Discurso durante a 191ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao Governo do Presidente Michel Temer, e defesa da realização de novas eleições diretas.

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas ao Governo do Presidente Michel Temer, e defesa da realização de novas eleições diretas.
Publicação
Publicação no DSF de 09/12/2016 - Página 76
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, REALIZAÇÃO, ELEIÇÃO DIRETA.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, telespectadores da TV Senado, ouvintes que nos acompanham pela Rádio Senado.

    Eu quero, Sr. Presidente, manifestar aqui hoje a minha mais profunda preocupação e a preocupação da nossa Bancada com o agravamento da crise neste País.

    Desde o fim das eleições de 2014, nós alertávamos para o fato de que a tensão política provocada pelos partidos que estavam, então, na oposição não levaria a nada, a não ser a um quadro de desestabilização.

    Mas eles não se deram por vencidos. Investiram, de maneira cada vez mais forte, no aprofundamento da instabilidade política, alargando problemas econômicos que, agudos, se tornaram cada vez mais crônicos.

    Incendiaram as ruas, atiçaram as forças mais reacionárias e conservadoras, às quais se aliaram para forçar a deposição de uma Presidenta legitimamente eleita.

    Conseguiram arregimentar uma tropa dentro do Congresso Nacional faminta pela volta de um sistema fisiológico banido da vida nacional, que um eventual Governo Temer prometia restaurar.

    Golpe consumado, uma Administração ilegítima e sem qualquer credibilidade assumiu o Palácio do Planalto e manteve – dentro do sistema do toma lá dá cá que prometeu restabelecer – 80% da Câmara e do Senado sob o seu cabresto, dentro dos limites das suas porteiras.

    Mas, passados sete meses deste Governo medíocre e claudicante, que sangra à média de um ministro derrubado por escândalos a cada mês, a crise piorou exponencialmente.

    A forjada instabilidade política pós-eleitoral potencializou os efeitos nocivos do cenário econômico internacional sobre o Brasil e transformou o que seriam percalços em um sério tsunami sobre o qual se perdeu totalmente o controle.

    O que se vê é um Governo com maioria parlamentar comprada a cargos e vantagens, mas absolutamente inerte diante de uma crise econômica que se aprofunda em todos os níveis: o PIB retrai, o desemprego aumenta, a renda diminui, a desconfiança cresce, os investimentos somem e todas as ações nessa área não são mais do que sucessivos voos de galinha.

    O resultado é que, depois da política e da economia, a crise migrou para as instituições. Estamos vendo uma disputa preocupante entre Poderes, em que a harmonia e a independência, preconizadas pela Constituição, têm sido deixadas perigosamente de lado, com o avanço constante de uns sobre a seara dos outros.

    Mais que isso, as rixas, muitas vezes, têm ocorrido dentro dos próprios Poderes, com fraturas absolutamente expostas, denotando batalhas internas que, quando tornadas públicas, fragilizam essas mesmas instituições.

    O quadro é de extrema gravidade. E, se há alguém responsável por isso, é essa oposição desqualificada que houve aos governos do PT, oposição que sempre apostou no quanto pior, melhor. Chegaram lá. Está aí: hoje, chegamos ao pior, e, como já denunciávamos, o quadro não está melhor para ninguém.

    Perdeu-se, completamente, o controle do País. Mesmo com uma expressiva maioria parlamentar, uma paz congressual conquistada na base do fisiologismo, este Governo mambembe não consegue sair das cordas, é absolutamente incompetente para conduzir o Brasil por um bom caminho. É retrocesso atrás de retrocesso, erro atrás de erro, e uma inércia, um imobilismo reinante, que tem jogado o Brasil em um quadro de profundas incertezas.

    E parte dos irresponsáveis da antiga oposição, hoje governistas, fez o Palácio do Planalto refém. É o caso do PSDB, que assombra Michel Temer com a constante ameaça do desembarque.

    E esse Presidente irrelevante, essa figura diminuta e apequenada, que está sentindo que não acaba esse mandato que não é seu, cede a tudo para manter-se na cadeira.

    Então, o jogo inconsequente do PSDB é seguir investindo na instabilidade do Brasil, em que pese todo o dano que isso já causou. É notório que todo o ataque ao Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, vem dos tucanos, que reúne o PIB a quem está ligado para derrubar o Ministro que pode se tornar uma ameaça política aos planos da tucanada para 2018.

    Eles batem em Meireles, apontam os seus fracassos, que são muitos, é verdade, e, ato contínuo, tomam de assalto o Ministério da Fazenda, colocando lá um nome de confiança do PSDB para abrir os caminhos do partido às eleições presidenciais. Todos sabemos que Armínio Fraga é o mais cotado para essa vaga.

    É assim que, desestabilizando o Brasil, os tucanos vão fazendo política, sob extorsão. É extorquindo e ameaçando esse débil Presidente que o PSDB vai ganhando espaço dentro da administração, pouco se importando se o País está se afundando em uma crise, que, como eu já disse, se irradiou para o campo institucional, colocando Poderes uns contra os outros.

    O que importa realmente para o PSDB é a satisfação dos caprichos e dos egos das suas lideranças; é chegar à Presidência pelo tapetão. É cada dia mais forte a corrente tucana que diz que vem aí o golpe dentro do golpe: derrubam esse aparvalhado Presidente no ano que vem e, por meio de eleição indireta neste Congresso, elege-se um ocupante tampão para o Palácio do Planalto.

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – E quem são esses nomes? O mais incensado e o mais propenso, a julgar pela sua infinita vaidade, é o nome de Fernando Henrique Cardoso. Mas até no nome do nosso colega Senador Anastasia, ex-governador de Minas, se fala.

    Não faço aqui julgamento pessoal de nenhum dos dois que o Brasil conhece, especialmente Fernando Henrique. Mas um partido que foi derrotado quatro vezes consecutivas nas urnas, na disputa presidencial, não poderia, não deveria arrumar uma maneira tão indigna para tentar ocupar esse cargo.

    Desde 2014, todo mundo que cai nessa República, a pergunta que surge é: “Quem assume é o Aécio?” E a resposta é sempre "não". Derrubaram Dilma. Quem assume é o Aécio? Não. Caiu o Eduardo Cunha. Quem assume é o Aécio? Não. Afastaram Renan. Quem assumiria seria o Aécio? Não. Foi eliminada uma subcelebridade desse Big Brother.

    Quem assume é Aécio? Não, não e não. A resposta é sempre essa. Não há arrumadinho constitucional possível para fazê-lo Presidente da República, já que ele perdeu nas urnas.

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Mas a insistência é tanta, que esse tapetão contra Temer está sendo montado para derrubá-lo e para colocar lá na vaga alguém do PSDB guardando o lugar, na tentativa de fazer com que, em 2018, finalmente, se deixarem, Aécio assuma, e se ele ganhar a eleição.

    É vergonhoso o que acontece hoje no Brasil. E creio que o Brasil inteiro está se dando conta dessa maquinação, está a par de toda essa armação que está sendo feita pelas suas costas e a despeito dos seus votos soberanos.

    Por isso, nós do PT reiteramos que a única forma de darmos de volta legitimidade às instituições e à própria democracia é por meio de eleições livres e diretas. Só por meio do voto popular será possível restaurar a credibilidade do Brasil e retirar o País da crise.

    Sem isso, e diante de um Governo fraco, torpe, desacreditado, e com partidos promovendo golpes dentro do golpe, nós só acentuaremos nossa queda ao fundo do poço, que, creiam, nós ainda não atingimos. Chegamos perto no dia de ontem, mas ainda há um caminho muito tortuoso até chegarmos lá.

    Muito obrigado, Sr. Presidente, pela sua tolerância.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/12/2016 - Página 76