imagina, estava tirando áreas para produzir feijão e arroz." "É uma tonteria", diríamos em espanhol para reproduzir, e poderíamos ter dito para ele também: "Por que no te callas?"

    Quer dizer, o Brasil tem um território capaz, sem derrubar uma árvore, sem fazer nenhuma expansão territorial, de produzir muito mais. Nós vamos produzir 210 milhões de toneladas, 200 milhões de toneladas de grãos na safra 2017...

(Interrupção do som.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - ... safra 2016/2017, 210 milhões (Fora do microfone.).

    Há menos de 10 anos, Senador, eu era jornalista quando havia uma campanha em que era o Roberto Rodrigues o Ministro da Agricultura, para chegar a 100 milhões.

    A tecnologia entrou na agricultura. E quando a gente fala em agricultura, pensamos só naquela coisa antiga da carroça, do arado puxado a boi. Não! A agricultura está altamente tecnificada, com tecnologia de precisão. Mas isso não é suficiente - o senhor tem razão.

    Eu estive - e o Senador também conhece - na Finlândia. A Finlândia é um país pequeno, na Escandinávia, que tinha, na exploração da madeira e do papel, a sua grande fonte de receita. De uma hora para outra a Finlândia se reinventou na tecnologia. Entrou com o Nokia, que teve problemas, mas entrou na área de conhecimento, de informação e tecnologia. Hoje, a Finlândia é um exemplo em educação, como é a Nova Zelândia também, como fonte e venda. A educação está sendo um produto de venda para essas nações que entenderam isso ao tempo certo.

    E nós precisamos, Senador Medeiros, nós precisamos, sim, de mais Cristovams, mais Cristovams, de mais visionários no nosso País, pois aí ele vai ser bem melhor. Não estou querendo fazer agrado. Não faço nada. Eu estou dizendo isto: precisamos de mais pessoas que pensem o Brasil dessa forma, com essa racionalidade. Não estou agradando a um amigo; eu estou dizendo a verdade. É o que eu sinto. Nós precisamos de mais pessoas como ele. Não porque ele concordou com o meu discurso. Não! Eu tenho a responsabilidade de dizer o que eu sinto e é o que eu estou fazendo agora. Precisamos de mais visionários como ele, para o Brasil ficar realmente melhor.

    Obrigada, Senador.

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Eu o chamo de João Batista. Só espero que não apareça nenhum Herodes. (Risos.)

    Mas a senhora falou em Finlândia. Vale lembrar, Senador Cristovam, que boa parte dos equipamentos, colheitadeiras e tratores que nós usamos em Mato Grosso vêm da Finlândia, que não planta um pé de milho ou de soja.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Tecnologia.

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Então, não havendo mais nenhum orador, nós encerramos esta sessão, eu diria, uma sessão histórica. Histórica, Senador Cristovam.

    Muito obrigado a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/2016 - Página 13