Discurso durante a 160ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Saudação a Luiz Inácio Lula da Silva, ex-Presidente da República, pelo seu aniversário de 71 anos, e defesa da importância do Partido dos Trabalhadores.

Autor
Paulo Rocha (PT - Partido dos Trabalhadores/PA)
Nome completo: Paulo Roberto Galvão da Rocha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Saudação a Luiz Inácio Lula da Silva, ex-Presidente da República, pelo seu aniversário de 71 anos, e defesa da importância do Partido dos Trabalhadores.
Aparteantes
Ana Amélia.
Publicação
Publicação no DSF de 28/10/2016 - Página 5
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • APOIO, MOVIMENTO ESTUDANTIL, COMBATE, REFORMULAÇÃO, ENSINO MEDIO, OCUPAÇÃO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, REJEIÇÃO, CORTE, GASTOS PUBLICOS, SAUDAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, DESAPROVAÇÃO, ENTENDIMENTO, ANA AMELIA, SENADOR, REFERENCIA, POLITICA, GOVERNO, COMENTARIO, IMPORTANCIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), RESPONSABILIDADE, IMPLEMENTAÇÃO, POLITICA PUBLICA, CRIAÇÃO, PROGRAMA DE GOVERNO, BOLSA FAMILIA, PROJETO, PROGRAMA UNIVERSIDADE PARA TODOS (PROUNI), FUNDO DE FINANCIAMENTO AO ESTUDANTE DE ENSINO SUPERIOR (FIES), UNIVERSIDADE, HABITAÇÃO POPULAR, POSTO DE SAUDE, CRECHE, FACILITAÇÃO, FINANCIAMENTO AGRICOLA, OPORTUNIDADE, MICROEMPRESA, PEQUENA EMPRESA, FAVORECIMENTO, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, INCLUSÃO SOCIAL, COMPARAÇÃO, GESTÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, CRITICA, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF.

    O SR. PAULO ROCHA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Srª Presidenta, Srªs e Srs. Senadores, aqueles que estão nos ouvindo pela nossa rádio Senado e aqueles que estão nos assistindo pela TV Senado, queria, inicialmente, me somar aos protestos e ao chamamento de V. Exª, Srª Senadora, nessa questão do movimento dos estudantes brasileiros na defesa da educação contra o plano do ensino básico que está sendo implementado pelo Governo; e do movimento também que resiste, dar energia positiva aqui para dentro do Senado no caso agora do enfrentamento da discussão sobre a PEC 241.

    O movimento dos estudantes brasileiros, além de estar lutando por uma boa educação, soma-se à luta daqueles que querem lutar pela continuidade e a consolidação da democracia no nosso País. Por isso, Srª Presidente, queria me somar aos seus protestos, ao seu chamamento das nossas autoridades, principalmente dos Governadores dos nossos Estados.

    Eu venho aqui hoje para falar, de um modo geral, do meu Partido, do Partido dos Trabalhadores, porque tenho uma justificativa muito grande hoje, que é o aniversário da nossa maior liderança política, do nosso companheiro Lula. Hoje ele faz 71 anos de idade. Portanto eu queria fazer esta intervenção aqui em sua homenagem, e ao homenageá-lo, na verdade falar em sua defesa, da sua história, da sua luta e na defesa do Partido dos Trabalhadores.

    Fui provocado, porque ontem eu assisti de longe – não estava aqui no Plenário – a intervenção de uma Senadora que, aproveitando talvez da nossa ausência, baixou o pau no PT. Estou usando "baixou o pau" porque foi isso que ela fez, falou mal. Não foi crítica, porque uma coisa é criticar, outra coisa é falar mal, principalmente na ausência daqueles que poderiam estar defendendo ou emitindo uma opinião diferente daquela que ela exija. Pois bem, quando nós fundamos o Partido dos Trabalhadores, nossa primeira insígnia, nossa primeira palavra de ordem foi: "É a nossa vez! É a nossa voz!" Nós criamos um instrumento político, a partir do movimento social organizado, do movimento sindical, que lutava lá contra as questões econômicas de então, as políticas de arrocho salarial implementadas pelos governos militares, mas também a falta de liberdade e de democracia. Isso movimentou para que os trabalhadores deixassem de brigar só por uma pauta econômica, mas também pela ideia de criar um instrumento político que desse vez e voz para os trabalhadores, aqueles que não tinham vez e voz no País – portanto, uma voz política para poder processar essa disputa que está sendo estabelecida.

    Chegou a Senadora Ana Amélia. Foi ela quem fez a intervenção ontem em relação ao nosso Partido e eu queria dizer então por que eu venho falar sobre o Partido dos Trabalhadores aqui.

    O nosso Partido foi criado como um instrumento para dar vez e voz àqueles que não tinham vez e voz no nosso País, enfrentando a ditadura, a falta de liberdade, a falta de organização, de deixar o povo se organizar. E fomos construindo instrumentos de defesa dos interesses, até porque nós vivemos numa sociedade de interesses, naquele tempo então numa luta acirrada de classes. Fomos construindo esse processo. Metemo-nos na política e começamos a eleger um vereador ali, um prefeito acolá, um governador, até que nós fizemos eleger o Presidente da República do País, um operário saído do seio da luta e do âmago da organização da luta do povo, dos trabalhadores, e processamos isso, enfrentando uma visão – até então dominante no País, de 500 anos – elitista de pensar o País.

    Quando nós implementamos o governo, foi exatamente para corrigir uma visão elitista de como pensavam em organizar o País. E pensavam um país só para eles, só para os grandes. Foi assim que, por exemplo, a minha Região Amazônica foi pensada: só a partir dos grandes projetos, a partir dos grandes projetos minerais, a partir dos grandes projetos agropecuários. Tudo das políticas de governo – financiamento dos bancos e favores de governo – era só para os grandes. Essa visão sempre dominou o País. As universidades eram só para os filhos dos grandes, as oportunidades de trabalho eram só para os filhos dos grandes. Enfim, era uma concepção que até então dominava o País.

    E a elite brasileira – toda vez que as organizações populares se organizavam e, através do seu representante, chegavam ao poder –, ao longo do tempo, derrubava esse poder instalado. Foi assim com Getúlio Vargas, foi assim com Juscelino Kubitschek. As coisas se acirraram mais ainda na década de 60 e no início da década de 70, e tiveram de usar o golpe militar para derrubar o poder popular que estava implementado a partir da força da organização do povo. Foi assim que o nosso companheiro Lula se tornou Presidente da República do País – aliás, um dos melhores e maiores Presidentes da República do País, que hoje está aniversariando. Esta minha intervenção aqui é para homenagear e resgatar um pouco a história do Partido dos Trabalhadores.

    Em pleno século XXI, as elites, de novo, retomam o poder dos velhos métodos que eles sempre usaram quando as forças populares chegam para governar.

    Foi assim que o Partido dos Trabalhadores chegou ao poder no País: através da força da organização do povo, avançando ali e acolá em governos municipais e em governos estaduais. Implementamos políticas – políticas econômicas, políticas sociais e políticas públicas – que iam ao encontro da concepção elitista que até então a classe dominante tinha construído no nosso País. A política, por exemplo, do Bolsa Família, é uma política de inclusão, uma política de renda mínima para aqueles que foram massacrados ou foram isolados através das políticas implementadas por essa visão elitista de pensar o País, e é criar oportunidades de aquela família sair daquela condição subumana em que estava pelas políticas de exclusão, para ter oportunidade de ser incluída em um processo de País, de desenvolvimento, de inclusão social. Daí a condição de o Bolsa Família ser coordenado por mulheres, pela chefe da família, mãe de família, que criava as condições para o seu filho estudar, ter oportunidade de estudar, manter o filho na escola. Isso possibilitou a esses primeiros que receberam o Bolsa Família hoje serem doutores. Há um monte de exemplos disso por aí afora. Este é um processo de recuperação, de dar oportunidade para todos.

    A criação de projetos da educação como o Prouni, o Fies e a criação de mais universidades se deu exatamente para dar oportunidade de o filho do pobre ser doutor, de o filho do trabalhador ser doutor.

    Eu posso pegar o meu próprio exemplo: sou do interior, de uma família muito pobre e grande, e só tenho o segundo grau; virei Senador por causa da minha luta social, da minha luta política oportunizada pelo sindicato que eu ajudei a construir. Depois, tive a oportunidade de entrar em um Partido, que foi o Partido dos Trabalhadores, para lembrar aquela velha palavra de ordem: dar vez e voz àqueles que não tinham vez e voz no nosso País. Por isso, eu estou aqui, como Senador da República, enfrentando os debates com aqueles que representam a visão elitista do País; com aqueles que representam a visão dos grandes que estão aqui. Isso é um processo que nós ganhamos na democracia. Só a democracia cria condições para que o filho do trabalhador vire doutor ou o operário pobre lá do interior vire Senador da República. Eu não tive oportunidade de estudar, porque, no meu Município, só havia até a terceira série primária. A cidade, a sede do Município só tinha até a quinta série primária.

    Foi pela evolução, por causa da luta do povo, através de um governo do PT, um governo operário do Sr. Lula, que criamos universidades pelo interior afora do nosso País para dar oportunidade ao filho do trabalhador rural ser doutor, ter oportunidade de estudar e contribuir com o desenvolvimento do País, sendo pesquisador, sendo professor, sendo um grande profissional qualificado.

    Isso é produto de um processo de uma geração de trabalhadores que construíram a perspectiva de viver num País que seja de todos. Um Brasil tão rico como é, se fosse governado com outra visão nesses 500 anos, hoje não teríamos regiões pobres ou ainda gente passando fome ou região como o Nordeste, que ainda vive os problemas da seca, os problemas da miséria, por falta de uma visão para desenvolver este País, criando oportunidade para todos.

    Por isso, o que está acontecendo neste País hoje? Toda essa luta para processar um regime democrático, criando oportunidades para todos com governos que dão oportunidade para todos, criando condições para que o nosso País se desenvolva não só a partir do grande, mas também para o pequeno se estabelecer, para que os trabalhadores processem a qualificação de mão de obra para disputar no mercado de trabalho em melhores condições. Por tudo isso, podem agora criminalizar o PT, podem agora derrubar o PT, podem agora fazer tudo isso que estão fazendo com o PT, mas não esconderão da História que fomos nós que mudamos este País, que fomos nós que quebramos uma tradição histórica de dominação, de uma visão de um País elitista, um País com uma visão que só pensava políticas públicas para os grandes, só pensava políticas de oportunidade para os grandes. Fomos nós que quebramos isso. Fomos nós que criamos condições para financiar a agricultura familiar. Fomos nós que criamos condições para fortalecer as micro e pequenas empresas. Fomos nós que criamos uma política econômica com distribuição de renda e com inclusão social. Tiramos 40 milhões de famílias da fome e as colocamos em outros patamares, com condições sociais e com outro nível de classe em nosso País.

    O que se passa no nosso País hoje, a bem da verdade... O PT não tem medo de fazer uma autocrítica e de dizer onde nós erramos. Com certeza, quando fomos eleitos prefeitos de algum lugar, erramos em algumas coisas. Com certeza, quando nós governamos os nossos Estados, erramos em algumas coisas. Com certeza, o companheiro Lula e a Dilma erraram em um conjunto de coisas. Ninguém pode errar?

    Pode a Rede Globo esconder, podem os grandes grupos de comunicação esconder, mas não esconderão da História que fomos nós que construímos este País. Fomos nós que fizemos a política pública para o cidadão lá embaixo. É só listar nas mãos: o Bolsa Família; o Luz para Todos; o Minha Casa, Minha Vida; o Mais Médicos; os programas de infraestrutura e de Unidades Básicas de Saúde; as creches.

    Só para vocês terem uma ideia, na época do Fernando Henrique Cardoso, ele não criou nenhuma universidade pública – e ele era um cientista político, falava cinco línguas. Pois bem, o operário que mal falava o português deixou 16 novas universidades públicas para dar oportunidade ao trabalhador, ao filho do homem do campo, do interior, de estudar.

    Na época do Fernando Henrique Cardoso, ele não criou, aliás, proibiu a construção de escolas técnicas. Foi o Lula, operário, que deixou cerca de 264 novas escolas técnicas no Brasil.

    Só lá no meu Estado, Presidenta, há 100 anos, só havia uma universidade federal. Na época do Lula, criaram-se mais quatro. Ele transformou uma faculdade rural na Universidade Federal Rural da Amazônia e criou outras duas: uma universidade sediada no interior, mais para o lado de Santarém, e a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, com sede em Marabá.

    A SRª PRESIDENTE (Gleisi Hoffmann. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Se me permitir, Senador Paulo Rocha, quero só complementar.

    No Paraná, também nós ficamos, por muitos anos, com apenas uma universidade federal: a Universidade Federal do Paraná. No governo do Presidente Lula e da Presidenta Dilma, mais três universidades foram implantadas lá: a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, que hoje tem campus em todas as regiões do Estado; os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia; a Universidade Federal da Fronteira Sul. Aliás, tivemos quatro: mais uma, a Unila, Universidade Federal da Integração Latino-Americana, implantada em Foz do Iguaçu, que atende estudantes do Brasil e dos países latino-americanos.

    Então, é para se ver como foi construído o investimento em educação. Em tão curto tempo, foi possível. E nós estamos revertendo essa situação de deixar o povo brasileiro sem a educação superior. É lamentável agora que a PEC 241 venha exatamente no sentido contrário, que é o de retirar recursos para a educação.

    O SR. PAULO ROCHA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – Pois é. Por isso, faço questão de fazer essa diferença, só provocando a minha colega de Senado, a Senadora Ana Amélia, que fez uma intervenção, ontem, defendendo uma posição. É claro que há diferenças na forma de pensarmos o Estado. É claro que há diferenças na forma de como ela pensa o Estado, entre a visão que ela representa aqui e a visão do Partido dos Trabalhadores sobre o Estado. Queremos um Estado brasileiro que crie essas condições que o companheiro Lula criou. Podemos ter errado no processo da economia, em como equilibrar a economia ao Orçamento? Podemos ter errado, mas não da forma como tentam nos incriminar, nos condenar, pois foi na criminalização que se deu o golpe parlamentar, numa combinação da mídia, que tem um papel importante para fazer a tal da formação da opinião, repetindo diuturnamente e nos criminalizando: o Partido dos Trabalhadores é uma organização criminosa, e faz parte dessa aliança alguém do Judiciário para confirmar. A palavra de um juiz no Brasil, hoje, dizendo que você é criminoso, é bandido, é óbvio que isso cria um ambiente de opinião pública para justificar aquilo que a elite brasileira fez no nosso País. Se não conseguem o poder na democracia, vai pelo golpe, golpe político, golpe militar e golpe, agora, nessa combinação midiática, política, jurídica para criminalizar quem estava no poder.

    Nós erramos em algumas coisas? Erramos. Acho que o Partido errou em não fazer uma reforma política para resolver o problema do financiamento, e acabamos fazendo a captação de recursos do financiamento das campanhas da mesma forma como eles faziam há séculos. Mas só nós somos os criminosos hoje. Para isso, ele trabalha com o Judiciário, fazendo a seletividade das acusações.

    Então, como não conseguiram ganhar quatro vezes da gente no processo democrático, processaram uma conspiração política pela maioria no Congresso Nacional para tirar, num primeiro momento, a Presidenta da República.

    O impeachment é apenas um passo desse processo que a elite brasileira está implementando no nosso País. O próximo, que já estão fazendo, é condenar o Lula. E, se não puderem prendê-lo, vão tirar, de alguma forma, a candidatura dele em 2018, porque sabem que, se o Lula vier nas condições democráticas da disputa política, não haverá quem dispute conosco e ganhe as eleições. Precisam criminalizá-lo e prendê-lo, e, se não houver força para prendê-lo, vão eliminar a candidatura dele. Esse é um passo. O outro passo maior que a elite brasileira está fazendo é mudar o Estado brasileiro que estávamos implementando, um Estado social, com uma economia com distribuição de renda e com oportunidade para todos.

    Infelizmente, eu acho que, no governo Lula, as condições internacionais permitiram serem implementados alguns avanços na nossa economia, mas, já no governo Dilma, principalmente na metade do primeiro governo para o segundo governo, os problemas da economia mundial entraram em crise profunda, acertando muito fortemente a nossa economia, o que criou esses problemas e tudo por aí.

    Qual é a nossa saída? Existe diferença entre a saída que a Senadora Ana Amélia propõe e a nossa da saída. A saída deles é o Estado mínimo, é a redução. Aí, vêm com um discurso de que tem que cortar gastos e tem que cortar um conjunto de coisas, porque é a visão do Estado mínimo, para favorecer uma economia baseada na rentabilidade, no processo que o capital financeiro hoje exporta para o mundo, para os países em desenvolvimento etc.

    Então, o que acontece? Tem que cortar gastos. Então, fazer universidade para pobre, na visão deles, é gasto; para nós, não, é investimento. Então, existe diferença no Estado que pensamos, na visão de resolver os problemas das crises. Existe crise econômica no nosso País? Existe, mas não é o caos, como pregaram para justificar o impeachment. Não é o caos. Está aí: mesmo com o próprio instrumento maior de corrupção que aconteceu por dentro da Petrobras, a Petrobras está viva, criando condições de se transformar, de novo, numa das empresas mundiais, como nós construímos no nosso governo, com a questão do pré-sal e tudo mais.

    Qual é a visão daqueles que estão do lado do Governo atual, imposto pelo processo do impeachment? É uma visão do Estado mínimo, de que tem que entregar as nossas riquezas, porque tem que chamar os grupos políticos internacionais para virem ajudar a desenvolver o nosso País com o dinheiro deles. Eles vêm tomar conta das riquezas que nós queremos.

    O que custa menos para os Estados Unidos? É gastar trilhões e trilhões de dólares para poder dominar os campos petrolíferos na região árabe, onde há os grandes campos petrolíferos, ou comprar aqui a Petrobras, a preço de banana, e poder dominar o processo do pré-sal? Então, é isso que está em jogo.

    Infelizmente se colocou em xeque a democracia do nosso País, porque este processo que eles vão querem impor vai ser dessa forma autoritária. Estão aí os exemplos da forma como tratam os estudantes brasileiros, porque estão brigando por uma educação mais qualificada e melhor para preparar os nossos jovens. Estão se movimentando, porque, se o Governo vem com a discussão de que, para corrigir a economia, tem que cortar gastos na educação e na saúde, é claro que uma sociedade que já conquistou isso, que avançou nessas conquistas tem que se movimentar, tem que brigar para que isso não aconteça, seja de que governo venha.

    Agora, a forma de reagir, nessa forma autoritária, coloca em xeque a democracia do nosso País, uma conquista tão fundamental para o processo de resolução de um país como este, deste tamanho, rico e que tem condições de sair das crises econômicas e de dar oportunidades, cidadania e dignidade para todos.

    Por isso, é fundamental que a base dessas relações seja a democracia e não um processo autoritário, como as velhas elites fazem e fizeram em nosso País.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Senador, se me permite, gostaria... Fui citada por V. Exª.

    O SR. PAULO ROCHA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – Todo o tempo.

    Falei em seu nome, porque queria, exatamente, fazer essa diferença, Senadora Ana Amélia. Nós respeitamos aqui, temos uma relação de boa convivência, mas há diferenças fundamentais entre aquilo que a senhora representa aqui, o Estado brasileiro, a visão econômica que a senhora representa, e nós. O que não aceitamos é que essas divergências sejam eivadas de acusações ou de criminalização.

     Não acho que o seu Partido, ou PSDB, ou PMDB sejam organizações criminosas. Não acho. O PT não é uma organização criminosa, não sou criminoso. Ao contrário, a senhora nos conhece aqui, na convivência como pessoas. Somos de bom trato, somos pessoas educadas, somos pessoas humanas, temos sentimentos profundos de humanidade. Não aceitamos essa ideia de que, agora, estejamos sendo criminalizados, tratados como bandidos, como criminosos.

    Fomos nós que nos movimentamos para conquistar esta democracia, inclusive para estabelecer aqui, ter um operário, uma grande Senadora que a senhora é, para podermos debater os assuntos e os problemas do nosso País, mas não com acusações, com criminalização, como estão fazendo com o nosso Partido e com o cerco que se faz ao companheiro Lula.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Posso falar, Senador?

    O SR. PAULO ROCHA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – Por isso, o meu discurso, minha intervenção homenageando o companheiro Lula nos seus 71 anos, que hoje faz.

    Ouço, com atenção e com respeito, a Senadora Ana Amélia.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – É possível, Senador Paulo Rocha, que o ex-Presidente Lula me conheça o suficiente para saber qual é o meu lado, qual é o meu caráter e qual é a minha forma de agir, quando era comunicadora e, hoje, como Senadora. Em primeiro lugar, quero cumprimentá-lo. Tenho um enorme respeito por V. Exª, porque tenho a convicção de que tudo que V. Exª disse, nessa tribuna, é no que V. Exª acredita. Eu quero lhe dizer também que sou a filha mais velha de uma família pobre. Eu só cheguei aonde cheguei, Senador Paulo Rocha, trabalhando e ralando muito. Eu saí de casa com nove anos de idade. Fui criada por uma senhora que me deu a primeira oportunidade, estudei em escola pública. Eu sei o que é a dor, eu sei o que é a dificuldade, porque fiz isso, quando muita gente não tinha coragem de fazer. Saí de casa com nove anos de idade, para poder estudar, porque, até então, eu não tinha estudado.

    Eu quero lhe dizer, Senador Paulo Rocha, que eu estudei em escola pública e só consegui chegar à faculdade também por bolsa de estudos. A primeira concedida por Leonel Brizola, que foi um grande amigo de Lula – Brizola conhecia Lula e Lula conhecia Brizola. Não fosse isso, eu não estaria possivelmente aqui. Fui avaliada pelos eleitores do Rio Grande do Sul quando obtive 13,4 milhões de votos. Se eu tivesse sido uma pessoa sem caráter, uma má profissional, uma pessoa preconceituosa, eu não teria obtido essa votação. Tenho aqui a responsabilidade de representar, com muito orgulho, as eleitoras e os eleitores do meu Estado. As minhas atitudes aqui são cobradas e fiscalizadas por eles e a eles eu devo satisfação, devo e deverei sempre. Quero lhe dizer também, Senador, que nunca o senhor ouviu da minha boca que o Brasil precisa de um Estado mínimo, o senhor nunca ouviu. O problema não é um Estado mínimo, ou um Estado máximo, ou um Estado médio, o que os brasileiros, que pagam tanto imposto, Senador Paulo Rocha, querem é um Estado que seja eficiente, porque, mesmo que o governo do Presidente Lula tenha feito tanto investimento em educação, cada exame do Enem demonstrou uma queda na avaliação da qualidade do aprendizado. Não adianta investir muito se o investimento não dá retorno em qualidade, meu caro Senador. Então, é isso que nós temos que discutir. E eu quero dizer ao senhor também o respeito que eu tenho por tudo de bom que o seu Partido fez. Não sou uma pessoa que ignora os avanços, ele ter continuado o Pronaf, ele ter criado o Bolsa Família, mas faltou a fiscalização, se as pessoas verdadeiramente necessitadas estavam precisando receber aquele recurso. Essa é a questão, Senador, simplesmente essa é a questão. Eu aqui nunca falei que o Partido é um bando criminoso, nunca falei, até porque o meu Partido tem vários Parlamentares envolvidos na Lava Jato, e a minha régua moral, para qualquer partido, a começar pelo meu, é a mesma, é a mesma. A regra é que ninguém, ninguém, nem nós, nem o Presidente da República, nem o Presidente do Supremo Tribunal Federal, nem o Presidente desta Casa ou do Congresso Nacional, ninguém, ninguém está acima da lei. Nós temos que entender que o País é outro, e o que está acontecendo hoje na Venezuela é uma demonstração clara de que o povo se mexe, o povo aprendeu a se mexer, a usar redes sociais, a se manifestar e a dizer o que quer. Eu estou aqui, Senador, com muito orgulho. Quando eu falo – usei a tribuna ontem – é para dizer: eu quero cumprimentá-lo, porque, pela primeira vez, eu estou ouvindo um Líder do Partido dos Trabalhadores, um Senador do Partido dos Trabalhadores reconhecer – eu não diria com humildade, porque não há necessidade disso –, com um senso de realismo, os erros cometidos. Esse é um grande gesto e o senhor é a primeira pessoa que faz isso. Outro que ouvi falar isso foi Eduardo Suplicy, que teve 300 mil votos, eleito vereador no Estado de São Paulo. Então, Senador, quando eu avalio o resultado das urnas do dia 2 de outubro é para dizer que as urnas deram livremente, livremente autonomia pelo voto secreto, pelo voto direto e deram uma demonstração do que pensavam a respeito do seu Partido, simplesmente isso. Eu não disse que o Partido tinha cometido crime; em nenhum momento, falei em Partido criminoso. Eu tenho esse respeito, porque tenho aqui o dever institucional de ter respeito com os meus pares, pois a sua legitimidade é a mesma minha, da Senadora Gleisi Hoffmann, de qualquer Senador aqui: tenha maior ou menor votação, a legitimidade é a mesma. Por isso, eu quero aqui reafirmar o meu compromisso de estar defendendo não isso que se fala, de que eu sou defensora do Estado mínimo, mas, sim, um Estado eficiente. É isso que o brasileiro, que paga tanto imposto, está querendo. E agradeço a V. Exª pela manifestação que fez no reconhecimento dos equívocos cometidos, no que isso tenha seguramente resultado. Não votei no impeachment para tirar a ex-Presidente Dilma e colocar o Temer. Não votei por isso. Votei pelos erros cometidos no passado. Se Temer cometer erros como foram cometidos, terá de mim o mesmo tratamento e a mesma postura. Quero lhe dizer também que não há tolerância. Eu não posso. Procure, no Governo Federal, em algum lugar, algum cargo remunerado do Governo que eu tenha indicado. É exatamente para eu ter a independência de poder aqui, de cabeça erguida, ter essas atitudes que eu tenho por convicção e em respeito aos eleitores que me colocaram no Senado Federal. Agradeço muito ao senhor pela oportunidade que me dá de fazer este esclarecimento.

    O SR. PAULO ROCHA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – Senadora Ana Amélia, eu tenho o maior respeito pela senhora, pelo nível do debate em que temos discutido os problemas que caem aqui para nós, principalmente nas comissões. Eu não sou muito de debater aqui no plenário; eu sou lá das comissões, onde estão sendo discutidas as coisas mais tranquilas e concretas para solucionarmos os problemas do nosso País.

    Mas é duro, Presidente. E não havia como não ser esse o resultado. A senhora é da área de comunicação. Com o massacre midiático que fizeram contra o PT, não haveria outro resultado que não fosse esse das eleições. Há um objetivo, que é acabar com o PT, mas não vão acabar com o PT.

    O PT é um dos únicos partidos ou dos poucos partidos que nasceu de baixo para cima. Mesmo alguns partidos de esquerda no Brasil, os partidos comunistas, foram criados de cima para baixo. O nosso Partido, não, foi de baixo para cima, discutido lá embaixo, com trabalhador, com peão etc. É por isso que criou condições de eu, um operário, de uma família pobre do interior – minha mãe teve 17 filhos, sem condição de sustentar um –, virar Senador da República. Estou aqui no mesmo nível dos grandes Senadores. Por que se deu a oportunidade? Via o processo da democracia.

    Então, uma coisa para lhe responder: nós não temos nada a ver, no sentido da concepção, com Venezuela. Nós nascemos críticos de Cuba. Nós nascemos críticos da União Soviética. Sabe por quê? Porque têm essa visão autoritária de governar; e nós decidimos que, no nosso Partido, em 1985, num debate acirrado, nós íamos ser vocacionados pelo poder via democracia. E nós somos exatamente esse processo democrático. Nós brigamos e lutamos pelo processo da democracia no nosso País. Então, nós não queremos, e nós lutamos tanto para isso...

    Aproveitando que chegaram os estudantes aqui, nós não concordamos com que, como a Presidenta Gleisi denunciou no início aqui da sessão, os alunos da mesma idade desses aí, 14 ou 15 anos, sejam algemados, carregados num ônibus, porque estavam dentro da escola resistindo por uma educação de qualidade.

    Então, somem-se a nós contra isso tudo, contra esse estado de coisas. Implementar uma política de corte de orçamento da forma como estão implementando, aproveitando momentaneamente uma maioria parlamentar que está sendo colocada aqui, sem nenhum debate mais profundo, sem discutir com a sociedade, com os interesses daqueles que estão colocados...

    Isso é uma conquista da sociedade. Educação, mais universidades, mais estruturas para a saúde, o Programa Mais Médicos, isso é uma conquista da democracia e da sociedade. E um Governo de plantão não pode cortar assim de uma hora para outra. Ele tem que discutir saídas com essa própria sociedade. A saída é corte ou resolver o problema de criar uma reforma tributária com as condições: quem tem muito paga muito; quem tem pouco paga pouco; e quem não tem recebe? É esse o grande momento em que tínhamos que avançar na democracia, em governos que nós conquistamos. Mas não. Vem um Governo que, por causa de uma maioria parlamentar, criou as condições do impeachment da Presidenta e agora implementa políticas de corte, políticas que estão colocando em xeque não só a democracia, mas os avanços que conquistamos nessa democracia.

    Por isso, agradeço o seu aparte. Temos muito a discutir aqui. Senadora Ana Amélia, eu acho que hoje o melhor ambiente para discutir é aqui. Eu chamo a responsabilidade para o Senado brasileiro. Acho que na Câmara Federal as coisas estão muito polarizadas e tumultuadas, com todo o respeito à Câmara Federal. Para enfrentarmos as dificuldades do nosso País, os problemas da nossa economia, do nosso desenvolvimento e os problemas da crise política no nosso País, o lugar é aqui. Acho que o Senado Federal está mais preparado para enfrentar esses desafios que estão impostos ao nosso País.

    Por isso, Presidenta, agradeço a atenção e a benevolência do tempo.

    Era isso que eu tinha a dizer. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/10/2016 - Página 5