Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre os momentos políticos vividos no Brasil, ora sob a gestão de elitistas, ora sob o comando de populistas, e seus reflexos na vida da população.

Comentários acerca da insatisfação dos policiais militares brasileiros.

Considerações sobre a reunião que teve com o Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, acerca da sua indicação para o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Considerações sobre os momentos políticos vividos no Brasil, ora sob a gestão de elitistas, ora sob o comando de populistas, e seus reflexos na vida da população.
SEGURANÇA PUBLICA:
  • Comentários acerca da insatisfação dos policiais militares brasileiros.
ATIVIDADE POLITICA:
  • Considerações sobre a reunião que teve com o Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, acerca da sua indicação para o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal.
Aparteantes
Ana Amélia, Hélio José, Lasier Martins.
Publicação
Publicação no DSF de 11/02/2017 - Página 26
Assuntos
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Outros > SEGURANÇA PUBLICA
Indexação
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO, ATIVIDADE POLITICA, LOCAL, BRASIL, MOTIVO, GESTÃO, GOVERNO FEDERAL, PERIODO, DEFENSOR, MINORIA, PROPRIEDADE, RIQUEZA (SC), ALTERAÇÃO, DEFESA, MAIORIA, POBREZA, RESULTADO, PREJUIZO, POPULAÇÃO.
  • COMENTARIO, DESAPROVAÇÃO, POLICIAL MILITAR, RELAÇÃO, BALANÇO, GASTOS PUBLICOS.
  • COMENTARIO, REUNIÃO, PARTICIPAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), ASSUNTO, INDICAÇÃO, OCUPAÇÃO, CARGO PUBLICO, MINISTRO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF).

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Obrigado, Sr. Presidente.

    Quero, inicialmente, pedir desculpas por repetir um pouco o aparte que fiz um minuto atrás à Senadora Ana Amélia, mas creio que este é um tema que merece ser repetido, para que a gente possa, um dia, chegar a posições. O que eu falei para a Senadora é que a política é a arte de combinar a ética dos objetivos que nós propomos à sociedade com a aritmética dos limites dos recursos que a sociedade tem.

    Só que, ao longo da história, essa combinação entre ser ético e aritmético, ter propósitos justos e, ao mesmo tempo, respeitar os limites não funciona bem, e os políticos tendem a escolher um lado ou outro. Alguns escolhem o lado de limitar os recursos, ou seja, o lado da aritmética, sacrificando o povo. "Como os recursos são pequenos, vamos dar tudo que for possível aos poucos ricos e deixar os pobres de lado." São aqueles que a gente pode chamar de elitistas, que estão preocupados só com a minoria, com os 10% mais ricos da sociedade. Os recursos são limitados, não há inflação, a crise ecológica não é tão grande, mas é uma imoralidade não atender as massas, o povo, a maioria. Mas há os outros, aqueles que são tão éticos que querem atender a todos. Mas, aí, esses muitos não respeitam a aritmética, não respeitam os limites – propõem tudo, caem na demagogia. São os populistas.

    A história tem oscilado entre os elitistas da direita e os populistas de esquerda. Têm sido raros na história políticos que conseguem combinar sonhos de justiça com consciência dos limites dos recursos: a ética e a aritmética. E desses que conseguem sonhar isso, no discurso, temos muitos. São intelectuais, são profetas, são filósofos. Mas políticos que conseguem combinar essas duas coisas e ainda terem voto suficiente, e ainda conseguirem conduzir um povo nessa direção são raríssimos: são os poucos estadistas que alguns países têm algumas vezes na história; e hoje nós não estamos tendo no Brasil, nem no mundo.

    O mundo passou um tempo no populismo; passou a ser, um tempo depois, na responsabilidade. Agora, está voltando ao populismo. O Brasil passou um tempo no populismo de prometer tudo para todos; não dava. Até tentou-se, mas não dava. Vem a inflação, vem a poluição, vem o endividamento, vem o fim, por limites de recursos. E nós chegamos a esse ponto. Não há mais recursos suficientes para manter a máquina do Estado funcionando e oferecendo tudo aquilo que nós prometemos e que deveríamos fazer.

    E, aí, nos vemos diante de dois discursos: alguns que querem a responsabilidade da aritmética e abandonam os sonhos da ética; e outros que mantêm o discurso dos sonhos da ética sem respeitar, sem compromisso com a responsabilidade da aritmética dos limites dos recursos. Estamos com esses dois discursos, e esses dois discursos, se não encontrarmos uma combinação rápida, estão levando o Brasil a uma desagregação social. O Rio de Janeiro é um exemplo; o Espírito Santo, momentaneamente, porque a crise no Espírito Santo é circunstancial de segurança – não é estrutural das finanças. É um dos raros Estados com as finanças equilibradas. Aliás, o descontentamento vem em parte do equilíbrio fiscal que foi conseguido, e as pessoas não estão satisfeitas porque isso exigiu redução de alguns benefícios.

    Estamos caminhando e, a meu ver, Paim, a passos muito largos, para uma desagregação social; um descontentamento geral e sem propostas aglutinadoras e nem rumo para o futuro, Senador Hélio José. Duas coisas fundamentais para a Nação – aglutinar-se e dizer: "Eu sou brasileiro"; e outra: "Eu tenho rumo para as minhas crianças". Hoje, as pessoas dizem: "Eu sou professor, eu sou metalúrgico, eu sou banqueiro, eu sou industrial." E "eu sou brasileiro"? Está faltando. "Eu quero meus direitos." E os das crianças? Onde andam os das crianças? Os meus direitos hoje não vão dar para chegar às próximas gerações. A grande tragédia brasileira é essa falta de uma aglutinação com rumo.

    E, se isso não vem logo, os países se desaglutinam. A Síria está desaglutinada completamente; a Líbia está desaglutinada; a Argentina, de certa forma, sofre disso, embora numa medida muito menor; e nós podemos caminhar para isso, se é que já não estamos nisso sem perceber. Quer ver a prova? A quantidade de carros com vidros blindados, a quantidade de seguranças privados – porque em breve, com a polícia não funcionando, o que farão as pessoas? Contratar seguranças particulares, fazendo com que a polícia não seja mais necessária a longo prazo, o que será o fim do Estado.

    Eu vi um conto, Senador Paim, de uma mulher, empregada doméstica, tão descontente, Senadora, com a educação de seus filhos que resolveu o problema entrando para o tráfico, virando uma capo do tráfico, matando gente. Ficou rica, foi presa. Isso é um conto de ficção. O delegado perguntou a ela: "Adiantou alguma coisa? A senhora está há vinte anos aqui, condenada." E ela respondeu: "Adiantou, eduquei meus filhos." Tem um final até chocante! Ele diz a ela: "Mas os seus netos vão visitá-la na cadeia, D. Heloísa!" – creio que esse seja o nome dela. E ela diz: "Mas vão falar inglês na minha frente." Ou seja, começa a surgir a busca pela solução pessoal, individual, à margem do Estado, pela falência em que estamos. E nós somos os culpados. Nós, que aqui estamos. Não apenas esta geração, mas também outras anteriores. Mas somos os culpados, e estamos cegos diante disso.

    E foi nessa cegueira, como contei há pouco à Senadora, Senador Hélio José, que fui a Brazlândia. Você sabe que costumo ir por aí nas noites. Dois policiais – quero repetir, porque talvez alguns não tenham assistido ao meu aparte – de quem me aproximei para conversar, dois PMs em serviço que estavam naquelas casinhas implantadas há algum tempo, que foram desativadas mas ainda sobrevivem em Brazlândia, pelo menos. Eles vieram conversar pela simpatia que têm comigo os PMs e os bombeiros. Comecei a perguntar sobre o Espírito Santo. Eles me disseram: "É um aviso que estamos dando. Isso vale para todo o Brasil, porque não estamos contentes, querem tirar os nossos direitos." Aí falou da aposentadoria deles, que é diferente, e que querem fazer igual. Eles me disseram por que a aposentadoria deles tem de ser diferente. Eu disse: "Mas para a aposentadoria de vocês ser melhor, é preciso que para alguns seja pior, porque a aritmética tem de ser respeitada." Ou seja, se a gente quer a ética de tratar o PM diferentemente, porque suas condições de vida são diferentes, é preciso casar com a aritmética da responsabilidade fiscal, em que o limite dos recursos é determinado. Por isso, falei para eles: "A gente vai ter de encontrar um caminho." Eles me disseram: "Comecem por vocês Parlamentares." Eu achei de uma lucidez, eu achei de uma perspicácia e pertinência! "Comecem por vocês, reduzam os salários de vocês, que são muito maiores que os nossos. Reduzam as verbas indenizatórias, reduzam os gastos extras." Eles são bem informados, sabem de tudo, sobretudo os PMs daqui.

    Aquilo é um exemplo do que está acontecendo hoje. E olhe que ainda houve bom diálogo entre ele e eu. Dentro de mais alguns anos, não sei se haverá diálogo. Até porque ele é da geração que entrou na PM quando eu era governador, com quem eu tinha o melhor relacionamento, como vocês sabem. Daqui a 20 anos, será outra geração que nem se lembrará que eu fui governador e do que eu fiz pela PM do Distrito Federal. Nós estamos diante disso.

    Mas eu não quero ficar só nisso. Eu quero ficar...

    O Sr. Hélio José  (PMDB - DF) – Senador Cristovam.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Um minutinho só.

    Eu quero ficar numa disputa que está havendo, prisioneira das siglas e não dos interesses nacionais. Prisioneiros, nós Parlamentares, do imediato, e não do longo prazo. O que nós estamos fazendo com a CCJ, na hora de escolher o próximo Ministro do Supremo, que vai julgar a nós aqui... Pode ser que um ou outro escape da suspeita – do crime, eu acho que não serão muitos; mas da suspeita, serão. Qualquer delator pode ser que dê uma contribuição de caixa dois e fique sob suspeita, até que a Justiça apure. E muitas acusações serão verdadeiras. Eu acho que não é o respeito devido à sociedade, não agrega credibilidade. Não agrega.

    O Presidente Temer, eu sempre disse: a maior tarefa dele é passar credibilidade na Presidência e, a partir daí, espalhar um pouco para os políticos. Os últimos atos dele não estão trazendo credibilidade; não estão. A PEC do teto traz credibilidade – ele se choca, se incomoda, mas é o lado responsável da equação. Depois a gente vai ver de onde tira para botar onde, para colocar a ética.

    A reforma do ensino médio é positiva, sim, embora não seja o ideal que a gente quer. Agora, o comportamento político não está sendo; não está passando credibilidade, está passando a ideia da mesmice contra a qual o povo foi para a rua. A mesmice que foi um dos ingredientes que levou ao impeachment da Presidente Dilma. Essa mesmice agrega naqueles dois PMs que eu encontrei ontem, em Brazlândia, a ideia de "comecem por vocês", porque passa a impressão que a gente está fazendo com que o Senado seja um instrumento de defesa de equívocos, de erros que nós cometemos no passado.

    Por isso eu sou surpreendido ao ler notas, Senador Hélio, dizendo que eu devia estar defendendo, de qualquer maneira, o Governo Temer.

    O Sr. Hélio José  (PMDB - DF) – Não tem sentido.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Em tudo.

    O Sr. Hélio José  (PMDB - DF) – Não pode.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Que traição! Como também de que devia defender qualquer coisa que o Partido dos Trabalhadores fizesse, senão é traição.

    Eu quero dizer aqui que eu fui, sou e serei sempre, Senador Hélio – o senhor me conhece –, fiel aos meus princípios e aos meus amigos.

    O Sr. Hélio José  (PMDB - DF) – Claro.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Mas não aos aliados, se eles abandonam os princípios. Eu sou aliado de alguém porque temos o mesmo princípio. Se esse aqui abandonou o princípio, não sou mais aliado dele. Posso até continuar amigo, se ele não fizer alguma imoralidade. Posso continuar amigo. Eu sou amigo de pessoas da direita, de pessoas do centro. Agora, aliado, eu não sou, se a pessoa traiu os princípios. Eu fico com os meus princípios, não com os meus aliados. Eu fico com os meus princípios, não com a sigla pela qual eu me candidato.

    Eu fico com aquilo que eu defendo, não com aqueles que vieram comigo e que abandonaram suas defesas. Muitos de nossos companheiros, em seus e-mails aqui do Distrito Federal, do Partido dos Trabalhadores, abandonaram os princípios e nos chamam de traidores. Absurdo! Chamam-nos de traidores. Eles traíram os princípios. Eu abandonei os aliados, porque os aliados abandonaram os princípios. Até continuo amigo de alguns deles, até não falo mal nunca pessoalmente de nenhum deles, mesmo quando eu falo mal de mim. Mas sou fiel aos princípios e duvido alguém mostrar uma infidelidade minha a um princípio. Duvido! Mas mudar de aliados eu mudei e mudo se novos aliados vêm para os princípios que eu defendo e se aliados antigos vão para princípios que eu abomino, que eu combato, como a corrupção por exemplo. E alguns corruptos nos chamam de traidores porque abandonamos o comportamento corruptos deles e do seu grupo. Eles traíram os princípios. Eu abandonei aliados para continuar fiel aos princípios.

    E um desses princípios que está em meus escritos, meus textos, minhas aulas é de que, na política, é preciso manter o compromisso com a ética e com a aritmética, é manter os sonhos de um mundo melhor, consciente dos limites de recursos. Se abandonar essa consciência ou cai no populismo dos que continuam propondo a ética e a utopia sem ter recursos, populismo que vai sacrificar as próximas gerações, ou cai no elitismo de dizer: vamos fazer um mundo só para poucos, que os recursos não dão! Eu não aceito a ideia de que os recursos não dão para todos. Por isso, eu não prometo excessos que eu sei que não dão para todos. Mas fica aqui a mensagem. E eu termino antes de dar o aparte dos PMs: "Comecem por vocês". Está na hora de esta Casa, Senador Paim... Não é só uma questão de tempo. Estou de acordo com o senhor tempo. Tem que dar o tempo que for preciso para discutir a Previdência. Mas está na hora de o primeiro capítulo ser referente à diminuição dos privilégios que nós temos aqui dentro.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Assinamos embaixo da sua fala.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Está na hora. O primeiro item da reforma da Previdência é: acaba isso, acaba isso, acabar isso. Baixa o salário dos Senadores e dos Deputados. Aí a gente começa a ter moral para exigir aquilo que a aritmética está nos cobrando, que é reduzir privilégios antigos e combinar com direitos novos. O direito novo pode não ser até aumentar salário, mas dar mais tempo para o trabalhador se reciclar numa nova profissão, porque as pessoas mudam agora.

    Temos que construir novos direitos e acabar com velhos privilégios. Por isso, a reforma trabalhista tem que ser feita, mas tem que ser feita com ética de atender aos mais pobres e, através deles a todos, e com a aritmética de respeitar os limites de recursos, sobretudo fiscais e ecológicos.

    Ontem, eu recebi uma aula desses dois PMs. Senador Lasier, o senhor não estava aqui na hora em que eu debati com a Senadora Ana Amélia. Ontem, encontrei dois PMs em uma cidadezinha aqui do Distrito Federal. Quando fui perguntar o que eles achavam do Espírito Santo, eles disseram: "É um aviso para vocês." O Espírito Santo é um aviso. Isso vai arrebentar em todos os lugares. E eles disseram que o principal é a reação deles à reforma previdenciária, que vai tirar certos direitos deles, porque é um trabalho diferenciado. E é mesmo, como a Senadora Ana Amélia disse, como o do pescador é diferenciado. Só que – eu disse para eles –, para manter esse privilégio de vocês de trabalharem menos anos, é preciso que algumas categorias trabalhem até mais que 65, porque há um limite. Eles disseram: "Tudo bem. Então, comecem por vocês para poderem ter autoridade de exigir da gente."

    Eu gostaria de ver esta Casa discutindo onde a gente toca na nossa carne antes de querer rasgar a carne dos outros, em uma operação em que vai ser necessária rasgar carnes. Mas comecemos por nós.

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Era isso, Sr. Presidente, mas o Senador Hélio pediu um aparte. E acho que o Senador Lasier tem algo mais urgente, Hélio, que é para cumprimentar alguns que estão aqui provavelmente.

    O Sr. Lasier Martins (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - RS) – Exatamente, com a permissão do colega Hélio José. Senador Cristovam, Presidente Paim, eu queria aproveitar para registrar a visita que nos faz, neste momento, o nosso Prefeito de Rio Pardo, Rafael Reis Barros, e o Secretário do Planejamento de Rio Pardo, Diego Dressler, no exato momento em que os três Senadores do Rio Grande do Sul estão em plenário: o nosso Presidente dos trabalhos, Paulo Paim, a nossa colega Ana Amélia Lemos. E aproveitando a visita deles para conhecer o plenário do Senado justamente no momento em que V. Exª aborda um tema relevantíssimo, quando diz que nós, seja lá de que partido for, devemos votar pelas nossas convicções e devemos trabalhar pelo interesse coletivo neste ano que se antecipa turbulento sob vários aspectos: com a discussão da reforma previdenciária, com a flexibilização trabalhista. Devemos estar com os olhos voltados para esta população brasileira que vive um momento tão dramático e de tantas insatisfações e descrédito com os políticos. Por isso, endosso inteiramente suas palavras, Senador Cristovam, encampando por inteiro seu pronunciamento, porque nós temos essa responsabilidade de corresponder a essas enormes expectativas e apreensões que vive o Brasil neste momento tormentoso, de tantos conflitos nas grandes cidades: aí está esse exemplo que está ocorrendo no Estado do Espírito Santo, que atemoriza o País inteiro; apreensões com o que pode acontecer com o Rio de Janeiro; sem falar na violência que...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Lasier Martins (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - RS) – ...acontece no Rio Grande do Sul. (Fora do microfone.) Senador Cristovam, agradeço muito a oportunidade que V. Exª me concede e agradeço também ao colega Hélio José pela disponibilidade do seu espaço. Obrigado.

    O Sr. Hélio José  (PMDB - DF) – Senador Cristovam, cumprimento o nosso Prefeito de Rio Pardo e cumprimento os nossos Senadores do Rio Grande do Sul. O senhor tocou em um assunto fundamental, que é o assunto do princípio, o assunto da ética, o assunto da moralidade. Então, o senhor só tem que ter o nosso aplauso. Eu ouvi a Senadora Ana Amélia, pouco tempo atrás – e eu estava no meu gabinete – comentar do orgulho que esta Casa tem de tê-lo aqui. Eu endosso as palavras dela: nós temos orgulho de conviver com V. Exª, com a sua altivez e com a sua sugestão sempre de boas matérias, de bons princípios e de bons pensamentos nesta Casa, reverberados dessa tribuna sempre com muita propriedade. Então, ontem, eu estava à noite também em um programa importante da TVN Brasil – por isso não pude ir lá –, no mesmo horário, com o nosso amigo Gondim, que é amigo do senhor também, do Sol Nascente. Ele transmite esse programa a que quase 200 mil pessoas assistem. Parece que o senhor estará lá na próxima quinta-feira. Ontem foi a minha quinta-feira; então estive lá conversando por mais de uma hora nessa entrevista ao vivo na TVN Brasil, que é um canal interativo de tevê e que cada vez mais toma espaço no nosso País. Inclusive a TVN Brasil já foi merecedora, no ano passado, de um prêmio nacional; este ano, já ganhou o prêmio da tevê mais vista em Ceilândia, que é uma cidade importante para nós todos do Distrito Federal, a nossa maior cidade. Então, eu só queria dizer, dentro do que o senhor estava colocando, que este é um ano difícil, um ano que todos nós devemos nos ater aos trabalhos legislativos com muita tranquilidade, porque essa reforma da Previdência precisa ser bem discutida, precisa ser bem abalizada. Eu, como servidor público concursado, e o senhor, também como servidor público a vida inteira, sabemos o quanto nós servidores públicos sofremos para poder fazer com que este nosso País seja cada vez melhor, seja menos burocrático. Então, nós sabemos o tanto que esse assunto aflige a todos os servidores públicos, inclusive os servidores públicos militares, que têm serviço diferenciado e que, portanto, teriam direito a uma aposentadoria diferenciada. Eu, sinceramente, os defendo por conhecer que os serviços deles são diferenciados. Eu sou um engenheiro sujeito, por exemplo, à periculosidade, que é aquele provento pago às pessoas que estão sujeitas ao risco. Para o senhor ter uma ideia, eu como técnico, como engenheiro, já vesti aquela roupa especial de limalha de prata e me sentei em uma linha energizada com 500 mil volts. Para quê? Para poder fazer a manutenção, poder fazer o trabalho de engenharia, uma situação que só os engenheiros podem fazer na intervenção de uma linha de transmissão que é tão importante. Então, são serviços de risco que nós do setor elétrico estamos sujeitos, como estão sujeitos os nossos colegas militares. Então, o pleito deles, para que possamos avaliar de uma forma mais cuidadosa a questão da Previdência e a questão da reforma trabalhista, é justo e tem que contar com a nossa atenção. Estamos aqui com nosso Presidente Paulo Paim, que é uma pessoa defensora intransigente dos direitos humanos, como o senhor o é, como eu sou, como nós conhecemos o funcionalismo público e também o funcionalismo da iniciativa privada. Quantas pessoas... Inclusive o nosso querido Lula não tem um dedo porque sofreu um acidente de trabalho em um torno mecânico em São Paulo – à época, ele era metalúrgico. Então, quer dizer, as pessoas estão sujeitas ao risco, estão sujeitas a trabalhos diferenciados, só que a aritmética, como o senhor coloca, tem que fechar também com a questão ética e moral das profissões, dos serviços. Portanto, a gente precisa começar logo esse debate e fazê-lo com toda a tranquilidade possível, dar o tempo necessário. Não dá para fazê-lo no afogadilho, não dá para passar de rodão. Nós não vamos aqui servir de ventríloquo para poder fazer aquilo só porque "a" ou "b" o quer; nós vamos fazer o que é melhor para os nossos 200 milhões de brasileiros, para quem vota em nós e nos coloca aqui.

    Então, eu quero concluir, primeiro, me congratulando com V. Exª. Inclusive, V. Exª tinha me convidado para ir a Brazlândia ontem. Eu gostaria de ter ido, mas não pude ir porque tinha esse compromisso na TVN Brasil, uma entrevista ao vivo. Mas V. Exª citou aqui a conversa com dois policiais de uma polícia da qual tenho orgulho de defender, que é a Polícia Militar do DF. Eu sou testemunha de que o senhor acabou com o rancho, que o senhor tomou atitudes fundamentais para a Polícia Militar do Distrito Federal quando esteve à frente do governo do DF.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Só explicar, acabar com o rancho parece ser uma coisa negativa.

    O Sr. Hélio José  (PMDB - DF) – Foi super positiva.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Na verdade, a gente precisa explicar: é transformar a entrega da comida em dinheiro, para que o policial possa comprar sua comida onde quiser. Isso foi uma das grandes conquistas que eles tiveram. Parece que acabou com o rancho. Não, foi o contrário.

    O Sr. Hélio José  (PMDB - DF) – Mas para quem não conhece...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Era um lugar de corrupção, com a compra de mercadorias de baixa qualidade; e isso nós precisamos entregar. Mas muitos disseram que isso era neoliberalismo.

    O Sr. Hélio José  (PMDB - DF) – Exato.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Dar o dinheiro é neoliberalismo. Tem que ser estatal a produção do rancho. Não! Eu preferi dar o dinheiro e eles até hoje agradecem.

    O Sr. Hélio José  (PMDB - DF) – Com certeza, Senador Cristovam. Então, quero cumprimentar V. Exª e dizer que a questão dos princípios é fundamental e que nós não podemos ter dois pesos e duas medidas. Nós temos que ter ética e um norte a seguir. Por isso que eu me orgulho de fazer parte da Bancada do Distrito Federal, de estar aqui sentado ao lado de V. Exª, que é um mestre e um professor, e sentado ao lado do nosso amigo Reguffe, que também é um Senador que não mede esforços para trilhar esse caminho da ética e da defesa daquilo que é certo. Muito obrigado, Senador Cristovam.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Obrigado ao senhor, Senador Hélio, velho companheiro.

    Senadora Ana Amélia.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Caro Senador Cristovam, quando a gente usa uma figura de linguagem, a gente facilita a compreensão de um problema que pode ser aparentemente complexo. Quando V. Exª falou na questão da segurança, lembrou o caso de que as pessoas hoje, com receio da proteção do seu patrimônio, mas do patrimônio maior, que é a sua própria vida, contratam uma segurança particular, o que poderá um dia enfraquecer a instituição pública da segurança e ter um reflexo disso. E isso me ocorreu também no seu Estado, onde o senhor nasceu, Pernambuco, em que os canaviais eram – pediria à moça que está aqui, eu estou tentando, a assessora do Senador, porque eu não consigo enxergá-lo...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Hélio José.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Senador Hélio José, a sua assessora... É porque eu não consigo enxergar o Senador. Obrigada. Eu queria lembrar os canaviais de Pernambuco. Era um trabalho realmente inaceitável, a forma como era feito, as pessoas, os cortadores de cana. A máquina veio e substituiu e hoje se faz muito mais rapidamente a colheita e o corte da cana. O sistema financeiro, as agências, os caixas eletrônicos, o senhor paga conta, o senhor recebe dinheiro, faz uma série de operações. Então, as máquinas estão ocupando os lugares e a gente não se dá conta, e foi isso o que eu mencionei na minha manifestação, da influência da tecnologia sobre as atividades econômicas, porque nós temos que prestar atenção a essa mudança de cenário. E queria renovar os cumprimentos a V. Exª quando chama atenção para o caso da segurança pública e remete ao problema e ao risco do Espírito Santo. O Presidente Michel Temer precisa ter um justo critério e uma preocupação adicional agora na escolha do Ministro da Justiça. Ele não pode cometer equívocos, não tem o direito de cometer equívocos. Tem que ser uma pessoa muito preparada para este enfrentamento, um enfrentamento que é unir as instituições todas, que são Poder Judiciário, Ministério Público, as polícias militares nos Estados, claro, as Forças Armadas, que estão com a força-tarefa lá ou com a Força Nacional prestando o apoio para dar tranquilidade mínima à população do Espírito Santo.

(Soa a campainha.)

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Então, quero novamente me congratular com V. Exª, que tem a facilidade de dar uma abordagem... Ou talvez o didatismo que V. Exª tem – como grande professor que foi – facilita no exercício do mandato, essa forma de conversar com as pessoas. O senhor não está fazendo um discurso; o senhor está ensinando. O senhor está falando e comunicando uma realidade sobre a qual nós precisamos refletir. Então, obrigada pela aula de hoje – mais uma –, Senador.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Muito obrigado, Senadora.

    A senhora me traz aqui uma coisa interessante: eu acho que ele deve tomar muito cuidado na escolha do Ministro e deve ser rápido.

    Ontem, o Ministro – que ainda é, porque está de licença – Alexandre de Moraes veio me ver, como a todos os Senadores, e eu lhe disse quais são meus descontentamentos com a escolha dele. E um desses descontentamentos é o fato de que o Brasil está numa guerra civil, e o Presidente Temer tira do comando da luta contra a guerra civil o general encarregado da segurança pública. Tira, para mandar para a Corte Suprema. Foi um erro esse.

    Ele até me deu uma aula de história, porque eu lhe disse: é como se Lincoln, durante a Guerra de Secessão, para abolir a escravidão, tivesse tirado o comandante das tropas da União, cujo nome eu não lembrava. E ele lembrou. Ele disse: "O General Grant." Ele é um homem de cultura. Esse detalhe prova isso também. "General Grant." Ele disse na hora. E deu mais detalhes sobre a biografia desse general.

    Eu lhe disse: Pois é, o senhor é o General Grant dessa guerra civil. E, como o senhor já não está, quem está fazendo o papel é o Ministro da Defesa, o que é muito perigoso para o Brasil. Se um soldado do Exército matar alguém, é uma tragédia; e, se um soldado do Exército for filmado fugindo de perseguição de moleques, vai ser mais trágico, talvez, ainda; ou igualmente trágico para a imagem.

    Então, eu lhe disse isto: O senhor é o comandante, e está acéfalo o comando – a não ser pelo Ministro da Defesa, e esse não deveria ser o seu papel. E não esqueçamos – eu lhe disse – que, na semana em que o senhor saiu, o Ministério mudou de nome: é da Justiça e da Segurança Pública.

    Ou seja, o encarregado da segurança pública, hoje, está nos corredores do Senado, conversando conosco, para conseguir o voto, para ser Ministro do Supremo.

    Eu não sei o nome do comandante que está no lugar. Eu não sei o nome do interino.

    O Presidente Temer tem que fazer rápido e benfeito. Não pode continuar cometendo erros políticos, como está, apesar de estar cometendo acertos econômicos.

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Cometeu um acerto pequeno, que foi a reforma do ensino médio – pequeno diante do que a gente precisa fazer, mas foi um acerto –, e está errando nos gestos de escolha dos seus colaboradores, o que diminui a sua credibilidade na opinião pública.

    Então, a senhora tem razão: vamos fazer com que ele escolha rápido e com muito cuidado o Ministro da Justiça. Que não seja mais um a trazer más notícias – "más" sem o "i", "más" de "negativas" – para a imagem do Governo.

    Era isso, Sr. Presidente.

    Agradeço o tempo, os apartes... Agradeço muito, sobretudo, o aparte do Senador Hélio, mas muito especialmente o da querida Ana Amélia, com quem a gente faz uma dobradinha aqui, muitas vezes, nessas sextas-feiras.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Muito bem, Senador Cristovam.

    Eu gostei muito da sua proposta. Ficou quase um desafio que a gente lança para a Câmara: primeiro, faça a reforma dos privilégios dos políticos, para depois tirar direitos dos aposentados e dos trabalhadores. Muito interessante.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Isso mesmo.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Botarei no meu Twitter essa sua posição.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Ponha.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – E eu espero que os Senadores e Deputados, seguindo não a sua orientação, mas a sua sugestão, nos debrucemos, primeiro, sobre os privilégios. Em seguida, vamos aprofundar o debate.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Perfeito, fazer isso mesmo. Assim, com cronograma. E faça justiça: fui eu quem trouxe isso aqui, mas eu ouvi de dois PMs do Distrito Federal.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – E concordo plenamente com V. Exª – porque a gente verifica que o Presidente, no caso, não pode fazer um aparte, não é? – na questão do ato cometido pelo atual Presidente. A sua fala aqui foi na mosca, como a gente fala. Botou, apertou, digamos, no calo. Como é que tira o Ministro da pasta correspondente no momento em que o País está nesta convulsão? Isso é sério, seriíssimo demais! Aí, permita-me, com o carinho que eu tenho por V. Exª: se fosse no governo anterior, V. Exª sabe, V. Exª teria a mesma posição.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Teria a mesma posição. Muito bem.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Eu queria cumprimentar V. Exª.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Muito obrigado por dizer isso.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Teria a mesma posição, com a mesma firmeza e com a mesma cobrança. Meus cumprimentos a V. Exª.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/02/2017 - Página 26