Discurso durante a 188ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Pesar pelo acidente ocorrido com o avião que transportava a delegação da Associação Chapecoense de Futebol, de Santa Catarina, na cidade de Medellín, na Colômbia, e que deixou 71 mortos.

Defesa da entrega da Comenda do Mérito Esportivo à Associação Chapecoense de Futebol.

Considerações acerca da conjuntura política nacional.

Autor
Roberto Muniz (PP - Progressistas/BA)
Nome completo: Roberto de Oliveira Muniz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Pesar pelo acidente ocorrido com o avião que transportava a delegação da Associação Chapecoense de Futebol, de Santa Catarina, na cidade de Medellín, na Colômbia, e que deixou 71 mortos.
HOMENAGEM:
  • Defesa da entrega da Comenda do Mérito Esportivo à Associação Chapecoense de Futebol.
SISTEMA POLITICO:
  • Considerações acerca da conjuntura política nacional.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 06/12/2016 - Página 20
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros > SISTEMA POLITICO
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, ACIDENTE AERONAUTICO, TIME, FUTEBOL, ORIGEM, CHAPECO (SC), ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), LOCAL, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA.
  • DEFESA, ENTREGA, COMENDA, CONCESSÃO HONORIFICA, INSTITUIÇÃO ESPORTIVA, TIME, FUTEBOL, ORIGEM, CHAPECO (SC), ESTADO DE SANTA CATARINA (SC).
  • ANALISE, SITUAÇÃO POLITICA, ATIVIDADE POLITICA.

    O SR. ROBERTO MUNIZ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Senadora, eu queria inicialmente agradecer a gentileza de a senhora assumir a Presidência dos trabalhos aqui na Casa.

    Venho a esta Tribuna num momento talvez dos mais tristes que tenho vivido aqui nesta Casa, principalmente por ser um amante do esporte, um amante do futebol. Todo o Brasil hoje está impactado, durante os últimos dias, pela tragédia com o time da Chapecoense.

    Estamos ainda sob o manto da dor, consternados, como todas as famílias dos atletas e de todos os profissionais da Chapecoense, que tiveram um final doloroso, triste, num momento tão importante para a vida de todos os profissionais que ali estavam. Talvez no momento do auge de suas carreiras, o destino ceifou o seu futuro, o futuro de todos.

    Há muito o futebol brasileiro não vive um momento de resgate do seu principal motivo de existência, que é a construção do espírito esportivo. O espírito esportivo é, sem sombra de dúvida, um dos mais nobres momentos que a sociedade possa viver e experimentar. O espírito esportivo é o momento de congraçamento, o momento de celebração à vida, o momento de superação dos limites físicos, psicológicos e, muitas vezes, sociais.

    Quantos sonhos foram decepados; quantos sonhos foram cerceados; quantos sonhos foram tragicamente debelados da vida de dezenas de famílias.

    Muitas daquelas famílias que hoje estão chorando têm naquele atleta, naquele profissional do esporte, o seu futuro, a sua esperança.

    É isso que o esporte traz. O esporte é sinônimo de oportunidades. Por isso, ficamos consternados, porque a unidade que estamos vendo agora, essa convergência, esse congraçamento, não é no momento da alegria, não é momento do gol, da quebra de um recorde, mas pela dor de um grave, grande e histórico acidente, que não será esquecido mais nunca pelo povo brasileiro, nem pelo povo do mundo inteiro. A população de todo o mundo ficou consternada com aquele momento em que aquelas vidas e aqueles sonhos foram ceifados.

    Presidente, nós tivemos a oportunidade, nos últimos dois anos, de termos aqui dois grandes exemplos de eventos que congregam e agregam o sonho de milhares de esportistas do mundo. Tivemos a oportunidade de sediar tanto a Copa do Mundo quanto as Olimpíadas.

    A Copa do mundo teve momentos importantíssimos para que possamos fazer aqui uma avaliação dessa trajetória do Brasil esportivo nos últimos anos. Foi um momento de muito sonho, de um esforço descomunal deste País, sem sombra de dúvida, para fazer um dos grandes eventos mundiais.

    Tivemos diversas dificuldades. Uma das maiores era a descrença que tínhamos talvez todos nós brasileiros, ou, quem sabe, a grande maioria, porque, às vésperas do início da Copa do Mundo, não tínhamos sequer as nossas praças esportivas complementadas e as obras finalizadas.

    Mas o que ficou da Copa do Mundo, além de uma dívida tremenda, foi a tristeza da chegada final dos nossos atletas. Por uma consequência do próprio fato de o esporte ter ganhadores e perdedores, tivemos a tristeza de estar no rol dos que foram derrotados.

    Mas, mais do que isso, fomos derrotados de forma humilhante no inesquecível sete a um, quando todo o Brasil ficou triste, que demonstrou e deflagrou também um processo de abatimento muito grande sobre a população brasileira e sobre as suas esperanças, já que há muito tempo, muitas vezes, nós confundimos a Seleção Brasileira com a tal da Pátria de chuteiras.

    Mas a Copa do Mundo não trouxe o que há de melhor no esporte, que é esse espírito altaneiro; esse espirito maior que o esporte pode trazer que é o espírito do desporte, do desporto, e da celebração das raças, da celebração dos gêneros; da celebração, através do esporte, da própria vida.

    Chegamos com as Olimpíadas. E aí parece que um outro momento se abateu e novas cabeças repensaram como poderíamos fazer um grande evento no nosso País, Presidente. Em vez de olharmos simplesmente a dor da realização, começamos a perceber a beleza da diversidade. Começamos a nos empolgar e a ter orgulho em receber milhares de pessoas de diversos países, de diversas raças. Tivemos aqui a oportunidade de ver dezenas de recordes serem batidos, mas nada mais importante do que as dezenas de lágrimas e sorrisos que foram deixados nos campos e nas batalhas desportivas.

    Começamos a entender a importância de poder, através do esporte, superar desafios, superar obstáculos, algo que é muito comum ao povo brasileiro dos mais humildes, ao trabalhador brasileiro, que todos os dias tem obstáculos para poder trazer o sustento para a sua casa. Começamos a entender a beleza desse espírito esportivo. Começamos a aplaudir e a torcer não só pelos atletas, pois muitas vezes torcíamos pelos árbitros que lá estavam. A torcida sempre escolhia as seleções que eram mais fracas, talvez as que quase nunca pudessem ganhar aquela medalha. Saíram do Brasil com a certeza de que receberam a medalha mais importante que o esporte pode oferecer a alguém, que é a possibilidade de ser aplaudido pelo seu esforço.

    Aprendemos, Sr. Presidente, que colaborar é muito mais do que competir. Aprendemos que a colaboração é um fato que enaltece as pessoas, que constrói cidadãos, que alimenta o espírito de humanidade e que aproxima os povos de todo o mundo.

    É assim que nós estamos hoje consternados pela tragédia com a Chape. Mas há algo que a Chape trouxe e nos deixa de legado: a importância desse espírito esportivo. A Chapecoense, infelizmente, através da tragédia – quem sabe poderia ser através da vitória –, resgata o valor tão importante da vida do ser humano. Ela traz de volta a importância de comungar não com a palavra simplesmente colocada para as religiões, mas com a certeza de comungar e de fazer a comunhão entre os povos, de colaborar; a possibilidade de conviver e de respeitar a diversidade. Nada mais diverso do que as duas torcidas, mas nada mais abrangente do que o sonho de poder apertar a mão do seu adversário.

    A Chapecoense faz renascer o fair-play esportivo; traz de volta para o mundo a certeza de que os estádios de futebol não são campos de batalha; que ser torcedor é muito mais do que torcer para o seu próprio clube, mas principalmente torcer para um bom espetáculo.

    A Chape conseguiu unir o mundo e, no Brasil, conseguiu algo que ninguém conseguiu, Senador Cristovam Buarque: unir torcidas rivais. Tentamos isso por leis; tiramos torcidas do estádio; estabelecemos, através de portarias, um impedimento para que torcidas organizadas chegassem aos estádios e, em confronto, não causassem outras tragédias no nosso País. A tragédia da Chape fez a torcida do Palmeiras, a do Corinthians, a do São Paulo e a do Santos se abraçarem. Um momento único para a vida brasileira e para os amantes do esporte brasileiro.

    Rezo para que esse momento não se esvaeça, não vá embora. Rezo também pelos familiares e peço força e conforto para as famílias dos atletas e de todos que estavam lá envolvidos com esse espírito esportivo.

    A Chape, Sr. Presidente, é o espírito olímpico do Brasil materializado. Nós entendemos que a Chape traz de volta e constrói esse espírito olímpico.

    Queria agradecer, sem sombra de dúvida, ao Atlético Nacional e ao povo colombiano, que conseguiram transcender todos os nossos ideais de celebração pela vida, Sr. Presidente. Conseguiram lotar um estádio não para haver uma partida de futebol, mas para dizer ao mundo que todas as partidas de futebol e todos os eventos esportivos devem ser feitos para a celebração da vida.

    Por isso, quero aqui, em nome do Brasil, dos amantes do esporte, agradecer ao Atlético Nacional, ao povo colombiano, pelo gesto simples de dizer: "Não precisamos dessa medalha para sermos campeões. Essa medalha é afeita a quem lutou por ela como nós. Nós somos campeões, mas a Chapecoense, nesse momento, é a grande campeã sul-americana."

    Ainda escrevendo essas palavras, recebo a notícia, agora à tarde, de que a Conmenbol declarou a Chapecoense Campeã da Copa Sul-Americana. Em decorrência do título, a Chapecoense conquista a vaga na fase de grupo da Libertadores e consegue, mais do que isso, um nome no panteão dos grandes clubes do mundo. Fico feliz por poder perceber que existem pessoas que ainda se emocionam e que entendem o esporte como esse fator agregador.

    Quero aqui, Presidente, em nome da nossa Casa, em nome de todos os brasileiros que, em luto no final de semana, fecharam todos os estádios. E só o estádio da Chape e outros, em outros Estados, estiveram abertos para receber os corpos desses atletas e profissionais da área do esporte.

    Venho aqui agradecer à Chape pela celebração da vida. Mesmo com todas as dificuldades que suas famílias estão passando, vi a mãe de um atleta abraçar um comentarista, Senador Cristovam Buarque, dizendo ela que o abraçava para abraçar a todos os trabalhadores da área de comunicação que, também, morreram junto aos atletas. Ela foi maior do que tudo isso. Ela entendeu que aqueles que morreram são filhos brasileiros.

    E quero aqui, em de minha filha, Beatriz, que é uma torcedora do Vitória, como eu sou, assumir um atleta que jogou nas divisões de base do Vitória, Arthur Maia, como um filho que vi crescer, Senador Alvaro Dias, nas divisões de base. Vi brilhar, vi lutar pelo sucesso e, aos 24 anos, no momento mais importante da sua carreira, ele não está vivo para receber essa medalha que a Chapecoense está recebendo hoje. Mas que a família Chapecó – da cidade de Chapecó e do Clube Chapecoense – seja agraciada com essa medalha e com o título sul-americano.

    E queria aqui, em nome de todos os brasileiros, encaminhar a solicitação para esta Presidência, a concessão – e aí pediria que todos nós assinássemos – da Comenda do Mérito Esportivo para a Chapecoense, por tudo o que ela sofreu, tudo o que essas famílias têm sofrido. E, com esse gesto, que a gente tente minorar um pouco a dor. Mais do que isso, participar dessa grande congratulação que foi feita em todo o mundo e todas as homenagens justas que foram feitas à Chapecoense, e, também, muito à força que o esporte tem para congregar, fazer com que os povos se unam.

    Então eu queria, em nome de nós, baianos, de todos os Senadores da Bahia, de todos os políticos e de todos os presidentes dos clubes de futebol do meu Estado, abraçar os Senadores – nós, Senador Otto Alencar, Senadora Lídice da Mata também, Senador Dário Berger, Senador Paulo Bauer e Senador Dalirio Beber. Digo que esta proposta vai além do Senador Roberto. Ela é uma proposta para que nós todos possamos, aqui, trazer para esta Casa, neste momento de dor, de luto, a convicção que nós não podemos nunca fechar as portas para a política pública, que é tão fundamental para a construção da cidadania, que é o esporte no Brasil.

    Com a palavra o Senador Cristovam Buarque.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Senador Roberto, primeiro, parabéns pelo seu discurso no tema, no conteúdo, na lembrança do prêmio, na condecoração a ser dada.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Vale a pena a gente continuar falando desse assunto, porque é um exemplo que nunca, talvez, nós tenhamos tido no Brasil, um exemplo de unidade. Talvez nunca o Brasil tenha se sentido tão unido quanto nesse momento. Nem mesmo em um momento trágico, Senador Alvaro, com a morte de Tancredo, porque havia discordâncias. Nunca, a meu ver, a gente teve um sentimento tão igual, de Tancredo Neves, nunca tenhamos nos unido tanto em torno do mesmo fato. Agora, eu queria, ao mesmo tempo que me solidarizo, que manifesto o meu apoio e solidariedade, a minha tristeza sobre este fato, trazer uma certa lição, porque, enquanto o senhor falava, eu ia pensando. Por que nós nos unimos tanto ao ponto das torcidas diferentes se apoiarem mutuamente, ao ponto dessa grandiosidade de um time abrir mão do campeonato para dar lugar a um outro, e toda a Federação aceitar, e nós não conseguimos nos unir aqui em torno do Brasil, que está passando por dificuldades, que não dá para comparar com o sofrimento das famílias, do Brasil, dos torcedores, diante da morte destes jovens? Mas por que a gente não se une para enfrentar as dificuldades que o Brasil está enfrentando, apesar de termos partidos diferentes, grupos diferentes, disputas entre nós diante da próxima eleição? Por que é que nós não somos capazes de abrir mão, se preciso, da próxima eleição, tanto quanto o Atlético e outros abriram mão do campeonato? Por que a gente não é capaz de abrir mão da próxima eleição para defender o que acha que é certo? Pode ser até que esteja errado; mas acha que é certo. Vamos defender independentemente dos votos que haverá ou não com essa defesa. Vamos seguir o exemplo do Atlético, vamos seguir o exemplo desses times, Senador Alvaro, que foram capazes de abrir mão do campeonato, foram capazes de abrir mão de vitórias que teriam graças à tragédia do outro. Por que a gente não abre mão para perceber, dizer, reconhecer que se esgotou um tempo no Brasil, esgotou-se o modelo? As finanças dos Estados esgotaram-se. Não há como manter os mesmos gastos que nós nos acostumamos a fazer por meio da ilusão da inflação, por meio dessa ilusão que tomou conta da mente brasileira há décadas de que o dinheiro é elástico e que a gente pode comprar duas coisas com o mesmo real. Não se pode. Se você usou o real para uma compra, não pode usar o mesmo para outra compra, como usou um tijolo para uma parede, não pode usar o mesmo tijolo para outra parede. Por que a gente não está conseguindo se unir em função disso? Por que a gente não está conseguindo se unir em torno da ideia de que a aritmética tem valor também nas finanças e um mais um é igual a dois, não igual a 3, como temos nos acostumado e não colocamos também em discussão a situação dos milhões de desempregados? Como enfrentar isso? Como entender que gastos para pagar a dívida são uma condição legal e que abandonar isso, considerando-se como se não fosse legal, pode ser um suicídio? Mas, ao mesmo tempo, trazer os banqueiros e todos os credores, porque não são só os banqueiros, os banqueiros transferem parte; a dívida é de todos que têm conta de poupança, a dívida é de todos que têm investimentos. Por que não trazemos todos para uma mesma mesa, para discutir qual a saída para o Brasil não se desagregar, como tudo parece indicar que acontecerá nos próximos anos ou décadas? Em um país com a violência urbana descontrolada, absolutamente, como é a nossa, e já de algum tempo; com uma juventude que não tem utopias pelas quais lutar. E a prova é uma coisa tão magnífica, maravilhosa, como ocupar uma escola por luta, tem sido uma luta sem bandeiras. A bandeira, na verdade, é uma contrabandeira. Você não vê esses jovens que estão ocupando escola lutando pela erradicação do analfabetismo; lutando pela escola do pobre igual à escola do rico. Você vê lutando contra uma PEC. Muitos até nem sabem o que é PEC. E, aliás, não vai tocar a PEC na educação de base, porque ela se restringe à União, e a União é responsável...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – ... por muito pouco da educação de base. Como é que a gente vai enfrentar essa desagregação que está vindo, de partidos, os nossos, sem programas, sem identidade ideológica, sem identidade ética entre os seus militantes? Como vamos enfrentar essa desagregação que está caminhando no Brasil aos olhos vistos? Não precisa ser muito perspicaz para perceber que o Brasil é um país em processo de desagregação. Sem as bombas, como na Síria, mas em desagregação, pelas seitas que não dialogam. Por que torcidas diferentes dialogaram, choraram juntas, e nós não conseguimos dialogar entre grupos políticos no Brasil? Quanto a tudo que vem de um lado, o outro é contra. E, quanto a tudo que vier desse que é contra, o outro ficará contra também. Eu acho que seria uma bela coisa tirar uma lição disso que o senhor falou aqui, dessa abnegação de torcidas se apoiando em vez de disputando. De times e torcedores abrindo mão de títulos em nome de outro. Vamos aprender um pouco com esses. Claro que houve aí a pedagogia da tragédia, a pedagogia da morte, a pedagogia de um avião que cai. Mas será que não se percebe que no Brasil também há uma tragédia, e uma tragédia grave? E que, se não estamos como um avião que cai, estamos como um navio soçobrando no meio de uma tempestade muito forte e com diversas características, que alguns têm chamado tempestade perfeita? Eu não gosto dessa expressão, porque a perfeição da tempestade é a imperfeição dela para destruir as coisas. Eu creio que o seu discurso merece uma reflexão. Vamos tentar nos unir aqui, como os torcedores de futebol se uniram nessa semana, e não só no Brasil, não só no Brasil e na Colômbia, mas no mundo inteiro. Vamos tentar nos unir em torno desse grande time que é o Brasil. Afinal de contas, somos um time. Ou não somos um time? A verdade é que hoje dá para duvidar se somos um time ou se somos uma federação de times disputando entre si. Eu até tenho dito que de repente alguém vai propor mudar o nome do Brasil de República Federativa do Brasil para República Corporativa do Brasil. Cada corporação lutando contra as outras, sem o espírito comum e também sem a visão do espírito do futuro, do espírito do tempo. Vamos tirar uma lição: trazer para a política aquilo que o futebol nos ensinou no momento da tragédia. Para a política, seria melhor se nós aproveitássemos antes de a tragédia chegar ao seu ápice, à sua maior dimensão, o que, a meu ver, pode não estar tão distante. Para outros, até pode ser que já aconteceu, com os salários atrasados no Rio de Janeiro, com o décimo terceiro que não é pago em centenas ou milhares de cidades no Brasil, com as perspectivas que nós temos para 2017, com os 22 milhões de desempregados ou subempregados. Toda essa tragédia geral poderia nos despertar como aquela tragédia em Medellín despertou a todos nós torcedores do futebol. Quem sabe uma reflexão pode fazer com que nós nos despertemos também na política, procurando o bem deste imenso Chapecó que se chama Brasil.

    O SR. ROBERTO MUNIZ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - BA) – Senador Cristovam, incorporo seu aparte, com alegria de poder aqui conviver com V. Exª, que sabe o quanto de admiração guardo e nutro pelo seu trabalho.

    E digo que, em relação a essa provocação que o senhor faz, longe de tentar criar uma solução para algo tão difícil que está sendo debatido todos os dias em jornais que é essa ruptura, essa desagregação no nosso País que já ronda as nossas instituições, eu queria só tentar fazer um paralelo: da mesma forma que tentei trazer, nessas breves palavras, a importância do espírito esportivo, eu acho que abandonamos, há muito tempo, no Brasil, a questão do espírito da política.

(Soa a campainha.)

    O SR. ROBERTO MUNIZ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - BA) – A política vai além de uma arte. A política e a democracia são a certeza de que nós vamos conseguir, Presidente, fazer com que os regramentos básicos da convivência sejam para o fortalecimento da construção da vida digna para as pessoas. Acho que nós estamos indo, Senador Cristovam, para um caminho em que, em vez de estarmos sempre construindo uma possibilidade de tentar denegrir a imagem do político, se punam os maus políticos, mas que não se puna a política. Não há saída se não for através da política.

    E, Senador Cristovam, para mim, a base da política está no diálogo. E a nossa ruptura é porque rompemos o diálogo. Nós temos fatos que são colocados pelos dois lados, os que convergem a favor e os que são contra, sem olhar para o fato em si, mas principalmente para as verdades próprias.

    Neste momento mesmo, nós estamos discutindo a PEC 55 e temos dois grupos que estão debatendo. E todos os dois grupos permanecem dizendo que a PEC é para 20 anos, tanto os que apoiam como os que são contrários: um, querendo sinalizar para o mercado que se trata de uma política de longo prazo; outro grupamento, querendo dizer ao funcionalismo público que ele não terá aumento nos próximos 20 anos. Lá não está escrito isso. Eu li e reli a PEC, e não está escrito isso. Claro que há outras questões que precisam ser debatidas, mas iniciamos o nosso debate com uma inverdade ou com uma mentira apoiada pelos dois times? Não há nem possibilidade de haver contraditório, porque todos os dois apoiam o que é chamado hoje, na perspectiva da Universidade de Oxford, uma das palavras que foram colocadas lá, de pós-verdade, a verdade que existe após os fatos, que não tem mais nada a ver com o fato em si. Ela existe, porque todos falam, porque todos multiplicam.

    E aí esse apelo que o senhor faz. Não me sinto no tamanho para poder propor uma saída, mas uma certeza eu tenho: não será sem diálogo, não será sem colocar as armas no chão, não será sem haver possibilidade de abrir mão de parte de suas convicções. Não existe diálogo quando alguém manda e o outro obedece. Esse diálogo não existe. Só na ditadura. E isso não é diálogo. Isso é monólogo. E nós estamos caminhando para que os gritos dessa imperfeição calem muitos que querem falar e muitos que estão calados pelo Brasil afora. Não pensem que esses gritos que se ouvem de um lado e de outro representam a maioria. Muitos estão calados. Pessoas não estão aguentando mais serem rebatidas, não porque não se concorda com a posição delas, mas simplesmente porque ela tem uma posição.

    Eu assisti a esse ato feito pelas torcidas; a esse ato feito pelo Atlético Nacional; a esse ato feito pela mãe de um jogador, que, na imensa dor, teve a capacidade de entender a dor que um jornalista poderia ter pela perda de seus amigos e não só de familiares e de entender que todos os que fazem a prática do esporte vivem esse mesmo medo ou essa mesma possibilidade de tragédia todas as semanas para ir defender um clube; a todos os...

(Soa a campainha.)

    O SR. ROBERTO MUNIZ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - BA) – ... torcedores que entenderam que, mais importante do que o seu time, era o espírito olímpico que há muito tinha abandonado e que já não frequentava mais os estádios brasileiros...

    Senador Cristovam, coloco-me à sua disposição e de outros colegas aqui nesta Casa para podermos juntos, quem sabe, encontrar uma saída, mas essa saída não poderá ser minha, nem sua, nem de alguém aqui mais dotado do que todos, terá que ser através da negociação, diálogo, de ouvir as ruas, ouvir as instituições.

    E aí quero aproveitar – não sei se o momento – para dizer que precisamos repensar a política neste Brasil. Penso que talvez a nossa Constituição cidadã precisa ser revisitada.

(Soa a campainha.)

    O SR. ROBERTO MUNIZ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - BA) – Acho que houve um movimento muito grande e importante de o Brasil reassumir as rédeas da sua própria história depois dos anos escuros da ditadura. E aquela Constituição cidadã foi fundamental para iluminar esses espaços, mas, nesses quase 25 anos, o mundo mudou numa velocidade acima da das nossas instituições. As nossas instituições precisam, depois de já estarem com a musculatura grande, o que era um desejo da Constituição cidadã, criar instituições que pudessem fazer o equilíbrio entre os Poderes. Nós conseguimos fortalecer as instituições, mas acho que a palavra harmonia se perdeu durante o processo.

(Soa a campainha.)

    O SR. ROBERTO MUNIZ (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - BA) – Precisamos resgatar isso. Precisamos rever o que seria uma nova democracia à luz da participação política em tempo real que a sociedade está tendo. Precisamos rever a política com esse espírito da política pelo diálogo e não pela força.

    Eu quero compartilhar com os seus medos e anseios e com a sua dedicação e me colocar à disposição dos colegas, do Presidente desta Casa, para continuarmos debatendo, buscando a construção não de um País perfeito, mas de um País em que consigamos conviver com as nossas imperfeições.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/12/2016 - Página 20