Discurso durante a 18ª Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão solene do Congresso Nacional destinada a homenagear o centenário de nascimento de Miguel Arraes de Alencar.

Autor
Antonio Carlos Valadares (PSB - Partido Socialista Brasileiro/SE)
Nome completo: Antonio Carlos Valadares
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão solene do Congresso Nacional destinada a homenagear o centenário de nascimento de Miguel Arraes de Alencar.
Publicação
Publicação no DCN de 15/12/2016 - Página 30
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO SOLENE, CONGRESSO NACIONAL, OBJETIVO, HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, MIGUEL ARRAES.

      O SR. ANTÔNIO CARLOS VALADARES (Bloco Socialismo e Democracia/PSB-SE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Se há homens que são grandes, Miguel Arraes de Alencar foi um gigante.

      Desde sua primeira função pública, como Secretário da Fazenda do Estado de Pernambuco no Governo de Barbosa Lima Sobrinho, em 1948, até sua morte, em 2005, quando exercia, pela terceira vez, o mandato de Deputado Federal, Miguel Arraes foi sempre o nordestino arretado, corajoso, firme, que muitos de nós tivemos o privilégio de conhecer pessoalmente.

      Tinha no olho aquele brilho de quem passou a infância no sertão de Araripe e do Crato: sabia o que era o flagelo da seca, sabia o que era a praga da desigualdade. Em 1962, quando se elegeu, pela primeira vez, Governador de Pernambuco, enfrentou as oligarquias canavieiras do Estado e obrigou os donos de engenho da Zona da Mata a estender o pagamento do salário mínimo a todos os trabalhadores rurais.

      Muitos dos que estão aqui presentes não sabem o que era o Nordeste de meados do século passado. E foi contra esse Nordeste arcaico, contra esse Nordeste excludente, contra esse Nordeste coronelista que Miguel Arraes sempre lutou. Estimulou a criação de sindicatos, encorajou a formação de associações comunitárias e apoiou as ligas camponesas. Entendeu, antes de muitos, que jamais haverá paz social se não houver justiça social.

      E pagou por sua ousadia. Foi deposto no dia seguinte ao golpe militar de 1964. Propuseram-lhe a renúncia, mas Miguel Arraes disse que jamais trairia a vontade dos que o elegeram. Passou 11 meses preso na ilha de Fernando de Noronha. E saiu da prisão para o exílio, na Argélia, em maio de 1965.

      Foram 14 anos fora do Brasil. É quase o intervalo de uma geração, tempo suficiente para que fosse esquecido. Mas Pernambuco não o esqueceu. Como esquecê-lo? Por mais que tentassem, jamais conseguiram apagá-lo da memória coletiva daquele povo que ele tanto defendeu. De volta ao Brasil, pouco depois de aprovada a Anistia, quase 50 mil pessoas aclamaram-no no comício de boas-vindas, no bairro de Santo Amaro, no Recife.

      E a democracia restaurada seria seu lugar. Em 1982, elegeu-se Deputado Federal pela primeira vez. Em 1986, venceu as eleições para o Governo de Pernambuco. Em 1990, conquistou o segundo mandato na Câmara dos Deputados. Em 1994, aos 78 anos, assumiu, pela segunda vez, o Governo do Estado. Em 2002, elegeu-se, pela terceira vez, Deputado Federal.

      Foram 57 anos de vida pública. Foram quase 6 décadas de uma prática política marcada pela autenticidade, pela serenidade, pela integridade, pela cordialidade, pela sensibilidade social. Miguel Arraes é desses exemplos que nos indicaram, com clareza, não apenas o que devemos fazer, mas como devemos fazer. É desses homens que mereciam não somente o nosso aplauso, mas sobretudo a nossa adesão. É desses líderes que nos permitiram sonhar com um outro País, um Brasil muito melhor.

      Agora, por ocasião desta celebração de seu centenário de nascimento, e no momento em que o Brasil enfrenta a pior crise econômica de sua história, a pior crise política desde o golpe militar, é que a ausência de Miguel Arraes é mais dolorosa. O que nos diria, se aqui ainda estivesse? O que nos aconselharia?

      Talvez nos lembrasse -- como sempre fazia -- de que este País é maior do que todos os seus desafios; de que nossa gente é mais forte e mais brava do que todas as nossas adversidades; de que a solução para os problemas da sociedade brasileira é, sobretudo, política. Mas uma política sem personalismos, uma política sem rótulos, uma política que tenha por objetivo o interesse de todo o Brasil, e não de apenas uma parcela dos brasileiros.

      Por tudo isso, que celebremos a vida de Miguel Arraes de Alencar! É belíssimo o painel que fizeram aqui no corredor de acesso ao plenário da Câmara dos Deputados. Meus parabéns aos organizadores. Muito obrigado aos que aqui participam e aos que de casa assistem a esta importante homenagem. É preciso -- sempre -- celebrar o nascimento daqueles que se projetaram sobre todos os demais e se inscreveram, na nossa história, não como notas de rodapé, mas como parte do panteão dos homens que buscaram fazer, deste País, uma verdadeira Nação. E este, definitivamente, é o caso de Miguel Arraes, que ainda vive, neste plenário, a cada vez que se pronuncia a palavra “democracia”.

      Meus cumprimentos a todos.

      Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN de 15/12/2016 - Página 30