Discurso durante a 148ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre as eleições municipais; apreensão com a falta de motivação dos eleitores, e crítica à diminuição do número de mulheres eleitas e à burocracia para financiamento de campanhas.

Crítica às mudanças propostas para a destinação dos royalties do pré-sal.

Crítica à ausência de debates acerca da reforma proposta para o ensino médio.

Comentários acerca da "Operação Lava Jato"

Autor
Regina Sousa (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: Maria Regina Sousa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Comentários sobre as eleições municipais; apreensão com a falta de motivação dos eleitores, e crítica à diminuição do número de mulheres eleitas e à burocracia para financiamento de campanhas.
MINAS E ENERGIA:
  • Crítica às mudanças propostas para a destinação dos royalties do pré-sal.
EDUCAÇÃO:
  • Crítica à ausência de debates acerca da reforma proposta para o ensino médio.
GOVERNO FEDERAL:
  • Comentários acerca da "Operação Lava Jato"
Publicação
Publicação no DSF de 07/10/2016 - Página 33
Assuntos
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Outros > MINAS E ENERGIA
Outros > EDUCAÇÃO
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMENTARIO, ELEIÇÃO MUNICIPAL, APREENSÃO, AUSENCIA, VONTADE, PARTICIPAÇÃO, ELEITOR, CRITICA, REDUÇÃO, NUMERO, MULHER, POLITICA, BUROCRACIA, FINANCIAMENTO, CAMPANHA ELEITORAL.
  • CRITICA, PROPOSTA, ALTERAÇÃO, DESTINO, ROYALTIES, PRE-SAL.
  • CRITICA, AUSENCIA, DEBATE, ASSUNTO, REFORMULAÇÃO, ENSINO MEDIO.
  • COMENTARIO, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS).

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - É que a gente não está usando o tempo direitinho. A gente precisa usar só o tempo a que a gente tem direito. Eu tenho que embarcar daqui a pouco. Então, a gente precisa ser solidário na fala, para não....

    Bom, Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, eu quero tocar em alguns assuntos aqui, pontuar alguns pelo menos. O primeiro deles não poderia deixar de ser as eleições. E a gente já pode constatar algumas coisas. A gente vê as pessoas, em vez de comemorarem as suas vitórias, comemorarem a derrota dos outros, mas são análises muito superficiais. Então, a gente viu quem ganhou a eleição: foi um personagem que a gente, no Nordeste, chama "seu Ninga". Quando não tem ninguém num lugar, a gente pergunta: "Quem está aí?" "Seu Ninga". Então, ninguém! Então, foi esse personagem que ganhou a eleição. E a gente precisa cuidar disso.

    E a gente vê, por exemplo, um discurso ou uma fala do Prefeito de São Paulo, eleito, dizendo: "Pode chorar, pode morrer, mas vai aumentar a velocidade lá, nas marginais." Ele esquece que ele vai governar... Quer dizer, ele é apoiado por um terço daquela cidade, ou dois terços. Como é que ele vai... Hoje mesmo já houve manifestação na cada dele. Quer dizer, ainda nem assumiu, já houve manifestação dos ciclistas, dizendo para ele desacelerar, porque...

    E a Rede Globo, no seu jeito torto de fazer as coisas... Porque eu a vi, a vida inteira, batendo no Haddad, por conta da redução da velocidade e das ciclovias, e hoje ela fez uma reportagem a favor da redução da velocidade, que eu fiquei impressionada. É, assim, de um cinismo que eu nunca vi. Uma reportagem imensa, mostrando que houve redução das mortes. Inclusive, mostrou que, em um ano, 125 vidas foram poupadas. Mostrou até um teatro, significando essa sala, aqui, cheia de gente. Não era a mesma TV Globo. Com o mesmo repórter, inclusive, que batia, batia, batia na história da redução a velocidade, hoje fazendo o contrário. Quer dizer, já se contrapondo, já se colocando contra o que o prefeito eleito disse que vai fazer.

    Então, essa questão é séria. Dois terços da população, dos eleitores, não se sentiram motivados para votar. Então, é preciso que haja um aprofundamento dessa questão.

    As mulheres não saíram vitoriosas. Diminuímos o número de mulheres prefeitas e vereadoras. Então, isso é sério também, porque, enquanto a gente clama por participação política das mulheres, a gente vê que, no resultado das eleições, não saiu o que a gente pensava, apesar de termos feito campanha. O próprio TSE fez campanhas.

    Eu acho que esse resultado aponta para a gente a necessidade da reforma. Agora, a gente esbarra... Aqui existem não sei quantos projetos de reformas, mas as vaidades não deixam esse pessoal que é autor desses projetos se juntar e estabelecer alguns pontos comuns. Não é?

    O financiamento foi um engodo. As pessoas dizem: "Foi mais barato?" Foi. Foi mais discreto, mas os métodos foram os mesmos. De alguma forma, o poder econômico se sobrepôs. Os métodos foram os mesmos. Não é? O jeito de fazer, de... A burocracia. É incrível! A gente não pôde ajudar alguns Municípios, porque a conta, por exemplo, de fundo partidário: tem que ter a conta do partido, do fundo partidário, e a conta do candidato. Nunca vi isso. A gente não podia colocar o dinheiro do fundo partidário na conta do candidato. É um absurdo isso! Tem que mudar essa burocracia toda!

    Um vereador só pode gastar R$10 mil. Aí, ele tem que ter advogado e contador. O partido não pode colocar o advogado do partido ou o contador do partido para fazer a prestação de conta dele. Isso é um absurdo! Então, vários problemas ficaram visíveis nesse processo eleitoral, os quais a gente espera poder corrigir até a próxima eleição, em 2018.

    Eu queria também falar agora... Antes do próximo ponto, quero lembrar que hoje a greve dos bancários está fazendo um mês. Um mês de greve dos bancários, e as pessoas só culpam os bancários. "Por que eles estão em greve? Estão prejudicando a população." Ninguém fala dos banqueiros, que estão nadando em lucros, mas não conseguem dividir com quem gera esse lucro. Só os bancários são criticados. Há campanhas publicitárias, falando da necessidade de voltarem, que estão prejudicando a população, os velhinhos... Então, é preciso também que a gente veja isso.

    A gente, aqui, enquanto no Poder, não pode. Eu acho que nós estamos voltando ao passado.

    Eu me lembro que... Eu sou bancária e nos anos 90 eu vivi muito isso, de passar um mês em greve e voltar para casa sem nada. E os bancos cada vez com lucros maiores. Não há um banco, nem público nem privado, que não tenha tido lucro. Mas não atendem.

    Eu queria falar aqui também da votação de ontem, da questão do pré-sal. Eu acho que o povo brasileiro só vai entender o que foi feito muito mais tarde, mas há uma menina que me mandou aqui uma mensagem e eu acho que vale a pena a gente fazer a comparação. É uma menina simples, estudante.

    Ela colocou assim: "Eu tenho um terreno e sou mineradora. Descobrir que meu terreno possui muito ouro, e possuo tecnologia de ponta para extração. Por qual motivo devo permitir que outras pessoas venham extrair o ouro para si, em troca de uma pequena porcentagem para mim? Queria muito entender! É isso que o Governo fez com o petróleo do pré-sal. Alguém pode me explicar?"

    Isso aqui é uma menina, estudante, mandando essa mensagem para mim. E com a comparação... felicíssima a comparação dela, não é? Então, é para refletir, porque eu acho que a população brasileira só vai ver a bobagem que fez depois, entregando essa riqueza para as multinacionais.

    Eu queria me reportar também ao ensino médio que foi falado aqui. O Medeiros já saiu, mas não é bem o que ele falou, que houve debate. O debate que se vem fazendo não tem nada a ver com o projeto apresentado. O projeto apresentado nasceu de um gabinete. Quem foi que discutiu que filosofia não é importante? Que história não é importante? Se, tendo história, o menino estudando história, ainda tem aí gente carregando cartaz pedindo a volta da ditadura - imagina! Quem foi que decidiu isso? Um gabinete. E vem para cá para ser votado na próxima semana, no próximo mês e pronto. E a discussão? Cadê os envolvidos, cadê os especialistas em educação que discutiram isso?

    Vamos ter agora uma geração não pensante. Estão dizendo para o filho do pobre: "Tu não precisas ir pra faculdade, tu vais fazer o ensino médio, tu vais ter uma profissão e tu vais ganhar muito dinheiro, vais ser empresário". É isso que estão dizendo - iludindo, porque não vão ser. A verdade é que eles vão ficar no ensino médio, no subemprego, na subprofissão, enquanto o filho do rico vai para as grandes universidades, faz os melhores cursos; vai-se voltar a um tempo que já vivemos. Eu me lembro muito bem de uma primeira aula que tive da chamada formação política, em que o nome do filme era exatamente As Onças e os Gatos. E as onças diziam aos gatos que eles eram onças pequenas, que um dia eles seriam onças grandes.

    Então, essa reforma... Para mim, estão dizendo para o filho do pobre: "Um dia vocês vão ser empresários, vão ser ricos, porque vocês vão ter um curso profissionalizante". Olhem lá a qualidade desses cursos! Então, não é bem assim o que foi dito aqui, porque o que a gente está reclamando é do debate. "Ah, porque o sistema de ensino, lá vão orientar". O sistema de ensino... Eu fui do Conselho Estadual de Educação, e os sistemas de ensino municipais, por exemplo, nos mandam o projeto político-pedagógico da escola copiado ou comprado de um consultor. Esquecem, às vezes, até de mudar o nome do Município. O mesmo projeto político-pedagógico de um Município é o do outro, copiado. E dizer que eles vão ter capacidade para fazer essas escolhas? É subestimar a nossa inteligência.

    Eu queria também lembrar que ontem foi reinstalado no País o "primeiro-damismo", a volta do assistencialismo. Quem vai gostar muito são os prefeitos porque, pelo que li, os prefeitos vão receber dinheiro para contratar pessoas para fazerem o assistencialismo, do jeito que a gente já viveu antes. Ressuscitaram o "primeiro-damismo" no País; tudo que a gente combateu. A gente defende a autonomia das pessoas, mas o Brasil está, na minha opinião, andando para trás em algumas questões.

    Quero tocar aqui também nessa campanha de mídia do Governo. Além de muitas mentiras e de aumento de despesa, gastando... Porque já vi os índices ali, o quanto aumentou o gasto com publicidade. Isso aqui não é publicidade, isso é um panfleto, um panfleto político que nós vamos combater. Nós já estamos com as ações prontas e vamos combater.

    E falam como se não tivesse nada a ver com o governo da Presidenta Dilma, do Presidente Lula. Falam da transposição do São Francisco; dizem que o Enem não evolui. O Enem foi criado em 2005; vamos ver se não evoluiu. E hoje tem uma reportagem na Folha de S.Paulo sobre uma entidade que fez um estudo e já mostrou que existem algumas inverdades nessa campanha. E falam como se não tivesse nada a ver. Quem era o Ministro da Integração que tratou do Rio São Francisco? É só lembrar quem eram os ministros. Não eram do PT, não - nunca foram, nem no governo Lula, nem no governo Dilma. Quem era Ministro de Minas e Energia, Ministro da Previdência, Ministro do Transporte, Ministro do Desenvolvimento? Não eram do PT. Aí falam aqui como se não tivessem nada com isto.

    Por último, quero falar da Lava Jato. Não há como não a gente não falar do direcionamento da Lava Jato. A Polícia Federal acaba de dizer que não vai mais haver delação. Por que não? Porque ainda há 50 executivos para serem ouvidos e são eles que podem decifrar aqueles apelidos na lista da Odebrecht, mas, como eles não querem descobrir mais nada, porque inclusive o Presidente da República está envolvido naquela lista, têm que parar a delação. E ainda dizem que não é parcial, não é direcionada. É impressionante essa operação.

    Com isso, quero puxar a decisão de ontem do Supremo Tribunal Federal, que tem a ver com a Lava Jato. Foi uma decisão feita para a Lava Jato, para o Juiz Sérgio Moro. Mas esquecem que é uma decisão para sempre, que é uma decisão para todo mundo, esquecem que este País tem 50 mil pessoas julgadas em segunda instância, prontas para serem presas. E onde vão colocar? Num estádio? Vão cercar um estádio e colocar essas pessoas? Quer dizer, a coisa é tão séria, este País e a Justiça estão vivendo tão em função da Lava Jato, que não pensam nisto. Vão prender os da Lava Jato? Vão. Mas terão que prender os outros. Cinquenta mil no sistema carcerário que este País tem? E onde vão botar? Me digam, por favor.

    Estamos bem encaminhados com esta semana de todos esses acontecimentos. E devem vir mais. Lamento que tenhamos tido uma semana sem trabalho, sem deliberação, e tenho a impressão de que não é porque não tenhamos o que deliberar, pois temos projetos que podem não ser considerados importantes, mas estão prontos para vir para a pauta. Portanto, poderíamos ter aproveitado isso e não ter passado uma semana de folga. Mas, infelizmente, é decisão superior.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/10/2016 - Página 33