Discurso durante a 194ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Crítica sobre o Presidente da Republica Michel Temer por ausência de eleição direta, registrando a crise política existente no Governo Federal.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SISTEMA POLITICO:
  • Crítica sobre o Presidente da Republica Michel Temer por ausência de eleição direta, registrando a crise política existente no Governo Federal.
Aparteantes
João Capiberibe, Roberto Requião.
Publicação
Publicação no DSF de 13/12/2016 - Página 13
Assunto
Outros > SISTEMA POLITICO
Indexação
  • CRITICA, RELAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, ELEIÇÃO DIRETA, REGISTRO, CRISE, POLITICA, EXISTENCIA, GOVERNO FEDERAL.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, quem nos ouve pela Rádio Senado, quem nos assiste pela TV Senado, não poderia tratar de outro tema desta tribuna que não a continuidade do assunto que abordaram os dois Senadores, Senador Roberto Requião e Senadora Vanessa Grazziotin, que me antecederam: a crise política que toma conta deste País e que agrava, dia a dia, a crise econômica. Mais uma vez, nós tivemos – e V. Exª, Senador Requião, falou muito bem sobre isso – um conjunto de delações vazadas, que sacudiram o Brasil neste final de semana, vindas da Odebrecht. E é o primeiro executivo da empresa que faz a delação.

    Interessante que, de novo, a imprensa tem acesso antecipado. Jogam-se as delações a público. De novo, o Jornal Nacional faz uma reportagem de quase todo o seu tempo já julgando e condenando. E, de novo, misturam tudo, tudo. Como se doações de campanha fossem a mesma coisa que o recebimento de propina, venda de emendas para MP, venda de proposições em parecer e em projetos, recebimento de recursos mensais para ajudar em mandato. Misturam tudo. E, mais uma vez, criminaliza-se a política.

    Por isso, a pesquisa que o Senador Requião traz aqui, que faz no seu Facebook: apenas 1% tem confiança no Congresso Nacional. Pudera, não tem como haver confiança também se, todos os dias, depara-se com notícias desse tipo. São notícias que desautorizam a credibilidade da instituição; notícias que atingem membros do Parlamento; e notícias que são tratadas da mesma forma, do mesmo jeito, tendo ou não culpa ou dolo o cidadão que está sendo citado. Aí o Parlamento, como um todo, é colocado em questionamento. Há 99%, como disse V. Exª, Senador Requião, de falta de credibilidade.

    Vivemos uma situação muito difícil, em que a irresponsabilidade das instituições impera, e a irresponsabilidade de muitos agentes nessas instituições também. Isso é deveras perigoso para a nossa democracia, porque, quando se começa a questionar um dos seus sustentáculos – que é representatividade por meio do voto –, com certeza a democracia corre risco.

    Estamos vivendo uma crise política e institucional sem precedentes em nossa história; em poucos momentos, o Brasil viveu uma crise como essa. E não podemos desconhecer que essa crise existe. Por isso, a insistência para que este Senado da República suspenda todas as votações que estão acontecendo na Casa, sejam elas nas comissões – comissões ordinárias, comissões especiais –, sejam as votações em plenário, principalmente aquelas que têm interferência muito grande na vida das pessoas.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Senadora, permita-me um aparte.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Pois não.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Seria a melhor coisa do mundo! Nas comissões é só bomba contra os trabalhadores. Se parasse, olha, eu bateria palma. Parem de votar, porque o povo agradece.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – É isso, Senador Paim, não podemos continuar a votação.

    Como vamos desconhecer que há um conflito dentro dos Poderes e entre os Poderes. Mais conflito do que foi externado, do que aconteceu na semana passada, no Supremo Tribunal Federal, que é o órgão de última instância a que podemos recorrer? Depois dele, a quem recorreremos? Ao Papa talvez? Quer mais conflito do que existe hoje na Suprema Corte? De divergência entre eles? Conflitos que existem dentro desta Casa, ou conflitos que existem entre os Poderes Legislativo e Judiciário? Quer um Executivo mais fraco do que este que estamos vivenciando hoje, que não tem legitimidade, que não consegue oferecer uma saída concreta para a crise econômica que estamos vivendo, a não ser atentar contra os direitos conquistados, com muita luta, pelo povo brasileiro? Como podemos continuar com uma pauta, fazendo de conta que nada está acontecendo, quando grande parte dos Parlamentares do Senado e da Câmara estão envolvidos nesse processo de delação justa ou injustamente?

    Nós temos de fazer essa discussão. Nós não podemos continuar votando e fazendo de conta que a crise não existe, que nós estamos aqui sem perceber o que está acontecendo ao nosso redor.

    Soma-se a isso, ainda, um ativismo político – também sem precedentes na nossa história – do Judiciário e do Ministério Público, que resolvem fazer política, deixando de lado a condução legal e formal que lhes é exigida.

    Está tudo muito doido, Senador Paim! Tudo muito invertido!

    Como pode o Senado da República continuar votando as matérias que está votando e discutindo? Como poderemos nós votar amanhã a PEC 55? Não temos condições de votar! Nós temos que suspender a tramitação. E nós precisamos concentrar, sim, os esforços, para tirar o País desta crise política, como um primeiro passo para tirá-lo depois da crise econômica.

    Estamos vivendo tempos muitos estranhos, Senador Paim – muito estranhos –, e que nos dão sinais assustadores. As leituras que fiz, nesse final de semana, dos jornais, realmente, deixam-me pensando se estamos de fato numa normalidade de funcionamento das instituições e da nossa democracia.

    No jornal O Estado de S. Paulo, o Comandante do Exército General Villas Bôas dá uma entrevista. E eu não sei por que ele dá uma entrevista, mas o recado da entrevista dele é o seguinte: não há chances de intervenção militar.

    Por que um chefe do Exército tem de ir ao jornal para dizer que não há chance de intervenção militar? Ele emenda, logo em seguida, dizendo que admite, sim, que há instabilidade neste momento:

Quando falo de instabilidade [como foi questionado, ele disse] estou pensando no efeito da segurança pública, que é o que, pela Constituição, pode nos envolver diretamente.

Aliás, já envolve, porque 'o índice de criminalidade é absurdo' e vários Estados estão em situação econômica gravíssima, como o Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Uma das consequências diretas é a violência.

    Pergunto-me: o que faz o General Comandante do Exército ir aos jornais dizer que não há possibilidade de acontecer golpe militar e, ao mesmo tempo, reconhecer que há instabilidade no País?

    Isso é preocupante, Senador Paim! É muito preocupante!

    Na mesma linha, uma entrevista hoje do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso. Também pergunto o que faz o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso ir para os jornais dizer que ele não é candidato: “Eu não sou candidato.” E complementa: “Candidato permanente.” Ou seja, pode ser eventual? Porque vamos considerar que o que nós estamos vendo hoje de discussões acerca da queda de Michel Temer, por ser fraco, por não ter condições de governar, por não ter legitimidade – a Base já o está deixando, – leva a crer que há uma articulação para se proceder neste País a uma eleição, mas não a uma eleição direta, uma eleição indireta, porque, em 2017, pela Constituição, se o Temer for afastado, caberia apenas uma eleição indireta. E aí vai, candidamente, o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, que é um dos nomes ventilados, dizer que não, que ele não vai ser candidato. Ele não é um candidato permanente. Mas pode ser, então, eventual? O que faz ele ir aos jornais?

    Os tempos são realmente estranhos, mas não é só isso. Temos também a entrevista do Secretário de Previdência, que é uma pérola, Senador Paim. V. Exª deve ter lido ontem, não leu? Sugiro que leia na Folha de S.Paulo. Aliás, tiraram o status de Ministério. Hoje a Previdência é um puxadinho do Ministério da Fazenda, serve apenas a interesses econômicos, financeiros e contábeis, e não tem o elemento humano para se preocupar. E olhem uma das pérolas que esse secretário disse. Ele foi questionado em relação à aposentadoria diferenciada das mulheres e por que o Governo estava encaminhando para esta Casa um projeto que igualava a idade mínima de aposentadoria entre homens e mulheres, já que nós temos diferenças de gênero na sociedade e discriminação da mulher. Olhem a pérola com que ele responde:

A Previdência não vai resolver o problema de gênero no Brasil, nem nenhuma outra forma de discriminação. A mulher se aposentar antes que o homem é apenas um paliativo. O custo da mulher para a Previdência Social é maior que o do homem porque ela vive por mais tempo. Do ponto de vista previdenciário, uma idade igual para se aposentar já é um subsídio para a mulher, porque o benefício será pago por mais tempo.

    É quase que um favor, porque nós vivemos mais, se aposentar ou ter a idade mínima para se aposentar como os homens.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Senão, daqui a pouco, eles tiram: o homem se aposentará cinco anos antes da mulher. Não duvide, pelo raciocínio deles.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Eu acho que tudo está levando a isso. Estou chegando à conclusão de que o grande custo na Previdência é o custo das mulheres.

    Senador Requião.

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – Só falta repetirem aquela frase famosa do ministro japonês, que, quando viu que o aumento da idade no Japão pressionava a Previdência, sugeriu às pessoas que morressem.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – É mais ou menos isso que eu acho que ele está sugerindo às mulheres.

     Ele não leva em consideração o fato de as mulheres terem filhos, não leva em consideração o fato de as mulheres terem mais dificuldade para o mercado de trabalho, serem mais discriminadas, terem salários diferentes, e que a Previdência, sim, é um instrumento de política pública que ajuda a combater desigualdades e diferenças de renda. É sim, é sim. Ele não quer admitir, mas é isso. E foi exatamente uma política diferenciada de Previdência durante o governo do Presidente Lula que fez este País debelar a miséria, enfrentar a pobreza extrema.

    Eu não posso me conformar com o fato de que um secretário da Previdência vá a um jornal e não tenha vergonha de falar uma coisa dessa. Mas ele continua. Ele diz mais, Senador Paim. Há mais uma pérola quando perguntam para ele sobre o benefício de prestação continuada: se não seria uma perversidade elevar de 65 para 70 anos a idade mínima para o BPC, que é um benefício que os mais pobres ganham, aqueles que não conseguem pagar a Previdência, portanto, pessoas já muito sofridas, já excluídas da sociedade. Ele diz o seguinte:

É preciso pensar na consistência de todo o regime previdenciário. Se você obtém um benefício sem contribuição, vai receber menos ou por menos tempo do que aqueles que contribuíram, até para incentivar que mais pessoas participem do sistema. O intuito da Previdência é repor renda [não reduzir desigualdades]. Não estou deixando de reconhecer a desigualdade no País, mas a Previdência Social não é uma política apropriada para resolver isso.

    Em que país vive este cidadão, onde as pessoas não têm as mesmas condições de partida para ter as mesmas condições de chegada? Ele vive fora da realidade brasileira; não conhece a realidade; não colocou os seus delicados pezinhos para pisar no chão do Sertão brasileiro, no interior do Brasil. Ele não fez o que Lula fez: visitar este país para saber como é a pobreza, para saber como é que as pessoas se viram, para saber como as pessoas sofrem, para depois chegar aqui e dizer que o salário mínimo tem de ter valor real, que ninguém pode ganhar menos que um salário mínimo, e que o BPC tem de, sim, ter bastante flexibilidade porque está ajudando os mais pobres.

    É disso que nós precisamos. Chega de gente de gabinete para fazer lei e dizer como as coisas têm de ser feitas. Ele deve se referenciar nele quando faz essa lei para os outros cumprirem. É lamentável, Senador Paim, que estejamos vivendo uma situação dessa.

    Mais lamentável ainda é ter esta PEC 55, amanhã, na pauta. Eu espero que este Senado tenha consciência de que nós não podemos votar essa matéria, não temos condições para votar essa matéria. O País está em uma convulsão quase política e numa crise econômica. E o que estão fazendo? O Presidente está dizendo agora que vai haver um plano emergencial para a questão econômica para tirar o foco das acusações sobre ele. Quer dizer, ele não está preocupado com o País; ele está preocupado com as acusações que estão pesando sobre ele. É por isso que ele vai fazer um plano emergencial? Ele já teria de ter feito. A inflação está despencando, e os juros não diminuem. O desemprego está crescendo.

    É interessante, Senador Paim, que nós tivemos, na pesquisa da Folha de S.Paulo deste final de semana, a saúde como a principal preocupação do povo brasileiro – mais do que a corrupção. A corrupção já foi a maior preocupação: 32%. Hoje, a saúde está com 33% em preocupação. A corrupção e o emprego estão com 16%. Porque as pessoas estão gritando: "Olhem para nós! Nós estamos precisando de saúde. Nós estamos precisando de assistência. Nós estamos precisando de atenção!" E o que nós vamos fazer aqui? Votar uma PEC que reduz recurso para saúde, que desestrutura o SUS, que reduz recurso para a educação, que retira recurso da assistência e da previdência.

    Em que mundo nós estamos? Não é possível! A gente não consegue ver a realidade que nos cerca?! Vamos ficar neste tapete azul bonito aqui e vamos votar contra o povo, dizendo que é isso que vai resolver a economia do País? Os senhores sabem que não é. Este País fez economia por dez anos. Nós tivemos resultado primário positivo, ou seja, arrecadamos mais do que gastamos. Nós não estamos com as contas desestruturadas. Tivemos agora a crise econômica e, por isso, a queda de receita. Nós precisamos colocar dinheiro na economia! Até eles estão vendo isso agora. Mas estão vendo porque querem salvar o próprio couro, não porque estão preocupados com a população brasileira. Nós precisamos colocar dinheiro para investimento, precisamos colocar dinheiro para crédito, precisamos dar às pessoas condições para elas resolverem as suas dívidas e dar às empresas condições de dar emprego. Não é votar a PEC 55! Não é fazer a reforma da previdência! Qual é a política contra os juros altos? Nenhuma, nenhuma. Porque isso realmente não interessa a quem está no Governo – realmente não interessa.

    Aliás, é muito interessante, porque o Datafolha trouxe a pesquisa sobre o Governo Temer. O Senador Requião até falou aqui, antes de mim, sobre isso e fez uma ressalva que eu acho importante: essa pesquisa foi anterior a essa leva de vazamentos de delações que nós tivemos no final de semana. Até então, o Presidente Temer não estava sendo acusado de nada. Mas só para os senhores verem, o índice do Temer – aquele que se esforçou para derrubar a Dilma, que veio para dentro deste Congresso Nacional e articulou com os Deputados e com os Senadores dizendo que ele era uma solução de estabilidade – é de 10% de "ótimo e bom"; 51% de "ruim e péssimo"; 65% da população acha que ele é falso; 75% dizem que ele é defensor dos ricos. E o Senador Requião me mostrava agora outro resultado da pesquisa mostrando que, se ele fosse candidato agora, ele teria 75% de rejeição. Só quem o apoia é o mercado financeiro. Por isto o empenho dele em votar as medidas aqui: exatamente para ressalvar os interesses do mercado financeiro. Não se paga aposentadoria, não se pagam benefícios sociais, não se pagam saúde e educação, mas se pagam juros.

    E não adianta vir só com o exemplo dos servidores públicos na questão da aposentadoria, porque, se fosse para realmente mexer, mexer-se-ia só aí, não no geral da população, que precisa de previdência. Mas o que vão fazer é mexer em tudo, mexer com o mais pobre, fazer com que as pessoas voltem a ganhar meio salário mínimo, o que era um absurdo, o que foi extinto pela Constituição de 1988, Senador Paim, por que V. Exª lutou. Nós não podemos ter cidadãos de duas categorias: um que ganha um salário mínimo e outro que ganha meio! Qual é a razão disso? Não é possível voltarmos no tempo.

    Sessenta e três por cento querem a renúncia do Temer para ter novas eleições, porque já estão sentindo no ar o cheiro do golpe dentro do golpe, esse que o Fernando Henrique está dizendo no jornal jurando que não é candidato, tentando desfazer esse mal-estar que está pairando sobre a sociedade e as instituições. Mas ele é, com certeza, porque esta Casa vai articular exatamente isso. Esse Presidente não tem condições de ficar onde está, não tem legitimidade, não tem força, é fraco. Vai cair. E aí virão com essa historinha de colocar um Presidente biônico eleito pelo Congresso Nacional, um Congresso Nacional que está deslegitimado, que não tem a confiança de 1% da população. Como é que pode?

    A única solução é eleições diretas. Nós não podemos ficar alheios a essa situação. Se há um tema para se discutir nesta Casa a partir de amanhã é como fazer eleição direta em 2017, antecipar as eleições de 2018. E eu não estou falando só de eleição para Presidente da República. Vamos fazer eleição para todo mundo: para nós, aqui do Senado, para a Câmara dos Deputados, para as assembleias legislativas. Vamos passar o País a limpo!

    Aí dizem: "Mas pode entrar, inclusive, um perfil mais conservador. Já pensou se entra o Bolsonaro?" Eu espero sinceramente que não entre o Bolsonaro. Acho que o povo brasileiro é um povo com capacidade de ver o que é perigoso para ele, mas temos de dar ao povo a condição de escolher. Se entrar um governo conservador, vai estar chancelado pelo povo. Aí vai poder vir aqui para dentro deste plenário de carpete azul e fazer o que este Senado hoje quer fazer a mando do Temer, que não tem legitimidade.

    Pois não, Senador Requião.

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – O importante, Senadora Gleisi, é termos um espaço democrático de discussão, e quem entrar entrará pela mão e pela escolha do eleitor da população brasileira, não dos banqueiros, não dos empreiteiros que colocam jabuti em medida provisória, negociam a aprovação de emendas que lhes interessam. Será uma opção popular. Será uma opção do brasileiro. Agora, o fundamental: a proposta de eleição geral é interessante, mas precisamos ter uma abertura, porque hoje eles propõem cada vez mais diminuir o espaço da propaganda eleitoral. Mas eles têm a propaganda continuada através do patrocínio financeiro para as grandes redes de comunicação. Batem todo dia. Vejam o que está acontecendo hoje com a Globo. A Globo denunciou a delação da Odebrecht anteontem, mas ontem já estava no ar, defendendo claramente a manutenção do Governo para aprovar a criminosa modificação da previdência brasileira. Não que a previdência não precise de reforma. A previdência precisa, a CLT precisa, o Congresso precisa da redução de mordomias que se acumularam ao longo do tempo, excessos de salário e tudo mais. Mas o fundamental é o juro da banca, os mais altos do mundo: 483% no cartão de crédito; 328% no cheque especial. É aí que está o problema, e 45% dos problemas da dívida pública, do déficit público, se referem ao pagamento dos juros da dívida pública, juros que são estabelecidos pelo Banco Central, controlado pelos grandes bancos e pelos rentistas. Eles governam o Brasil. Não é o Temer que governa. Eles governam o Brasil. Agora, por que todo mundo cede aos seus interesses? Você está vendo, com a denúncia da Odebrecht. Parece um jornalista de extrema direita que sempre diz bobagens na Globo, mas que, como todo mundo, disse uma verdade absoluta: o Congresso é um conjunto de mandaletes de financiadores de campanha, com exceções, exceções honrosas de gente que não abre mão da sua posição popular. O Congresso tem uma maioria financiada pelo poder econômico e votando com o poder econômico. É o pessoal dos jabutis. Dizem que jabuti não sobe em árvore. E, quando se encontra um jabuti numa medida provisória, foi o Jucá ou a Odebrecht que colocou, segundo a denúncia de um dos diretores da Odebrecht.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Jabuti é o que não falta nas medidas provisórias por aqui.

    Senador Requião, sobre juros, ninguém fala. É como se isso não fosse um problema; fosse parte da paisagem, estivesse lá. E ninguém mexe nisso. Nós temos de mexer em todo o resto para que isso seja resolvido com a sua normalidade. É um absurdo o que estamos vendo e vivendo neste País!

    Não é possível que a gente possa compactuar com essa situação.

    Eu espero, sinceramente, Srs. Senadores, que amanhã a gente tenha muita dignidade e suspenda a votação dessa PEC 55. O povo não merece pagar essa conta. Merece de nós ser protegido. Merece de nós ter a responsabilidade de termos políticas públicas que melhorem a sua vida, e não pagar a conta por algo que não fizeram.

    Senador Capiberibe.

    O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) – Senadora Gleisi, há duas questões que eu gostaria de colocar. Primeiro, a legitimidade do Governo para promover mudanças tão profundas na Constituição Federal.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Pois é.

    O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) – Qual é a legitimidade deste Governo? Segundo, a resposta que vem das ruas está cada dia mais clara: 63% pedem a renúncia do Presidente, um Presidente que foi imposto por uma elite que está sendo revelada para a sociedade como um conjunto de forças corruptas que o colocou na Presidência. E ele governa sem qualquer respeito à opinião pública, não é? O que mais me choca é que todas as iniciativas contrariam a sociedade brasileira. A PEC 55... V. Exª acaba de falar sobre juros; ninguém dá uma palavra sobre juros.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Nada.

    O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) – E corresponde à metade do esforço da sociedade brasileira. Os gastos, na verdade, são gastos com os juros. Depois vem mais a reforma da Previdência, que é superavitária. Se o Governo cumprir aquilo que determina a Constituição e a lei, está sobrando dinheiro todos os anos na Previdência. Mas isso não se fala. Há uma campanha ideológica para privatizar a Previdência. É o que está por trás dessas atitudes do Governo. Este é um Governo de um grupo restrito, não é? É um grupo que todos os dias a gente vê nas investigações. Ainda bem que não conseguiram bloquear as investigações da Lava Jato, porque, vejam só, para mim sempre esteve muito claro que o interesse de afastar a Presidente Dilma era paralisar a Lava Jato. Quando você estanca a hemorragia, quando você fala claramente em estancar a hemorragia, é para paralisar as investigações. Mas isso eles não conseguiram. E agora? Para onde é que nós vamos? O Presidente da República está envolvido até o pescoço. E, vejam só, nós estamos apenas com um delator. Esse é o depoimento de um só; faltam mais 71 ou 72, se não me engano. O que é que vem por aí? Como é que a gente vai responder para a sociedade brasileira? A sociedade brasileira vai varrer a gente daqui, porque me parece que a nossa legitimidade também está indo por água abaixo. Então nós estamos num impasse, e nós precisamos debater isso, não apenas aprovar essas medidas cada vez mais duras, impopulares e que não representam as aspirações da sociedade. Enfim, eu estou cada dia mais decepcionado com o que nós estamos vendo na política. Causa-nos uma profunda amargura sermos tratados todos com desconfiança, como se todos estivéssemos na vala comum. Mas, infelizmente, esse é o comportamento, digamos, comum da representação política. Muito obrigado.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Tem toda a razão, Senador Capiberibe. Por isso nós estávamos discutindo aqui que a única saída que nós temos são as eleições, as eleições diretas, o povo decidir. Nós temos que trazer a população. E não só a eleição para Presidente, eleições gerais. Vamos ter a coragem de antecipar, fazendo mudanças importantes na legislação eleitoral que permitam o debate político, a propaganda política, e que retirem do cenário político o capital, o dinheiro.

    Não é possível mais as campanhas serem caras, a gente ter que se sujeitar a pedir dinheiro para poder fazer campanha, para poder ter competitividade. Não pode mais haver isso.

    O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) – Se me permite uma palavrinha.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Sim.

    O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) – Eu, desde o começo da crise, bato na mesma tecla. Eu imaginava que uma eleição para Presidente da República, no começo deste ano, nos criaria uma alternativa para sair da crise. Hoje, concordo plenamente com eleições gerais do Senado, da Câmara, para renovar o Parlamento, porque nós não temos mais legitimidade. Eu estou convencido disso.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Não temos. É isso mesmo.

    Temos que reconhecer que nós não temos legitimidade.

    O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) – Temos que reconhecer a nossa insignificância diante da decepção da sociedade.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Da crise que nós estamos vivendo.

    O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) – Não há previsão constitucional, mas o Congresso tem legitimidade para mudar.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Nós não estamos votando a PEC 55 que é para tirar direitos do povo? Tínhamos que suspender isso e votar uma PEC para prever antecipação das eleições.

    O Sr. João Capiberibe (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - AP) – Eleições imediatamente.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Imediatamente. Sem financiamento privado de campanha, sem dinheiro, com tempo para debate e discussão. E fazer eleição para este País poder seguir. Se nós não resolvermos a crise política, Senador Capiberibe, nós não vamos conseguir resolver a crise econômica, porque a crise econômica hoje está sendo gestada apenas pela visão de uma parte da sociedade. E o povo tem consciência disso, 75% acham que o Temer defende os ricos, e é quem o está o apoiando nessas pesquisas. Então, não há condições. Eu concordo com V. Exª, nós temos que fazer autocrítica, todos nós. Nós não temos legitimidade para continuar, vamos nos submeter ao voto popular.

    Para terminar, Senador Paim – sei que já gastei aqui o tempo –, eu não podia encerrar esta minha fala sem fazer um registro da pesquisa Datafolha de hoje, que traz o Presidente Lula na frente de todas as simulações de primeiro turno neste País. Se as eleições fossem hoje, em primeiro turno, o Presidente Lula ganharia, em todas as simulações, do PSDB, do PSB, da Marina, de todo mundo. E só perde, no segundo turno, na simulação com a Marina, e com uma diferença de nove pontos percentuais, que é muito pequena, V. Exª sabe.

    E vamos combinar aqui que a Marina está inteiramente preservada, ninguém bate nela, ninguém fala mal dela. O Presidente Lula, coitado, parece carne sendo batida na tábua, porque é todo dia, um dia sim, outro também, alguém falando contra ele, alguém colocando notícia contra ele, alguém conspirando contra ele. É assim.

    Então, apesar disso, apesar do Ministério Público, apesar do Judiciário, apesar da mídia, que não o deixa em paz, o Presidente Lula está no coração do povo. Sabe por quê, Senador Paim? Porque o povo sabe quem fez bem a ele; o povo sabe quem deu condições a este País para implementar verdadeiramente a Constituição de 1988. E foi um homem: Luiz Inácio Lula da Silva. Por isso a realidade dessa pesquisa e por isso tentam tanto desacreditar e desconstruir o Presidente Lula.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/12/2016 - Página 13