Discurso durante a 17ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre as reivindicações que nortearão o próximo dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Considerações sobre as reivindicações que nortearão o próximo dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
Aparteantes
Vanessa Grazziotin.
Publicação
Publicação no DSF de 07/03/2017 - Página 50
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • ANUNCIO, REIVINDICAÇÃO, RELAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, DIA INTERNACIONAL, MULHER.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, quem nos acompanha pela TV Senado, pela Rádio Senado e também pelas mídias sociais, eu subo a esta tribuna hoje, dia 6 de março, segunda-feira, na semana em que nós comemoramos o 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, exatamente para falar sobre a diferença deste 8 de março nas nossas manifestações.

    Neste ano, Sr. Presidente, nós não teremos uma manifestação como a de outros anos em relação ao 8 de março. Sempre tivemos 8 de março em que fazemos protestos, em que fazemos reivindicações, em que fazemos comemorações das nossas conquistas.

    Este ano é diferenciado, porque tem um movimento internacional das mulheres para que a gente, no mundo inteiro, se movimente de diferentes formas e por diferentes bandeiras, mostrando o que está em jogo na sociedade humana, mostrando os retrocessos que se estão fazendo em relação aos direitos conquistados pelas mulheres.

    Então, neste ano, o dia 8 de março será um dia de greves. Nós vamos fazer greves, Sr. Presidente. Nós vamos fazer greves nas escolas, nós vamos fazer greves nas nossas casas, nós estamos chamando para fazer greves nas atividades domésticas, fazer greves na área de trabalho, fazer bloqueio de estradas, fazer marchas, fazer abstenção de todo trabalho doméstico, inclusive abstenção sexual. É isso. As mulheres vão parar por um dia, como foi na Finlândia. Nós queremos que tenha o mesmo impacto. Lá as mulheres tiveram de parar tudo por um dia para mostrar o que elas representavam para a sociedade, senão a sociedade não nos vê. Nós somos invisíveis, como, aliás, já fomos nesta Casa por várias vezes, em várias discussões.

    Esse é um movimento internacional. Aliás, é um movimento que está sendo puxado por intelectuais e ativistas, feministas do mundo todo, mas que tem entre as suas precursoras a feminista Angela Davis, que tem uma história belíssima no movimento de mulheres no mundo. O documento que foi lançado por essas mulheres, que está dando base a esse movimento do 8 de março, é por uma greve internacional militante no 8 de março, para além do "Faça Acontecer", por um feminismo para 99% das pessoas do Planeta. É isso o que nós queremos.

    Esse movimento se iniciou com a grande marcha que nós tivemos nos Estados Unidos, a marcha do dia 21 de janeiro, em diversas cidades, contra a eleição de Donald Trump. E por que contra a eleição de Donald Trump? Contra as suas posições misóginas, conservadoras, atrasadas, contra a forma de tratar as mulheres, as minorias, a forma de tratar os imigrantes. Mas essa manifestação também teve início, também foi motivada pelas grandes manifestações que tivemos na América Latina recentemente, principalmente as manifestações na Argentina, em que o tema foi "Nenhuma Menos", exatamente para enfrentar a violência masculina contra a mulher, em que mulheres e meninas, estão sendo mortas. E a sociedade argentina, o establishment do Estado argentino não está conseguindo fazer o enfrentamento dessa situação.

    Nós estamos - não tenho dúvidas, Senadora Vanessa -, numa nova onda de lutas feministas. Não é mais o feminismo empresarial, o feminismo do faça acontecer, aonde a gente briga apenas pelo espaço, onde o protagonismo individual é importante ou a oportunidade individual é importante. Não, nós estamos num movimento muito mais horizontal, um movimento em que nós precisamos levar o feminismo para 99% das pessoas, ser solidários com as trabalhadoras e com as suas famílias, com as desempregadas e com as suas famílias, com as agricultoras e com as suas famílias. É fazer uma aliança internacional contra o neoliberalismo econômico, porque esse neoliberalismo econômico é aquele que mais prejudica as mulheres, principalmente as mulheres pobres, que não conseguem, no movimento feminista empresarial "Faça Acontecer", se ver representadas.

    O feminismo do "Faça Acontecer", esse que nos envolve muito no Parlamento, que, inclusive, é um dos motivadores do prêmio que vamos ter amanhã, Bertha Lutz, sem dúvida nenhuma um prêmio importantíssimo...

    Mas esse feminismo e outras variantes dele falharam para a esmagadora maioria das mulheres. Falharam! Basta olharmos hoje o mundo e o Brasil para vermos essas falhas: que não têm acesso à autopromoção, mulheres que não têm acesso ao avanço individual, cujas condições de vida só podem ser melhoradas através de políticas que defendam a distribuição de renda, o equilíbrio social, os direitos trabalhistas, a saúde. São essas as políticas para fazer a diferença na vida da maioria das mulheres.

    Por isso, o nosso feminismo agora tem de ser um feminismo para 99% das pessoas. Por isso o 8 de março tem de ser comemorado de forma diferente. Tem de ser mais aguerrido, mostrando às mulheres na rua o poder que as mulheres têm, inclusive de parar a sociedade por um dia.

    Estamos vendo uma reação aos direitos conquistados pelas mulheres sem precedentes na nossa história. Basta ver aqui no Brasil os discursos que fazem. Alguns políticos nossos, Deputados, até Senadores fazendo discursos misóginos, contra as mulheres, discursos de desrespeito, não considerando os nossos direitos, achando que as mulheres têm mais direitos do que deveriam ter.

    Vejam nas questões trabalhistas, em relação à saúde, na segurança, na velhice e principalmente em relação à violência contra a mulher. Nós vemos exacerbados, neste momento da história da humanidade, o sexismo, o racismo, a xenofobia, a transfobia. E todos estão articulados para retirar os direitos e as garantias que foram conquistados pelas mulheres através de anos de luta. Através de muitos anos de luta!

    A greve internacional, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quem nos acompanha, é para isso, é para chamar a atenção para isso. Mulheres de diferentes partes do mundo vão estar nas ruas contra todas as violências.

    Aqui no Brasil, não basta apenas nos opormos às políticas do Governo Temer e ao próprio Temer. São políticas misóginas, homofóbicas, racistas. Governo de homens brancos! Governo de homens brancos e ricos. Agora tentaram dar um colorido com as mulheres. Inclusive colocaram uma mulher negra para ser Ministra. É uma coisa absurda! É como se fosse um bolo que precisasse do enfeite. Mas a forma de fazer política é atrasada. E essa forma de fazer política atrasada abriu na sociedade uma porta para que posições fascistas, machistas, de intolerância se manifestassem na sociedade contra as mulheres e contra os diferentes. Isso também atinge as nossas crianças.

    O ataque neoliberal contra os direitos sociais e trabalhistas é uma das coisas mais graves que temos e que mais atinge as mulheres, a deterioração das condições de vida das mulheres negras, trabalhadoras, donas de casa, agricultoras. É uma financeirização da economia fora, internacionalmente falando, e aqui dentro, com essas políticas ultraneoliberais, com essas reformas excludentes das pessoas, dos benefícios sociais, da proteção social, como é a reforma da Previdência, como é a reforma trabalhista que se pretende.

    Por isso, o nosso feminismo tem que ser de 99% das pessoas para as pessoas, e não apenas o chamado feminismo empresarial, o feminismo de representatividade. Tem de ser um feminismo que mexa na base da economia, para que as pessoas não sejam excluídas – as mulheres e suas famílias. Isso já emergiu na Polônia, com greve de mulheres, na América Latina, com as manifestações, na Itália, na Coreia do Sul, na Irlanda, sempre com protestos. São lutas combinadas contra a pauta conservadora que avança, mas também contra a pauta sobre a distribuição de renda e sobre o trabalho: o trabalho doméstico, o trabalho do cuidado, a aposentadoria das donas de casa. 

    A Senadora Vanessa, que me antecedeu, falava exatamente disso. É impressionante.

    Há um estudo, Sr. Presidente, Srs. Senadores, da pesquisadora Hildete Pereira de Melo, junto com Cláudio Monteiro Considera e Alberto Di Sabbato, que são professores pesquisadores da Universidade Federal Fluminense, com o título "Os afazeres domésticos contam". Eles fazem um estudo de que se as mulheres fossem remuneradas pelo trabalho que fazem em casa - lavar, passar, cozinhar, cuidar dos filhos, cuidar dos idosos, cuidar da família - isso teria um impacto de 12,5% no Produto Interno Bruto Brasileiro. Doze e meio por cento no Produto Interno Bruto Brasileiro! Essas mulheres deveriam ganhar em média, pelo que nós temos de padrão salarial na sociedade brasileira, pelo menos R$1.500.

    Mas, por séculos e séculos, e ainda continuamos assim, essas mulheres trabalham de graça, sem receber nada, sequer um muito obrigado, às vezes nem dos filhos nem dos maridos. Por quê? Porque se consumou na sociedade que trabalho doméstico não é trabalho, porque não é remunerado e porque, na concepção masculina, não se agrega ao PIB.

    Doze e meio por cento do Produto Interno Bruto é muita coisa! Por isso nós temos que fazer greve. Para tudo! Parou tudo. Nós vamos ver o efeito disso na economia. Eu acho até que um dia é muito pouco. As mulheres tinham que parar por uma semana não só as ocupações profissionais fora de casa, mas principalmente de dentro de casa.

    Eu gostaria de saber, Senador, como V. Exªs e os nossos companheiros deste plenário iriam se virar por uma semana sem o trabalho feminino dentro de casa. E conta tudo, o trabalho da esposa, o trabalho das filhas, o trabalho das empregadas domésticas. Imagine ir para um guarda-roupa e não ter uma camisa limpa, passadinha, não ter a gravata na gaveta, não ter o paletó bem ajeitadinho? Imagine vir aqui e não ter a limpeza que tem que se fazer aqui? Chegar em casa e não ter os cestos de lixo esvaziados? Olhe que maravilha que seria! Pois é. É desse trabalho que sustenta o que nós fazemos no dia a dia fora de casa que nós estamos falando. É para isso que nós temos que chamar a atenção da sociedade.

    Quando nós discutimos aqui para aprovar a aposentadoria das donas de casa, que nós aprovamos, pusemos na Constituição, regulamentamos, e que agora este Governo nefasto vai tirar, é sobre isso que nós estávamos falando. O primeiro reconhecimento econômico-financeiro de um trabalho que sustenta a economia, porque se tirar esse trabalho das mulheres, que não é remunerado, que não é reconhecido, tenho certeza de que nós teremos grandes prejuízos econômicos para o nosso País.

    A aposentadoria das donas de casa, Senador, uma aposentadoria que reconhece esse trabalho e tenta minimizar essa situação de injustiça vivida pelas mulheres, vai acabar com a reforma da Previdência. Sabe por quê? Porque hoje ela funciona assim: a mulher tem que contribuir por, no mínimo, 15 anos, com 5% do salário-mínimo e aos 65 anos ela tem o direito de se aposentar. Ela comprova que é mulher de baixa renda e sempre teve atividade apenas de dona de casa.

    Agora o Governo está mandando para cá a proposta da reforma – aliás, já está na Câmara, deve chegar ao Senado, espero que demore muito para chegar aqui – que aumenta a contribuição para 25 anos. Ela continua tendo que ter 65 anos. E vão mexer também no valor da contribuição.

    Seria mais sério por parte deste Governo dizer assim: nós vamos acabar com a aposentadoria das donas de casa. Assim como eles tinham que dizer: nós vamos acabar com o BPC. É mais sério, é mais honesto do que fazer essas propostas ridículas, que não vão deixar as pessoas terem acesso ao benefício. Então, nós estamos falando disso.

    Por isso, amanhã, mulheres que lavam, passam, cozinham, se abstenham de fazer. Se vocês não podem sair de casa, não têm como sair de casa, não façam nada em casa. Não façam absolutamente nada. Deixem tudo por fazer. Não levem as crianças à escola, não lavem a louça, não lavem a roupa, não limpem a casa. A sociedade tem que sentir o efeito da não presença das mulheres nesse cotidiano. E as mulheres que trabalham em atividades fora e dentro de casa também têm que parar.

    Nós temos que parar aqui no Congresso Nacional. Na quarta-feira não pode haver sessão deliberativa em respeito às mulheres, porque as Senadoras não devem vir aqui trabalhar. Defendo que as servidoras não venham trabalhar, nem do Senado nem da Câmara. Que a gente possa se unir às mulheres em praça pública. Que possamos falar dos problemas que estão nos cercando, das dificuldades que nós temos e dessas propostas que vão acabar com os nossos direitos, porque, se nós não nos mostrarmos, se nós não gritarmos, se nós não dissermos o que queremos e para que estamos protestando, eles não vão nos enxergar. Mesmo gritando, já não nos enxergam.

    Por isso nós estamos convocando a greve geral, para defender os nossos direitos. Essa reforma da Previdência calhorda, essa reforma da Previdência, que é cruel contra a população. Aliás me admira muito o Governo apresentar uma reforma dessa. Só um Governo de quinta categoria para fazer isso! Essa reforma cruel atinge principalmente as mulheres.

    Sabe quantos anos essa reforma tira de aposentadoria das mulheres? Dez anos! Dez anos! As mulheres vão perder 130 salários de aposentadoria com essa reforma. Os senhores acham isso justo? Por que nós temos diferença de idade? Porque somos frágeis? Não! Porque somos fortes, porque trabalhamos mais, porque ganhamos menos durante a vida. É por isso que nós temos essa diferença. Em média, as mulheres trabalham 7,5 horas a mais do que os homens. Não sou eu que falo. É um estudo do IBGE que saiu recentemente. Por quê? Porque têm dupla jornada. Há mulher que tem tripla jornada. E, na hora de se aposentarem, as mulheres estão com mais desgaste físico. Ter filho também dá desgaste físico, a gestação, o cuidado. E, em média, as mulheres ganham para fazer o mesmo serviço que os homens 70% dos salários. É por isso que a aposentadoria é diferenciada. E agora isso vai ser tirado das mulheres.

    As professoras, que têm um diferencial para se aposentar com 50 anos de idade – nós sabemos o que significa uma sala de aula cheia, nós sabemos o desgaste que há –, vão ter que trabalhar até 65. Como isso vai acontecer? Com as professoras são 15 anos! Quinze anos a mais de trabalho para se aposentar! Quantos salários são retirados?

    As trabalhadoras rurais, que se aposentam também com 55 anos... E abranjo também o trabalhador rural, mas principalmente a trabalhadora rural, que vai para a roça com o marido, que tem que cuidar da criação, do entorno da casa e ainda do trabalho de casa. Os senhores acham que uma mulher aguenta isso aos 65 anos? Que vai poder trabalhar até lá? Pagar 25 anos? E um adendo aqui. Atenção! Ela vai pagar 25 anos, mas vai se aposentar proporcionalmente por esse pagamento. Se ela pagar 25 anos e tiver 65 anos, ela só vai se aposentar com 76% do seu salário, porque para ter o salário integral vai ter que trabalhar por 49 anos.

    Essa é uma reforma da Previdência contra as mulheres, contra os pobres. É por isso que nós vamos para a rua, Senador.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Concede um aparte, Senadora Gleisi?

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Pois não, Senadora Vanessa.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Primeiro, quero cumprimentar V. Exª, mais uma vez, pelo seu pronunciamento, que traz a importante manifestação que as mulheres no mundo inteiro organizam. E aqui, no Brasil, creio que nós temos motivos muito maiores do que em outros países, porque as reformas que batem à nossa porta são reformas que atingem – como V. Exª diz, como estamos analisando – todos os trabalhadores, mas atingem de forma extremamente cruel as mulheres; extremamente cruel. Olha, e quão frágil é o argumento... V. Exª fala sobre a diferença com que eles estão acabando. Como isso é cruel, porque a diferença hoje não existe para dar um ganho a mais à mulher. Não! Ela existe para tentar reparar um pouco das perdas que a mulher acumula durante toda a sua vida laboral, para reparar um pouco essas perdas – porque, além do que V. Exª colocou, da sobrecarga de trabalho, há o trabalho doméstico não remunerado, e grande parte dele não é só um trabalho em benefício do esposo, em benefício dos filhos; grande parte desse trabalho é a substituição do Estado brasileiro, que tem a obrigação, por exemplo, de garantir escolas, desde a creche, às crianças e não garante.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Cuidado com os idosos.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Cuidado com os idosos, exatamente.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Pessoa com deficiência.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Então, a mulher, sem ganhar absolutamente nada, substitui...

(Soa a campainha.)

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – ... ela cumpre uma função de Estado sem nada ganhar por isso. Então, o reconhecimento disso é essa pequena diferenciação. Aí, V. Exª levantou, no seu aparte ao meu pronunciamento, algo que eu quero recuperar, Senadora Gleisi. Por que a reforma exige 49 anos de contribuição, igualdade de condições para homens e mulheres, enquanto a prática é diferente, enquanto na prática não se trata a mulher com o tratamento que o homem recebe? Porque, no fundo, eles querem negociar, e no fundo eles ainda querem posar de bonzinhos, dizendo: "Não, não vamos tirar os cinco anos de diferença não". Nós vamos ouvir nossos colegas aqui, dizendo isso. Nós vamos ouvir, Senador Reguffe, preste atenção. Nós vamos ouvir muitos dos nossos colegas: "Não, o Governo quer tirar tudo, mas as mulheres merecem. Então, vamos só diminuir de cinco anos para três anos, ou de cinco anos para dois anos". É isso que vai acontecer, mas nós não vamos deixar que isso aconteça; não vamos, não podemos deixar. Eu sou muito otimista, muito otimista sobre o futuro dessa reforma. Otimista no sentido de que ela não passa, por conta do conteúdo extremamente draconiano que ela apresenta. Em relação à mobilização, Senadora Gleisi, V. Exª levantou... Aquela marcha de mulheres nos Estados Unidos, no dia 21 de janeiro, superou enormemente a quantidade de pessoas com relação ao número que havia no dia anterior, da posse do Presidente Donald Trump.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Com certeza.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Elas estavam lá não apenas para dizer "não" a ele, mas para dizer "não" ao que ele representa, que é a política do retrocesso; por isso elas estavam lá. Há a campanha Ni Una Menos, Nenhuma a Menos, que foi lançada na Argentina e já tomou o mundo inteiro. Em 2015, jovens mulheres brasileiras foram capa de todas as revistas semanais, porque, de forma surpreendente, numa reação a um projeto de lei do ex-Deputado Eduardo Cunha, hoje preso, que era um projeto que estabelecia constrangimentos às vítimas de violência sexual – porque ele exigia que elas fossem fazer exame de corpo de delito, olha só –, as mulheres tomaram as ruas e praças desse País, uma coisa maravilhosa; uma coisa maravilhosa. Então, o Brasil vai nesse caminho. O Brasil vai nesse caminho, e nós temos que entender que precisamos muito das mulheres, porque sem as mulheres nós não alcançaremos as vitórias de que a sociedade precisa.

    Eu, há pouco, saí daqui, porque fui perguntada sobre um projeto de lei que nós aprovamos aqui, no Senado Federal, no ano passado, em 2016, que estabeleceu uma nova figura como crime no Código Penal: a divulgação de imagens de violência sexual, de estupro – porque isso não era previsto –, e que também aumentou a pena, quando o estupro for coletivo, quando a violência for praticada coletivamente, por conta dos últimos casos. Pois, olhe, o Deputado Relator é o Deputado Fábio Ramalho, Vice-Presidente da Câmara dos Deputados. Ele está apresentando uma emenda que desfigura tudo, diminuindo a pena para quando a violência não incluir penetração; diminuindo a pena. Então, é isso que as mulheres, como V. Exª diz, não estamos mais falando: nós estamos gritando. Não é mais possível, Senador Thieres, Senador Raupp, num Brasil do tamanho do nosso, num Brasil que respeita os direitos humanos, num País que tem sido um exemplo para o mundo inteiro, conviver com essa sub-representação política das mulheres, 10%. Isso é um absurdo! Isso é um absurdo. E falar de reforma política? Nem se toca em mulher, nem se toca, porque mulher é isto: só presta para limpar, para cozinhar e para cuidar da casa – para mandar são eles. Então, enquanto a gente não mudar isso, a sociedade não muda. Eu quero também, como V. Exª, comemorar, dizer que nós estaremos aqui no próximo dia 8 fazendo o nosso papel, cumprindo o nosso papel. E tenho certeza absoluta de que andaremos e avançaremos milhares e milhares de quilômetros nesses próximos anos, o que não avançamos nas últimas décadas. Graças a quê? À nossa mobilização, ao aumento da conscientização que as mulheres vêm tendo no mundo inteiro. Então, parabéns pelo pronunciamento, Senadora Gleisi.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Obrigada, Senadora Vanessa.

    V. Exª coloca aspectos muito relevantes aí na nossa luta. E eu, em relação à reforma da previdência, ainda esqueci um dado: vão mexer nas pensões, e a gente sabe que hoje os maiores beneficiados de pensão são as mulheres, não os homens, até porque...

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – ... a formalidade do trabalho, do emprego sempre foi dos homens. As mulheres entraram recentemente no mercado de trabalho.

    E sabe o que eles vão fazer com as pensões? Diminuir pela metade. Então, a mulher só tem direito à metade da pensão do marido, que é acrescida de 10% para cada filho que tem. Quando o filho completa a maioridade, ela deixa de receber os 10%. E, se ela tiver pensão e também uma aposentadoria, tem que optar. Olha que absurdo, isso! E quem ganha um salário mínimo? São dois salários mínimos entre pensão e aposentadoria, e vai ter de optar? Que coisa mais esdrúxula isso, cruel! Mais cruel não poderia ser. E afeta as mulheres.

    Eu queria dizer, Sr. Presidente, para terminar – queria só que V. Exª me desse um pouquinho mais de tempo –, que o feminismo, para 99% das pessoas, está inspirado nessa coalizão argentina, Nenhuma a Menos, nesse movimento americano que nós vimos. E entendemos que a violência contra as mulheres tem muitas facetas: tem a faceta doméstica, a faceta do mercado, da dívida, das relações de propriedade, das políticas discriminatórias, da repressão, dos movimentos migratórios – não é só a violência física. E é contra todas essas violências que nós queremos nos opor. Queremos nos opor a esses ataques contra as mulheres, que são ataques institucionais, políticos, culturais e econômicos. Por isso, nós queremos um feminismo para 99% das pessoas.

    No dia 8 de março, que é quarta-feira – eu acabei falando aqui que era amanhã, mas é quarta-feira, talvez porque queira que tenhamos mais dias de greve do que só a quarta-feira... Mas, no dia 8 de março, que é quarta-feira, estaremos com esse movimento de greves. Vai ser um dia de greve, sim, em todos os lugares, de marcha, de bloqueios de estrada, de pontes, de praças, de abstenção do trabalho doméstico, de abstenção dos cuidados, de abstenção sexual...

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – ... denúncia de políticos e empresas misóginas. E aqui, no Congresso, como disse a Senadora Vanessa, nós também vamos nos manifestar.

    Eu quero fazer um apelo às Senadoras, às servidoras do Congresso: podemos até vir para cá, porque nós vamos ter o Prêmio Bertha Lutz, que vai ser entregue, mas vamos fazer uma manifestação na porta do Congresso. E no Prêmio Bertha Lutz vamos falar desses problemas e vamos dizer ao Senador Eunício que nós não podemos ter sessão deliberativa, que o Plenário deste Senado tem de ficar para discutir os problemas relativos à mulher, assim como o Plenário da Câmara não pode votar absolutamente nada. Vai ser esse o nosso papel no dia 8 de março, e depois uma caminhada com as mulheres que estão em mobilização pelo Distrito Federal. É a forma de as Parlamentares se juntarem a esse movimento.

    Viva as mulheres! Viva o dia 8 de março!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/03/2017 - Página 50