Discurso durante a 147ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Exposição e defesa da aprovação das proposições legislativas apresentadas por S. Exª em defesa de uma reforma política profunda.

Autor
Reguffe (S/Partido - Sem Partido/DF)
Nome completo: José Antônio Machado Reguffe
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Exposição e defesa da aprovação das proposições legislativas apresentadas por S. Exª em defesa de uma reforma política profunda.
Publicação
Publicação no DSF de 06/10/2016 - Página 36
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • DEFESA, REFORMA POLITICA, MOTIVO, AUMENTO, ABSTENÇÃO, ELEITORADO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, FALTA, CONFIANÇA, POPULAÇÃO, POLITICA, PAIS, PEDIDO, VOTAÇÃO, SENADO, PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO (PEC), PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, ASSUNTO, LIMITAÇÃO, NUMERO, REELEIÇÃO, INSTITUCIONALIZAÇÃO, VOTO FACULTATIVO, VOTO DISTRITAL, REGISTRO, PROPOSTA, CANDIDATO, JUSTIÇA ELEITORAL, PUBLICAÇÃO, INTERNET, PADRONIZAÇÃO, CAMPANHA, DESNECESSIDADE, FILIAÇÃO PARTIDARIA, OBJETIVO, FISCALIZAÇÃO, MANDATO, CANDIDATO ELEITO, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, REDUÇÃO, CUSTO, CAMPANHA ELEITORAL, FACILITAÇÃO, ACESSO, CIDADÃO, CANDIDATURA, DEBATE, RESPEITO, DEMOCRACIA, PARTICIPAÇÃO, ELEITOR, ATO, LEGISLATIVO.

    O SR. REGUFFE (S/Partido - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente.

    Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, no último domingo, o Brasil foi às urnas e mostrou uma grande revolta com a classe política, com um número de abstenção altíssimo no País inteiro e um descrédito dos políticos e da política Brasil afora.

    Eu penso, Sr. Presidente, que nós precisamos fazer uma reforma política profunda e urgente, que não pode se atentar por um pontinho ou outro pontinho apenas, não pode ser uma coisa apenas cosmética, para dizer que está fazendo uma coisinha aqui. É preciso mudar o sistema político. A população hoje não acredita em política, algo que é tão importante na vida de todos nós, uma atividade que é nobre. A população não acredita em política, e isso é culpa dos personagens, por desvios éticos inaceitáveis, mas também é culpa do sistema. Então, nós precisamos mudar o sistema e precisamos fazer uma reforma política profunda.

    Eu protocolei nesta Casa, na minha primeira semana como Senador, um conjunto de PECs (propostas de emenda à Constituição) e projetos de lei para mudar o nosso sistema político. São propostas objetivas que mudariam esse sistema. Elas, na minha opinião, aproximariam os eleitos dos eleitores e tornariam a política mais acessível ao cidadão comum.

    Eu gostaria de ver essas propostas sendo votadas. Vai ser muito triste eu chegar ao final do meu mandato aqui, como Senador, e não ter essas propostas votadas aqui neste plenário. Se elas vão passar ou não, isso faz parte da democracia; é da consciência de cada Parlamentar dizer se ele concorda ou não; isso faz parte do processo democrático. Agora essas propostas não serem votadas é que é para mim algo inaceitável.

    Quais são essas propostas, Sr. Presidente? Todas foram protocoladas na minha primeira semana como Senador aqui, nesta Casa.

    A primeira delas é a PEC 3, de 2015, que proíbe os Parlamentares de se reelegerem mais do que uma única vez, para dar chance a outros, para o sistema ser constantemente oxigenado, renovado. Quando a pessoa fica muito tempo em um cargo, ela começa a se achar proprietária desse cargo e vai se esquecendo de que ela é apenas um representante. É importante dar chance a outras pessoas. Hoje, o acesso à política não é fácil. Eu mesmo levei três eleições para conseguir ter um mandato de deputado distrital aqui, no Distrito Federal. Eu perdi a primeira, perdi a segunda, eu só ganhei na terceira, para entrar na política da forma mais limpa e com toda a dignidade que alguém pode entrar. É preciso tornar o sistema mais acessível ao cidadão comum. Então, temos que limitar o número de reeleições. A pessoa entra, dá uma contribuição e depois abre espaço para outro. Então, a primeira proposta é essa que proíbe os Parlamentares de se reelegerem mais do que uma única vez.

    A segunda proposta é a proibição de reeleição para cargos executivos, também para dar chance a outras pessoas. Agora, é moda no Brasil as pessoas falarem assim: "Ah, mas um mandato só? Em um mandato só, ninguém consegue fazer nada". Ora, que desculpa! Juscelino Kubitschek, que construiu esta cidade em que nós todos estamos, só teve um mandato e construiu uma cidade; ele foi Presidente de 1955 a 1960 apenas.

    A terceira proposta é a que institui o voto facultativo, acabando com o voto obrigatório no Brasil. Hoje muitas pessoas votam sem fazer a reflexão devida que esse gesto precisa e merece. Acabam votando em qualquer um; às vezes, votam no mais conhecido que quase sempre é o que gastou mais dinheiro para ficar mais conhecido, o que tem mais propaganda. O voto facultativo, além de mais democrático, vai obrigar também a classe política a ter um outro tipo de postura, a ter que fazer um trabalho de base, de convencimento de ideias e de prestação de contas dos mandatos, porque só o convencimento dessas ideias vai levar o eleitor às urnas.

    A proposta que proíbe os Parlamentares de se reelegerem mais do que uma única vez é a PEC 3 de 2015; a que proíbe reeleições para o Executivo é a PEC 4 de 2015; a que institui o voto facultativo é a PEC 10 de 2015; todas tramitando na CCJ desta Casa.

    A quarta proposta é a que institui o voto distrital no Brasil, dividindo-se as unidades da Federação, os Estados, em distritos, e cada distrito passando a eleger um Parlamentar. Isso vai aproximar o eleito do eleitor e o eleitor do eleito; vai facilitar a fiscalização do mandato do eleito, porque vai bastar aquela região fiscalizar um Parlamentar apenas; vai exigir que ele tenha que prestar contas constantemente do que está fazendo; vai baratear o custo de campanha. Hoje, uma pessoa, para ser candidata, tem que fazer campanha em todo o Estado; só quem tem muito dinheiro, estrutura para fazer isso. Aqui, no Distrito Federal, que é deste tamanhozinho, já é difícil a pessoa fazer campanha na Ceilândia, depois ir para o Gama e Santa Maria, depois ir para a saída norte, para Planaltina e Sobradinho. Imagina no Estado de São Paulo, onde a pessoa ter que fazer campanha em Presidente Prudente, em Bauru, na cidade de São Paulo, em Campinas e em Ribeirão Preto. Isso favorece quem tem dinheiro, quem tem estrutura. Quando se diminui a área geográfica da campanha, torna-se a política mais acessível ao cidadão comum. E isso vai facilitar o debate. Nós tivemos, na última eleição para Deputado Federal no Estado de São Paulo, 1.231 candidatos. A pessoa fica o tempo todo tentando ficar conhecida. Ela não consegue nem ficar conhecida, que dirá suas ideias e seus compromissos. Nós tivemos aqui, no Distrito Federal, 980 candidatos a deputado distrital. Então, reduzindo a área geográfica da campanha, nós facilitamos o acesso do cidadão comum à política e dificultamos o uso e o abuso do poder econômico, porque fica mais fácil para o cidadão fiscalizar quem é que está fazendo uma campanha desproporcional.

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Senador Reguffe.

    O SR. REGUFFE (S/Partido - DF) - A quinta proposta...

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Eu só queria aproveitar - já estão saindo daqui - para registrar a presença dos funcionários da empresa americana Bristol-Myers Squibb. Eles estão fazendo um treinamento cívico e estão nos visitando. Eu só queria parabenizar pela visita e agradecer.

    Com a palavra o Senador Reguffe.

    O SR. REGUFFE (S/Partido - DF) - A quinta proposta é a proposta que institui um sistema de revogabilidade de mandatos. A pessoa, para ser candidata, passa a ter que registrar na Justiça Eleitoral suas propostas e compromissos. A Justiça Eleitoral, por sua vez, publicaria essas propostas e esses compromissos no seu site, na internet. Durante todo o mandato, o eleitor poderia acompanhar essas propostas e compromissos. Se, em algum momento, o eleito contrariasse frontalmente qualquer dessas propostas e desses compromissos registrados, ele perderia o mandato.

(Soa a campainha.)

    O SR. REGUFFE (S/Partido - DF) - Qualquer eleitor poderia entrar com uma ação e pedir o mandato dele de volta. Isso vai fazer com que, primeiro, as promessas caiam; segundo, com que os eleitores passem a exigir dos candidatos compromissos objetivos. Um candidato a deputado que diga ser contra o aumento da carga tributária e que, eleito, vote um aumento de imposto ou uma criação de um novo imposto perderia o mandato, porque ele contrariou frontalmente algo a que ele se propôs a fazer. Com um candidato a governador que diga que vai construir um hospital em tal região, o eleitor vai exigir: "Vai entregar quando? Com quantos leitos?" E ele vai ter que cumprir exatamente aquilo a que ele se propôs. Essa é uma proposta de respeito ao eleitor. Se não cumprir, perde o mandato. Alguém pode dizer: "Ah, mas isso vai tornar o sistema maluco". Não, maluco, não. Maluco é hoje, em que as pessoas se elegem com algumas propostas e, nos seus mandatos, esquecem-se dessas propostas e desses compromissos. É preciso ter respeito ao eleitor. Então, essa é a quinta proposta, a PEC 8, de 2015.

    A sexta proposta é a que institui uma padronização das campanhas, é o PLS 36, de 2015. A Justiça Eleitoral faria licitações, a gráfica que ganhar imprimiria o panfleto de todos os candidatos àquele determinado cargo, naquele determinado lugar, com igual formato, igual quantidade para todos. A pessoa vai ter que ganhar no conteúdo, na proposta. A Justiça Eleitoral pagaria diretamente o fornecedor, a gráfica, e o candidato receberia apenas o material. Não iria dinheiro nem para o partido nem para o candidato. Ele receberia o material para divulgar as suas ideias. A produtora de televisão que ganhasse a licitação gravaria o programa de todos os candidatos àquele determinado cargo naquele determinado lugar. Seria o mesmo fundo, seria o mesmo tempo de televisão. O candidato teria que ganhar ali no convencimento, no conteúdo, nas propostas. Nós teríamos eleições, pelo menos, menos desiguais do que as que nós temos hoje.

    A sétima proposta é a que possibilita uma pessoa ser candidata sem filiação partidária, sem precisar estar filiada a um partido político. Hoje um conjunto enorme de brasileiros não se considera representado em partido político nenhum. É justo e democrático que essas pessoas também possam ser votadas. Se o Congresso Nacional tem que representar a diversidade de pensamentos que existem na sociedade brasileira e se, na sociedade brasileira, uma grande parcela dessa sociedade não acredita em partido político nenhum, é justo e democrático que essas pessoas também possam ser candidatas, colocar as suas ideias. Um único filtro que eu coloco é que a pessoa para ser registrar como candidata sem filiação partidária tenha que recolher 1% de assinaturas daquele eleitorado que ela vai disputar. Aqui, no Distrito Federal, por exemplo, há 1,9 milhão eleitores; com 19 mil assinaturas, uma pessoa poderia ser candidata a deputado distrital ou a Deputado Federal sem filiação partidária. Essa é a PEC 6, de 2015, também protocolada na minha primeira semana como Senador.

    A outra proposta é a PEC 5 de 2015, que decreta perda de mandato para alguém que se eleja para um cargo legislativo e vá ocupar um cargo no Executivo, para alguém que se eleja deputado e depois vá ser secretário de Estado ou ministro. Hoje, em várias prefeituras e também em alguns Estados, os governadores e os prefeitos se utilizam de colocar pessoas no secretariado para encher as Assembleias Legislativas e as câmaras vereadoras de suplentes, porque, assim, eles controlam melhor os Poderes Legislativos. Isso vai contra o princípio da Constituição Federal que diz que os poderes são independentes. Essa não é uma boa prática para democracia, não é uma boa prática para o contribuinte, que perde a independência de um Poder, e não é correto com o eleitor, porque, se a pessoa se candidata para um cargo, ela tem que ocupar aquele cargo que ela se propôs a ocupar.

    Eu não estou propondo nada original. Quando o Presidente Barack Obama se elegeu Presidente dos Estados Unidos pela primeira vez, ele convidou a então Senadora pelo Estado de Nova York, Hillary Clinton, para ser Secretária de Estado, que é o equivalente a Ministro das Relações Exteriores aqui no Brasil. E ela, para ser Secretária de Estado, teve que renunciar ao mandato de Senadora pelo Estado de Nova York. A pessoa não pode estar um dia no poder fiscalizador, em outro dia no fiscalizado, depois voltar para o fiscalizador, depois voltar para o fiscalizado. Muitas vezes, ele volta ao mandato por apenas um dia para votar um projeto de interesse do governo. Isso é uma promiscuidade. Tem que ter respeito à vontade do eleitor.

    Apresentei esse conjunto de propostas objetivas, Sr. Presidente, que, na minha opinião, mudariam a cara da política deste País, tornariam a política mais acessível ao cidadão comum, diminuiriam a área geográfica da campanha, facilitariam um processo de renovação, de que a política seja vista como um serviço, como ela é, e não como uma profissão.

    Gostaria de ver essas propostas sendo debatidas e votadas nesta Casa. Esse sistema que está aí é um sistema maluco, é um sistema em que a pessoa é dona do voto dela até o momento em que ela coloca o voto na urna. A partir dali, tudo pode acontecer com o voto dela. Ela pode votar em alguém para Deputado e eleger alguém que ela detesta; alguém com menos votos pode se eleger e alguém com mais votos pode não se eleger. Isso não é correto. É até difícil de explicar para as pessoas.

    O nosso sistema político é um sistema político que, com raríssimas exceções, só elege alguns tipos de pessoas: ou empresário com muito dinheiro, ou um representante dele para representar o interesse ali, ou alguém que vai representar um segmento específico da sociedade, ou uma categoria profissional - agora até uma religião -, ou aquele que ocupa um cargo no Executivo, uma secretaria, e, pelos cargos que nomeia ali, ele consegue ter uma base para se eleger depois como Parlamentar.

    Agora, o espaço para quem quer entrar na política para debater ideias, para representar ideias, é restrito, e é esse espaço que tem que ser ampliado, porque esta aqui é uma Casa de debates que representa a população brasileira. Esta aqui tem que ser uma Casa que debata ideias, que represente ideias e não interesses, como muitas vezes a gente vê hoje.

    Apresentei essas propostas objetivas e gostaria de vê-las sendo votadas. Muita gente fala: "mas os Parlamentares não vão votar contra o sistema que colocaram eles lá". Vamos colocar em votação. Cada um coloca o seu posicionamento. Mas essas propostas não serem votadas, é algo que não posso aceitar.

    Além dessas propostas, Sr. Presidente, apresentei algumas também que visam a incentivar a democracia direta. Temos que ter mais democracia direta. A nossa democracia representativa está falida. Propus aqui a PEC nº 8, de 2016, que foi aprovada na CCJ e está para ser pautada aqui no plenário. Foi aprovada lá na Comissão de Constituição e Justiça e está esperando para entrar na pauta aqui do plenário. A PEC nº 8, de 2016, dá rito de medida provisória aos projetos de iniciativa popular. Eles passam a trancar a pauta se não forem votados em até 45 dias. Não pode um projeto oriundo da Presidência da República, ter precedência legislativa...

(Soa a campainha.)

    O SR. REGUFFE (S/Partido - DF) - ... a um projeto que teve mais de 2 milhões de assinaturas diretamente de brasileiros. As dez medidas contra a corrupção já teriam sido votadas na Câmara - estão lá há mais de seis meses - se isso estivesse valendo.

    Apresentei também o PLS nº 267, de 2016, que permite os projetos de iniciativa popular serem feitos pela internet, através de assinatura eletrônica. Isso vai desburocratizar, vai facilitar, vai permitir a participação do cidadão no ato de legislar. A Justiça Eleitoral já conferiria as assinaturas eletrônicas e já as mandaria conferidas para o Parlamento. Não precisariam ficar o tempo que ficam aqui. Ninguém consegue conferir e acaba que um Parlamentar apresenta um projeto só para ele poder tramitar.

(Interrupção do som.)

    O SR. REGUFFE (S/Partido - DF) - Então, são projetos importantes e que incentivam esse importante instrumento do nosso Estado democrático de direito, que são os projetos de iniciativa popular.

    É isso que eu tinha a dizer. Sr. Presidente.

    Eu espero que nós, Parlamentares que estamos aqui, tenhamos consciência das nossas responsabilidades e consciência de que a população hoje está dizendo "não" a esse sistema político. Isso é culpa dos personagens, por desvios éticos inaceitáveis, mas isso também é culpa de um sistema que faz com que muitas pessoas que estão me ouvindo hoje, em casa, falem: "Eu tenho vontade de ser político, só que não vou entrar nisso não, porque a campanha é cara, é trabalhosa". As pessoas ainda têm uma imagem ruim de um político. Um sistema que incentiva as pessoas de bem a não quererem entrar na política não pode ser um bom sistema. Nós precisamos incentivar as pessoas de bem, o cidadão comum a entrar na política e facilitar o acesso dele.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/10/2016 - Página 36