Discurso durante a 196ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa da realização de novas eleições diretas para Presidente da República como solução para crise nacional.

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Defesa da realização de novas eleições diretas para Presidente da República como solução para crise nacional.
Publicação
Publicação no DSF de 14/12/2016 - Página 125
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • DEFESA, REALIZAÇÃO, ELEIÇÃO DIRETA, CARGO ELETIVO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLUÇÃO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, POLITICA.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Sr. Presidente, peço a palavra, em nome da Liderança do PT.

    Gostaria, Sr. Presidente, que V. Exª me garantisse a palavra. (Fora do microfone.)

    O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) – Senador Humberto, pondero a V. Exª. O problema é que estamos na Ordem do Dia.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Sem revisão do orador.) – Sim, Sr. Presidente. Eu preciso de dez minutos. Acho que o debate que foi trazido pelo nobre Senador Jader Barbalho é extremamente importante. São poucos momentos em que esta Casa vive situações importantes como essa. E aí vamos perder o privilégio de dialogar aqui.

    O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) – Com a palavra V. Exª.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Pois não, Sr. Presidente.

    Srs. Senadores, Srªs Senadoras, primeiro quero aqui parabenizar o Senador Jader Barbalho, um dos companheiros aqui, sem dúvida, mais respeitados deste Senado Federal, uma pessoa com posições independentes, firmes e corajosas.

    E quero dizer que endosso boa parte do discurso que ele fez aqui. Aliás, eu poderia ter feito ipsis litteris esse pronunciamento, há sete, oito meses. Sendo verdade, de certa forma creio que seja, o que disse S. Exª, é uma reprodução do que vivemos naqueles momentos derradeiros do governo Dilma Rousseff.

    Essa aliança que envolveu a grande mídia, um segmento do Poder Judiciário, um segmento do Ministério Público e setores importantes da oposição, foi a grande responsável pela deposição de uma Presidenta eleita e a ascensão de um novo governo.

    E aí, Excelências, não falo aqui do PMDB, nem falo muito menos de Jader Barbalho, mas é bom lembrar dos que batiam palmas quando o Presidente Lula foi coagido coercitivamente a dar um depoimento quando nunca havia sido anteriormente convocado para fazê-lo; dos que esboçavam sorrisos de alegria quando viram lideranças importantes do nosso Partido, ex-ministros serem presos, prisões preventivas infindáveis.

    E nós já naquele tempo dizíamos: não podemos aturar nem conviver com esse tipo de abuso! Houve até os que disseram que nós éramos uma organização criminosa, que tinham sido derrotados por uma organização criminosa, pelo fato de delatores criminosos, nas suas delações, terem ensejado isso.

    E agora? Parece que não era só uma organização criminosa. Se nós formos acreditar em tudo o que dizem os delatores, eram muitas organizações criminosas na política do nosso País.

    Aqueles que acharam bonito quando Parlamentares, quando lideranças sociais foram agredidas em aeroportos, muitas vezes nas suas casas, contribuíram fortemente para que acontecesse o que aconteceu naquele momento. E venderam para o Brasil uma ilusão.

    Aí eu começo a discordar do meu nobre companheiro Jader Barbalho. Acreditaram nos seus desejos, imaginavam que, derrubada a Presidente eleita, o Brasil com o apoio dessa mesma mídia que derrubou a Presidenta, iria alçar voo, e daqui a pouco estaríamos em céu de brigadeiro. E tudo, da noite para o dia iria se resolver: era a inflação; era o desemprego; era o crescimento econômico; era o fim da corrupção; era a mudança da cultura política neste País, mas chegaram à conclusão de que a realidade é muito mais dura do que o nosso sonho.

    E hoje, Senador Jader Barbalho, V. Exª tem razão ao dizer que acontece esse movimento – aliás, que ele continua – de desacreditar a política – e muitos contribuíram para isto aqui –; de desmoralizar o Congresso Nacional – e muitos contribuíram e continuam contribuindo para isso –; de fazer com que um Poder na República se sobreponha aos demais, verdadeiras vivandeiras do Judiciário neste País – e aqui existem muitas delas, e é preciso reafirmar.

    Mas, como eu disse, a realidade é muito diferente do nosso sonho e da nossa fantasia. E agora não é apenas o desejo da mídia, não é apenas o desejo de uma oposição, coitada, que tem aqui, nos seus momentos de maior brilho 16 ou 17 votos, mas é a inviabilidade desse projeto, desse programa que está colocado aí. O problema das denúncias de corrupção é um problema grave. Sim, todos nós sabemos, mas todos nós damos a todos o benefício da dúvida. Precisamos que se investigue. Esse é um problema importante, porque mentiram para o povo brasileiro, disseram que isso aí foi criado pelo PT, e agora nós começamos a ver que não é bem assim.

    Mas o problema não é esse. O problema é que quem derrubou Dilma lá atrás, derrubou não foi para acabar com corrupção, foi para implantar no Brasil o mesmo projeto que foi derrotado quatro vezes pelo povo brasileiro.

    Não há como implantar esse projeto no País pelo voto popular. E tentaram se utilizar do Vice-Presidente da República, do PMDB, e de muita gente de boa-fé que, ou foi à rua, ou aqui votou pela derrubada da Presidenta Dilma. Mas a realidade, como eu disse, é muito mais dura do que os nossos sonhos.

    E quero terminar, já que V. Exª falou aqui não apenas para desabafar; V. Exª falou para alertar este Congresso Nacional, dizendo que, primeiro, para que ele tenha vergonha na sua cara, para que ele não faça como muitos aqui que, quando nós temos que tomar uma decisão dura, perdem o voto, ficam convencendo companheiros e depois se escondem e, às vezes, vão até para o Facebook dizer que votaram contra, mas ficaram torcendo para que a maioria fosse lá decidir por eles.

    É isso, Presidente! É por isso que nós, do PT, não estamos dispostos a simplesmente votar esse ou outros projetos se não houver entendimento ou compromisso de que isso é bom para o País. Não adianta uma meia dúzia ficar posando de boazinha, de ético, de moralistas, embora estejam aí em todas as delações, e nós posarmos aqui como os corruptos, os que querem que esse processo que aí está seja interrompido. Não, Sr. Presidente!

     Mas eu concluo. Como eu disse, não é só um desabafo que ele fez aqui. Ele nos chamou à responsabilidade que temos. Mas eu entendo também que é um chamamento a uma saída.

    E aí, Presidente, não é que nós, da oposição, queiramos derrubar A, B ou C. É porque este Governo morreu, e não sabe ainda. É porque nós temos agora duas alternativas: ou a alternativa pelo autoritarismo ou pela continuidade deste Governo zumbi, porque este é um Governo zumbi; ou, então, nós temos o caminho da democracia, do reforço à Constituição, de uma saída...

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – ... pela soberania popular, pelas eleições diretas.

    E V. Exª, Senador Jader Barbalho, pela autoridade política que tem aqui neste Senado Federal, pode ser alguém que contribua para esse entendimento. Não haverá saída para o Brasil se não for pelo caminho democrático. Não haverá saída para o Brasil se não for pela soberania popular. Aqueles que querem derrubar Temer, para aplicar o golpe pelo golpe, o golpe dentro do golpe...

(Interrupção do som.)

    O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL. Fazendo soar a campainha.) – Para concluir.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – ... não terão de forma alguma nem o nosso respaldo, nem o respaldo da população brasileira, pois se enterrarão definitivamente se assim agirem. Enterrarão biografias de pessoas com as quais podemos discordar, mas que desempenharam papel importante para o Brasil.

    Portanto, eu quero fazer aqui essa conclamação: vamos buscar um entendimento, uma saída pela democracia, uma saída pelas eleições diretas, Sr. Presidente!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/12/2016 - Página 125