Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Divulgação do resultado de pesquisas sobre as eleições presidenciais em 2018, com destaque para o desempenho do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Autor
Lindbergh Farias (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Luiz Lindbergh Farias Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Divulgação do resultado de pesquisas sobre as eleições presidenciais em 2018, com destaque para o desempenho do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Publicação
Publicação no DSF de 16/02/2017 - Página 105
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • DIVULGAÇÃO, RESULTADO, PESQUISA, ELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUTORIA, FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (FGV), VALOR ECONOMICO, ENFASE, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, eu já falei no dia de hoje sobre a pesquisa da CNT (Confederação Nacional do Transporte) sobre a avaliação do Governo Temer e eleição presidencial, em que o Lula lidera em todos os cenários.

    Eu dificilmente repito o que eu falo. Fiz um discurso pela manhã, faço outro discurso. Mas eu confesso, Sr. Presidente, que hoje eu vou repetir, porque a gente viveu tantas coisas – eu acompanhei de perto tanto sofrimento do Presidente Lula –, porque foi uma campanha, foi uma campanha em que eles pensavam que iriam liquidar completamente e politicamente o Presidente Lula.

    Eu acompanhei agora recentemente o drama da D. Marisa. Eu vi o sofrimento do Presidente Lula e de sua família. Estive ali no Hospital Sírio-Libanês, nos dias finais, nos momentos finais. Vi aquele homem, que sofreu tudo aquilo, porque, só no Jornal Nacional, nos últimos oito meses, foram 14 horas de matérias contra o Presidente Lula, contra Marisa Letícia, contra seus filhos. Filmavam os pedalinhos dos netos do Lula. Todo tipo de ataque.

    Vi o Presidente Lula ser levado coercitivamente para depor, quando todos sabiam que aquele ato foi ilegal. Uma condução coercitiva só pode existir depois de você ser intimado duas vezes. Fizeram aquilo para desgastar.

    Vi e acompanhei indignado o dia em que impediram o Lula de ser Ministro da Casa Civil da Dilma. Ele não era réu – não era réu! Nós temos a Lei da Ficha Limpa para a Administração Pública.

    Pegaram uma gravação do Lula com a Dilma feita às 13h – de forma ilegal, porque o "grampo" tinha sido suspenso às 11h – e a divulgaram em todos os telejornais do País. Impediram a posse do Presidente Lula como Ministro, e ontem a gente viu o mesmo Supremo, no caso do Moreira Franco, dizendo que não, que ele poderia assumir, manter o foro privilegiado. Uma seletividade, uma perseguição implacável, Sr. Presidente. Ele hoje não deve estar comemorando isto aqui, não, porque está sofrendo pela morte da D. Marisa.

    Então, eu não tenho como não vir aqui falar novamente dessa pesquisa agradecendo ao povo brasileiro, que é um povo generoso, que é um povo justo. E o resultado dessa pesquisa já estava claro em outras pesquisas, Senador Garibaldi. Hoje saiu essa da CNT, mas ontem saiu uma pesquisa no jornal Valor Econômico, que falava sobre uma pesquisa qualitativa. E nessa pesquisa qualitativa foi identificado um sentimento: saudade, nostalgia do Lula. Isso não é só carinho e afeto. É carinho e afeto, sim, mas é a memória de um projeto de desenvolvimento que fez inclusão social no País.

    O jornal Valor Econômico pegou trechos de comentários dos pesquisados, porque a pesquisa qualitativa é uma em que você junta vários grupos de dez pessoas e fica lá como moderador, avaliando o que as pessoas falam ali. O senhor, que foi governador, sabe como é; eu, que sou Senador, já sei como é. Todos nós aqui já fizemos pesquisas qualitativas.

    Pois bem. Eu quero registrar alguns trechos de depoimentos – e é por isso que o Lula está crescendo, porque as pessoas têm a memória do que houve naquele período. E aqui eu quero trazer alguns desses depoimentos.

    Um diz: "Havia um equilíbrio [...] a taxa de desemprego era muito baixa. [...] eu arrumava emprego fácil". Outro diz: "Eu vi o crescimento que teve na Bahia. Muita família saindo da miséria. Antes, lá era só miséria, só fome". Outro diz: "Ele visa muito a igualdade social. Ele subiu a classe de muita família pobre. Muita gente passou a ter opção e salário melhor e parou de se sujeitar para os patrões". Outro diz: "No governo dele dava para fazer supermercado bom. O cara da classe E passou para a D; o da D passou para a C; o da C passou para a B".

    E eu quero aproveitar e trazer aqui um estudo feito pela Fundação Getulio Vargas, um estudo coordenado pelo ex-Presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, que, como todos sabem, não nutre nenhuma simpatia pelo PT ou pela esquerda. Eu quero ler um pequeno trecho da matéria da Agência Brasil sobre isso. O título é: "'Era Lula' foi a melhor fase da economia brasileira dos últimos 30 anos".

O período de junho de 2003 a julho de 2008 foi a fase de maior expansão para a economia brasileira das últimas três décadas, indica estudo divulgado nesta quinta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV). Nesses cinco anos, a indústria se expandiu, as vendas do comércio registraram alta e a geração de emprego e renda cresceram.

A análise foi realizada pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos, coordenado pelo ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, e teve participação de mais seis economistas.

Segundo o estudo, que considerou dados a partir de 1980, o bom desempenho da economia começou seis meses após a posse do Presidente Lula e se prolongou por 61 meses. O segundo melhor período foi entre fevereiro de 1987 e outubro de 1988, na gestão do ex-presidente José Sarney.

O menor período recessivo, de acordo com o levantamento, foi também no governo atual e durou seis meses: de junho de 2008 a janeiro de 2009 [ou seja, no Governo do Presidente Lula], quando o país conviveu com a recessão. Mesmo sendo menos afetado do que outros países, o Brasil sofreu nesse período reflexos da crise financeira internacional.

    Mas não foi só de 2003 a 2008. Ele fala aqui desse período de recessão em 2009 e 2010. O que o Presidente Lula fez? Ele tinha apoio popular, tinha legitimidade. Era uma crise de natureza recessiva como essa, só que essa é muito maior. Ele disse para o povo: "Nós vamos enfrentar"; pediu para as pessoas consumirem e fez estímulos. O que ele fez naquela crise é o que deveríamos estar fazendo agora: aumentou o investimento público, plano de obra pública – era obra pública para tudo que é lado neste País –, o investimento social aumentou em 10%, pegou a Petrobras para produzir aqui no País, pegou os bancos públicos para ajudar no desenvolvimento da economia. Então, esse foi o sucesso do governo do Presidente Lula.

    E por que Lula sobe? Tenho aqui a pesquisa CNT que faço questão, por tudo isso, de divulgar novamente – todos os cenários aqui desta pesquisa, em que ele lidera em todos os cenários. Ele sobe, Presidente Garibaldi, porque prometeram que era só tirar a Dilma. Disseram: "Nós vamos tirar a Dilma, a economia vai melhorar porque a confiança dos empresários vai voltar". Ah, quanta ilusão! O empresário investe quando existe alguém para consumir, e hoje ninguém está conseguindo consumir porque o desemprego não para de crescer, porque o salário real dos trabalhadores está caindo. Você sabe que esse Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, há declarações em que ele diz claramente que o nível do emprego estava tão alto ali no governo do Lula e da Presidenta Dilma que nós teríamos dificuldade de baixar a inflação para o nível certo. Eles agora conseguiram. Na verdade, quando eu vejo o Governo dizendo "ah, a inflação baixou" e comemorando... Sabe por que a inflação baixou? Porque estamos numa depressão econômica de 8% do PIB. Sabe por que a inflação baixou? Porque a pessoas estão desempregadas e os salários estão caindo. Eu não sei como este Governo tem coragem de fazer essa propaganda.

    Pois bem, diziam que era só tirar a Dilma. De lá até agora não houve nenhuma medida para estimular a economia – é só ajuste, ajuste, ajuste. Os mesmos planos de austeridade que falharam no mundo inteiro. Eu estou cansado de repetir isso aqui. Quando as famílias estão endividadas, quando as empresas estão quebradas, quando os Estados estão quebrados – os Estados brasileiros estão quebrados – só tem um jeito: o Governo Federal investir para puxar o resto. Senão, não cresce. É o que a gente está vivendo, uma depressão de 8%. Deveria haver um consenso no Brasil para recuperar o crescimento econômico, mas não: é ajuste, ajuste, ajuste.

    Os trabalhadores, então, começaram a sentir que este Governo está aí para tirar os seus direitos. Eu vi a queda da popularidade do Temer. Você acha que a reforma da previdência não tem a ver com isso? Tem. Quarenta e nove anos de trabalho para ter aposentadoria integral? Para isso você tem de começar a trabalhar aos 16 anos. Só que ninguém trabalha direto por 49 anos – todo mundo muda de emprego, às vezes fica seis meses desempregado, aí trabalha por três anos, fica mais seis meses desempregado... Então, quem começar a trabalhar com 16 não vai se aposentar aos 65, vai se aposentar aos 70 para ter salário integral. Acabar com a vinculação do salário mínimo em Benefício de Prestação Continuada? Quem recebe BPC é deficiente – não apenas os físicos, mas todos – e idoso, acima de 65 anos, cuja família tenha uma renda inferior a 1/4 do salário mínimo, ou seja, muito pobre. Estão querendo acabar com a vinculação do salário mínimo! Então, é por tudo isso, na minha avaliação, que o Lula está crescendo: porque as pessoas estão enfrentando um dia a dia cada vez mais difícil. E quando olham para o passado veem o que foi o governo do Presidente Lula. Foi isso que fez com que ele crescesse.

    Vou citar os números novamente, porque acho importante para quem está nos assistindo agora.

    Cenário 1: Lula, 30,5%; Marina, 11,8% (Olha a diferença, de 30% para 11%); Bolsonaro, 11,3%; Aécio, 10,1% (atrás do Bolsonaro); Ciro, 5%.

    Cenário 2: Lula, 31,8%; Marina, 12,1%; Bolsonaro, 11,7%; Alckmin, 9,1%; Ciro, 5,3%.

    Cenário 3: Lula, 32,8%; Marina, 13,9%; Aécio, 12,1%; Bolsonaro, 12%.

    Espontâneo: Lula, 16,6%; em segundo, Bolsonaro, 6,6%; Aécio, 2,2%; Marina, 1,8%; Temer, 1,1%.

    Segundo Turno: Lula, 39,7% (40%, no meio dessa pancadaria contra ele); Aécio, 26,5%. Lula, 42,9% (quase 43%); Temer, 19%. Lula, 38,9%; Marina, 27%.

    Sr. Presidente, eu fico espantado com outros resultados. Numa hora dessas, eu imagino o que estão pensando os principais líderes do PSDB. Eles devem estar em crise, porque apostaram no quanto pior, melhor. Não reconheceram o resultado, desde o começo, da vitória da Presidenta Dilma, colocaram o País num impasse, tiraram a Dilma, e agora são sócios de um Governo fracassado como este. Mais grave: eles devem estar numa crise tremenda, atrás do Bolsonaro!

    Eu avisei, e não foi nem um, nem dois, nem três – foram vários discursos meus aqui em que eu alertava os líderes do PSDB: vocês não podem ir para atos em conjunto com a turma que defende a intervenção militar! Vocês não estão demarcando campo! Eles ajudaram a estimular o crescimento do fascismo no país. Eu culpo o PSDB pelo crescimento do Bolsonaro! Eles deram a base para o Bolsonaro crescer. Foram eles, em conjunto, na passeata com esse pessoal defendendo intervenção militar, de verde e amarelo, batendo panelas contra Dilma e contra Lula. Que lideranças políticas são essas? Porque eles tinham que demarcar campo? Não! Agora estão nessa situação. Todos os candidatos – Aécio, Alckmin – atrás de Bolsonaro.

    Sinceramente, senhores, eu queria mandar um grande abraço para o Presidente Lula, que eu sei que continua sofrendo muito com tudo que tem vivido, com a morte de D. Marisa, que era o esteio para ele.

    Mas eu, sinceramente, Presidente Garibaldi, acho que o povo brasileiro precisa muito do Lula. Num momento como este, numa crise como esta, sinceramente – o jornalista Luis Nassif falou ontem e eu concordo –, essa coalizão golpista não tem uma estratégia para tirar o Brasil da crise. Só repetem a mesma coisa que é ditada pelo mercado: ajuste, corte, corte.

    Presidente Lula, tenha muita força para superar esse momento. Mas você será chamado a viajar por este País, porque esse povo precisa do senhor, porque esse povo precisa novamente de esperança, de acreditar no Brasil, de acreditar na força do povo trabalhador brasileiro! E só o senhor – eu digo infelizmente porque eu queria que houvesse outros que pudessem jogar esse papel, neste momento em que as pessoas estão sem esperança, em que o País está mergulhado numa crise econômica, política, social, Presidente –, só o senhor para viajar por este País, levantar o moral do nosso povo, apresentar um programa que faça o Brasil voltar a crescer e proteja os empregos.

    Força, Presidente Lula! O Brasil e o povo precisam de você. O seu nome já está na história como um presidente que transformou a vida de milhões de brasileiros, 40 milhões ascenderam. Mas eu tenho certeza de que, pela sua história, o senhor está sendo chamado ainda pela história a guiar o País neste momento, a apresentar um plano para tirar o País dessa situação e voltar a fazer o Brasil sorrir, com crescimento e geração de empregos.

    Muito obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) – Quero me associar às palavras do Senador Lindbergh quando fala do sofrimento do Presidente Lula.

    Eu queria dizer ao Senador Lindbergh que telefonei para o Presidente Lula prestando a minha solidariedade. E compreendo a emoção, como V. Exª está descrevendo, do sofrimento do Presidente Lula.

    O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RJ. Fora do microfone.) – Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/02/2017 - Página 105