Comunicação inadiável durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato sobre sua experiência como portador de diabetes e defesa da necessidade de ampliação das campanhas de prevenção e das possibilidades de tratamento da doença no Sistema Único de Saúde-SUS.

Autor
Romário (PSB - Partido Socialista Brasileiro/RJ)
Nome completo: Romario de Souza Faria
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
SAUDE:
  • Relato sobre sua experiência como portador de diabetes e defesa da necessidade de ampliação das campanhas de prevenção e das possibilidades de tratamento da doença no Sistema Único de Saúde-SUS.
Publicação
Publicação no DSF de 16/02/2017 - Página 37
Assunto
Outros > SAUDE
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, DOENÇA CRONICA, ORADOR, DIABETES, DEFESA, NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, CAMPANHA, PREVENÇÃO, TRATAMENTO, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS).

    O SR. ROMÁRIO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) – Muito obrigado, Senador Valadares, que está presidindo a Mesa neste momento.

    Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, depois de concluir a minha carreira como jogador de futebol, ingressei na minha vida pública como Deputado Federal há sete anos. Posso dizer que não escolhi as causas que defendo, elas é que me escolheram: o futebol e o esporte, que são a minha paixão e a minha profissão; e a minha filha Ivy, que, além de muita alegria, me trouxe a bandeira das pessoas com Down, que se expandiu para a educação especial e para as doenças raras.

    E hoje eu vim aqui falar de uma questão de saúde pública que também me afetou pessoalmente, que é o diabetes. Nos últimos sete anos, convivi diariamente com os problemas e as limitações causadas por essa doença, Sr. Presidente. Felizmente, graças à capacidade dos médicos que cuidaram de mim, minha história tem um resultado feliz, mas que infelizmente ainda não está acessível a todos.

    O diabetes é uma doença crônica que surge quando o pâncreas não consegue produzir insulina suficiente ou quando o corpo não consegue processar a insulina produzida. Essa doença, se não for tratada, pode gerar complicações sérias, como ataques cardíacos, problemas renais, acidente vascular cerebral, cegueira e amputações.

    Sr. Presidente, as estatísticas mostram uma verdadeira epidemia: 415 milhões de diabéticos no mundo, com dez milhões de novos casos por ano, 80% deles em países em desenvolvimento. Um número que quadruplicou desde 1980, principalmente, Sr. Presidente, por causa de hábitos ruins de alimentação e de falta de atividade física.

    Um estudo recente da Organização Mundial de Saúde apontou que mais de 16 milhões de brasileiros sofrem de diabetes, o que equivale a 8,1% da nossa população. A doença mata 72 mil pessoas por ano no Brasil e responde por 70% dos casos de amputação. O Brasil é hoje o quarto País com mais casos de diabetes no mundo.

    Muitos diabéticos se tornam incapacitados para o trabalho, em função das complicações crônicas. Analisando estimativas de 25 países latino-americanos, calcula-se que os custos decorrentes da perda de produção podem ser cinco vezes maiores do que os custos diretos da doença. Então, estamos falando de uma gravíssima questão de saúde pública. Apenas em 2015, o Sistema Único de Saúde gastou R$92 milhões com internações causadas pelo diabetes.

    Sr. Presidente, os meus fãs e as pessoas que acompanham o meu trabalho ficaram preocupados quando me viram mais magro, já no final do ano passado. Então eu decidi tornar público que me submeti a uma cirurgia chamada gastrectomia vertical com interposição ileal, um procedimento declarado legal pela Justiça Federal, já faz alguns anos.

    Por isso, fiquei surpreso quando soube que a Câmara Técnica do Conselho Federal de Medicina aprovou a cirurgia, após análises por dezenas de especialistas, e a sua cúpula diretiva rotulou o procedimento como "experimental".

    Quero lembrar que a denominação "experimental" exime seguradoras e planos de saúde de pagar os custos da cirurgia aos seus segurados. Vale lembrar que o transplante de fígado foi, por quase 20 anos, considerado experimental, gerando as mesmas dificuldades para quem precisava da cirurgia.

    Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de mais nada, eu queria dizer que apesar das dificuldades de alimentação, que já eram previstas nesta fase da recuperação, estou bem de saúde e muito satisfeito com o meu resultado. Minha glicemia, que chegou a bater em 400 antes da cirurgia, agora está em torno de 90. Minha expectativa é estar plenamente recuperado em poucas semanas, se Deus quiser. Tenho fé em papai do céu.

    E por isso eu não poderia deixar de fazer um agradecimento público ao Dr. Áureo Ludovico,...

(Soa a campainha.)

    O SR. ROMÁRIO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) – ...cirurgião do aparelho digestivo; à Drª Luciana EI-Kadre, cirurgiã do aparelho digestivo; e ao Dr. José Ribamar de Azevedo, cirurgião geral.

    Não sou profissional da Medicina e só posso falar por mim mesmo, mas os resultados que alcancei me transformaram em porta-voz dessa causa. Sei que muita coisa entra em jogo quando falamos em curar pessoas, que vão parar de tomar remédios caros. Não deveria ser assim, mas existem interesses econômicos envolvidos – e muitos.

    Médicos, planos de saúde, laboratórios farmacêuticos e os meios de comunicação fazem parte dessa cadeia econômica que, muitas vezes, não tem interesse em acabar com essa multidão de doentes entrando pela porta dos hospitais e saindo dali direto para a farmácia. Para as pessoas que sofrem de diabetes, é uma prisão perpétua. Para alguns, é lucro certo.

    Fica claro o quanto é difícil enfrentar o que está estabelecido, Sr. Presidente. Os interesses que serão contrariados são óbvios.

(Soa a campainha.)

    O SR. ROMÁRIO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) – Por isso, eu defendo que o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibilize essa cirurgia de forma gratuita a todos os brasileiros. A redução dos gastos com medicamentos, internações e dias sem trabalhar seria bem maior que os custos da cirurgia, não tenho nenhuma dúvida sobre isso.

    Sr. Presidente, muita polêmica se formou em torno do assunto, mas a verdade é que "faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que cresce", e esse é o cuidado que a gente precisa ter, antes de tirar conclusões.

    É claro que a cirurgia não é adequada a todos, e mesmo nos casos em que é recomendada, alguns pacientes não reagem bem. Isso é o que acontece em qualquer procedimento complexo da Medicina. Sempre há gente que se cura e outra que não. A diferença é a proporção entre um e outro. E, neste caso, os números são muito positivos: entre 85% e 90% dos pacientes apresenta remissão ou cura da doença após a cirurgia, um excelente resultado.

    Para avaliar todos esses casos é que existem protocolos médicos e pesquisas, o que não podemos é olhar unicamente ...

(Soa a campainha.)

    O SR. ROMÁRIO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) – ...os casos em que deu errado, que geram mais repercussão, é claro. Mas quantas pessoas foram beneficiadas? Quantas se curaram? Qual o impacto na qualidade de vida e nos gastos com a saúde?

    Uma coisa é certa, Sr. Presidente: o atual tratamento com medicamentos não conseguiu mudar o cenário da epidemia que eu mostrei; os números só pioram, ano após ano.

    Sr. Presidente, eu não poderia concluir o assunto sem destacar que a prevenção é sempre o melhor caminho, e mais uma vez é o esporte que aponta uma solução. A atividade física regular, acompanhada de uma alimentação balanceada é uma das principais ações para impedir o aparecimento do diabetes.

    Um estudo do Ministério do Esporte apontou que 45,9% dos brasileiros são sedentários. Quase metade da nossa população não se exercita, aumentando os casos de obesidade e diabetes. O fumo, sempre um vilão da saúde, também deve ser evitado.

    De acordo com o IBGE, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o número de idosos no Brasil dobrou nos últimos 20 anos.

(Interrupção do som.)

    O SR. ROMÁRIO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) – Já estou finalizando, Sr. Presidente.

    As pessoas estão vivendo mais, o que é uma ótima notícia, mas isso só aumenta a urgência que temos em endereçar as doenças mais comuns na população idosa, como é o caso do diabetes.

    0 maior indicador de sucesso de um país é, sem dúvida, a qualidade de vida que ele proporciona a seus cidadãos. A Medicina tem prestado uma imensa contribuição nessa área, e, por isso, ela precisa avançar e tornar-se acessível a todos os brasileiros, como exige a nossa Constituição.

    Muito obrigado.

    Era isso o que eu tinha a falar, Sr. Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Valadares. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) – Senador Romário, em nome da Mesa, eu gostaria de felicitar V. Exª por esse extraordinário discurso, por esse grande depoimento, de uma pessoa que deu exemplo como jogador de futebol e está dando exemplo como Senador da República, como Parlamentar responsável, que tomou a iniciativa de coordenar uma campanha em favor da síndrome de Down, daquelas pessoas que sofrem desse grande mal, inclusive uma filha sua.

    Agora, tomando a dianteira de um assunto tão importante como este, o combate à diabetes, V. Exª, tenho certeza, terá amplo êxito e vai, sem dúvida alguma, melhorar a qualidade de vida dos brasileiros. São mais de 16 milhões de brasileiros que sofrem desse mal, e outros tantos milhões estão na fila para sofrer do mesmo mal. Tenho certeza de que uma campanha, encetada por V. Exª, será sem dúvida alguma mais um gol de placa em sua vida como Senador.

    O SR. ROMÁRIO (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - RJ) – Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/02/2017 - Página 37