Discurso durante a 165ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao Governo do Estado de Sergipe pela não construção do hospital do câncer.

Autor
Eduardo Amorim (PSC - Partido Social Cristão/SE)
Nome completo: Eduardo Alves do Amorim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO ESTADUAL:
  • Críticas ao Governo do Estado de Sergipe pela não construção do hospital do câncer.
Publicação
Publicação no DSF de 09/11/2016 - Página 19
Assunto
Outros > GOVERNO ESTADUAL
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DE SERGIPE (SE), MOTIVO, RESPONSABILIDADE, CRISE, SAUDE PUBLICA, AUSENCIA, CONSTRUÇÃO, HOSPITAL, TRATAMENTO, CANCER, CONTRADIÇÃO, APROVAÇÃO, DESTINAÇÃO, RECURSOS ORÇAMENTARIOS.

    O SR. EDUARDO AMORIM (Bloco Moderador/PSC - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Obrigado, Sr. Presidente, Senador Pastor Valadares, pela oportunidade.

    Sr. Presidente, Senador Pastor Valadares, Srªs e Srs. Senadores, ouvintes da Rádio Senado, todos os telespectadores da TV Senado, todos que nos acompanham pelas redes sociais, para muitos, o que me traz hoje a esta tribuna pode parecer até repetitivo e fruto de um repertório restrito, entretanto não vou me calar, enquanto pessoas morrem pela omissão, pela covardia de um governo. Essas mortes são fruto da irresponsabilidade, da insensibilidade, do desgoverno do Estado de Sergipe e são marcas do Governo daquele Estado. Até quando, Sr. Presidente, teremos que ver vidas sendo ceifadas pela omissão do Estado?

    Lamentavelmente, o que temos presenciado, em Sergipe, já há algum tempo – e quanto tempo! –, é o desrespeito e o desprezo a um dos preceitos constitucionais mais relevantes, mais sagrados da nossa Carta Magna, estabelecido no art. 196, que diz – abro aspas:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. [Fecho aspas.]

    Sr. Presidente, Sergipe tem sido notícia na imprensa nacional, reiteradas vezes, por conta do caos que está instalado na saúde pública do nosso Estado, a exemplo do Profissão Repórter da semana passada, e, ontem, o Jornal Hoje – ambos da Rede Globo – apresentou uma matéria que mostrou a morte de uma senhora de 58 anos, cujo tratamento contra o câncer de pulmão havia sido interrompido três vezes.

    D. Maria José Barreto morreu aos 58 anos. Ela era um dos milhares de sergipanos que dependem do Poder Público para o tratamento contra o câncer. Era professora, e, no ano passado, se aposentou por invalidez para cuidar do câncer de pulmão. Foram indicadas 18 sessões de quimioterapia. Ela começou o tratamento em fevereiro e deveria terminar em julho, mas, em março, o medicamento acabou e a quimioterapia foi interrompida. Em abril, o tratamento foi retomado, mas, em julho, o medicamento acabou de novo, e o desfecho dessa história, todos sabemos: a morte, a morte precoce.

    Quantas Marias, quantos Josés teremos que perder, Srªs e Srs. Senadores, até que o Governo de Sergipe seja sensibilizado? Quantos jovens e crianças continuarão morrendo precocemente por falta de assistência? Como podemos admitir que falte medicamento para quimioterapia e o aparelho de radioterapia – que há muito está obsoleto – passe mais tempo quebrado do que funcionando?

    Sabemos que o câncer é uma doença que necessita de um diagnóstico precoce e preciso, cujo tratamento deve ser, sobretudo, ininterrupto, pelo fato de que, a cada interrupção, é como se o ciclo de tratamento estivesse sendo iniciado. Isso representa, com toda certeza, perda de vidas.

    Esse Governo que lá está é assassino! É um Governo omisso! É um Governo covarde! É um Governo inepto! É inaceitável, Sr. Presidente: para a construção do Hospital do Câncer, em Sergipe, já foram destinadas seis emendas. Agora, este ano, indicamos a sétima emenda. Mais de R$180 milhões, nas seis emendas, e agora pedimos mais R$150 milhões, dos quais, com certeza, quase tudo foi perdido, porque nem uma parede sequer foi feita, nem um tijolo sequer foi colocado na obra até agora. É um Governo desumano.

    Srªs e Srs. Senadores, é muita insensibilidade – em verdade, maldade mesmo – com o povo sergipano. O projeto do Hospital do Câncer de Sergipe prevê a construção de 30 leitos para internação infantil, 120 leitos para internação de adultos, além de dez leitos de UTI para adultos e dez para crianças. Serão, ao todo, cinco andares; desses, três serão exclusivos para internação, dos quais dois pavimentes para adultos e um para crianças. Para aplicação da quimioterapia, os pacientes infantis contarão com mais de 20 leitos; e os adultos, com 43. Um pavimento será exclusivo para crianças, com espaço lúdico e brinquedoteca.

    Ainda, segundo o projeto, a unidade de saúde contará com um moderno centro de imagens, com dois aceleradores lineares, o que é pouco; dois tomógrafos; um aparelho de braquiterapia, o que é pouco; dois aparelhos de raios X; um aparelho de eletrocardiograma, o que é pouco; dois ultrassons, o que é pouco; um aparelho de cintilografia; um aparelho de ressonância magnética, o que é pouco; um PET-Scan; um mamógrafo digital, o que é pouco; e uma câmara gama.

    A unidade prevê também contar com um setor de fisioterapia, de enfermaria e de emergência, consultório para emergência, laboratórios exclusivos para pacientes com câncer, farmácia oncológica, uma central de esterilização, almoxarifados, enfim, o hospital, Sr. Presidente, já nasce pequeno, talvez fruto da pouca vontade ou da maldade do Governo que lá está. Mas nem isso, Sr. Presidente, foi feito, nenhuma parede foi construída até agora – e olhe que estamos travando essa luta desde 2010. Já foram seis emendas, quase todas elas perdidas; as duas primeiras, empenhadas. Estamos indo para a sétima emenda. O que explicar de uma situação como essa, enquanto milhares de sergipanos perdem suas vidas precocemente?

    Vou lhes confessar uma coisa, Sr. Presidente: o que mais me causa dor – e como médico especialista em dor – e revolta é saber que recursos não faltaram; o que falta, de fato, é vontade política, é disposição do Governo e do Estado para fazer. É por isso que eu digo que é um Governo covarde, porque não se coloca no lugar daquele que está numa fila de uma quimioterapia ou de radioterapia com um aparelho obsoleto. É um Governo covarde, frouxo, irresponsável e inconsequente, porque não valoriza a vida, nem a vida daqueles que conseguem entrar nos hospitais e, quando lá chegam, não tem os medicamentos, como D. Maria; nem a vida daqueles que tiveram que ser atendidos do lado de fora dos hospitais, sobretudo numa tenda emprestada do Exército, como a que estava lá até a semana passada; nem a vida daqueles que estão nas ruas, daqueles que estão trabalhando: como temos visto nos últimos dias, donos de bares, de restaurantes, advogados, profissionais e trabalhadores estão sendo assassinados, tornando Sergipe o Estado mais violento do Brasil.

    Nada é capaz de tirar de mim, Sr. Presidente, a dor de ver tantas e tantas vidas perdidas por conta de uma gestão irresponsável, de um Governo irresponsável, inconsequente, maldoso e perverso. Desculpem-me trazer essa questão, mas não aguentamos perder tantos irmãos, tantos sergipanos.

    O que está acontecendo em Sergipe é um verdadeiro genocídio, é um Governo genocida, porque o dinheiro tem, mas ele acompanha a omissão por parte dos que governam, por parte dos que administram.

    Governo frouxo, covarde e irresponsável.

    Há pouco tempo, Sr. Presidente, o Jornal da Cidade, um jornal de grande circulação do nosso Estado, trouxe, em sua capa, a seguinte manchete, mais uma elas – abro aspas: "Obra do Hospital do Câncer está parada" – fecho aspas.

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO AMORIM (Bloco Moderador/PSC - SE) – A matéria denuncia que a obra que estava prevista para ser entregue até o final deste ano está parada há muito tempo e diz – abro aspas: "No local não há qualquer sinal de que a construção será retomada" – fecho aspas.

    É por isso, Sr. Presidente, que eu insisto em dizer: Governo covarde, frouxo e irresponsável.

    Realmente, até o momento, a obra não foi retomada.

    Enquanto isso, Marias e Josés continuam morrendo, dia após dia, e, junto com eles, morre a esperança dos pacientes oncológicos, daqueles que dependem do serviço público de saúde em Sergipe e de seus familiares. Até quando teremos um Governo assassino? Até quando teremos que viver essa situação?

    Sr. Presidente, colegas Senadores, tenho pedido muito a Deus...

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO AMORIM (Bloco Moderador/PSC - SE) – ... que me conceda serenidade para aceitar o que não posso mudar, coragem, força e perseverança para modificar o que posso modificar, mas, sobretudo, sabedoria para distinguir a diferença entre elas.

    Para finalizar, Sr. Presidente, desculpem-me a emoção, colegas Senadores, quero solidarizar-me com a família de D. Maria José Barreto e por seu intermédio prestar a minha verdadeira solidariedade a todos os pacientes oncológicos do meu Estado, que passam por uma gama de dificuldades em seus tratamentos. Tratamentos interrompidos, esperanças interrompidas, vidas perdidas, tudo isso por conta de um Governo covarde, de um Governo omisso; mas a luta continua. Enquanto Deus me der condição de luta, estarei aqui, da tribuna, denunciando o caos com o povo de Sergipe, Senador Aníbal.

(Soa a campainha.)

(Interrupção do som.)

    O SR. EDUARDO AMORIM (Bloco Moderador/PSC - SE) – ...Senador Aníbal, há dinheiro. Em sete anos, não conquistaram um aparelho, porque S. Exª o Governador, de forma mesquinha, pequena e perversa, acha que a ideia foi minha. Foi minha não, a ideia é do sofrimento do povo de Sergipe, a ideia é daqueles que necessitam, daqueles que estão na fila, daqueles que padecem não só com a doença, pois com a doença vêm diversos outros sofrimentos, como a dor. Eu tive oportunidade de tratar e de cuidar de centenas deles.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/11/2016 - Página 19