Discurso durante a 160ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Saudação à ex-Senadora Serys Marly Slhessarenko por lutar em favor da educação.

Preocupação com o futuro da educação no País.

Autor
José Medeiros (PSD - Partido Social Democrático/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Saudação à ex-Senadora Serys Marly Slhessarenko por lutar em favor da educação.
EDUCAÇÃO:
  • Preocupação com o futuro da educação no País.
Aparteantes
Gleisi Hoffmann.
Publicação
Publicação no DSF de 28/10/2016 - Página 20
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • ELOGIO, SERYS SLHESSARENKO, EX SENADOR, MOTIVO, LUTA, FAVORECIMENTO, EDUCAÇÃO.
  • APREENSÃO, FUTURO, EDUCAÇÃO, PAIS, ENFASE, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), QUESTIONAMENTO, CONTINUAÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, COMPETIÇÃO, ALUNO, AMBITO INTERNACIONAL, CARENCIA, INTERESSE, DESLOCAMENTO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, AUSENCIA, APRENDIZAGEM, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, ENSINO, COMENTARIO, DEFASAGEM, BRASIL, COMPARAÇÃO, BRASIL RUSSIA INDIA CHINA E AFRICA DO SUL (BRICS), PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), DEFESA, DISCUSSÃO, REFORMULAÇÃO, ENSINO MEDIO, PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO (PEC), ASSUNTO, LIMITAÇÃO, GASTOS PUBLICOS, REGISTRO, REALIZAÇÃO, DEBATE, MATERIA, LOCAL, COORDENADORIA DE ASSUNTOS ECONOMICOS (CAE), INICIATIVA, GLEISI HOFFMANN, SENADOR, ELOGIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Muito obrigado, Senador Paulo Rocha. Agradeço pelos mais dez minutos.

    Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos os que nos acompanham pela Rádio e TV Senado, o Senador Paulo Rocha agora há pouco falava e quero aqui rememorar e parabenizar a Senadora Serys, que esteve aqui nesta Casa por oito anos, muito bem representando o Estado de Mato Grosso, e que foi candidata agora nas eleições no primeiro turno em Cuiabá. Foi uma grande lutadora pela educação. Lembrei-me dela justamente porque, no Brasil inteiro agora, nós estamos tendo um debate sobre a educação, sobre a reforma do ensino. Chamei a atenção justamente para a pessoa da ex-Senadora Serys, justamente porque ela sempre foi uma lutadora por um ensino melhor. Lá no Mato Grosso, ela era uma espécie de Cristovam Buarque, lutando pela educação, e uma luta que tem de ser de todos nós, justamente porque o nosso País não tem como não ser protagonista no cenário mundial, até pelo seu tamanho, pela sua riqueza.

    Eu moro num Estado que reflete muito bem a necessidade de investirmos em produção de conhecimento. Mato Grosso, como todos sabem, tem o maior rebanho de gado deste País, é o maior exportador de carne, é o maior exportador de soja, é o maior exportador de milho, é o maior produtor de milho de pipoca, é o maior exportador de diamante. É um Estado que tem um imenso potencial, mas tudo na produção de commodities. E isso tem um ciclo, isso passa, Senador Paulo Rocha.

    E nossa preocupação, depois disso, é sobre o futuro do Estado de Mato Grosso e mesmo do Brasil. Qual será o futuro do nosso País? Nós continuamos como se estivéssemos lá no início da nossa história. Continuamos produzindo alguma coisa para exportar. Já exportamos pau-brasil, já exportamos café, já exportamos açúcar; hoje exportamos soja e outros produtos. Está na hora de começarmos a produzir também conhecimento.

    Nós fazemos parte dos BRICS – Brasil, China, Índia, Rússia, África do Sul. Mas o interessante é que, em termos de educação, em termos de produção de conhecimento, nós estamos muito atrás desses países. Ano após ano, nossa educação não alcança os índices. Nós não temos produzido nada de efetivo. Nós não temos um Prêmio Nobel. Só a Universidade de Stanford tem em torno de 17. Então, nós precisamos realmente fazer alguma coisa.

    É lógico que temos os debates, as nossas brigas – vamos dizer – de cunho ideológico e tudo. Mas ninguém, ninguém nega que precisamos de um outro modelo.

    Agora, temos aqui o grande desafio. Veja bem, eu sempre faço essa comparação. Os Estados Unidos tem uma cidade chamada Detroit, que todos conheciam. Até quem jogava joguinhos na década de 80 lembra-se dos joguinhos de corrida que remetiam à cidade do automóvel.

    Detroit era o ápice. Depois, surgiu o Vale do Silício, na Califórnia, que produzia conhecimento. Esse telefone aqui, por exemplo, tem duzentas patentes, nele é condensado esse conhecimento, e é exportado para o mundo inteiro. Produzem conhecimento. O pessoal fala: "Ah! A China é que fabrica". Sim, mas boa parte do conhecimento sai do Vale do Silício. Vale lembrar que, hoje, Detroit está quase uma cidade fantasma. O ciclo do automóvel passou, e a cidade não produziu outra saída.

    Essa é a minha preocupação com o Estado de Mato Grosso, porque, depois da soja, o que virá? Essa foi uma provocação feita pelo Senador Cristovam numa palestra no Estado. Será que seremos uma Olinda ou Ilhéus, que foram grandes polos econômicos do País e depois não deram continuidade ao ciclo? Essa é a grande preocupação.

    Os nossos alunos de hoje terão chance de competir no mercado internacional? Seremos competitivos? São perguntas que nos inquietam. Se fizerem uma pesquisa, perguntando aos alunos, por volta de 6h30, quando eles estão se deslocando para a sala de aula: você está indo com alegria, com vontade de aprender? Creio que o número será bem baixo.

    Outra coisa: os nossos alunos estão estudando para aprender ou estão estudando para a prova? Sei que temos de ter um meio de aferir o conhecimento, mas me preocupa quando meu filho, num domingo à noite, diz: "Nossa! Esqueci que tinha de estudar para a prova". Ele está perdendo tempo indo à sala de aula. Se você está estudando para a prova, está perdendo tempo. Sabe por quê? Há gente que pensa que vai à escola para aprender. Não, não estamos indo à escola para aprender. Na escola, você pega o conteúdo e, em casa, você aprende, fazendo aquela velha e sagrada tarefa de casa. Mas há pais, hoje, que até ficam bravos quando o professor passa muita tarefa ou, então, dizem: "Olha, a escola não deveria marcar um monte de prova na mesma semana". Por que não? "Porque eles têm de estudar para a prova". Se, na época do vestibular, do Enem ou qualquer concurso, você for estudar na noite anterior, você está morto, você está fora. A vida aqui fora é dura. E boa parte dos nossos alunos, Senador Paulo Rocha, está perdendo o tempo na sala de aula, porque a escola ficou chata. Temos alunos do século XXI, professores do século XX, e um sistema de ensino que nem sei de que século é, mas é bem atrás.

    Como as escolas geralmente proíbem o uso do smartphone hoje, boa parte dos alunos o esconde entre as pernas. Eu tenho um amigo, professor, que diz: "Eu sei quando os alunos estão no smartphone." Um de seus alunos perguntou: "Como o senhor sabe? E ele: "Ninguém fica olhando para a genitália e rindo". Ele fica ali com o smartphone escondido, e por quê? Porque a escola deixou de ser interessante. O que temos de fazer? Não dá para continuar assim, porque estamos gastando uma fortuna com educação. Mas essa relação quantidade de dinheiro versus qualidade de ensino não tem se refletido na realidade.

    Por mais que digam: olha, nós precisamos de dinheiro para a educação! Precisamos. Nós precisamos investir em educação. Nós precisamos muito de conhecimento, mas o que estamos fazendo com esse dinheiro? Os alunos estão indo lá para aprender? Essa é a grande pergunta.

    Hoje, nós pais, professores e todo mundo na sociedade estamos indo pelo caminho errado. Boa parte dos pais não exige mais que as crianças façam o dever de casa. E não sou eu que estou dizendo. Os neurologistas dizem que nós temos uma memória de longo prazo e uma memória de curto prazo. E aí o que acontece? O aluno vai, pela manhã, para a escola, assiste à aula e vai para casa dormir, assistir a desenho, ou ir para o Youtube; no outro dia, ele já pega outra matéria e, 15 dias depois, vai estudar aquela matéria para a prova. Ele já esqueceu tudo, já esqueceu tudo.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Aí ele estuda para a prova. A matéria entrou na memória de curto prazo. Ele fez a prova, acabou. Eu desafio um professor a dar uma prova hoje e, na próxima semana, ou três dias depois, dar a mesma prova. É muito provável que boa parte da sala não vai ter a mesma nota. Sabe por quê? Porque ele estudou para aquela prova.

    E aí eu pergunto ao engenheiro, ao médico, seja lá quem for, ao aluno que está estudando: quanto do conhecimento que ele teve durante todo o ano ele reteve? Reteve 10%, 15%? O ideal seria 100%. Não tenho números para dizer isso, mas arrisco dizer que não ficam retidos 20%. Boa parte é esquecida logo depois, porque, a cada dia, o cérebro faz uma limpeza. Nosso cérebro tende a reter só o que ele considera importante. Como nós não fixamos aquele conhecimento logo em seguida, a tendência é o cérebro varrer para a lata de lixo. Essa eu creio que seja uma das causas de estarmos entre os retardatários em termos de índices educacionais pelo mundo inteiro.

    Isso é uma tragédia muito mais grave do que qualquer coisa. As pessoas falam: olha, a corrupção grave! É grave. A corrupção traz problemas para o País. Agora, um país sem educação, um país sem conhecimento é uma tragédia sem tamanho. Sabe por quê? Porque você tem uma desigualdade, você passa a competir no mundo e é como se os outros que têm uma boa educação, que tenham produzido conhecimento estivessem numa Ferrari, e você estivesse num Fusquinha, que gasta muito, mas rende pouco. Essa é a grande dificuldade que nós temos hoje.

    Então, não temos produzido muita coisa relevante em termos de tecnologia. Também não temos produzido nada que tenha impacto no cenário mundial em termos de conhecimento. E olha que nós sempre tivemos vocação, o nosso povo é criativo. Eu tive a grata satisfação de receber a Medalha do Mérito Aeronáutico e vi uma apresentação da Aeronáutica remetendo à descoberta do avião, à invenção de Santos Dumont. Vi os modelos: o Demoiselle, o 14 Bis, e fiquei imaginando que nós temos vocação, porque o nosso povo tem criatividade. Agora mesmo, o Brasil, através da Aeronáutica, terminou o avião KC-390. Então, se nós focarmos, se tivermos um projeto de reforma de ensino, nós vamos para a frente. Mas precisamos fazer isso com um debate claro, um debate honesto.

    Há muita gente dizendo: olha, vão acabar com o ensino, o que, na verdade, é uma falácia. Eu vejo muitos alunos estão invadindo escolas, mas eu tenho certeza de que eles não leram essa reforma do ensino. Sabe por quê? Porque essa reforma vem sendo discutida há 20 anos por técnicos de todas as matizes políticas e principalmente especialistas na área. A proposta, essa medida provisória diz justamente o quê? Que o aluno é quem vai escolher. Sabe para quê? Justamente para o aluno ter a chance de fazer matérias de que ele gosta: "Ah, eu quero trabalhar com sociologia, mas não quero filosofia. Eu quero trabalhar com exatas, mas não quero biologia. Eu quero trabalhar com o mesmo currículo que havia antes". Então, você vai fazer o mesmo currículo. É o direito de escolha.

    Neste momento, aqui no Senado, nós passamos por um processo histórico.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – Deixe-me interrompê-lo, Senador?

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Pois não, Senador.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – O senhor estava falando em educação, e é importante registrar a presença dos alunos do Projeto Social Qualifica Vida, do Instituto Brasileiro Pró-Educação, Trabalho e Desenvolvimento, aqui de Brasília. Sejam bem-vindos. Vocês estão assistindo a uma sessão de pronunciamentos, que nós chamamos de não deliberativas. Portanto, é a oportunidade de os Parlamentares fazerem seus debates aqui dos assuntos que se tornam mais prioritários. Bem-vindos!

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Muito obrigado.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Então, nós temos aqui justamente a oportunidade de ouro de tratarmos de temas importantes. Estamos tratando do nosso limite de gastos, que também vai ser um debate grande aqui. A PEC acaba de chegar aqui ao Senado. Nós estamos debatendo reforma do ensino, debatendo limite de gastos e vamos ter um final de ano histórico aqui no Brasil de discutirmos fatos da vida nacional.

    Eu não tenho dúvida de que o debate precisa ser feito acima de tudo – acima de tudo, Senador Paulo Rocha – sem ideologia em cima, mas pensando no País. Nós estamos com muita briga ideológica, muita briga partidária, mas não temos pensado, às vezes, num país que precisa evoluir.

(Interrupção do som.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Muito obrigado, Senador Paulo Rocha.

    Aqui, Senador Paulo Rocha, quero também fazer o registro de que nesse momento está havendo o debate – a Senadora Gleisi, principalmente, está fazendo um debate ali na CAE – e eu tenho conversado com alguns Senadores. Nós temos de ir ali fazer esse debate. Por quê? Principalmente nós que fazemos parte da Base do Governo, porque nós temos uma minoria muito organizada. Aqui nós fazemos debates duros – eu digo com a zaga anterior da Presidente Dilma, que é uma minoria muito organizada, e nós da Base do Governo precisamos fazer o quê? Esclarecer essas medidas; se não, nós vamos ganhar no voto aqui e perder nas ruas. É importante que o povo brasileiro compreenda isso. Eu não critico o papel. Às vezes, temos debates duríssimos, e as pessoas pensam que eu sou inimigo da Senadora Gleisi. Pelo contrário, ela é uma adversária muito forte, e eu estou aprendendo muito aqui. Quero até fazer um esclarecimento, porque, depois de ver a fita, falei: "Por que a Senadora Gleisi ficou tão brava nesses dias?" Senador Paulo Rocha, o Senador Cristovam tinha dito o seguinte: "Nós temos de acabar com a mentira!" E eu fiz uma provocação aqui e falei: "Então, vai acabar com o PT". Eu vi que ela ficou brava de lá e fui rever a fita. Eu quero fazer este esclarecimento: jamais quero que o PT acabe, até porque o PT faz parte dessa história. Eu dizia, há pouco, dos embates que o PT sempre levantou. É um partido histórico, e, lógico, têm de haver partidos orgânicos. O PT tem demonstrado que é aguerrido tanto quando está na situação quanto quando está na oposição, principalmente quando está na oposição. Por isso é que eu falo: "Precisamos reorganizar o nosso time, ou essa maioria organizada vai perder para esses quatro aqui".

    Concedo a palavra à Senadora Gleisi Hoffmann.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – Quatro não, dez.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Dez.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Agradeço o aparte concedido por V. Exª. Que bom essa sua colocação sobre seu espírito democrático, porque realmente me preocupou muito quando V. Exª falou que tinha de acabar com o PT. Divergências nós vamos ter sempre, até porque a sociedade é plural, mas também jamais acho que tenhamos de acabar com qualquer partido de direito com o qual eu não concorde. Os partidos têm direito a existir, e o debate é fundamental para a democracia e para o avanço da sociedade. Mas eu pedi o aparte, Senador, justamente por conta do debate da PEC 241, que agora é a PEC 55, no Senado. Nós temos de nos acostumar com o novo número, a PEC 55.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – PEC PSD.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – É o número do PSD. E a importância que é debater. Eu quero lamentar porque, nas duas últimas audiências públicas que nós fizemos na CAE, o Governo não mandou nenhum representante. Nós ficamos apenas com os expositores contrários e críticos à PEC. E isso é muito ruim para o debate, porque, como disse V. Exª, nós precisamos ter um debate e o Governo tem que esclarecer por que está optando por cortar só despesa, não mexer na progressividade tributária, não cortar juros e despesas financeiras. E não havia ninguém. Uma outra situação que foi ruim é que nós tivemos até um questionamento por parte de um Senador da Base do Governo de que não poderíamos realizar aquela audiência pública, porque era uma audiência pública que tinha sido convocada para tratar da progressividade tributária e nós colocamos a progressividade tributária como uma alternativa à PEC. E os dois expositores que foram lá fizeram exposições brilhantes sobre a progressividade tributária, mostrando quão injusto é o nosso sistema tributário hoje, em que o pobre paga mais imposto do que o rico. Só para V. Exª ter uma ideia, quando a gente pega o Imposto de Renda, quem ganha até R$24 mil por ano tem isenção do Imposto de Renda de apenas 7,6%. Quem ganha mais de R$1 milhão por ano, média de R$4 milhões, tem isenção de 87%. É uma injustiça! Então, nós estamos cortando as despesas que são medidas progressivas para enfrentar a pobreza, a fome, para enfrentar a diferença de renda que nós temos no Brasil, e não estamos mexendo com os ricos. É o andar debaixo, são os pobres que vão pagar a conta. Isso é tão claro que até a nota da CNBB, que eu li dessa tribuna hoje, deixa isso explícito. Mas eu quero contar com V. Exª. Sei da posição de V. Exª, sei que V. Exª é a favor da PEC, mas que a gente possa fazer um debate na CAE sobre essa PEC. Nós não vamos ter agora, dia 1º, que é terça-feira, audiência pública, porque infelizmente o requerimento que eu apresentei na reunião passada, retrasada – eu não estava, tinha ido a uma missão fora –, não foi aprovado. O Senador Raimundo Lira não quis colocar para votação, então nós não temos audiência pública. O que eu estou sugerindo? Nós temos uma pauta deliberativa. Toda pauta deliberativa da CAE ou cria despesa, ou cria uma renúncia tributária. Não existe outro jeito, ela fala sobre despesas e receitas, tem impacto no Orçamento da União. Não há como deliberarmos sobre esses temas, se isso é objeto de uma mudança profunda no Orçamento da República. Então, a minha proposta: eu quero fazer um comunicado à CAE, no início da reunião – por isso, eu estou falando com V. Exª e queria pedir esse apoio –, sobre a PEC 55, que veio para o Senado, para que possamos, entre os Senadores, debatê-la. Nós não vamos ter ninguém de fora, mas que os Senadores possam procurar colocar suas dúvidas, suas impressões, que nós possamos esclarecer. Podemos até ter técnico da Casa, que possa falar e possa esclarecer, mas que usemos esse espaço da CAE, para fazer esse debate, porque eu não tenho dúvida, Senador José Medeiros, de que essa é a matéria mais importante que nós temos para debater no Senado da República. Não há outra. Ela mexe com a vida do povo brasileiro, ela mexe com a Constituição Federal, ela mexe com a estrutura das finanças públicas. Qualquer outro tema que nós vamos debater na Comissão de Assuntos Econômicos é muito, muito, muito pequeno perante esse tema. E é um tema que já, na próxima semana, vai ser debatido numa audiência pública conjunta da CAE e da CCJ. Eu já conversei com o nosso presidente da CCJ a esse respeito e vai ser votada já no dia 9 na CCJ. Então, eu queria contar com V. Exª. Sei que V. Exª tem posição favorável à PEC, mas quero contar com V. Exª, pelo espírito democrático que V. Exª tem, para que possamos travar esse debate, essa discussão, nos mais amplos lugares de debate que nós temos como fazer aqui nesta Casa, que é o Senado da República.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Agradeço o aparte, Senadora Gleisi, e acho muito interessante a discussão da PEC até para esclarecermos, porque eu vejo muita gente assim: "Eu não conheço e não gosto". E é importante a pessoa saber do que trata a PEC, até para tomar uma posição.

    Eu não tenho dúvida de que talvez o grande culpado de estarmos neste momento, nesta discussão, seja Cabral. Eu acho que ele devia ter trazido já nas caravelas a PEC 55, Senador Paulo Rocha, e explico o porquê. Nós, ao longo do tempo, nos acostumamos com que podíamos tudo. Eu vou dar um exemplo da capital do meu Estado, Cuiabá. Nós temos, Senador Paulo Rocha, o esqueleto de um VLT. Optaram por fazer um VLT, o sistema é o Velocity Transport Rapid – enfim, existe um termo –, e o que acontece? Mais dois minutos e já termino, Senador Paulo Rocha. O que acontece? Esse VLT está lá arrebentando a cidade, está lá uma cicatriz no meio de Cuiabá. Não sei quando vai ficar pronto. Custa mais de um bilhão. Construiu-se um estádio. E nós fizemos isso agora, durante a Copa. Eu não estou falando que a Copa foi uma coisa ruim – aliás, tirando o 7 a 1, a Copa foi uma coisa boa –, mas a grande pergunta é: nós tínhamos dinheiro? Daqui para a frente, com a PEC de limite de gastos, nós vamos ter que começar a escolher as nossas prioridades.

    Quanto à PEC, as pessoas falam: "Vão cortar aqui, vão cortar ali". A PEC não corta nada. A Proposta de Emenda à Constituição nº 55 diz apenas que vai haver um teto de gastos, que não vamos gastar além daquilo e que vamos ter que condensar, começar a escolher as prioridades.

    Até agora, tudo para nós era prioridade, mas nós tínhamos uma vida irreal, uma vida virtual, uma vida financeira virtual no País. Tudo era prioridade, e acabava que nada era prioridade.

    Nós gastamos muito com a nossa saúde, mas será que não temos que gastar melhor?

    Neste momento, está entubado, na minha cidade, um tio meu. Senador Paulo Rocha, ele, um homem saudável, da idade de V. Exª, muito novo ainda, foi ao pronto-socorro, há dois meses, sentindo uma dor. Deram um comprimido para ele e o mandaram para casa. Ele voltou, na mesma semana, ainda com dor. O médico olhou para ele, deu mais um comprimido e o mandou para casa. Pela terceira vez, ele foi ao hospital, e receitaram mais um comprimido. Por fim, quando ele voltou, já estava passando muito mal – uma pedra na vesícula havia descido para o pâncreas. Ontem, tivemos a notícia de que o pâncreas dele derreteu e que ele está com sérias dificuldades de saúde.

    Nós pagamos um dinheiro terrível, caríssimo por esse sistema básico, mas eu pergunto: funciona? Se alguém quebrar a coluna... Vou dar outro exemplo. No final de semana, recebi um telefonema – o Senador Paulo Rocha, com certeza, recebe desses telefonemas muitas vezes – com uma pessoa pedindo UTI. Não há UTI no País em lugar nenhum, há falta de UTI. A pessoa falou: "Olhe, é preciso fazer uma cirurgia urgente, porque fulano quebrou as vértebras C1 e C4 e está sem os movimentos. Mas o médico disse que há como recuperar, se fizer uma cirurgia urgente." Eu falei: "No final de semana, não há como. Essas coisas são feitas por fila no SUS, mas vamos ver, na segunda-feira, o que podemos fazer." Na segunda-feira, liguei para pegar os dados e ver o que podia fazer, e a pessoa me disse: "Não, ele faleceu."

    Estou contando esses dois casos aqui para ver como funciona o nosso sistema, porque todos os gastos que nós estamos tendo não estão sendo eficazes.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Os serviços não estão chegando.

    Já concluo, Senador Paulo Rocha.

    Então, o povo não está satisfeito com a educação, não está satisfeito com a saúde e quer que alguma coisa aconteça.

    Essa PEC tem uma importância; ela pode não ser perfeita, mas ela tem uma importância. Ela vai nos forçar a fazer o debate da reforma tributária, que a Senadora Gleisi citou aqui; ela vai fazer com que nós mexamos nesse Pacto da Federação; ela vai fazer com que nós condensemos.

    O que é importante? Bom, nós precisamos ter segurança nacional – aqui está nos visitando um dos comandantes da Aeronáutica, o representante parlamentar. Nós temos as Forças e precisamos ter a proteção do País, precisamos ter segurança, precisamos ter saúde e educação. Então, nós vamos investir nessas áreas. Precisamos de uma fronteira bem protegida para termos segurança dentro do País. Portanto, vamos investir nessas áreas.

    Podemos construir estádios bonitos?

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Não, não podemos, porque nós não temos dinheiro. Aí nós vamos começar a ter um modelo de País. Vamos fazer o debate, sim.

    Então, fica aqui a minha fala, Senador Paulo Rocha, neste dia. Agradeço muito a V. Exª por ter concedido o tempo. Faço essa fala justamente preocupado, porque nós temos muitos desafios pela frente. Vamos fazer o debate político e vamos fazer com que este País possa andar nos trilhos que ele merece.

    Terminando, aproveito para registrar a realização, no meu Estado, da Festa do Boi, na cidade de Mirassol. Mando um abraço ao Prefeito Elias Leal e agradeço a todos que acompanharam nossa fala.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/10/2016 - Página 20