Discurso durante a 188ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações acerca da conjuntura política e econômica do país, e críticas ao governo do Presidente Michel Temer.

Solicitação de transcrição nos anais do Senado de resolução de autoria do PCdoB intitulada: "PCdoB defende construção de frente ampla e democrática".

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Considerações acerca da conjuntura política e econômica do país, e críticas ao governo do Presidente Michel Temer.
ATIVIDADE POLITICA:
  • Solicitação de transcrição nos anais do Senado de resolução de autoria do PCdoB intitulada: "PCdoB defende construção de frente ampla e democrática".
Publicação
Publicação no DSF de 06/12/2016 - Página 15
Assuntos
Outros > GOVERNO FEDERAL
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • ANALISE, CRISE, POLITICA, CONJUNTURA ECONOMICA, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DOCUMENTO, AUTORIA, PARTIDO POLITICO, RESOLUÇÃO, PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC DO B), DEFESA, CONSTRUÇÃO, FRENTE PARLAMENTAR, DEMOCRACIA.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Muito obrigada, Sr. Presidente.

    Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nós passamos o final de semana, desde a última sexta-feira, na reunião da direção nacional, do comitê central do meu Partido, o PCdoB. Essa reunião iniciou-se na sexta-feira e terminou apenas no dia de ontem. E o tema principal, obviamente, foi o debate acerca da conjuntura que nós estamos vivemos no País nos dias atuais, uma conjuntura da mais extrema dificuldade, porque seguem as crises política, econômica e ética.

    Eu aqui, Sr. Presidente, lembro quando discutíamos o processo de impeachment da Srª Presidenta Dilma Rousseff. Falávamos, com muita ênfase e com muita segurança, e repetíamos muito que aquilo não se tratava de um processo de impeachment. Aquilo era uma mera desculpa para substituir o comando do nosso País por quem estava pactuando todo um conjunto de medidas que, a partir da saída da Presidenta Dilma, deveriam ser aplicadas no Brasil. E alertávamos, naquele momento, na Câmara dos Deputados, sobretudo, e aqui no Senado Federal, aqueles que apoiavam a saída da Presidenta Dilma e argumentavam que era necessária para tirar o Brasil do caos, para trazer a paz política, para trazer o progresso econômico.

    Pois bem. Mais de seis meses se passaram, e o que nós percebemos, nobre Senador? O que o Brasil percebe? O que os setores produtivos percebem? O que os trabalhadores e as trabalhadoras brasileiras percebem? Não alcançamos nenhum dos objetivos por eles propagados. O Brasil não vive em paz. Pelo contrário, o Brasil está a cada dia mais conflagrado com denúncias sequentes não apenas nas diversas operações de combate à corrupção que estão em curso no País, mas, sobretudo, no envolvimento, nas notícias de envolvimento de pessoas que ocupam o primeiro escalão deste Governo ilegítimo, no envolvimento direto, inclusive, do próprio Presidente Michel Temer.

    O exemplo mais recente é o caso Geddel Vieira Lima, do seu Estado da Bahia, nobre Senador, sobre o que, dando uma entrevista, Michel Temer disse o seguinte: "Isso é um 'fatozinho'. Nós não podemos admitir que qualquer 'fatozinho' interfira na vida e na vida e na economia do nosso País."

    Ora, como isso é um "fatozinho"? Isso é um crime muito grave, porque não apenas o ex-Ministro Geddel Vieira Lima cometeu um crime, mas outras pessoas, inclusive o próprio Presidente. E foi um crime autorreconhecido. O próprio Presidente Michel Temer reconheceu que atuou, que interferiu na matéria, na questão, mas, segundo ele, teria sido somente para resolver conflitos de órgãos. E todos os documentos, os dados, as provas mostram o contrário: que ele interferiu para decidir um conflito entre o interesse privado e o interesse público. E, lamentavelmente, trabalhava no sentido da defesa do interesse privado, mesmo que esse fosse contrário ao interesse público, mesmo que esse estivesse completamente em desacordo com a legislação brasileira.

    Então, Sr. Presidente, são esses fatores que fazem com que o Brasil viva o caos que estamos vivendo hoje.

    Lendo os jornais todos os dias, o que nós percebemos? Hoje já se fala, sem nenhuma ressalva, sem nenhum escrúpulo, Presidente, da saída de Michel Temer da Presidência da República. Muitos falam e denominam isso de "o golpe do golpe". O Presidente Michel Temer é tratado, inclusive, por alguns membros de seu próprio Partido, o PMDB, e de partidos aliados como alguém que não se tem a certeza se consegue concluir o seu mandato até o final de 2018. Isso está escrito em todos os jornais. Está repetido em todos os blogs. E essas palavras são colocadas na boca de várias pessoas que assessoram próxima e diretamente, inclusive, o próprio Michel Temer, tamanha a gravidade que nós vivemos no País.

    Eu tenho aqui uma matéria importante, publicada na imprensa e em vários blogs. Eu trago a reprodução do que foi publicado no blog de Jorge Bastos Moreno, o Blog do Moreno, no dia de hoje. É a seguinte a manchete dessa matéria por ele publicada: "Temer lançará um pacote de medidas para combater a crise". Eu vou me reportar a essa matéria, mas fazendo um link, Sr. Presidente, com a resolução política que aprovamos ontem, ao término da reunião da direção nacional do nosso Partido, o PC do B.

    Nós estivemos, nestes últimos dias, reunidos discutindo a conjuntura nacional, discutindo obviamente também os planos, os projetos para o PCdoB, o aperfeiçoamento da nossa organização. Foi uma reunião politicamente muito densa, com opiniões, com uma ou outra divergência, mas, no geral, com opiniões muito coincidentes, com opiniões que mostram com clareza a deterioração da situação política do País, a deterioração deste Governo recém-instalado no Palácio do Planalto e a necessidade de promovermos – e contribuirmos – uma aliança, uma frente que não necessariamente seja de esquerda, mas uma frente ampla que possa defender alguns princípios elementares – o primeiro deles, sem dúvida alguma, é o retorno da democracia em nosso País – e procurar ajudar a tirar o País da crise.

    Eu digo isso, Sr. Presidente, porque, enquanto Dilma estava no poder, eles estavam aqui preparando o golpe de que infelizmente saíram vitoriosos, porque tiraram efetivamente, impicharam uma Presidente sem que nenhum crime ela tivesse cometido. E ali nós dizíamos que essa não era a solução para a crise que o País vivia. Pelo contrário, a solução para a crise que o País vivia ou era uma pactuação no âmbito do governo da própria Presidente ou, então, a retomada do caminho democrático com novas eleições presidenciais.

    A Presidenta Dilma falou isso claramente. Chegou a se comprometer publicamente com essa proposta. "Se depender de mim, abro mão do meu mandato para que possamos ter no País eleições diretas.", porque não é pelo caminho do golpe, pelo caminho do desprezo à democracia que a gente vai encontrar a solução para os graves, sérios e profundos problemas não só políticos, como também econômicos por que passa o País.

    Então, hoje, eu faço questão de ler aqui alguns aspectos do nosso documento, da nossa resolução que vai ao encontro da avaliação que faz a maioria dos partidos, inclusive dos aliados hoje do Governo de Michel Temer.

    Diz o seguinte:

O golpe parlamentar empurrou o Brasil para um [...] impasse. Em vez de algum indício da “pacificação” da nação e da superação da crise econômica e política prometidas pelos chefetes da ruptura democrática, o país segue conflagrado, regido pela instabilidade, exposto à corrosão de uma crise que se amplia e se agrava, adquirindo contornos de uma [grave] crise institucional.

Reacionário, o governo está inteiramente direcionado a implantar uma nova ordem conservadora neoliberal que visa a sepultar o pacto social da Constituição de 1988, eliminando conquistas sociais históricas e bloqueando o desenvolvimento soberano do país.

Ao cabo de escassos seis meses, o que se vê é um governo decrépito, incapaz de reconduzir o Brasil à normalidade política e à retomada do crescimento. Sem apoio do povo, é cada vez mais refém do consórcio financeiro, político, jurídico e midiático que comandou o golpe [que foi um golpe parlamentar].

A principal causa da situação caótica que domina o país é o próprio governo Temer que passa por crescente desmoralização, uma vez que a recessão e o desemprego crescem e os escândalos proliferam.

    Vejam, eles prometeram iniciar um caminho de combate à crise e do retorno ao desenvolvimento. O que os números mostram em relação ao PIB é uma retração ainda maior. Eles diziam que a Presidente Dilma tinha que sair porque perdeu a confiança do mercado, porque o seu governo estava envolvido em escândalos e que apenas eles seriam capazes de trazer a credibilidade do nosso País de volta. E aí o que fazem? Apressam essas reformas que, no nosso entendimento, nobre Senador, ao invés de resolverem os problemas do País, da economia, vão aprofundá-los. Apressam as reformas.

    Hoje, Michel Temer deve estar reunido com Lideranças da Base, com algumas centrais sindicais para comunicar a reforma da Previdência. Por que ele não chama empresários? Por que ele não chama as famílias mais ricas e diz que, a partir de agora, vão apresentar um projeto para tributar a distribuição de lucros e dividendos daqueles que mais ganham e que precisam também dar a sua parcela para tirar o País da crise? Mas não. Ele prefere conter os gastos públicos exatamente nas áreas sociais e também retirar os parcos direitos conquistados a duras penas pelos trabalhadores.

    Então, nós temos o entendimento de que não adianta de nada. Eles estão dizendo que o que vai resolver o problema da nossa economia é o capital privado, mas, primeiro, o capital privado está tão ou mais endividado do que o setor público, Presidente. Tão ou mais endividado do que o setor público. E não disponibiliza recursos. Não disponibiliza. E mesmo que venha, terá um efeito mais a médio e longo prazo, e não imediatamente, que é o que precisamos para poder animar a economia.

    Então, há uma grande contradição no que ele diz. Agora está dizendo que vai lançar um pacote. Que pacote é este que ele pode lançar? Enquanto faz aprovar... Nesta semana, deveremos ter a votação, no segundo turno, da PEC da limitação dos gastos, dos gastos no social, porque os gastos financeiros se mantêm intactos. Além disso, hoje anuncia a reforma da previdência.

    Não sei quais as outras medidas que ele vai anunciar, porque essas são medidas ainda mais recessivas do que as medidas que nós temos, ainda mais recessivas. E eles esperam confiança em nome de quê? De um Governo ético? Que isso! Quando o próprio Presidente é envolvido diretamente em denúncias, coisa que nunca aconteceu com a Presidenta Dilma, que nunca teve o seu nome envolvido como ele, que nunca atuou em benefício de empresas privadas como atuou Michel Temer!

    Enfim, dizemos que o fator da crise é o próprio Governo de Michel Temer. E citamos aqui, lembramos o caso Geddel Vieira Lima, que envolveu o próprio Presidente em crime de responsabilidade. E a isso se soma o cheque de R$1 milhão da Construtora Andrade Gutierrez nominal a Michel Temer em 2014, com versões contraditórias do ex-Presidente da empresa, ora afirmando se tratar de propina, ora negando. Mas uma acusação também extremamente grave e que atinge o coração deste Governo.

    Esse consórcio que passa por diferenciações e conflitos, embora sustente o Governo e sinalize mais engajamento, como recentemente fez o PSDB, possui já um plano alternativo. E esse plano está sendo exposto. Caso a situação siga a se deteriorar, Temer seria afastado e substituído por um outro governo através de uma votação indireta. Mas também essa alternativa é temerária para o País e para eles, o que agudiza o impasse. Por sua vez, explicita o conluio entre determinados segmentos de forças que fazem investigação, mas que, na realidade, miram o seu foco apenas para um lado e não de forma generalizada.

    Então, em razão desse quadro desastroso, aumenta-se a indignação do povo, sendo possível que cresçam as mobilizações embandeiradas pelo "Fora, Temer!", em defesa da democracia, pela defesa dos direitos e pelo resgate da soberania nacional.

    Nós sabemos que esse cenário nacional é impactado por uma realidade internacional marcada pela crise profunda do sistema capitalista, que já avança ao oitavo ano consecutivo e sem fim à vista. Embora tenha sido a detonadora da crise, a lógica financeira rentista segue no comando da maioria dos Estados nacionais do centro capitalista. Pelo mundo afora, governos e Parlamentos, títeres do rentismo, exacerbam a chamada austeridade fiscal para assegurar os ganhos fabulosos dos conglomerados financeiros. E essa austeridade e a lógica financeira travam o crescimento da economia mundial, elevam o desemprego, reduzem salários e cortam direitos.

    É isso que temos repetido no dia a dia desta tribuna. Aqui no Brasil, o golpe parlamentar foi consumado exatamente para promover o atrelamento total e sem nenhuma amarra do nosso País, do Brasil, a essa dinâmica dominante do capitalismo mundial, que, repetimos, não será capaz de tirar o Brasil da crise. Pelo contrário, ela funcionará para aprofundar a crise econômica.

    Aí, Sr. Presidente, segue a nossa nota. Uma nota, como eu disse, densa, em que repudiamos e conclamamos ainda a continuidade da mobilização popular contra a PEC 55. Repito: esta semana, voltaremos a votar, no segundo turno, e é preciso que a maioria dos Senadores e Senadoras caiam na real, entendam que essa é uma medida recessiva. Essa não é uma medida que colocará o Brasil nos trilhos novamente. Pelo contrário, ela afastará cada vez mais a Nação brasileira dos trilhos.

    Eu vou me reportar a uma matéria que não é mais do PCdoB, a uma matéria que tem sido comum, a uma análise que tem sido comum e publicada no dia a dia. Então, alertamos para a necessidade de a população manter a sua mobilização.

    Ontem tivemos uma manifestação em algumas cidades do Brasil muito aquém do que se esperava, mas uma manifestação que não podemos ignorar. Os organizadores tentaram impedir que as pessoas fossem lá e se manifestassem contra o Governo Temer, mas não conseguiram, porque foram milhares de pessoas também denunciar a política de Michel Temer. Foram reclamar do Parlamento brasileiro, reclamar, sobretudo, dos Presidentes que expressam o Parlamento, mas reclamar do Governo do Presidente Michel Temer, porque essa população também está descrente. Lutaram para tirar Dilma, mas eu tenho a convicção de que a grande maioria não queria esse grupo que está no poder, muito menos essas propostas que estão sendo encaminhadas.

    Eu ouvi, vindo para cá, para o Senado Federal, o aparte feito por um colega meu e com o qual eu concordo, quando ele diz o seguinte: que a Lava Jato tem que ser defendida, obviamente denunciados os abusos, denunciados os excessos, mas, nem por isso, a denúncia dos abusos, dos excessos deve prejudicar tão importante investigação.

    Concordamos, mas a mesma análise tem que ser dita em relação ao Parlamento brasileiro, porque não podemos ir contra as instituições. Temos que ir contra aqueles que agem contra as instituições. E temos que saber separar o joio do trigo. Sabemos que vivemos um momento delicado, que infelizmente a corrupção está entranhada no seio da política brasileira, que carece de reformas profundas que melhorem, por exemplo, a representatividade da população brasileira no Parlamento, porque trabalhador, mulher aqui são pouco ou quase nada representados. Mas que, de fato, o que nós estejamos vivendo seja uma luta não contra um projeto político, como, às vezes, deixam transparecer, mas, sim, uma luta de combate à corrupção.

    É isso que nós propugnamos, é a mesma coisa. E em relação ao Congresso, idem. Tudo o que os ditadores querem é um Congresso fraco, é um Congresso agachado, é um Congresso sem poder, porque isso só enfraquece a democracia. Então, nós estamos vivendo um momento extremamente delicado.

    Por isso, Sr. Presidente, é que nós decidimos algumas questões importantes, entre elas...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – ... a formação de uma frente, repito, aqui, que seja capaz de se juntar e dialogar os problemas do Brasil, e a mudança imediata, o recuo imediato da aprovação e da apresentação dessas medidas neoliberais extremamente restritivas e extremamente recessivas.

    Peço, Sr. Presidente, a V. Exª que seja incluída nos Anais da Casa a resolução do meu Partido como um todo para que aqueles que tiverem interesse em tomar conhecimento da análise que nós fazemos acerca da política nacional possam buscar no seio também do Senado Federal essas questões. Então, encaminharei posteriormente à Mesa essa resolução, para que seja incluída, na íntegra, nos Anais resolução que aprovamos no dia de ontem.

    Para concluir, Sr. Presidente, eu quero aqui lincar isso tudo que eu falei – que é um pouco um resumo de uma avaliação que nós do Partido fazemos em relação à gravidade do momento em que vivemos – com as avaliações que se fazem Brasil afora. Eu repito: pelo que se noticia, hoje, o Presidente deverá se encontrar ou já está se encontrando com as forças políticas que lhe deram sustentação para que chegasse indiretamente ao Palácio do Planalto pelo voto direto. Portanto, deverá se reunir com Líderes partidários, com os Presidentes das duas Casas e com representantes dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras. O debate de hoje será a apresentação do projeto de reforma previdenciária.

    Essa é uma questão grave, essa é uma questão delicada. Espero que não saia desta Casa – e, desde já, peço o apoio de V. Exª – um tal de calendário da mesma forma como fizeram com a PEC 55, um calendário que, em que pese respeitar o tempo do Regimento, não respeita o tempo da sociedade, não respeita o tempo do País para uma medida tão grave, porque não é uma simples medida de enfrentamento de crise, e, sim, uma emenda constitucional que deverá vigorar no País por 20 anos. Espero que, com a reforma da previdência, não seja esse o caminho escolhido pelas Srªs e Srs. Parlamentares.

    Mas há um outro problema, há uma crise instalada. Repito, é comum lermos matérias, notícias de que já se fala abertamente na possibilidade da substituição do próprio Presidente Temer, de ele não ter condições de chegar ao final do seu mandato, ou seja, ao final do ano de 2018. E por que isso? Por várias razões, mas principalmente porque não estão conseguindo cumprir o pacto que eles fizeram. Eles quem? Os partidos políticos que apoiaram o tal impeachment, o golpe, e o próprio Michel Temer, porque ele chegou ao Palácio do Planalto não sozinho, mas com um conjunto de medidas e com a tarefa de implantar essas medidas, tendo a imaginação de que as medidas por eles adotadas, ou seja, apenas a saída de Dilma, já seriam suficientes para iniciar uma nova trajetória de combate à crise, sobretudo à crise econômica. Passados esses seis meses, o que estamos vendo? A crise se aprofundar, o PIB cair mais do que eles haviam previsto e as projeções futuras menores e mais negativas do que as projeções que se faziam até então.

    Imediatamente, o que dizem, inclusive, importantes dirigentes dos principais partidos de sustentação de Temer, do seu próprio Partido, líderes do seu próprio Partido, do PMDB, líderes do PSDB, líderes do DEM? Sinalizam, imediatamente, para a necessidade da substituição do Ministro da Fazenda, do Ministro Henrique Meirelles. Foi preciso que o Presidente Temer concedesse uma entrevista à imprensa – e concedeu essa entrevista de forma urgente – como no domingo anterior, sem ser ontem, quando convocou, às pressas, uma entrevista coletiva para tentar diminuir o impacto das denúncias comprovadas feitas pelo ex-ministro da Cultura não só contra Geddel Vieira Lima, mas contra ele próprio, Michel Temer.

    Então, ele fez a mesma coisa, chamou, às pressas, uma entrevista e disse que não há a menor possibilidade de ele demitir ou substituir o Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – ... pessoa em cuja capacidade de tirar o País da crise ele tem enorme confiança. Mas, em contrapartida, está prometendo a esses partidos políticos o anúncio de medidas microeconômicas – é isso que está publicado – e deverá apresentar um pacote.

    Veja: estamos voltando à época dos pacotes.

    Eu lembro, na minha juventude, como íamos às ruas – V. Exª também deve muito ter ido à rua – lutar contra os pacotes do regime militar: pacote de Figueiredo, pacote da educação, pacote da saúde. E agora dizem que ele vai lançar um pacote de dez medidas microeconômicas.

    O problema não está no encaminhamento da política microeconômica, o problema está no encaminhamento da política macroeconômica, Sr. Presidente. Essa política que insiste em manter...

(Interrupção do som.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – ... as absurdas taxas de juros, que são as maiores do Planeta. E eles ainda enganam a população brasileira, procuram enganar, procuram dourar a pílula, dizendo: "Não, nas duas últimas reuniões do Copom, os juros baixaram 0,5%". Na primeira, 0,25%, depois que ele assumiu o poder; e 0,25%, na segunda, que foi agora, na semana passada: meio ponto percentual.

    Ora, Sr. Presidente, Senador Paim, os economistas mais ortodoxos diziam que, para mantermos uma taxa real de juros equilibrada, mesmo assim a maior do Planeta, a queda deveria ser, pelo menos, em cada vez, de 0,5% a 1%. E como foi? Foi de 0,25%.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Aí, veja V. Exª os números e os dados: a taxa de juros abaixou 0,25% nessa última semana. Em abril, que foi quando ele assumiu a direção do País, a taxa Selic real, ou seja, taxas reais de juros no Brasil, era de 6,66% e hoje, Presidente, está em 8,55%.

    Então, eles atuam para aumentar o valor da taxa real de juros. E não enganem o povo, não enganem o País dizendo que está havendo um declínio da taxa de juros responsável. Não é um declínio que está havendo, o que está havendo é um aumento da taxa de juros real.

    O que é a taxa de juros real senão a taxa nominal, a taxa Selic nominal, diminuindo-se a inflação?

(Interrupção do som.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – E, com a diminuição da inflação, muito acima da diminuição do valor em percentuais acima da queda da taxa de juros nominais, juros Selic, obviamente a taxa real cresce.

    Então, é lamentável que isso aconteça, Sr. Presidente. Vamos esperar que medidas microeconômicas são essas, porque, recentemente, o Tribunal de Contas da União, que teve a cara de pau de dizer que a operacionalização do Plano Safra era uma pedalada, autorizou o BNDES a devolver imediatamente aos cofres públicos R$100 bilhões. E para onde eles querem canalizar esses R$100 bilhões? Para o pagamento de juros, para o pagamento de serviços da dívida pública; canalizar para o setor financeiro, que eles remuneram muito bem com essas taxas de juros.

    Então, nós chegamos ao ponto, Presidente, de a própria Fiesp gritar. Olha a que ponto chegamos! Olha a que ponto chegamos. A Fiesp. E quem é a Fiesp? A Fiesp é a dona do pato, aquela que foi a sede mundial, a sede central de mobilização a favor da saída da Presidenta Dilma. Dizia lutar contra o aumento de impostos; que não podia mais o povo pagar o pato. Mas o que a gente está vendo agora é que só o povo está pagando o pato, a ponto de a Fiesp reclamar que as taxas de juros não estão baixando como deveriam baixar. Não estão baixando. E o único meio de promover alguma atividade a curto prazo seria isto: acelerar a queda da taxa de juros.

    Aí, já fazem uma crítica a Ilan Goldfajn, Presidente do Banco Central, dizendo o seguinte: embora os descontentes – são muitos descontentes com Michel Temer hoje; está virando quase unanimidade –, as credenciais do Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn argumentam que, preocupado em diferenciar o Banco Central da época da Presidente Dilma, pois diziam que ela tinha muita influência sobre as decisões do Banco Central, preocupado com isso, ele está deixando que o mercado influencie.

    Só pode ser, porque dizer que a ideia é se aproximar do centro da meta da inflação, 4,5%... Olhe o que eles dizem. Eles dizem que nem sabem – esse é o objetivo – se até 2017 haverá Governo Temer ou sequer economia para recuperar. Empresários que ontem estavam na rua defendendo a saída da Presidente Dilma, agora, fazendo esse tipo de análise. É óbvio! De onde veio Ilan? Do setor financeiro, presidente do maior banco privado do Brasil. E saiu desse banco privado sem nenhuma quarentena e está lá no Banco Central, dirigindo o Banco Central, e agindo da forma como está agindo.

    Então, veja! Além disso, a queixa do setor privado, das suas dívidas impagáveis. Então, nós estamos, cada vez mais, nos aprofundando num círculo, num círculo de recessão, que muitos economistas já avaliam que não é recessão; é depressão. E aí o Presidente está prometendo ao Brasil dez medidas microeconômicas. Eu não sei que medidas são essas. E volto a dizer: se não mexer na política macroeconômica, se não abandonar essas medidas recessivas que está votando, como essa PEC 55, a situação ficará extremamente delicada. E eles mesmo dizem que, até 2017, não sabem se haverá Governo Temer e sequer economia a ser recuperada. Essa, infelizmente, é a realidade que o nosso País vive.

    Poderíamos olhar um pouquinho para Portugal. Portugal fez o caminho inverso. Depois de uma política recessiva...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – ... que em nada contribuiu para tirar aquele País da crise, foi um grande pacto entre partidos progressistas, partidos de esquerda e trabalhadores que vem resolvendo o problema hoje de Portugal. Não somos Portugal, somos o Brasil, mas o caminho que o Brasil precisa para sair da crise não é o caminho apontado por Temer, que, além de ser ilegítimo, atua em defesa e como representante principal do capital financeiro, do capital rentista e do capital especulativo em detrimento de toda uma Nação e de mais de 200 milhões de brasileiras e brasileiros.

    Muito obrigada, Presidente.

DOCUMENTO ENCAMINHADO PELA SRª SENADORA VANESSA GRAZZIOTIN EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

    Matéria referida:

     – Resolução PCdoB


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/12/2016 - Página 15