Discurso durante a 180ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra e à entrega da Comenda Senador Abdias Nascimento.

Autor
Wellington Fagundes (PR - Partido Liberal/MT)
Nome completo: Wellington Antonio Fagundes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
  • Sessão Especial destinada a comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra e à entrega da Comenda Senador Abdias Nascimento.
Publicação
Publicação no DSF de 25/11/2016 - Página 21
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, CONSCIENTIZAÇÃO, GRUPO ETNICO, NEGRO, PROTEÇÃO, CULTURA AFRO-BRASILEIRA, IMPORTANCIA, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO RACIAL.

    O SR. WELLINGTON FAGUNDES (Bloco Moderador/PR - MT) – Meu caro companheiro, Presidente Paulo Paim, Presidente e requerente desta presente sessão especial, cumprimento V. Exª.

    Senadora Lídice da Mata, quero cumprimentá-la também aqui como baiana. Eu sou filho de baianos – meu pai foi da Bahia para Mato Grosso a pé – e faço sempre questão de registrar isso e faço com muita honra.

    Quero cumprimentar todos da Mesa, o Sr. Marivaldo de Castro Pereira, a Srª Deise Benedito, a Srª Cida Abreu, o Sr. Felipe Freitas e também a Srª Débora Maria da Silva.

    Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, fico muito feliz de estar aqui, nesta tribuna, para – junto com V. Exª, com a Senadora Lídice da Mata e com todos da Mesa – homenagear personalidades que se destacaram na proteção e promoção da cultura afro-brasileira. É uma ocasião importante, já que este tempo pode ser utilizado para a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira, razão pela qual foi instituída a data de 20 de novembro como o Dia da Consciência Negra no Brasil.

    Muito me honra estar aqui presente, Sr. Presidente, porque, no meu Estado, Mato Grosso, a luta pela igualdade e contra o preconceito é fortalecida, neste ato, com a entrega da Comenda Abdias Nascimento ao Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune), aqui representado pela jovem estudante Jackeline Silva.

    Cumprimento o Conselho da Comenda, presidido pelo ilustre Senador Paulo Paim, por essa escolha e também dos demais agraciados: o cantor Lazzo Matumbi, a atriz Zezé Motta e o percussionista Naná Vasconcelos, in memoriam.

    Sr. Presidente, o Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso faz jus a essa honraria. Daí a minha iniciativa de indicar essa entidade para receber essa comenda de reconhecimento.

    Trata-se de uma organização social, fundada em 2002, que tem como objetivo orientar dinamicamente o processo de crescimento das mulheres negras e que também busca o reconhecimento dos valores históricos, sociais e culturais das comunidades afrodescendentes em todo o meu Estado. Além disso, tem sido incansável para alcançar seus objetivos de superação das desigualdades sociais e de discriminação de gênero, sendo operante na luta contra o preconceito.

    Em verdade, Sr. Presidente – aqui destaco –, são duas lutas associadas: busca-se, de forma determinada, a conscientização sobre a importância e o papel do negro e da mulher negra na sociedade. O instituto faz isso de uma forma excepcional, plantando consciência, com um trabalho afirmativo junto aos jovens, através das tradicionais rodas de cidadanias, em que o debate se consolida como a principal ferramenta de luta. Trata-se de um belo exemplo! Afinal, na minha opinião, não se planta consciência com ódio ou com gritos, muito menos com decreto. Planta-se consciência, senhoras e senhores, com diálogo, trabalho e superação.

    Nossa jovem Jackeline Silva, mato-grossense, recebe essa homenagem como mulher e como negra.

    Aliás, permitam-me destacar que é de Mato Grosso, meu Estado, que tanto me orgulho de aqui representar e pelo qual tenho lutado, uma das mais espetaculares histórias de resistência e luta e que tem como símbolo uma mulher negra. Falo da brava Tereza de Benguela.

    A trajetória de Tereza de Benguela remonta ao século XVIII, quando Vila Bela da Santíssima Trindade, uma cidade projetada em Portugal, às margens do Rio Guaporé, foi primeira capital do interior brasileiro, da costa fluvial brasileira.

    Tereza de Benguela liderou a comunidade, resistindo bravamente à escravidão por mais de 20 anos. Ela reinou, comandando a estrutura política, econômica e administrativa e enfrentando diversos ataques da coroa portuguesa.

    É importante dizer aqui que a nossa querida Vila Bela da Santíssima Trindade – hoje a capital é Cuiabá –, ainda é uma cidade que tem a predominância da população negra. Eu diria, Sr. Presidente, que os negros mais lindos do Brasil estão lá em Vila Bela da Santíssima Trindade, onde há, todo ano, festas, festejos. Todo ano também há transferência da capital para a nossa querida cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade.

    A história de Teresa de Benguela demorou a ganhar projeção. Passados quase 250 anos de que o Quilombo foi destruído – em 1770 –, veio o reconhecimento. O nome dessa grande líder, inclusive, foi referenciado em um dos maiores palcos de festejos populares do Brasil, a Marquês de Sapucaí, emprestando a sua história ao samba-enredo da Escola de Samba Unidos do Viradouro, que dizia:

No seio de Mato Grosso, a festança começava

Com o parlamento, a rainha negra governava

Índios, caboclos e mestiços, numa civilização

O sangue latino vem na miscigenação

A invasão gananciosa, um ideal aniquilava

A rainha enlouqueceu, foi sacrificada

Quando a maldição, a opressão exterminou

No infinito uma estrela cintilou

    Quero, aqui, homenagear também o Joãosinho Trinta, que ontem faria 83 anos – nasceu em 1933 –, que foi o maior carnavalesco da história do Brasil.

    Sob a inspiração dos ideais de Tereza de Benguela, gostaria, também, com a devida permissão do nosso Presidente, de dizer que, no último dia 18, em Rondonópolis, a minha cidade natal, estive em um evento da Unegro, que foi fundada este ano, ocasião em que foram homenageadas algumas personalidades dessa luta.

    Aqui, faço questão de citar a ex-Vereadora Vilma Moreira dos Santos, a primeira Deputada negra de Mato Grosso, que marcou uma bela atuação legislativa; também a líder comunitária Carmem de Sá, uma mulher que foi para aquela cidade e fez um grande movimento, principalmente social, trazendo mais dignidade às pessoas mais carentes daquela cidade.

    Também quero aqui lembrar outro homenageado, o filho do saudoso Marinho Franco, o nosso companheiro Maestro Crisóstomo Franco, músico e criador de uma das mais antigas bandas brasileiras regionais, a Banda Marinho & seus Beat Boys.

    Lembro também o meu amigo, companheiro, Dr. Walfredo Brito, que é Professor da Universidade Federal de Mato Grosso, com várias especializações. Foi meu colega de escola, contemporâneo, nascemos, praticamente, um em frente ao outro. Aliás, a minha história tem muito a ver com a do Prof. Walfredo Brito

    Quando minha mãe morava na roça e estava muito doente, foi lá um mascate, o Sr. Lafayette, que disse: "Olha, João Baiano", assim era chamado o meu pai, "você tem que levar essa moça para tratar, senão ela vai morrer, e lá está surgindo uma nova comunidade, a Rondonópolis, que tem um doutor muito afamado"...

(Soa a campainha.)

    O SR. WELLINGTON FAGUNDES (Bloco Moderador/PR - MT) – ... "o Dr. Conrado Sales de Brito, farmacêutico".

    Meu pai levou a minha mãe no cavalo, mas, ao bater intensamente a barriga na cabeça do arreio, quando ela chegou lá, a criança já estava morta.

    Foi exatamente com essa história que nós acabamos indo morar em Rondonópolis. E hoje estou aqui e tenho a honra de ser Senador da República, depois de seis mandatos como Deputado Federal. E, com certeza, a família Sales de Brito foi sempre uma grande companheira e ajudou-me muito.

    Por isso, Sr. Presidente, eu quero também aqui cumprimentar a professora Luzia Aparecida do Nascimento, fundadora e coordenadora da Unegro em Rondonópolis – esposa do professor Manoel Mota, professor da universidade federal, aposentado e meu suplente como Senador.

    Senhoras e senhores, eu quero aqui, finalmente, pedindo desculpas por ter me alongado e já finalizando, destacar que no Brasil, infelizmente, não fomos educados como uma nação multicultural e pluriétnica.

    Contudo, como sempre, sou um homem de fé, que carrega grande otimismo e confia no afloramento dos valores éticos e morais. E nesse sentido quero crer que se realizem as palavras do pensador Thiago Saraiva, que um dia escreveu: “Não precisamos de um dia da consciência negra, branca, parda, amarela, albina... Precisamos de 365 dias de consciência humana".

    Que seja com diálogo, trabalho e muito respeito.

    Muito obrigado, Sr. Presidente, pela oportunidade de estar aqui. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/11/2016 - Página 21