Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Critica à reforma trabalhista e apreensão quanto às consequências para a população.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TRABALHO:
  • Critica à reforma trabalhista e apreensão quanto às consequências para a população.
Publicação
Publicação no DSF de 09/02/2017 - Página 135
Assunto
Outros > TRABALHO
Indexação
  • CRITICA, PROPOSTA, GOVERNO FEDERAL, ASSUNTO, REFORMULAÇÃO, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA, MOTIVO, RISCOS, PROTEÇÃO, DIREITOS, TRABALHADOR, DESCUMPRIMENTO, CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO (CLT), APREENSÃO, INCIDENCIA, TRABALHO ESCRAVO, TRABALHO INFANTIL, TERCEIRIZAÇÃO, ATIVIDADE ESSENCIAL, DEFESA, DIREITO DO TRABALHO.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a reforma trabalhista que o governo federal pretende aprovar está baseada no tripé negociado acima da terceirização e pejotização.

    Há outros elementos nesta composição como a regulamentação do trabalho escravo, redução da idade para início da atividade laboral, impedimento do empregado demitido de reclamar na Justiça do Trabalho, jornada de trabalho flexível, regulamentação e retirada do direito de Greve, revogação da NR 12 Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), mais de 60 projetos tramitam no Congresso Nacional nestes conformes, ou seja, uma verdadeira ameaça à democracia e aos direitos sociais e trabalhistas alcançados ao longo de décadas. Muitas dessas propostas são vendidas para a população como fundamentais e necessárias para o desenvolvimento do país e para a geração de empregos.

    Sr. Presidente, o negociado acima do legislado é um absurdo. Talvez o ponto central dessa reforma...

    Digo isso pois a ideia é fazer com que tudo que for acertado entre o patrão e o trabalhador é o que vai prevalecer, passando por cima do que diz a lei. Passando por cima dos direitos que estão assegurados.

    Nada garante ou assegura que os empregadores não vão querer ampliar a mudança, de modo a tornar nula ou obsoleta a legislação trabalhista.

    Imaginem vocês, nestes tempos cie desemprego em alta a pressão que o trabalhador vai sofrer para manter o seu ganha pão, o seu emprego...

    Ou ele aceita abrir mão de vários direitos sociais ou perde o emprego. Isso é um ataque frontal a sua dignidade.

    Importante frisar que a legislação atual já prevê que negociação supere a ordem legal, desde que seja para prever situações mais benéficas aos trabalhadores.

    Segundo nota técnica do Ministério Público do Trabalho "A lei é o piso e os instrumentos coletivos podem dispor de situações que se configurem além do mínimo previsto legalmente aos trabalhadores"...

    Assim, “conclui-se que o único propósito”, de introduzir tal comando no projeto, “é permitir a exclusão de direitos trabalhistas pela via negocial”.

    Já a terceirização da atividade fim é mera intermediação de mão de obra uma vez que a tomadora de serviços, a empresa terceira, estará contratando, trabalhadores que devem estar e ela subordinados. Isso, senhoras e senhores, é aluguel de gente.

    Está lá nos princípios fundamentais do direito internacional do trabalho... “O trabalho não é mercadoria".

    O trabalho, senhoras e senhores, "é uma das características que distinguem o homem do resto das criaturas, cuja atividade, relacionada com a manutenção da própria vida, não se pode chamar trabalho...

    Somente o homem tem capacidade para o trabalho e somente o homem o realiza preenchendo ao mesmo tempo com o trabalho a sua existência sobre a terra.

    Estamos falando aqui nos valores da dignidade da pessoa humana e no valor social do trabalho.

    Portanto, a terceirização precariza as relações de trabalho e causa prejuízos aos trabalhadores. Ela reduz direitos e traz prejuízos à saúde e à segurança dos trabalhadores.

    Os terceirizados sofrem 80% dos acidentes fatais de trabalho, pois tem as piores condições de saúde e segurança no trabalho, realizam as atividades de maior risco sem a necessária proteção, recebem salários menores, cumprem jornadas maiores, recebem menos benefícios indiretos, como planos de saúde, auxílio alimentação, capacitação, entre outros e sofrem com maior rotatividade.

    Sr. Presidente, outro problemão e que vai causar injustiça é a tal da pejotização.

    A pejotização é um dispositivo que considera a "pessoa física como contratante, e, segundo o Ministério Público do Trabalho "nega a própria ideia de empresa como organização dos meios de produção".

    “O dispositivo que afasta o vínculo empregatício entre os sócios das empresas prestadoras e a empresa contratante abre espaço para 'pejotização', com a contratação de trabalhadores como pessoas jurídicas, em fraude à relação de emprego, expediente que além de precarizar as relações de trabalho legítima a sonegação de impostos e contribuições sociais".

    Senhoras e senhores, a reforma trabalhista que estão propondo é uma verdadeira casa dos horrores. Para o capital, tudo; para o trabalho, nada, somente migalhas no chão.

    A proposta é retirar todos os direitos sociais e trabalhistas do nosso povo. Estão colocando os trabalhadores como boi de piranha.

    Usar a atual legislação trabalhista e social como causa do não crescimento da economia e da geração de empregos é uma inverdade, uma enganação.

    E esse propósito é um só: encher as burras e os cofres do capital, do setor financeiro, passando por cima da dignidade das pessoas.

    Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/02/2017 - Página 135