Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexões sobre o papel da esquerda após as eleições de 2016 e defesa da necessidade da formulação de novas alternativas políticas.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Reflexões sobre o papel da esquerda após as eleições de 2016 e defesa da necessidade da formulação de novas alternativas políticas.
Aparteantes
Ataídes Oliveira, Hélio José, José Medeiros, Waldemir Moka.
Publicação
Publicação no DSF de 05/10/2016 - Página 33
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • COMENTARIO, PERDA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ELEIÇÃO MUNICIPAL, AUMENTO, NUMERO, VOTO EM BRANCO, VOTO NULO, MOTIVO, CORRUPÇÃO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, INFLAÇÃO, DESEMPREGO, NECESSIDADE, RENOVAÇÃO, POLITICA, PAIS, EFICIENCIA, ECONOMIA, PRIVATIZAÇÃO, SERVIÇO PUBLICO, MELHORIA, GESTÃO, CONTROLE, CONSUMO, REDUÇÃO, GASTOS PUBLICOS, PROTEÇÃO AO TRABALHO, PROTEÇÃO, POPULAÇÃO CARENTE, DEFESA, IGUALDADE, OPORTUNIDADE, JUSTIÇA SOCIAL.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, o debate tem sido aqui, desde segunda-feira, desde ontem, sobre as eleições e com esse viés, que tem sua lógica, da derrota que teria tido o Partido dos Trabalhadores.

    Eu creio que isso é verdade. Mas não foi só o Partido dos Trabalhadores, foi a política em geral - basta ver a quantidade de abstenção e de votos nulos e brancos -, foi, sobretudo, uma visão da política que a gente sempre chamou, no mundo, de esquerda. Houve esse fracasso. E aí eu me incluo também, faço parte desse grupo.

    Senador Moka, nós fracassamos eleitoralmente, é verdade, por causa da corrupção, por causa da inflação, por causa dos 14 milhões de desempregados, por causa das promessas não cumpridas. Mas nós fracassamos, sobretudo, porque, como progressistas, temos que estar sintonizados com a evolução do mundo e ficamos para trás.

    Eu não acredito que virão das forças conservadoras a construção de uma nova sociedade, Senador Lindbergh. Porque três condições caracterizam alguém que pode se dizer de esquerda - e aqui muitos que pensam que não são, são -: um, descontentamento, indignação com o status quo; dois, o sonho de uma sociedade melhor, até aí quase todo mundo está; três, achar que isso não vem pelo mercado apenas, pelas regras naturais, vem pela política. A política é a medicina da sociedade. Agora, precisa ter entendimento do que está acontecendo.

    Por exemplo, essa esquerda que fracassou domingo não entendeu que há um mundo global, que nos amarra, que não permite que a gente faça o que quiser independentemente do que acontece no mundo. Não entendeu também que há um mundo em transformação tecnológica e que as regras trabalhistas de 80 anos atrás já não servem. Não entendeu que a esperança de vida amentou e a taxa de natalidade diminuiu, logo, as regras da Previdência de 50 anos atrás não servem. E não entendeu uma coisa, meu caro Lindbergh - e aí é uma discussão que eu reconheço -, que o lugar para fazer justiça não é dentro da economia, que na economia, hoje, a margem de debate ideológico é muito pouca, que o papel da economia é ser eficiente. E, com a eficiência na economia, a gente vai tirar os recursos para fazer justiça na sociedade.

    A esquerda não pensou isso.

    Claro que, na época de Marx, a justiça e a eficiência vinham do Estado. É outra coisa que não se entendeu: que o Estado não é mais público, que o Estado foi apropriado, que o Estado foi apropriado pelas corporações de trabalhadores, pelos partidos, foi apropriado pelos que controlam o Estado e que não tem servido. Este, para mim, é um dos maiores pontos da derrota de domingo: os serviços públicos caóticos. A população diz que a saúde é estatal e não funciona. É preciso entender que temos de fazer com que a saúde do Estado seja pública. Aí não vai dar para transigir com alguns vícios que eu acho que são aristocráticos de uma parte dos trabalhadores do setor de saúde.

    Nós precisamos entender que temos de servir ao público. E aí nem sempre é através do Estado. Às vezes é através do setor privado e através de uma combinação público-privada que a gente pode servir melhor ao público. É preciso trazer o compromisso com o público acima dessa ideia de um compromisso com o Estado. Isso não se tem tido e isso o povo cobrou para valer.

    O povo cobrou, também, que a gestão pública tem que ser eficiente, a gestão do Estado. Até pouco tempo atrás, quando se falava em gestão eficiente, as pessoas se arrepiavam. Tem que ter gestão eficiente e, mais, tem que ter meritocracia. Esqueceram-se de que ou é meritocrática ou é aristocrática. Se você não respeita, não privilegia o mérito do trabalhador, você está protegendo, está passando a mão na cabeça do filho do patrão ou do trabalhador com estabilidade. Você aristocratizou uma categoria. Nós temos, sim, que descobrir a importância do mérito.

    Temos que mostrar compromisso com a liberdade e aí com a liberdade de expressão também. Não se pode titubear na ideia de qualquer forma de controle que se faça. A robótica, a informática, mudaram-se as relações. O Uber vai chegar a todos os setores de atividade. Aí, tem duas maneiras de resolver, aliás, três: uma, proíbe-se essa "uberização", que não tem como parar; dois, você libera total, o que vai gerar problemas muito sérios como, por exemplo, no lugar em que a gente mais vê, com os taxistas - é uma tragédia; três, ajustar para que isso sirva ao povo, e não para proibir quem não consegue.

    Nós temos de saber como utilizar as mais modernas técnicas a serviço de tudo. Isso é o que caracteriza um discurso progressista. Ser progressista não é parar o avanço técnico porque, às vezes, ele é antissocial. Não, não é pará-lo. Também não é subordinar a sociedade ao avanço técnico, mas aproveitar o avanço técnico para servir à sociedade.

    Tenho ainda um pouco, mas quero passar a palavra ao Senador Moka.

    O Sr. Waldemir Moka (PMDB - MS) - Senador Cristovam Buarque, quero me ater exatamente ao que V. Exª deu de exemplo, o Uber. A mim me parece que temos de trazer isso para a política. Você tem ideias importantes, consequentes, de segmentos importantes, de partidos da esquerda com viés ideológico e tem, também, ideias importantes dos ditos mais conservadores ou liberais, como querem alguns. A verdade é que eu sempre sou daqueles que acha que o País está precisando exatamente fazer lideranças capazes de pegar essas ideias e trazê-las para um consenso. Por isso são importantes esses vieses diferentes: para que você encontre o meio-termo. E, aí, V. Exª usou essa expressão: "O que está acontecendo com o mundo globalizado?". Então, eu acho importante este debate - é um debate que esta Casa tem que fazer - e o surgimento de lideranças como V. Exª, que tem - todo mundo reconhece - uma origem e toda uma militância de esquerda, mas que, acima de tudo, é um economista. É isso que o faz diferente, porque V. Exª vê o que está acontecendo globalmente. Nós vamos ter que atualizar várias coisas, para que o País realmente possa avançar. Nós vamos precisar do surgimento de lideranças entre Parlamentares de viés de esquerda e outros conservadores, trazendo esse consenso - seja centro-esquerda ou centro-direita - que represente a vontade da população, para que a população se sinta mais bem representada nos parlamentos, no Executivo. Enfim, que a representatividade democrática seja realmente muito mais forte, porque hoje a insatisfação ficou demonstrada na última votação.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Obrigado, Senador Moka.

    Eu vou caminhar para terminar, lembrando mais um item fundamental, Senador José Medeiros, dessa nova esquerda que tem que surgir: é o compromisso com a estabilidade monetária, é não aceitar um rombo contra o povo, dizendo que o salário é R$100, e só vale R$80. E aí uma palavra nova, que tem sido vista como absurda na esquerda: austeridade. Nós temos que ter austeridade no consumo burguês. Eu sempre ouvi falar que o consumo era uma coisa da burguesia.

    Nós temos que ter é bem-estar, nós temos que ter felicidade para as pessoas. No mundo de hoje, se queremos proteger o meio ambiente, é preciso ter austeridade no consumo. O povo, o eleitor muitas vezes não quer ouvir isso. Mas ser de esquerda não é ir atrás do eleitor apenas, é ir atrás de uma utopia. E essa utopia, daqui para frente, vai exigir uma austeridade no consumo e uma austeridade nos gastos públicos.

    Estado que desperdiça não pode ser considerado de esquerda, porque é contra o povo. Tem que se trazer a ideia de austeridade como algo progressista e o desperdício como algo reacionário, que foi o que a gente viu recentemente nessa esquerda arcaica, antiga, desperdiçadora e consumista, portanto, burguesa.

    Nós temos que radicalizar no discurso. Agora, nessa radicalização, para entender a realidade de hoje, creio que é fundamental entender que o discurso ideológico não está mais dentro da economia. A economia tem que ser eficiente, o que tem que ser justa é a sociedade. E não tem como construir a justiça na sociedade sem uma economia eficiente.

    Não tem como fazer o socialismo em cima de uma inflação. Você pode até ganhar o poder, mas depois tem que trazer a estabilidade.

    Finalmente - mas depois vou passar o aparte -, eu continuo insistindo, e já faz muito tempo, que para mim o que faz a esquerda do futuro não é tomar o capital do capitalista e colocar nas mãos do Estado, mas pegar o filho do trabalhador e colocar na escola do filho do patrão, a escola igual para todos.

    E essas crianças com as mesmas chances é que vão inventar a utopia nova, que é outra coisa que tem que mudar. A utopia não pode ser mais um produto de uma engenharia...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - ... social, inventada por intelectuais e políticos. A utopia é um processo democraticamente em marcha, jamais concluída. Até os anos 60, 70 do século passado, acreditava-se na utopia desenhada, formulada e construída por uma espécie de engenharia social. Temos que perder isso. É um processo e só faz sentido se for em marcha democrática.

    Gostaria de passar a palavra, primeiro, ao Senador José Medeiros, se o Presidente permitir.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Muito obrigado, Sr. Presidente. Obrigado, Senador Cristovam. Quero rememorar o que o senhor disse há poucos dias aqui da tribuna e que talvez até tenha dito de novo hoje - eu estava em outra dependência. A provocação que o senhor fez de que uma esquerda que não quer mudança não é esquerda, porque justamente se pressupõe a vontade de mudança. Vejo que boa parte da esquerda brasileira passou 13 anos no poder e parece que ficou um pouco alinhada àquele pensamento que dizia: nada mais conservador que um liberal no poder e nada mais liberal do que um conservador no poder. Então, neste momento, acho interessante essa reflexão que V. Exª propõe. Porque, sem querer usar o chavão de recado das urnas ou qualquer coisa, houve algo diferente nessas eleições. As pessoas foram. Eu vi uma eleição silenciosa, com um misto de frustração, um misto de expectativa quebrada. Mas, acima de tudo, deixa-nos o recado de que devemos refletir, principalmente a esquerda. É lógico que grandes partidos que representavam a esquerda foram destroçados. E aí quero destacar uma coisa - e já marcho para o final - que é o seguinte: de certa forma, boa parte da esquerda se uniu neste momento, mas historicamente a esquerda sempre foi desunida. Eu tendo a achar que agora, com a queda do PT do poder, cada um vai pegar o seu fusquinha e ficar mais desunido ainda. Isso é ruim para o processo político. Mas, enfim, a palavra-chave é mudança, a palavra-chave é inquietação e utopia, do que V. Exª traz aqui para nós hoje. Muito obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Obrigado, Senador. Eu diria mais uma coisa: acabar com privilégios. A esquerda nostálgica que está aí defende privilégios, ela tem defendido privilégios em certas categorias do setor público e mesmo do setor privado. Direitos, sim; privilégio não é uma bandeira da esquerda.

    Finalmente, que a esquerda não pode se contentar apenas que um filho de um trabalhador, graças a uma cota, entre na universidade. Ela tem que trazer a ideia de que todos os filhos de todos os trabalhadores vão disputar um lugar na universidade com as mesmas condições...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - ... que os filhos dos patrões e dos trabalhadores. A revolução está na igualdade de oportunidade e não no favor a um ou outro, que é correto, que tenho defendido, que é generoso, mas não é revolucionário. Nem sempre o que é necessário e generoso é revolucionário. Revolucionário é tocar nas estruturas, e os últimos anos não foram pródigos em tocar nas estruturas. As estruturas hoje continuam intactas.

    Nós tivemos essa maravilha de ter um Presidente vindo dos pobres, sem diploma universitário. Isso foi bom. Isso mudou a cultura, para aumentar o respeito às camadas pobres. Mas foi um problema na cultura, não foi na estrutura. Na estrutura nós não tocamos.

    Senador Ataídes.

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Social Democrata/PSDB - TO) - Eu vou ser o mais breve possível, Senador Cristovam, para não atrapalhar o seu belo discurso. Eu não me esqueço de que, em 2011, quando eu cheguei aqui como suplente, eu fazia questão de presidir a Casa ou de estar aqui embaixo para ouvir os discursos de V. Exª. Este discurso hoje faz a gente refletir. Mas eu quero tocar só num pontinho que V. Exª colocou: o problema de gestão. O problema do Brasil não é só a corrupção. O grande problema do Brasil é a má gestão: "Mas este Prefeito é bonzinho, ele é querido, vai para o boteco tomar cachaça com todo mundo, nós temos que eleger esse Prefeito". Não. Agora chegou a hora da verdade no Brasil. Agora chegou a hora da competência, da boa gestão. Como é que eu vou administrar o dinheiro do contribuinte, o dinheiro do povo? Quanto é que eu tenho de receita? Quanto é que eu tenho de despesa?

(Soa a campainha.)

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Social Democrata/PSDB - TO) - V. Exª trouxe este assunto. É um assunto sobre o qual nós temos que falar muito. Quanto a essa história de reeleição, nós temos que acabar com a reeleição. Temos que estabelecer esses gastos, essa PEC nº 36, muito importante. Então, eu só queria deixar esse recado e parabenizar V. Exª. Agora, não dá mais pra brincar com o dinheiro do povo. O gestor público hoje - e essas eleições mostraram isso - tem que saber, primeiro, quanto recebe, quanto gasta, e, acima de tudo, respeitar o dinheiro do contribuinte. Eu quero parabenizar V. Exª. E V. Exª sabe que eu sou seu fã de longa data, Senador Cristovam Buarque.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Obrigado.

    Para concluir, Senador, com um minuto a mais apenas, porque vão terminar agora os segundos...

    O Sr. Hélio José (PMDB - DF) - Senador Cristovam, eu queria também fazer um breve comentário, por gentileza.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Por mim tudo bem.

    O Sr. Hélio José (PMDB - DF) - Rapidamente, Senador Cristovam. Eu só quero constatar algo aqui. Estou aqui...

(Interrupção do som.)

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) - Por gentileza.

    O Sr. Hélio José (PMDB - DF) - Pois não. Eu estou aqui com os números, Senador Cristovam Buarque. A gente nota, com tristeza, uma queda muito grande de todos os partidos de esquerda na votação. O PT caiu de 17 milhões para 6 milhões, o PSOL caiu de 2,4 milhões para 2 milhões. Está certo? E olha que o PSOL ficou em segundo turno em cidades importantes e caiu a sua votação! O PSTU caiu; o PV caiu; o PSB caiu, 5,2%, e assim por diante. Então, para a centro-esquerda e a esquerda toda caiu o número de votação. Subiu a votação no PSDB, subiu a votação no DEM. Para nós que somos do campo da centro-esquerda ou da esquerda é realmente muito triste. E eu gostaria de deixar registrado que concordo com V. Exª nesse artigo "Uma outra esquerda". Temos que repensar a forma, a tática, a abordagem, como defender. Nós que somos servidores públicos - o senhor é um servidor público aposentado, eu sou um servidor público ainda na ativa - temos que repensar como discutir essa questão dos direitos, e não de privilégios, como é que nós poderemos fazer uma equidade realmente de tratamento, de trabalho. Eu acho que essa eleição - sendo breve agora, para concluir - demonstrou pedagogicamente que algumas mudanças importantes, como nós debatemos ontem aqui, neste plenário, têm que ser feitas na lei que nós acabamos de aprovar. Porque com essa lei, que nós testamos agora, notou-se que os milionários podem fazer a campanha tranquila distribuindo entre os vereadores, com sua própria doação, enquanto os outros ficam a ver navios. E outra: mostrou que o caixa dois correu solto, com muito mais ênfase do que em outras situações, e que precisamos mudar isso. E demonstrou mais ainda: precisamos radicalizar na contribuição individual por internet, para ficar transparente, para ficar claro quem contribuiu e por que contribuiu, a pessoa física individual, para podermos melhorar a forma de fazer eleição. Então, eu vou concluir, porque o tempo já se esgotou, mas quero ser parceiro de V. Exª nesse extraordinário artigo, "Uma outra esquerda", que V. Exª coloca. Muito obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Muito obrigado, Senador.

    Eu quero apenas dizer que esse resultado mostra bem que não foi só o PT.

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - É preciso reconhecer que foram erros cometidos por todos nós. E o maior erro de todos é não reconhecer o erro. Eu estou reconhecendo o erro, eu faço parte desse grupo. Sou crítico a esse grupo há dez anos, mas faço parte, afinal de contas, desse bloco, como o senhor disse.

    Então, ou reconhecemos o erro, ou pedimos desculpas, ou formulamos algo novo - como eu tento, com essa ideia de uma outra esquerda -, ou vamos estar dizendo, o que é um absurdo, que o povo estaria errado, que o povo deu um golpe. Então, vamos reconhecer o erro, e o povo está nos alertando. E vamos inventar o discurso que mantém os princípios de sempre, uma sociedade justa, que hoje não passa por uma economia justa, mas sim por uma economia eficiente, que leve à justiça social. Uma sociedade que seja capaz de entender que o bem-estar não é aumento de consumo e que é preciso austeridade, tanto para que o povo não seja lesado pela inflação como para que a natureza não seja lesada pelo consumismo. Trazer um projeto novo, alternativo, democrático, moderno, sem querer frear o avanço técnico, mas sem querer deixar que o avanço técnico destrua ou prejudique a sociedade, ajustando a sociedade. Marx teve como maior característica...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - ... criar uma filosofia social a favor do espírito do tempo, que era a revolução industrial; não tentou barrar isso.

    Portanto, está na hora de reconhecermos a derrota, de pedirmos desculpas pelos erros e de formularmos uma alternativa. Porque dos conservadores, Senador Jorge, eu não acredito que venha a construção da sociedade que nós desejamos; virá dos progressistas. Mas para isso os progressistas precisam colocar o chapéu de progressistas, e não de conservadores medrosos diante das transformações sociais e das transformações econômicas, como nós temos visto. E o povo disse: "Não é isso que queremos; nós queremos algo mais avançado."

    É isso, Sr. Presidente. E agradeço o tempo que foi dado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/10/2016 - Página 33