Pela Liderança durante a 155ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração do Dia Internacional do Controlador de Tráfego Aéreo, celebrado em 20 de outubro.

Comemoração do aniversário de 110 anos, no dia 23 de outubro de 2016, do voo de Alberto Santos Dumont pilotando a aeronave 14-Bis, ao redor da Torre Eiffel, em Paris.

Autor
Lasier Martins (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RS)
Nome completo: Lasier Costa Martins
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Comemoração do Dia Internacional do Controlador de Tráfego Aéreo, celebrado em 20 de outubro.
TRANSPORTE:
  • Comemoração do aniversário de 110 anos, no dia 23 de outubro de 2016, do voo de Alberto Santos Dumont pilotando a aeronave 14-Bis, ao redor da Torre Eiffel, em Paris.
Publicação
Publicação no DSF de 21/10/2016 - Página 6
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros > TRANSPORTE
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, CONTROLADOR DE TRAFEGO AEREO.
  • COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, VOO, PIONEIRO, AERONAVE, SANTOS DUMONT (MG), PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, PARIS.

    O SR. LASIER MARTINS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RS. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Muito bem, Sr. Presidente Pedro Chaves, que tanto destaque tem já ocupado nestes poucos meses em que aqui se encontra. Minha saúde a V. Exª.

    Srªs Senadoras, Srs. Senadores, telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, estou intervindo como primeiro orador em permuta com o Senador Capiberibe, a quem agradeço a gentileza desta troca.

    Venho a esta tribuna, Sr. Presidente, para falar primordialmente sobre importante data comemorativa que teremos no próximo domingo, data centenária do primeiro voo de um aeroplano, o primeiro aparelho voador mais pesado que o ar. Mas antes, e com relação também ao tema, quero aproveitar a data de hoje para cumprimentar e exaltar uma categoria profissional que muito valor possui, justamente porque tem a ver com as modernas operações de voo de nossos dias.

    Hoje, dia 20 de outubro, é o Dia Internacional do Controlador de Tráfego Aéreo, o controlador de voo, uma categoria invisível da sociedade, mas de enorme responsabilidade com a proteção da vida de milhões de pessoas que viajam diariamente pelo mundo, categoria que garante a segurança do transporte aéreo. Portanto, a saudação e o reconhecimento a essa valorosa classe de trabalhadores, o controlador de tráfego aéreo. Aqui no Brasil são servidores públicos federais do Grupo Dacta (Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo), função que exige alto nível técnico.

    Os controladores de tráfego aéreo, a quem saúdo, têm apresentado, há bastante tempo, várias demandas, tais como o pleito de autonomia civil e não mais subordinação à área militar, assim como pleiteiam também gratificação por mérito, justas reivindicações que bem mereceriam a avaliação do Governo numa data tão apropriada como esta, o Dia Internacional do Controlador de Tráfego Aéreo.

    Dito isso, Sr. Presidente, quero lembrar que, há 110 anos, no dia 23 de outubro de 1906 – 23 de outubro, como será o próximo domingo –, Alberto Santos Dumont estarreceu o mundo ao erguer-se do solo pilotando o 14-Bis, o primeiro aeroplano, ou seja, o primeiro aparelho voador mais pesado que o ar.

    Tinha 33 anos de idade, nascido que fora a 20 de julho de 1873, em Palmyra, hoje cidade de Santos Dumont, junto ao trecho da ferrovia construída por seu pai, engenheiro Henrique Dumont, no alto da Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais. Aliás, nesse local, mantém-se em excelentes condições um museu em sua honra, cuja curadora, Mônica Castello Branco, é merecedora das maiores homenagens por sua fidelidade, desde a infância, à memória do pioneiro. Aliás, o chalé de madeira onde Francisca Dumont deu à luz o menino Alberto é conservado como uma verdadeira relíquia lá na cidade de Santos Dumont, em Minas Gerais.

    Alberto Santos Dumont era neto, pelo lado paterno, dos franceses Francisco e Eufrásia Dumont, que vieram ao Brasil para comprar pedras preciosas e nunca mais voltaram à terra natal.

    Pelo lado materno, era neto do Comendador Francisco de Paula Santos e sua esposa Rosalina, sendo, segundo alguns historiadores, da mesma família de Felipe dos Santos, o precursor de Tiradentes nos movimentos libertários do Brasil.

    O pai de Alberto, engenheiro formado em Paris, transformou-se, alguns anos mais tarde, em um grande plantador de café, tendo sido pioneiro na mecanização da lavoura e na contratação de descendentes de italianos para trabalhar na sua fazenda de Ribeirão Preto, em São Paulo. Isso porque, muitos anos antes da Lei Áurea, Henrique Dumont libertara os seus escravos.

    Alberto Santos Dumont costumava dizer que seus inventos aeronáuticos tinham cheiro de café. Isso porque foi com a herança do seu pai que financiou todos eles, desde o pequenino balão Brazil, em 1898, até o Demoiselle, de 1909, um verdadeiro avião, na acepção da palavra, que voava a mil metros de altura, a cem quilômetros por hora.

    Então, Srª Presidente Ana Amélia – ao lado do Senador Pedro Chaves, na Mesa da direção dos trabalhos –, quero ressaltar que é muito interessante dizer, nesta breve memória do nosso Brasileiro Voador, que Santos Dumont, antes do voo do 14-Bis, cujos 110 anos estamos comemorando nesse próximo domingo, percorreu um longo caminho, feito de fatigantes estudos e perigosas experimentações.

    Fixando residência em Paris aos 18 anos de idade, após a morte do pai, dedicou, durante sete anos, todo seu tempo e seus recursos financeiros ao projeto de voar. Para isto, contratava os melhores professores aposentados de Física, Mecânica, Eletricidade, preparando-se, cuidadosamente, para realizar seu sonho. Foi aluno visitante nas Escolas de Engenharia de Paris e Londres. Comprou um automóvel Peugeot, em 1891, aliás, o primeiro a ser trazido para o Brasil, para habituar-se ao funcionamento dos motores a gasolina, que mais tarde empregou, de forma pioneira, para dar dirigibilidade aos balões. Também testou os motores a gasolina das incipientes motocicletas, organizando, para isso, a primeira corrida de motos na cidade de Paris.

    Por todas essas razões, é doloroso ouvir alguns incautos atribuírem a Von Zeppelin o pioneirismo dos balões dirigíveis, tendo o próprio alemão reconhecido que foi Santos Dumont o primeiro a colocar um motor a gasolina sob um balão em forma de charuto e com ele erguer-se do solo – do solo parisiense, no caso –, no dia 20 de setembro de 1898, e, três anos mais tarde, em 1901, contornar a Torre Eiffel com o seu Balão Dirigível SD Nº 6, recebendo o Prêmio Deutsch de la Meurthe, do Aeroclube da França, que reconheceu Dumont como o primeiro aeronauta a conseguir dirigir um balão. Ou seja, a fazê-lo voar contra o vento, e não somente a favor dele, como os antigos balões redondos, muito coloridos, belos de se ver no céu, mas incapazes de retornar, por seus próprios meios, ao ponto de partida.

    Foi também durante o voo em que contornou a Torre Eiffel, cujo tempo era controlado, que Santos Dumont, que usava as mãos e os pés para manobrar o seu dirigível, teve grande dificuldade em tirar o relógio do bolso do colete e imaginou como seria prático um relógio de pulso. Ideia que passou ao joalheiro Cartier, responsável por criar o primeiro desses relógios, dando-lhe o nome, é claro, de Santos Dumont.

    Importante é também registrar que ele distribuiu todo o dinheiro do prêmio que recebeu (quantia equivalente a uns cem mil dólares de hoje) entre os seus colaboradores e os operários pobres de Paris, para que estes pudessem retirar milhares de instrumentos de trabalho empenhados durante muitos anos de experiência.

    Quando Alberto Santos Dumont deu o nome de 14-Bis ao primeiro avião, ou seja, ao primeiro objeto voador mais pesado do que o ar, identificado por um comitê de experts do Aeroclube de França, foi porque, antes dele, já construíra e voara, por sua própria conta e risco, em outros 14 balões, sendo 13 deles dirigíveis. E, antes de voar com o novo modelo, amarrou-o ao Balão Dirigível SD Nº 14 e ergueu-o nos ares para testar o equilíbrio de sua aerodinâmica. Por isso o nome 14-Bis, o segundo 14, em homenagem ao último balão dirigível construído por Santos Dumont.

    Então, Srª Presidente, Senadoras, Senadores, telespectadores, neste momento, a bem da verdade, vou argumentar sobre a polêmica que hoje ainda existe: se os irmãos Wright voaram ou não antes de Santos Dumont. Fato que ganhou atualidade na abertura das últimas Olimpíadas.

    Em verdade, os jornais dos Estados Unidos só começaram a reivindicar para o seu país o pioneirismo do primeiro voo às vésperas da Primeira Guerra Mundial, já antevendo o papel dos aviões como arma de guerra. Antes disso, sempre reconheceram Santos Dumont como pioneiro, inclusive na inauguração da primeira fábrica de aviões norte-americanos, em 1912, em Saint Louis, quando o brasileiro foi convidado a cortar a fita inaugural, ao lado do Presidente da República, Woodrow Wilson. Isso porque, além de não registrar em proveito próprio os seus inventos, Santos Dumont publicava todos os detalhes da construção em jornais e revistas de todo o mundo. Assim, a indústria aeronáutica da Europa e dos Estados Unidos nasceu dos inventos do brasileiro Santos Dumont, e não dos irmãos Wright.

    Mas vamos relembrar também a palavra do próprio Alberto Santos Dumont quando tomou conhecimento, pela imprensa, de que os irmãos Wright teriam voado antes dele, sem testemunhas. Escreveu Santos Dumont:

No meu íntimo, acredito que ninguém pode me arrebatar esta conquista. O que diriam Edison, Graham Bell ou Marconi se, depois que apresentaram em público a lâmpada elétrica, o telefone e o telégrafo sem fios, outra pessoa se apresentasse dizendo que os tinha inventado antes deles?

A verdade se fará por si mesma, porque tudo que nós estamos realizando aqui na França, eu e outros aeronautas, é feito diante do povo e das comissões científicas, em plena luz do sol. [Falou, à época, Santos Dumont.]

    Em plena luz do sol, como aconteceu o voo do 14-Bis, há exatamente 110 anos em Paris. Senador Dário Berger, estamos aqui relembrando que, no próximo domingo, serão 110 anos do primeiro voo de um aparelho mais pesado que o ar. E foi narrado pelo escritor Alcy Cheuiche, em seu romance histórico muitas vezes premiado chamado Nos Céus de Paris – romance que recomendo a quem não teve oportunidade de lê-lo como consulta sobre esse memorável brasileiro.

    O motor roncou em sua potência máxima. Alberto, preocupado com as pessoas que se aglomeravam por todos os lados na Torre Eiffel, pediu com amplos gestos que se afastassem; depois, fez o sinal da cruz e colocou a mão direita sobre a medalha de São Bento, presente da Princesa Isabel, que nunca tirava do seu pulso esquerdo.

    Milhares de olhos se fixaram no aeroplano que avançava rápido pelo gramado. Pouco a pouco, as rodas foram se desprendendo do chão e o 14-Bis ergueu-se a dois metros de altura. Depois de percorrer um pouco mais de cinquenta metros, a aeronave fez uma graciosa curva para a esquerda, sob o olhar incrédulo da multidão. Santos Dumont cortou o circuito e deixou o 14-Bis aterrissar com alguma violência, mas sem avarias.

    O sol já se inclinava para o poente, pintando a tarde de rosa e violeta. No alto do céu, uma ave de longas asas fazia evoluções sobre o Bois de Boulogne. No meio da clareira de Bagatelle, o povo arrancou Santos Dumont do 14-Bis e o carregou em triunfo.

    O milagre do primeiro voo sem auxílio de balão havia acontecido diante de centenas de pessoas, sendo documentado por milhares de fotografias e até filmado de forma artesanal. Nos anos seguintes, pelo gênio e coragem daquele homem, os aviões iriam disputar espaço com as aves nos céus de Paris, nos céus do Brasil e nos céus do Planeta.

    Então, se não tivesse havido o 14-Bis, por que não dizer, haveria hoje os aviões da Boeing, da Airbus, da Embraer e as aeronaves interplanetárias? Santos Dumont, o pioneiro aeroespacial, cuja lembrança dos 110 anos do primeiro voo em Paris ao redor da Torre Eiffel vamos comemorar no próximo domingo.

    Era isso, Srª Presidente.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/10/2016 - Página 6