Discurso durante a 189ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a comemorar o Dia Internacional dos Direitos Humanos e à entrega da Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, em sua 7ª edição.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
  • Sessão especial destinada a comemorar o Dia Internacional dos Direitos Humanos e à entrega da Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, em sua 7ª edição.
Publicação
Publicação no DSF de 07/12/2016 - Página 11
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, SENADO, OBJETIVO, COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, DIREITOS HUMANOS, HOMENAGEM, ENTREGA, COMENDA, DOM HELDER CAMARA.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Bom dia a cada uma e cada um!

    Cumprimento o Senador Paim, o Senador Lasier, os homenageados, com muito carinho e respeito à Cristina Lopes, a Omar Ferri, ao Pe. Airton Freire de Lima, à Luciana Lealdina de Araújo, que não está conosco fisicamente, mas é uma homenageada in memoriam. Cumprimento os demais que assistem a esta sessão tanto aqui, quanto fora, pela televisão. E quero dizer que, pelo tempo que eu convivi com Dom Hélder Câmara, eu tenho certeza de que ele estaria, Senador Paim, Senador Lasier, feliz com aqueles que recebem uma comenda com o seu nome. Já se fez referência a cada um.

    E eu queria, neste momento, homenagear o próprio Dom Hélder, porque cada um de vocês que recebe um prêmio faz uma homenagem a ele, pelo seu trabalho, pela sua luta, que eu acompanhei, como recifense, desde o dia em que ele ali chegou. Mas eu creio que a melhor homenagem que podemos fazer hoje, neste momento que o Brasil atravessa, a Dom Hélder é refletirmos, imaginarmos o que diria Dom Hélder se estivesse aqui conosco. Que lições nos daria? Que linha nos proporia? O que faria para que nós encontrássemos um rumo no Brasil?

    Eu creio, sem dúvida alguma, que o primeiro ponto seria o compromisso dele mantido com duas coisas fundamentais: os pobres e a democracia. Tirando o lado da religião, claro, que foi a sua vida, Dom Hélder significava o compromisso com os pobres e com a democracia. E ele lutou contra o regime militar, ele lutou pelo estabelecimento das regras democráticas que nós temos.

    Que faria ele hoje? Que diria ele hoje para nós? Eu creio que se assustaria, apesar de todas as conquistas sociais que tivemos, sim, nas últimas décadas, especialmente nos últimos anos, com a crise econômica que está provocando tantos retrocessos nas nossas conquistas sociais, mas eu creio que ele se assustaria mais como democrata do que como humanista nas suas preocupações sociais.

    Eu creio que ele se assustaria com os riscos institucionais que hoje nós atravessamos. Ele se assustaria com a Constituição, que ele ajudou a criar, que permitiu a corrupção, a descrença nos políticos, a falta de sonhos utópicos, os partidos sem propostas, sem identidades, nem do ponto de vista moral, nem do ponto de vista ideológico.

    Eu creio que ele se assustaria, como um pacifista que foi, um defensor de Gandhi, um defensor da luta pela paz, sem praticar violência, com a violência que hoje toma conta do Brasil. E se assustaria com o descrédito que hoje nós políticos recebemos do povo e que está perto de se transformar em desrespeito. E, quando se sai do descrédito para o desrespeito, a crise vira desagregação.

    Eu creio que ele nos alertaria para o risco de uma desagregação do tecido social, político, econômico brasileiro. Aquele momento em que não apenas se critica, deixa-se de respeitar; não apenas se reclama dos impostos, para de se pagar imposto por descrédito com os políticos que vão dizer o destino do dinheiro.

    Eu creio que ele proporia, porque ele não era homem de críticas sem propostas, para mim, ele proporia diálogo. Essa foi a vida dele: diálogo. Dom Hélder nunca parou de dialogar nem mesmo com aqueles que naquela época estavam no centro do poder ditatorial.

    Eu creio que ele nos diria que é hora de derrubar paredes e construir pontes; o contrário do que estamos fazendo. Nós estamos construindo paredes e derrubando pontes.

    Eu creio que ele nos sugeriria sair dos sectarismos, de um lado e do outro, das certezas plenas, que, na verdade, são certezas, porque não estão vindo com análise concreta dos problemas.

    Eu creio que ele pediria que nós tivéssemos duas palavras: lucidez e responsabilidade: lucidez para entender os problemas sem os preconceitos que nós carregamos; e responsabilidade para pôr o interesse do País à frente do interesse de cada um de nós, o interesse da próxima geração à frente da preocupação com a próxima eleição a que cada um de nós vai se submeter.

    Dom Hélder hoje nos diria: sejam brasileiros antes de serem políticos! Tenham compromisso com a verdade antes de terem compromisso com as suas interpretações! E ele nos diria, sobretudo, que é pela paz que a gente constrói o futuro - a paz, com lucidez e com responsabilidade.

    É muita pretensão imaginar o que Dom Hélder diria, mas eu acho que uma boa maneira de tentar pensar é tentando imaginar como ele pensaria. Além de agradecer a vocês pelo trabalho de cada um merecendo o prêmio que tem o nome dele, ele pediria que vocês militem com responsabilidade e com lucidez, duas coisas que estão faltando muito em nós - e eu me incluo - políticos desta geração. Mas é preciso, no meio de todo o pessimismo, manter acesa a esperança, palavra que Dom Hélder tanto gostava. Ele foi um Bispo que eu chamei uma vez de santo rebelde. Ele era um rebelde na sua santidade no dia a dia da sua vida. Ele era um lúcido, era um responsável e era incansável, mas uma das palavras de que ele mais gostava, ao lado da paz, era esperança. Vamos ter esperança, porque o Brasil encontrará o seu rumo. Nós deveríamos tentar fazer isso, mas, se a nossa geração não fizer, a próxima fará. O Brasil é muito maior do que cada um de nós.

    Viva Dom Hélder Câmara! Viva cada um de vocês que receberam esta comenda!

    Parabéns! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/12/2016 - Página 11