Discurso durante a 166ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro do artigo “Os acendedores de manhãs”, de autoria do Sr. Joan Edesson de Oliveira.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO SOCIAL:
  • Registro do artigo “Os acendedores de manhãs”, de autoria do Sr. Joan Edesson de Oliveira.
Publicação
Publicação no DSF de 10/11/2016 - Página 35
Assunto
Outros > MOVIMENTO SOCIAL
Indexação
  • REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, ASSUNTO, ELOGIO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, JUVENTUDE, MOVIMENTO ESTUDANTIL, OCUPAÇÃO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente Raimundo Lira, eu usei a tribuna hoje e falei muito de uma carta que recebi dos estudantes. Eu me comprometi de, ainda nesta tarde, apresentá-la aqui, no plenário, e é o que eu venho fazer neste momento.

    Quero fazer o registro de um belo texto que eu recebi de autoria de Joan Edesson de Oliveira, sobre a mobilização dos estudantes em todo o País. O artigo que chegou às minhas mãos é chamado "Os acendedores de manhãs".

    Diz o documento:

Ah! Esses meninos. Ah! Essas meninas.

Espalham-se pelas ruas, pelas escolas, pelas universidades. Não se contentam mais em esperar pelo amanhã, não querem apenas, como deles dizia Máximo Górki, ter a face do amanhã. Têm sede de hoje, estão famintos pelo agora.

Quem são [afinal] esses meninos, que ocupam o Brasil, que transbordam em sua juventude e em sua rebeldia, que não podem mais ser escondidos, por mais que tentem? São herdeiros de outros meninos, em lugares e em tempos tantos da nossa história. São herdeiros daquele menino baiano Antônio de Castro Alves, abolicionista e republicano, voz tão poderosa a pregar aos séculos que "toda noite tem auroras" e a dizer aos moços como ele que "não tarda a aurora da redenção". Descendem [...] [esses meninos e meninas] do menino alagoano Zumbi, que imberbe ainda comandou homens [lutou, morreu] e sonhou com a liberdade.

Quem são essas meninas, buliçosas e de olhar tão vivo, que transpiram beleza e coragem, que erguem a voz doce e firme em tribunas hostis, obrigando velhos conservadores a desviar o olhar, envergonhados e derrotados, por mais que se vistam de vencedores? [Quem são esses meninos e meninas?] São descendentes diretas daquela menina Anita Garibaldi, que aos dezoito anos, fazia guerra e amor, incendiando o sul do Brasil com a chama da liberdade. [Quem são esses meninos e meninas?]

Elas vêm da baiana Maria Quitéria, pondo em fuga o opressor português. Vêm de outra baiana, Maria Bonita, que, aos vinte anos, armou a ternura e alojou-se em lenda na caatinga sertaneja.

[Quem são esses meninos e meninas?] Por que despertam tanto ódio nas elites, por que são tão atacados? Não são um exército [...] [Eles não têm tanques, não têm mísseis, não têm fuzis.] Não são uma força estrangeira a nos invadir. [São a nossa juventude. São a nossa gente.] Qual o perigo que representam, então? [...] [Por que, na mídia, tentam atacá-los?] Por que representantes de um governo ilegítimo [segundo diz ele], velho, machista e misógino, atacam com tanta força essas meninas [...] [que só falam, não agridem]? Por que recrutam milícias que parecem integralistas saídos de um mofado livro de história para atacar esses jovens?

É que esses meninos, essas meninas, riso solto [poetas], gargalhada livre, [não] são [...] ameaça. Os alicerces desse edifício secular das classes dominantes tremem ante o riso deles, temem a sua gargalhada. Mas, acima de tudo, o que causa temor mesmo são os sonhos desses meninos e meninas. Sim, [...] [esses meninos e meninas] sonham. [Eles sabem o que querem.] Sonham com educação de qualidade, sonham com justiça, sonham com uma polícia que não seja executora da juventude, sonham com um Brasil novo e têm a mais pura e justa certeza de que o novo sempre vem. [Virá. Ninguém consegue segurar o novo.]

[É por isso, Sr. Presidente, que eles são jovens e são considerados perigosos. Olhem só! E é por isso que muita gente os ataca.] É por isso que há promotores de justiça que ordenam que eles sejam algemados. [Mas são meninos, são meninas, de 16 anos, de 17 anos, de 18 anos.] É por Isso que há juízes que autorizam e recomendam o uso de técnicas de tortura contra eles. É por isso que há [...] [repressores] prontos a bater, a socar e a prender [esses meninos]. Porque esses meninos e essas meninas são perigosos, [porque eles olham para a frente], porque eles agarraram o futuro com as mãos e querem que o futuro seja aqui e agora, e não num tempo que nunca chega. Esses meninos [Senadores e Senadoras] são perigosos porque podem colocar o mundo de ponta cabeça, [esses meninos e meninas] virá-lo em festa, trabalho e pão, como sonhou o poeta.

Esses meninos e essas meninas estão armados. Suas armas são as ideias [são os ideais] que carregam, são o verbo que corta, a voz que inflama [a rebeldia que está no ar]. [Estão armados, eles? Não.] Trazem consigo a arma mais poderosa que há. Como em Pessoa, trazem em si todos os sonhos do mundo.

Parece que saíram de algum poema esses meninos, essas meninas. Parecem que saíram de algum poema, para em tempos de tanta escuridão, de noite tão comprida, correrem pelas esquinas do Brasil, chamando pela aurora, acendendo as manhãs [dando o grito de liberdade].

    Sr. Presidente, encerro aqui simplesmente fazendo esta homenagem à nossa juventude. Sr. Presidente, sou um Senador com 66 anos. Eu vivi esses momentos na minha juventude.

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – É um jovem.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Vamos deixar que esses meninos e meninas sonhem, lutem e apontem para um amanhã melhor para todos.

    Esse texto, Sr. Presidente, para fazer justiça, mais uma vez, falei na abertura, é de Joan Edesson de Oliveira, que escreveu numa homenagem aos estudantes que ocupam mais de mil escolas no País.

    Era isso. Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/11/2016 - Página 35