Comunicação inadiável durante a 191ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do escritor e poeta Ferreira Gullar.

Defesa da Proposta de Emenda à Constituição nº 55/2016, que institui o Novo Regime Fiscal.

Autor
José Aníbal (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SP)
Nome completo: José Aníbal Peres de Pontes
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Pesar pelo falecimento do escritor e poeta Ferreira Gullar.
ECONOMIA:
  • Defesa da Proposta de Emenda à Constituição nº 55/2016, que institui o Novo Regime Fiscal.
Publicação
Publicação no DSF de 09/12/2016 - Página 71
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, POETA, ESCRITOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • DEFESA, APROVAÇÃO, PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO (PEC), OBJETO, ALTERAÇÃO, REGIME FISCAL, OBJETIVO, LIMITAÇÃO, AUMENTO, GASTOS PUBLICOS, EQUIVALENCIA, INFLAÇÃO, EXERCICIO FINANCEIRO ANTERIOR.

    O SR. JOSÉ ANÍBAL (Bloco Social Democrata/PSDB - SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, eu tenho tido a ventura aqui de falar antes ou depois de mulheres. Portanto, tenho um bom entendimento. Eu quero agradecer muito à Senadora Lídice da Mata por ter franqueado esse tempo.

    Eu queria falar, Sr. Presidente, sobre Ferreira Gullar. Quero me dirigir aqui aos familiares de Ferreira Gullar, para levar a eles as minhas condolências, e imagino que também as do Senado da República.

    Trata-se de uma grande figura humana, de um grande poeta, artista, pintor, polemista, enfim, uma figura de referência na cultura brasileira, ao longo de 50 anos, pelo menos.

    Ferreira Gullar era muito criativo, e o próprio nome dele foi a expressão da paixão que ele tinha por reconstruir a vida pela palavra, com os fragmentos da realidade. Ele explicou o nome dele da seguinte maneira:

Gullar é um dos sobrenomes de minha mãe, o nome dela é Alzira Ribeiro Goulart, e Ferreira é o sobrenome da família, eu então me chamo José Ribamar Ferreira; mas como todo mundo no Maranhão é Ribamar, eu decidi mudar meu nome e fiz isso, usei o Ferreira que é do meu pai e o Gullar que é de minha mãe, só que eu mudei a grafia porque o Gullar de minha mãe é o Goulart francês; é um nome inventado, como a vida é inventada eu inventei o meu nome.

    Isso reflete bem o que era Ferreira Gullar.

    Em seu Poema Sujo, que foi a sua criação monumental, de referência na poesia brasileira, ele escreveu a vida e fruiu a vida. Nesse grande Poema Sujo, versos que são maiores na nossa literatura, ele diz o seguinte:

[...]

a turva

mão do sopro

contra o muro

escuro

[...]

    No seu livro A luta corporal, ele nos convida a trilhar o caminho da turbidez e da perplexidade, do qual alguma luz poderá finalmente resultar:

Nada vos oferto

além destas mortes

de que me alimento

Caminhos não há 

Mas os pés na grama

os inventarão

Aqui se inicia

uma viagem clara

para a encantação

Fonte, flor em fogo,

quem é que nos espera

por detrás da noite?

Nada vos sovino:

com a minha incerteza

vos ilumino.

    Ferreira Gullar, realmente, foi um grande artista.

    Ele abandonou o marxismo, e na ocasião disse:

Foi uma questão de reflexão, de experiência de vida, de as coisas irem acontecendo, não só comigo, mas no contexto internacional. É fato que as coisas mudaram. O socialismo fracassou. Quando o Muro de Berlim caiu, minha visão já era bastante crítica. A derrocada do socialismo não se deu ao cabo de alguma grande guerra. O fracasso do sistema foi interno.

    Isso diz muito para nós. Mas, enfim, o Brasil perdeu um grande brasileiro.

    Para encerrar, eu queria falar de uma poesia, e é uma reminiscência também de outro grande poeta e escritor, Fernando Pessoa. A poesia chama-se Traduzir-se:

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim

é todo mundo;

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.

Uma parte de mim

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.

Uma parte de mim

pesa, pondera;

outra parte

delira.

Uma parte de mim

almoça e janta;

outra parte

se espanta.

Uma parte de mim

é permanente;

outra parte

se sabe de repente.

Uma parte de mim

é só vertigem;

outra parte,

linguagem.

Traduzir-se uma parte

na outra parte

— que é uma questão

de vida ou morte —

será arte?

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ ANÍBAL (Bloco Social Democrata/PSDB - SP) – Descanse em paz, em sua inquietude, Ferreira Gullar.

    Sr. Presidente, apenas quero dizer que acho que uma semana difícil como esta que estamos vivendo – como têm sido todas as semanas em Brasília, é um pouco redundância falar de semana difícil e tensa aqui em Brasília, especialmente no Parlamento –, de qualquer maneira, chegamos ao final com o avanço no processo que vai culminar, na terça-feira, com a votação da PEC do Teto.

    Nós temos divergências fortes sobre isso, mas eu tenho a profunda convicção de que essa emenda constitucional vai nos permitir um recomeço importante de reorganização das contas públicas, da economia brasileira, e da volta do crescimento.

    Claro que muita coisa mais merece ser feita, mas, sem dúvida nenhuma, que a PEC do teto vai ser um importante ponto de partida.

    Muito obrigado.

    E, mais uma vez, quero agradecer a Senadora Lídice da Mata.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/12/2016 - Página 71