Discurso durante a 175ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Defesa da Proposta de Emenda à Constituição nº 55/2016, que institui o Novo Regime Fiscal, e da reforma do ensino médio.

Autor
José Medeiros (PSD - Partido Social Democrático/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Defesa da Proposta de Emenda à Constituição nº 55/2016, que institui o Novo Regime Fiscal, e da reforma do ensino médio.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 22/11/2016 - Página 54
Assunto
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • DEFESA, APROVAÇÃO, PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO (PEC), OBJETO, LIMITAÇÃO, AUMENTO, GASTOS PUBLICOS, INFLAÇÃO, EXERCICIO FINANCEIRO ANTERIOR, REFORMULAÇÃO, ENSINO MEDIO, CRITICA, OCUPAÇÃO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, COMENTARIO, IMPORTANCIA, DEBATE.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos que nos acompanham pela Agência Senado, vi hoje vários pronunciamentos aqui. Um deles achei interessante, porque nele foi citada aqui a nota da CNBB. A Senadora que me antecedeu, baiana, por quem tenho muito carinho, falou sobre a nota da CNBB. Eu havia lido a outra nota e vi recentemente essa da Bahia também.

    Respeito muito a Igreja Católica. A Igreja Católica talvez seja uma das instituições que mais fazem ações sociais pelo mundo inteiro. Agora, eu tenho que dizer também que a CNBB brasileira é um reduto, um feudo dos que defendem a Teologia da Libertação. E, com todo o respeito, eu não concordo com boa parte das doutrinas que eles defendem. E por que isso? Porque, como cristão, Senador Elmano Férrer, eu sou totalmente seguidor e defensor da filosofia que Cristo deixou na Terra.

    Cristo não fez opção pelo pobre ou pelo rico. Cristo fez opção pelos homens, pelo ser humano, pela pessoa. Ele não saiu dividindo o mundo entre negros e brancos. Ele não saiu dividindo o mundo entre ricos e pobres. Pelo contrário, Ele disse: "Vinde a mim todos vós que estais cansados e Eu vos aliviarei". Enquanto todos pregavam a violência e as arengas políticas, Ele pregava o amor. Certa vez, foram perguntar sobre a questão tributária para Ele, se era lícito pagar imposto a César, e Cristo disse: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Mas eu vejo que, em nome de Deus, os homens se mutilam e se matam. Em Nome de Deus, as pessoas procuram fazer excepção de pessoas, rotular uns.

    O que eu ouço aqui neste plenário ultimamente é que parece que é um pecado mortal a pessoa ser rica. Eu não sou rico, gostaria muito de ser, Senador Elmano Férrer, mas não tenho nada contra quem fica rico. Aliás, pelo contrário, gostaria que todos pudessem ser ricos.

    Se há uma pessoa que tem horror, horror à pobreza sou eu, porque tive, na minha família, dois irmãos que morreram de fome lá no Nordeste. Não falo isso para que tenham dó de mim. Sou um vencedor, Graças a Deus, mas a pobreza é uma coisa ruim. E eu vejo os partidos e vejo certas notas que parece que querem multiplicar a pobreza. Falam com tanto romantismo da pobreza. Gente, não há coisa pior do que a pobreza. Se há uma coisa que o pobre quer é ser rico. Então, não vamos demonizar os ricos. Vamos fazer com que mais gente possa ficar rica.

    Eu sei que isso é usado por parte de algumas religiões. Sabe para quê? Para juntar adeptos. E eu sei que essa não é uma filosofia da Igreja Católica. Não é dividindo que a Igreja Católica age, mas certas alas querem fazer esse tipo de demagogia para poder arrebanhar fiéis. Tenho visto que o papel da Igreja Católica no mundo tem sido de fazer ações sociais, mas uns preferem fazer política, e política da pior espécie.

    Alguns perguntaram hoje por que a pressa da PEC. Por que tanta pressa? Porque nós não temos tempo. Quebraram o Brasil gastando, gastando e gastando. E, como eu disse hoje aqui, parece que queriam inventar o moto-contínuo. Keynes, quando defendia a política anticíclica, não estava defendendo o moto-contínuo. Aquilo era para ser usado quase que numa emergência. Vários estabelecimentos comerciais têm aquelas luzes de emergência. Aquilo não tem geração própria. Chega um determinado momento, a bateria daquilo acaba e não serve mais. É preciso que a luz volte.

    A política anticíclica também era assim, era para uma questão emergencial, para o Estado investir e a economia voltar a girar. Mas não. É defendido aqui como se gasto interminável fosse o motor que fizesse o Brasil andar. Nós estamos pagando agora. Está chegando a conta do cheque sem fundos que o Presidente Lula e a Presidente Dilma deram. Aliás, no governo da Presidente Dilma já começou a acontecer isso.

    Então, a cantilena de que essa PEC prejudica os pobres, que só privilegia os ricos, primeiro, é uma falácia, porque nunca os bancos ganharam tanto como no governo da Presidente Dilma. E não estou recriminando. Banco abre para ganhar dinheiro.

    Eu me lembro de um filme de faroeste. Se não me engano era o John Ford que dizia o seguinte. Ele passa, tenta um empréstimo no banco, e não consegue, porque não tinha crédito. Aí ele fala: "Eu vou abrir um banco." E o companheiro dele disse o seguinte: "Mas o que é preciso para abrir um banco?" E ele disse: "Uma garrafa de café e um bocado de otário para poder depositar e tomar dinheiro emprestado."

    Bem, por que estou dizendo isso? É que banco vive de emprestar dinheiro, banco vive disso. Se eu não quero pagar juros, se eu não quero ter dívida, eu não vou ao banco. É simples assim. Agora, ficam gritando que tem que diminuir os juros. É verdade, nós precisamos pagar menos juros, mas, para pagar menos juros, nós temos que ir menos ao banco. Como eu não quero pagar juros, eu não quero... Eu quero pegar dinheiro emprestado, mas não quero pagar? Que história é essa? Não existe isso em lugar nenhum no mundo.

    Então, essa PEC, estão dizendo: "Olha, é para punir os pobres e é durante 20 anos." Eu vou usar aqui as palavras do economista Ricardo Amorim, que disse: "Não, é por 20 anos justamente para diluir o que você tinha que fazer imediatamente." Os cortes tinham que ser feitos agora, mas, como não é possível, diluiu-se essa coisa toda em 20 anos.

    O Brasil está com 170 bilhões de rombo além do que arrecada, aliás, além do teto da sua dívida, ou seja, ele não está pagando juros, não está fazendo nada e, além disso, ainda deve 170 bilhões, gastou mais 170 bilhões. Aí eles dizem: "A PEC pune os mais necessitados." Ricardo Amorim disse o seguinte: "Ao contrário, ela os protege." Ela não requer nenhum corte em nenhum gasto social e, ao reduzir as preocupações com a solvência do setor público brasileiro, colabora para o crescimento dos investimentos das empresas e a geração de empregos. Como o desemprego é mais alto exatamente entre os mais necessitados, eles serão os maiores beneficiados pela medida.

    Senador Elmano Férrer, V. Exª é do Nordeste e sabe que não há coisa pior do que a pessoa não ter emprego, principalmente no Nordeste, em que as famílias são geralmente grandes, têm muitos filhos. Quando um pai perde o emprego é uma tragédia na família. E nós temos mais de 20 milhões de desempregados prejudicados. Nós precisamos fazer medidas justamente para voltar a haver emprego.

    E vem outra, de que a PEC vai cortar todos os gastos com a educação e com a saúde. A PEC não só não força o Governo a cortar gasto nenhum como ainda permite que os gastos totais cresçam de acordo com a inflação.

    A grande sacada da PEC é que, ao colaborar para a retomada da confiança no País, ela permite que o País volte a crescer, coisa que não acontece há três anos, e com isso a arrecadação de imposto cresça mais do que os gastos, o que faz com que o desequilíbrio entre os gastos e as receitas do Governo diminua ao longo do tempo. Isso é necessário porque, neste ano, o Governo Federal gastará R$170 milhões a mais do que arrecadará, excluindo gastos com os juros da dívida.

    O prazo de 20 anos da PEC é sinal de leniência, não de dureza. O ideal seria que as contas públicas fossem reequilibradas já, como eu disse, com o corte de gastos públicos de R$170 bilhões. A PEC existe justamente para evitar efeitos traumáticos que esse tratamento de choque acarretaria em alguns setores da população.

    Outra coisa, a PEC não exige redução de gastos com saúde, Senador Elmano Férrer. Aliás, a PEC que não impede que os gastos com saúde e educação, ou qualquer outro gasto, dupliquem, tripliquem, cresçam dez vezes ou mais ao longo desse período. Tudo que ela exige é que os gastos totais do Governo não cresçam mais do que a inflação.

    Na prática, ela força o Governo a se aproximar um pouquinho da disciplina que toda família tem que ter em casa: não gastar mais do que ganha. Sem a PEC o Governo não prioriza nem controla gastos. Ele aumenta seus gastos totais acima da inflação constantemente e passa a conta à população, com cada vez mais e maiores impostos.

    Em resumo, a PEC é necessária para impedir que todos os brasileiros continuem sendo penalizados com impostos que não param de subir. Eles sobem aqui todo dia e dizem: "Este Governo é usurpador, este Governo que assaltou o Poder, este Governo perdulário". Mas sabe o que eles defendem? Um cheque em branco para este Governo. É isso que eles fazem.

    Eu não consigo entender esse diálogo. Mas por que fazem essa confusão sem o menor compromisso com a lógica? Fazem porque "não estão aqui para explicar, estão para confundir". Falo isso entre aspas para citar o nosso saudoso Chacrinha. Querem confundir, porque na confusão do povo é fácil de repente causar uma desordem, um arrebanho.

    Eu vi agora uma Senadora falar com extrema felicidade, não escondia o sorriso, ali sentada no banco, dizendo: "A instituição a que eu fui ontem, hoje amanheceu invadida". Olha, eu acho isso um absurdo sem tamanho, porque não se pode dizer que é um fato a se comemorar. Estudantes que foram engodados invadiram a escola. E porque eu digo engodados? Porque esses mesmos que estão aqui defendendo, batendo contra a medida provisória do ensino, Senadora Rose de Freitas...

    Acabei de ouvir que essa medida provisória tira a Filosofia, a Sociologia e tal, criticando o fato de que essas disciplinas possam ser optativas. Eu já mostrei, há poucos dias, um vídeo em que a Presidente Dilma, em 2014, dizia o seguinte: "Eu não tenho nada contra Filosofia ou Sociologia, mas eu só acho que um currículo com 12 matérias é muito para os alunos". A Presidente, em campanha, dependendo a reforma do Ensino Médio. Pois bem, agora, como é outro Governo que está propondo, insuflam as crianças para ir para dentro das escolas, para invadir escolas, aonde estão correndo risco.

    Morreu um no Paraná e acaba de acontecer uma tragédia, se não me engano, em Goiás: o pai não queria que o filho fosse, houve aquele conflito, o filho queria invadir escola e acabou o pai matando o filho e se suicidando.

    Aonde começam essas coisas, Senadora Rose de Freitas? Aqui, com os formadores de opinião, que começam sabedores do que são. E já que citaram a religião hoje, esse era o tipo de gente que Cristo mais criticava: os chamados Fariseus, os chamados Escribas e Fariseus, porque eles conheciam, mas insuflavam, enganavam os outros. É aquele tipo de gente que não pode ver um argueiro no olho do irmão que já aponta, mas não tira a trava que está no olho. É assim que essas pessoas têm se comportado aqui.

    Hoje fizeram um escândalo com esse negócio que aconteceu no Governo. Há poucos dias aqui acontecia de prenderem ministro, mas não falavam nada. Agora são draconianos com os outros e geralmente têm se comportado assim: draconianos com os outros e lenientes com os seus.

    Eu já disse que não tenho compromisso com o erro, mas eu não posso ficar quieto ao ver as pessoas serem enganadas, os alunos, os brasileiros sendo colocados contra medidas que buscam justamente achar um caminho para essa dificuldade.

    Senador Cristovam pediu um aparte.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Senador, só para dizer da satisfação de vê-lo aqui defendendo essa medida do piso, porque é tão óbvio que um País, como uma família, precisa definir um teto dos seus gastos conforme a sua renda - no caso do Governo, no caso do País, a renda é a arrecadação -, é tão óbvio que a gente começa a se perguntar por que se fica contra. Mas esse óbvio não está sendo bem explicado pelo Governo. E o senhor tem sido um dos maiores porta-vozes de defesa firme dessa medida, a Senadora Rose, também, mas somos poucos. O Presidente da República não está cumprindo o papel dele de grande defensor disso, Senadora Rose. Ele tem que ser o explicador disso para o povo entender, inclusive usando as imagens que são necessárias. Por exemplo, Senadora Rose, um dia desses eu falei: você não pode fazer uma parede com um tijolo e pegar esse mesmo tijolo para colocar em outra parede, pode? É a mesma coisa de pegar R$1,00 para colocar num gasto e, com esse mesmo R$1,00 comprar outra coisa, salvo se pegar o tijolo, dissolver na água, fizer um tijolo bem ruinzinho e botar esses dois nas paredes. E as duas caem. Ou como a elite brasileira, ao longo de décadas, tem feito, pegar R$1,00 e colocar numa rubrica, depois colocar ele mesmo em outra rubrica, dividindo por dois e dizendo que metade vale por um. É a inflação, gente. Nós fomos enganados, e enganamos por décadas, dizendo que podia gastar mais do que se arrecada, fazendo a inflação.

    Vamos supor não mais um real; tem dois, mas quer gastar três. Como faz? Com dois é igual a três. Três iguais a dois é inflação de 50%. Foi isso que a gente fez. Essa PEC traz o óbvio. Se o Brasil tivesse isso há 50 anos, teríamos uma economia, provavelmente, menor, mas sólida. Provavelmente, teríamos uma parede, não duas, mas com tijolo firme, uma parede que não cairia. Construímos um edifício com tijolos feitos sem a substância necessária para segurar a parede.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Adobe.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Hein?

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Aqueles tijolos de adobe.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Aqueles tijolos de adobe. Essa é a economia brasileira hoje. Fizemos o edifício, mas sem tijolos sólidos, sem uma moeda forte, e agora ele começou a cair. Começou a cair no Rio de Janeiro, que não paga as contas. Vai cair na Previdência quando não pagar aos aposentados, a não ser que volte a inflação, porque a gente paga com dinheiro falso. Todo mundo fica contente quando recebe o dinheiro até com aumento, mas, quando chega ao mercado, descobre que não leva mais a mesma quantidade de mercadorias. Essa é a PEC da verdade. Sem verdade, não há nada que funcione bem por muito tempo. Dá para se enganar o povo por pouco tempo, não por muito tempo. Então, nós precisamos fazer com que isso seja bem explicado. E hoje eu temo, meu caro Senador, que o debate esteja sendo perdido nas ruas. Senadora Rose, vai ser ganho aqui. Vamos aprovar, mas vamos perder lá fora se o povo não entender. E aí vamos esperar anos para que dê certo. Aí o povo se convence. Esse foi um erro que o Fernando Henrique cometeu, que o Lula cometeu e que a Dilma cometeu ao colocar o rolo compressor para ganhar no plenário sem se preocupar em ganhar na opinião pública. Não dá certo a longo prazo. É a mesma coisa da inflação.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – É uma vitória tênue, frágil. E, para que essa vitória funcione bem, é preciso que se tenha um Presidente que seja capaz de convencer. Ele tem que ter o carisma necessário, a linguagem certa, a presença constante. Ou, pelo menos, o Ministro da Fazenda. E credibilidade. E aí, meu caro Senador, esse assunto do Geddel atrapalha muito, porque ameaça a credibilidade do Governo. Ameaça, sim. De fato, se tem razão quando se diz que o PT vinha aqui, não criticava os outros e agora critica o Geddel, mas tenho que criticar a permanência dele, até porque esse é um recado para todos os milhares de funcionários públicos do Brasil poderem tentar usar da sua influência para tirar benefícios. O recado fica dado. O Ministro pode. Se o Ministro pode, como cada servidor público não pode tentar influir na hora em que quiser construir um prédio que tem um andar a mais do que a lei permite? Então, ele tenta influir usando seu cargo. Vai se passar um mau recado se isso não for punido como deve ser feito. Não podemos deixar que os exemplos ruins fiquem. E isso tem a ver com a PEC 55, mesmo que não queiram, porque, no fundo, no fundo, tudo é uma questão de credibilidade. E a credibilidade quando é ameaçada aqui chega ao outro lado rapidamente. Então, a gente precisa explicar melhor aquilo que é o óbvio: um tijolo só pode ser usado para fazer uma parede. Se fizer duas com um tijolo, as duas vão cair. Um real só pode ser usado para fazer uma compra; comprar duas coisas com o mesmo real é estafar, é enganar, é mentir ao vendedor. Você dá um real, guarda, chega ali e dá o mesmo real outra vez. É o que se está querendo fazer se não tiver um teto. Finalmente, essa ideia de que vai tirar dinheiro da educação, da saúde. A PEC não diz que vai tirar dinheiro das Forças Armadas, nem das estradas, nem da educação, nem da saúde: diz que tem um teto para tudo. Agora, a gente pode colocar mais aqui se tirar um pouquinho ali. É isso que a gente tem que fazer e isso é certo. Eu encontrei uns professores falando isso: "Vai tirar dinheiro da educação? Vai tirar e a gente vai ficar sem dinheiro". Eu digo: não, vamos fazer uma luta para valer, uma greve de fome de dois milhões de pessoas neste País por mais dinheiro para a educação que eu duvido se não se põe mais dinheiro em educação. "Ah, não, mas assim não dá. A gente vai fazer uma greve." Greve não é mais sinônimo de luta. A gente tem que entender que houve um tempo no passado em que greve era luta. Greve nossa, de funcionários públicos, hoje não é mais luta. Não são sinônimos, são coisas diferentes. Greve recebendo salário não é luta, greve em setores que não ameaçam nada não é luta. Aí criticam o Governo que não dá importância à educação. Eles fazem greve na educação. Um governo que não dá importância à educação não está ligando para greve na educação. Ou não é verdade que o Governo não dá importância à educação, ou não é verdade que a greve é um instrumento de luta! Só vale instrumento de luta de greve contra quem dá importância à educação. Ao fazerem greve, estão respeitando o Temer, estão dizendo: o Temer dá importância à educação, vamos incomodá-lo, vamos parar as aulas. Uma contradição completa! E aí estamos nos perdendo no Brasil nesse diálogo de surdos e com discursos incompetentes. É pior do que diálogo de surdo, porque diálogo de surdo é quando você fala certo e o outro não ouve, mas estamos falando cada um errado e os outros não estão ouvindo. É mais grave ainda! Aí, eu me lembro de uma conversa com o Presidente Sarney algum tempo atrás, há dois anos, quando não se estava nem falando em impeachment, mas já havia crise no ar. Ele disse: "Essa crise é pequena, a crise séria virá daqui há dez, quinze anos". O Brasil vai se desagregar pela violência, pelo corporativismo, pela falta de partidos com ideologia e propostas, por uma juventude sem utopias. Nós não temos vetores aglutinadores neste País. Parece que o Sarney errou no prazo, parece que não vai precisar de quinze anos, não.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Chegou antes.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Parece que vai ser antes, estamos num processo de desagregação pelo corporativismo, pela falta de utopias da juventude, pela falta de proposta dos partidos, pela falta de lógica do debate, pelo sectarismo. E isso é muito, muito grave, mais grave do que todo o resto. Eu, como comecei, concluo: com a sua luta incansável em defesa de uma PEC que, na verdade, é a PEC do óbvio – não se pode gastar mais do que se tem. Alguns dizem: "Não, basta não pagar os juros". O Collor tentou não pagar quando fez o sequestro do dinheiro e ninguém ficou favorável. Quando não se paga juros a um banco, esse banco não paga juros a quem tem conta de poupança lá. Alguém quer perder a sua poupança? Não respeitar as regras bancárias é não respeitar as regras da caderneta de poupança, as regras dos empréstimos que cada um contrai. Querem esquecer isso? Outro diz: "A saída é aumentar a arrecadação". Está bem, faz décadas que tentamos falar nisso e não fazemos. Vamos fazer agora. Mas o salário do funcionário, a gente vai dizer para ele: "Espere aí que quando a arrecadação crescer a gente lhe paga". Ele vai aceitar? Não vai, é claro. Não dá para esperar. Tem que ser já. É um prazo, como se diz, de 20 anos, para não ser amanhã, o que seria impossível. Temos que cair na real, temos que sair das ilusões, das fantasmagorias, das fantasias, das mentiras. Uma das maiores mentiras que a gente tem é a maneira como a gente faz o orçamento, colocando uma só cédula em dois gastos diferentes, como se colocasse um tijolo em duas paredes. Não tem como um tijolo em duas paredes; não tem como o mesmo dinheiro comprar duas coisas. Por isso, tem que ter um teto na hora de pagar a conta, mas é preciso ter um presidente que saiba explicar e convencer o povo disso, porque convencer só a nós não vai segurar este País.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Muito obrigado, Senador Cristovam.

    V. Exª muito bem disse: o que precisamos é de um debate intelectualmente honesto.

    Dito isso, Senador, vou colocar um vídeo aqui:

Eu não tenho nada contra filosofia ou sociologia, mas um curriculum com 12 matérias não atrai o jovem. Então, nós temos primeiro que ter uma reforma nos currículos...

[Vou repetir] Eu não tenho nada contra filosofia ou sociologia, mas um curriculum com 12 matérias não atrai o jovem. Então, nós temos primeiro que ter uma reforma nos currículos. 

    Na campanha de 2014, a Presidente Dilma defendia, como ela mesmo disse: "Eu não tenho nada contra filosofia ou sociologia", defendia ipsis litteris essa reforma, mas agora muda, e o discurso muda como uma biruta de aeroporto.

    Por quê? Porque está em jogo o Brasil? Não. O que está em jogo aqui não é o Brasil; o que está em jogo é um projeto de poder que eles não sabem como foi para o mato, jogaram no mato um projeto de poder. Aliás, o Partido dos Trabalhadores... Às vezes, as pessoas pensam que tenho alguma coisa contra. Não tenho contra os partidos, os partidos devem existir, é importante. Agora, nós precisamos fazer esses contrapontos, esses esclarecimentos, porque eles são peritos em espalhar mentiras, espalhar o sectarismo, espalhar a divisão do País. E isso é muito ruim, nós temos que nos contrapor, porque, para fazer agregação, precisamos justamente esclarecer as pessoas de que não é verdade esse discurso de que vai acabar o décimo-terceiro, de que o salário vai ser congelado. Essa mentirada precisa ser esclarecida, esse terrorismo que estão fazendo.

    Então, de repente, a gente fica parecendo que está num samba de uma nota só ou mesmo como se fosse um pingo d'água, mas é que todo dia se repete, eles se revezam aqui para dizer as mesmas coisas. Passaram 13 anos para construir o que quisessem, tinham capital eleitoral, tinham capital político, e não fizeram.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Agora, de repente, começam a pregar o caos, que o Brasil vai acabar, que teremos cortes em tudo. Não teremos cortes. Eu não posso chegar lá em casa, se meu salário não dá, e dizer para os meus filhos: cortei a Disney este ano. Eu não posso dizer isso a eles porque eu já não tinha dinheiro para isso. Como é que estou cortando algo que eu não tenho? Aí dizem: estão cortando dinheiro da saúde e da educação. A Presidente Dilma cortou R$10 bilhões no ano passado. Não cortou, não. Já não tinha aquele dinheiro, o orçamento era fictício. Cortou 87% dos gastos sociais.

    Aí o Senador Humberto veio aqui e disse: estão tratando só do governo Dilma. É porque eles não param de fazer comparação. Então, temos de mostrar o que eles fizeram e o que estamos propondo para consertar. O certo é que este Congresso...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – ...tem a responsabilidade agora – e já termino, Sr. Presidente –, a partir do momento em que votamos o impeachment, de ajudar a construir uma saída para o Brasil.

    E, no momento em que se propõe gastar somente o que se arrecada, com o déficit diluído em 20 anos, de repente, eles se insurgem contra. E por que se insurgem contra? Porque é um discurso fácil defender a educação e a saúde, defender os pobres. O tempo inteiro defendendo os pobres. Já dizia um pensador: "Desconfie daqueles que querem ajudar os pobres, que falam o tempo inteiro em ajudar os pobres". Provavelmente alguma coisa eles farão contra os pobres. Então, desconfie do Governo que fala o tempo inteiro em ajudar os pobres. É mais ou menos assim. E foi assim que aconteceu. O tempo inteiro falando nos mais pobres, nos pequenos, nos assentados.

    Posso falar dos assentados com muita propriedade, porque o meu Estado tem muitos assentamentos, e não foi dado um título de terra sequer para esses assentados. Passaram o tempo comendo o pão que o diabo amassou nesse governo, cujos assentados sempre foram usados como massa de manobra, mas não ganharam sequer um título. Aliás, no apagar das luzes do governo, começaram a receber alguns títulos.

    Então, o Governo está tentando uma saída, estamos tentando aprovar as medidas que o País precisa, mas a responsabilidade dessa gente com o Brasil é zero. Aí vêm dizer que são perseguidos. Eu não vejo perseguição nenhuma. Já falei que não vou tratar mais da questão do Lula aqui, porque é um caso de polícia. Com certeza, o Lula não vai mais passar o final de ano em casa. Até lá, nesses dois meses...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – ...com certeza, com esses processos todos, com esse negócio de delação, o Lula vai passar o final do ano na cadeia. Então, isso é um problema de polícia. Eu entendo o desespero, mas nós não criamos isso.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/11/2016 - Página 54