Pronunciamento de Regina Sousa em 24/11/2016
Discurso durante a 180ª Sessão Especial, no Senado Federal
Sessão Especial destinada a comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra e à entrega da Comenda Senador Abdias Nascimento.
- Autor
- Regina Sousa (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
- Nome completo: Maria Regina Sousa
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
- Sessão Especial destinada a comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra e à entrega da Comenda Senador Abdias Nascimento.
- Publicação
- Publicação no DSF de 25/11/2016 - Página 24
- Assunto
- Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
- Indexação
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- SESSÃO ESPECIAL, COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, CONSCIENTIZAÇÃO, GRUPO ETNICO, NEGRO, PROTEÇÃO, CULTURA AFRO-BRASILEIRA, IMPORTANCIA, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, DESAPROVAÇÃO, PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO (PEC), LIMITAÇÃO, GASTOS PUBLICOS.
A SRª REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Vou falar daqui mesmo. É um pronunciamento breve.
Quero até justificar que não cheguei em tempo porque estava na Comissão de Orçamento e aproveito para comunicar que o Orçamento já foi adaptado à PEC 55. Hoje apresentaram um novo relatório, e um dos Relatores estava até aqui – o Senador Wellington Fagundes, que é um dos Relatores. Mas o Senador Eduardo Braga apresentou o seu relatório já devidamente adaptado. Ontem aqui nós falamos que, em 2017, ainda não íamos sentir, porque o Orçamento já estava formatado, mas nós vamos sentir, sim.
Quero cumprimentar a Mesa, na pessoa do Presidente Paulo Paim; cumprimentar os convidados e convidadas, em nome da Cida, minha companheira de jornada, de trajetória; cumprimentar os homenageados e homenageadas; e dizer que mais que um prêmio é um desafio. É como se fosse um convite a fazer mais: vocês já fizeram muito, mas não fizeram tudo. Então, estão sendo desafiados a fazer mais, porque nós somos poucos.
Aqui se disse: "Quem se importa?" – um dos convidados falou e repetiu muito isso. Já somos muitos a nos importar, mas ainda somos poucos em relação à sociedade brasileira. Então, precisamos mais; mais um, mais dois. Como já dizia Beto Guedes, "um mais um é sempre mais que dois". Então, vamos trazer mais gente para a nossa causa.
Eu digo para vocês que, na minha trajetória, eu não tinha sentido o racismo muito presente. Havia aquele racismo velado, das piadinhas que a gente já se acostumou a ouvir e a não responder. Mas, depois que eu estou no Senado, eu já senti e nunca imaginei. Dizem que eu não tenho cara de Senadora – não sei qual é a cara de Senadora, mas eu não tenho cara de Senadora –; chamam-me de analfabeta, apesar de eu ter curso superior e especialização; já recebi jornalistas, pseudojornalistas, malhando-me muito nos meus discursos no período do impeachment da Presidente Dilma. Quer dizer, eu vim a sentir mais fortemente aqui – é impressionante! É por isso que, um dia desses, eu postei que o racismo no Brasil não se esconde mais, perdeu a vergonha; apresenta-se agora desavergonhadamente.
No Século XXI, uma Senadora ainda sofrer pelo fato... só pode ser pelos meus cabelos pixains, não é? Qual é o motivo para me retaliarem?
Vou dizer para vocês, gente: eu sinto que nós chegamos a quase sermos protagonistas, conquistamos espaços públicos muito importantes. Mas a gente está voltando à situação de coadjuvante, no momento em que se extinguem exatamente todos os Ministérios e Secretarias onde a gente se enxergava. Como é que vou me enxergar no Ministério da Justiça? Com o perdão da companheira, mas como é que vou me enxergar no Ministério da Justiça? Porque você fala em Ministério da Justiça, você só lembra Polícia Federal e Lava Jato. Você não lembra outra coisa. Acho que a maioria das pessoas nem sabem que algumas Secretarias que a gente protagonizava estão lá.
Então, acho que é mais para nos dizer que "vocês não vêm ao caso". Porque a despesa que gasta em um lugar gastaria no outro, mas a gente tinha o nosso espaço, onde a gente ia debater com as pessoas iguais a nós. Então, acho que isso é um descaso sim, você fazer essa extinção.
No orçamento, a gente percebe. Acho que a gente pode ter certeza que não vai mais ter que conferência, pelo menos nos moldes, no tamanho que a gente fazia, porque não consta. Vão nos dizer assim: "não cabe no orçamento". Se já disseram que o Sistema Único de Saúde não cabe no orçamento,...
(Soa a campainha.)
A SRª REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI) – ... imagina se vai caber uma conferência de igualdade racial, uma conferência nacional de mulheres, que nasce de baixo para cima, onde a gente formulava as políticas públicas que a gente achava importantes – ou que a gente acha importantes para os nossos segmentos. Então, acho que é um grande retrocesso.
E com essa PEC que está aí, podemos ter certeza que nós não vamos caber no orçamento desta Nação. A briga vai ser grande, muito maior. Se já enfrentamos muita coisa, vamos ter que enfrentar muito mais.
Muito obrigada.
(Manifestação da plateia.)