Discurso durante a 171ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações acerca do movimento da Frente Ampla Brasil, que pretende aglutinar diversos setores da sociedade brasileira com o objetivo de buscar um maior desenvolvimento social para o país.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO SOCIAL:
  • Considerações acerca do movimento da Frente Ampla Brasil, que pretende aglutinar diversos setores da sociedade brasileira com o objetivo de buscar um maior desenvolvimento social para o país.
Publicação
Publicação no DSF de 15/11/2016 - Página 7
Assunto
Outros > MOVIMENTO SOCIAL
Indexação
  • ANALISE, MOVIMENTO SOCIAL, OBJETIVO, REUNIÃO, AMBITO NACIONAL, PRETENSÃO, DISCUSSÃO, SITUAÇÃO POLITICA, SITUAÇÃO SOCIAL, SITUAÇÃO ECONOMICA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Senador Alvaro Dias, não precisava falar isso na presença de V. Exª agora, mas, na sexta-feira, fiz um longo pronunciamento sobre a questão do foro privilegiado, citando a PEC de V. Exª, elogiando V. Exª.

    V. Exª sabe que eu sou daqueles que podem não gostar de certos projetos, independente de quem seja o autor. Por exemplo, esse de V. Exª, para mim, veio num momento adequado, como está registrado nos Anais da Casa e no meu pronunciamento. A Relatoria é do Senador Randolfe.

    O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. Bloco Social Democrata/PV - PR) – É muito importante a opinião de V. Exª. É uma opinião sempre credenciada, sempre respeitada, sobretudo pela população do País. Por isso, eu agradeço este apoio, que é fundamental, já que existem forças contrárias ao fim do foro privilegiado.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Eu fiz questão de citar o seu nome, na semana passada, quando fiz um longo pronunciamento – e vou mandar cópia para V. Exª – pela importância da sua iniciativa. A CCJ, com muita convicção, dá o parecer favorável a essa proposta, que é uma vontade popular. Ninguém tem dúvida quanto a isso.

    Tive a preocupação, baseada, inclusive, nos seus argumentos de mostrar os países do mundo todo que o adotam. Eu me lembro da França, onde parece que é só para o Presidente da República. Então, eu queria, já que não vou falar de novo desse assunto, elogiá-lo na tribuna, neste momento.

    Senador Alvaro Dias, vou falar hoje de outro tema que venho tratando com muito carinho, nesses roteiros que faço pelo Rio Grande e pelo Brasil. Volto aqui a 13 de abril de 2014, há dois anos e meio, durante um evento de mais de mil líderes, no Estado do Rio Grande do Sul, que casualmente reunia líderes de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Foi lá em Bento Gonçalves. Lá, a pedido deles, lançamos a ideia da criação da Frente Ampla Brasil.

    Na ocasião, foi unânime entre os participantes que a bancada dos representantes sociais e populares, conforme os dados do Diap, está diminuindo assustadoramente no Congresso Nacional. Constatávamos isso há quase três anos. Uma onda conservadora, dizia eu, estava a caminho. Os ditos conservadores, sustentados pela bancada empresarial, organizavam-se e colocavam em prática seus pensamentos.

    Seria importante, dizia eu na oportunidade, que os trabalhadores, os aposentados, os pensionistas e os estudantes também começassem a debater um projeto de Nação, para que, no bom debate, prevalecessem as ideias mais interessantes ao nosso povo e ao nosso País, ou ficaríamos inertes, vendo a banda passar – e foi exatamente o que aconteceu –, aceitando calados os ataques aos direitos da nossa gente. E eu listava, já naquela época, a Constituição, a CLT, o negociado sobre o legislado, a questão da reforma da Previdência. Fui listando uma série de projetos com que eu estava muito preocupado, e depois se constatou que eu estava certo. Eu dizia para eles que ou colocaríamos, de fato, o pé no barro para uma grande caminhada em nível nacional ou grandes direitos poderiam ser perdidos.

    O movimento ali decidiu, então, pela criação da Frente Ampla Brasil. Qual seu objetivo? Aglutinar Senadores, Deputados Federais, estaduais, vereadores, governadores e prefeitos, independentemente de partido político, movimentos sociais de todas as áreas, associações, aposentados, jovens, mulheres, deficientes, trabalhadores do campo e da cidade, empreendedores com responsabilidade social, líderes religiosos ou mesmo ateus que estivessem dispostos a lutar por um Brasil melhor, soberano, fraterno, solidário, mais justo e com direitos e oportunidades iguais para todos. Essa era a ideia global. Eu disse a todo momento: aqui não é uma proposta partidária, mas uma proposta de caminharmos juntos e construirmos um projeto de nação. A Frente Ampla Brasil estaria acima das forças partidárias e mesmo ideológicas.

    Sr. Presidente Alvaro Dias, o horizonte da Frente Ampla Brasil são as grandes causas do nosso povo, do nosso País, a melhoria da qualidade de vida da nossa gente, uma economia que gere emprego e renda, o fortalecimento da democracia, da defesa do meio ambiente, o pensamento no desenvolvimento sustentável, o combate às discriminações e, claro, a todas as injustiças. A frente busca um Brasil para todos. Conhecendo o Brasil como verdadeiramente ele é, na sua origem, nos seus extremos, saberemos construir um grande projeto de Nação.

    Essa semente foi lançada lá atrás. Faz três anos, e eu entendo que, de uma forma ou de outra, ela está começando silenciosamente a colher bons frutos. É como aquela frase: fazer a semeadura, adubar a terra e, lá na frente, a gente saberá colher os frutos. Silenciosamente, as pessoas estão se organizando, nas suas cidades, nos seus Estados, fazendo um debate não contra essa ou aquela pessoa. Eu sempre digo que aqueles que atacam pessoas, para mim, têm uma mente muito estreita. Nós temos que defender causas. Claro que há causas do bem e do mal, e nós temos que estar naturalmente ao lado das grandes causas.

    Alguém chegou um dia e me disse o seguinte: "Não, mas sicrano, ou beltrano..." Perguntei quais eram as causas que ele defendia. "Ah, eu não sei, mas sou contra ele." Perguntei quais eram as causas que ele defendia. "Como? Que causas?" Mas, enfim, eu fiz um bom debate para suscitar e provocar que o que tem de unificar nós todos que temos compromisso com o País são as grandes causas, e cada um defenda as causas da forma que entenda mais adequado.

    Estou acompanhando a caminhada de V. Exª. V. Exª, pelas informações que tenho, é candidato a Presidente da República. Eu acho legítimo. Não é a pessoa somente do Alvaro Dias, mas são as causas que V. Exª defende que vão embasar o seu projeto de nação – penso eu. Permita que eu diga isso aqui da tribuna do Senado.

    Aprendi, Senador, e vou concluir, que, na PEC 241, pode haver divergência entre nós, mas eu sempre a defenderei como causa e nunca atacando as pessoas. Atacar as pessoas, como alguns fazem, inclusive nas redes sociais, sejam aqueles que pensam como eu, sejam aqueles que pensam exatamente contra tudo o que eu digo, eu acho que é de uma bobagem irracional.Quando passam a atacar as pessoas, mostram a estreiteza daqueles que não têm argumento. Agora, defender teses contra ou a favor é super legítimo, e nós todos crescemos com isso.

    Hoje pela manhã, por exemplo, Senador Alvaro Dias, tivemos um debate na Comissão de Direitos Humanos, sobre o infanticídio: debater se, seguindo a tradição dos povos indígenas, quando a pessoa nasce deficiente, eles podem ou não, dentro do seu ritual, interromper a vida. Foi um belo debate, mas em cima de causas. Olha que havia muita gente lá defendendo a favor, e muita gente contra. Chegamos ao entendimento de que faremos outras audiências públicas para debater esse tema, mas, pelo que percebi, embora lá questões ideológicas tenham sido deixadas de lado, foi pedido que a questão religiosa também fosse deixada de lado e que se defendesse se aquele sistema adotado por algumas tribos tinha fundamento ou não. Foi um grande debate.

    Eu sou Relator da matéria e deixei muito claro: eu vou dar o meu parecer, o meu entendimento, depois de ouvir todos, de tudo o que ouvi, sobre qual a causa que mais mexe com os direitos humanos, com a vida, enfim. Deixei muito claro isso.

    E fui além. Perguntei: vocês se lembram do PL 122? Naquele fórum, a maioria era de religiosos. Eu dei o meu parecer. Claro, houve o requerimento, no campo democrático, aqui no plenário, e jogaram para a CCJ. É legítimo, dentro do Regimento e da democracia, que todos nós defendemos. Mas eu dei o meu parecer também sobre o PL 122.

    Enfim, eu queria mais uma vez fazer um apelo a todos. Vai começar agora o debate da 241, a partir de quarta-feira. Vamos debater, vamos discutir teses, pessoal! Não é ir para a internet ofender um e outro de forma desmedida, desproporcional.

    Deixe-me falar a última, para terminar. Agora me botaram lá – e eu mais ou menos sei de onde vem – que eu sou o líder dos estudantes que estão ocupando as escolas. Mas que bobagem! Assim eu fosse o líder dos estudantes que ocupam as escolas! Eles não perceberam que essa meninada não quer líder. Essa meninada defende as causas em que acredita, e eles mesmos são os líderes do movimento; essa meninada que está por aí se mobilizando. Eu respeito quem pensa diferente, mas disseram que eu sou o líder. Assim eu fosse! Eu queria mais ser o líder dessa gurizada toda nas escolas, mas é elogio demais para mim; eu nem mereço isso. Começaram a dizer que eu é que estou liderando isso. Não sei se a Senadora Gleisi, que acaba de chegar, lidera, mas eu não os lidero, porque eles são os próprios líderes do movimento.

    Estão surgindo jovens líderes, como nós fomos no passado. Nós todos que estamos aqui devíamos, naquele período, lá atrás, ser líderes sindicais ou nas escolas. Eu fui presidente do Grêmio Estudantil de Caxias do Sul, lá no Ginásio Noturno para Trabalhadores, com 17 anos; fui presidente do Grêmio Estudantil de Santa Catarina; liderei greves contra a ditadura. Mas isso foi o meu tempo; é o mérito que eu coloco no meu currículo. Agora, tirar a liderança dessa moçada que, de forma rebelde, sai às ruas fazendo protesto, expressando o seu ponto de vista... Não é justo com eles dizer que eu estaria liderando esses movimentos. Não estou. Até gostaria! Mas vamos dar o mérito a essa moçada, pessoal! Essa moçada está fazendo a sua história. Quem sabe, no futuro, eles vão contar para netos e bisnetos esse período? Como aqueles que foram às ruas em 2013, 2014, o que resultou naquele impeachment. Cada um vai contar a sua versão para a história. Agora, não vamos tirar o mérito daqueles que estão lá sem dormir, se mobilizando, se manifestando, debatendo em família, uns contra, outros a favor. Não é nenhum Senador ou Deputado o líder desse movimento. Vamos respeitar a luta dessa moçada.

    Era isso, Senador Alvaro Dias. Termino mais uma vez cumprimentando a PEC de autoria de V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/11/2016 - Página 7