Discurso durante a 18ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao Governo de Michel Temer, Presidente da República, pelo baixo resultado do PIB.

Registro de oposição à reforma da Previdência Social.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Críticas ao Governo de Michel Temer, Presidente da República, pelo baixo resultado do PIB.
PREVIDENCIA SOCIAL:
  • Registro de oposição à reforma da Previdência Social.
Publicação
Publicação no DSF de 08/03/2017 - Página 30
Assuntos
Outros > ECONOMIA
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL
Indexação
  • REGISTRO, OPOSIÇÃO, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, ENFASE, ALTERAÇÃO, APOSENTADORIA POR IDADE.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Srª Presidenta, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, quem nos escuta pela Rádio Senado e nos acompanha pela TV Senado, quero falar hoje de uma notícia muito triste para o nosso Brasil, que, aliás, tem sido corriqueira, pois já há nove edições nós a temos afetando as famílias, afetando a indústria e afetando o desenvolvimento brasileiro: o PIB de 2016, o pibinho do Governo do Michel Temer. O PIB, em 2016, caiu 3,6% em relação ao do ano anterior.

    A expectativa do mercado era que o PIB caísse 3,5%. Caiu mais do que a expectativa do mercado. Houve recuo na agropecuária de 6,6%; na indústria, 3,8%; e, nos serviços, 2,7%. No quarto trimestre de 2016, frente ao terceiro trimestre do mesmo ano, o PIB caiu 0,9%, levando-se em consideração a série com ajuste sazonal. A expectativa do mercado era de que caísse a metade apenas, 0,5%, e caiu 0,9%.

    É o oitavo resultado negativo consecutivo nessa base de comparação; oitavo resultado negativo consecutivo que nós temos da queda do PIB. Nessa questão do quarto trimestre, o que cresceu foi a agropecuária, enquanto indústria e serviços continuam recuando, assim como o consumo das famílias.

    Não era esse o Governo que dizia que bastava tirar a Presidenta Dilma que o PIB ia crescer, que a economia do País ia melhorar porque íamos resgatar a expectativa, as pessoas iam ter fé no País novamente? Não era esse Governo? Não era o Governo do Michel Temer que dizia isso? Não era o Ministro Meirelles, que está na Fazenda, que dizia isso? Não era o PMDB que dizia isso? Não era o PSDB que dizia isso? "Tirem da Dilma que resolve o problema da economia, é uma questão de expectativa. A expectativa vai ficar positiva, e a economia vai crescer."

    Pois bem, hoje, o Sr. Henrique Meirelles, que é o Ministro da Fazenda e que tanto falou da expectativa positiva e da confiança, falou no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no "Conselhão" – criado por Lula, aliás, para discutir os problemas do Brasil – que o Presidente Temer reuniu hoje pela manhã, que a queda do PIB de 2016 e também já do primeiro trimestre de 2017, que vai ser arrasador, se dá em relação à confiança da indústria, porque a indústria está desconfiada. Mas, espere aí, essa gente não ia trazer a confiança para o País? Não iam trazer a confiança? Não era uma varinha mágica? "Tira a Dilma, volta a confiança e vamos ter um ciclo de novo de investimento, um ciclo de desenvolvimento".

    Eu vejo o esforço da mídia que deu apoio à retirada da Presidenta da Presidência da República para dizer que a economia está melhorando. Aí eles dizem assim: "A inflação caiu". A inflação caiu não porque o Temer assumiu. A inflação caiu porque o Temer acabou com a economia. Estamos com a economia no chão: -3,6% cresceu em 2016 e, em 2017, não vai crescer. Não adianta o Ministro Meirelles dizer que vai crescer, porque não vai. Nem o mercado tem expectativa de crescimento. É uma vergonha esse PIB.

    E é muito interessante, Senadora Regina, que preside esta sessão, dar uma olhada como se dá essa variação. Temos um mea culpa para fazer aqui, principalmente nesta parte, que foi, em 2015, a Presidenta Dilma ter colocado Joaquim Levy no Ministério da Fazenda. Aqui, mostra 2015. Nós caímos. E por quê? Porque as medidas de ajustes de Joaquim Levy são iguais às deste Governo. Nós alertávamos naquela época: vão fazer cortes nos investimentos, vão fazer cortes nas questões sociais. Mas puseram. Quando Dilma tira o Joaquim Levy, nós começamos a ter uma melhora nos indicadores econômicos. Entra o Temer, e cai completamente. É isso o que estamos vendo, gente! Mas eu pergunto de novo: não eram eles que iam melhorar a economia? Não eram eles que iam fazer a economia crescer? Era só retirar a Dilma.

    Olhem aqui a expectativa que eles tinham do mercado, a que o mercado tinha, que eles mediam e divulgavam. A azul, de baixo, é de 2016, com o governo Dilma: baixíssima expectativa, não ia ter confiança. A de 2017, era com o Temer na Presidência. Olhem como está em março de 2017. Está igual à expectativa da Dilma em 2016.

    Digam-me: o que adiantou mudar este Governo? Para que mudou? Eles têm de entregar o resultado para o País! Eles disseram que a economia ia crescer, que bastava eles entrarem que ia ter confiança. Mas sabem por que a economia não cresce? Porque não é uma questão de confiança; é uma questão concreta, de dinheiro em circulação. E não vai crescer a economia com essas reformas absurdas que este Governo está fazendo. 

    As famílias não têm gastado, grande parte está desempregada, e a que está empregada está fazendo poupança, economizando, porque está com medo. As indústrias, as empresas também não estão investindo. Elas tinham motivo para investir, que era o conteúdo nacional, principalmente no setor de petróleo e gás, que agora acabou.

    O BNDES, em vez de dar crédito para as empresas, devolveu 100 bilhões para o Tesouro e tem mais 100 bilhões em caixa. Vejam só, senhores: o BNDES está com 100 bilhões em caixa! O BNDES não é um banco para ficar com dinheiro em caixa! Por que este Governo não tem coragem e não acaba com o BNDES? "Eu não quero mais um banco nacional de desenvolvimento, de fomento à minha indústria e ao meu setor produtivo." Tenha a coragem e a decência, mas pare de fazer esse discursinho sem-vergonha, rastaquera, de que o banco não vai mais fazer operação de crédito, porque isso é colocar dinheiro que não retorna. É uma vergonha o que está acontecendo neste País!

    E aí vai o Sr. Meirelles, de novo, e apresenta, no "Conselhão" – além de dar essa justificativa esfarrapada, porque eles falavam que o governo da Dilma não tinha confiança –, a proposta dele para a retomada do crescimento. O primeiro item da proposta dele para a retomada do crescimento é o ajuste fiscal. O ajuste fiscal, gente! Quem é que retoma crescimento com ajuste fiscal? Ele que venha aqui e diga um país que conseguiu isso. Não há, porque não é possível um país, como o nosso, que está sem dinheiro dos investidores, dos empresários do setor produtivo, sem dinheiro das famílias, não ter dinheiro do Governo, porque vai ter ajuste fiscal. Vai crescer como? Não há milagre. Pode fazer cara bonitinha, discurso fofinho, pode dar entrevista; pode a mídia, que está protegendo, dizer que está tudo bem. Não está tudo bem, a realidade não é essa! Temos 13 milhões de desempregados! Os programas sociais estão sendo cortados. Numa crise de desemprego, cortaram mais de 400 mil famílias do Bolsa Família! Não é assim que se combate a crise, e isso vai continuar.

    Essa história de o Ministro Meirelles dizer, por exemplo, que nós vamos ter crescimento de 2,4% no quarto trimestre de 2017, ou seja, no final do ano, é desmentida, inclusive, pela expectativa de mercado. O mercado está dizendo que, no máximo, a gente chega a 1,8%, e aí o crescimento geral do ano seria de 0,5%; no do Meirelles, de 1%. Não é possível! Vocês acham que agora, no primeiro trimestre de 2017, vamos ter crescimento positivo? Ganha um prêmio quem apostar nisso. Vamos apostar! Quem é que aposta que o crescimento vai ser positivo no primeiro trimestre de 2017? Não será, será negativo, assim como deve ser negativo o do segundo trimestre e deve parar no terceiro trimestre.

    Se não acontecer nada na economia, nada, não crescer nada, continuar como está, só isso já vai levar a um PIB negativo, em 2017, de 1,1%. Gente, isso é o caos! Eles estão destruindo a economia, destruindo a economia nacional, destruindo a indústria nacional, destruindo os nossos empregos! E agora querem, além da PEC 55, que era a grande solução – e que não deu solução e não vai dar solução nenhuma –, fazer a reforma da previdência. Gente, vão tirar dinheiro de quem ganha menos! Não é possível isso! Essa gente não acorda? Não visita o Brasil? Fica fazendo política apenas no ar condicionado dos seus gabinetes?

    Quantos Municípios esse Michel Temer visitou? Em quantas regiões pobres ele colocou o seu pezinho? Com quantos trabalhadores ele falou? Os seus Ministros andaram este País? Não, claro que não! Não conhecem a realidade do Nordeste. Não conhecem a realidade do interior deste País.

    Vão cortar a aposentadoria especial para os agricultores. Tomem vergonha na cara! Quem bota o sustento na mesa deste País é a agricultura familiar, que produz 70% dos alimentos no Brasil, com 25% das terras agricultáveis. E agora querem fazer com que o agricultor brasileiro trabalhe até os 65 anos.

    Fantástica a declaração do Presidente hoje: "É ponto de honra a idade de 65 anos". Claro, ele se aposentou com 55, ganha o teto, mais de R$30 mil. Para ele, tanto faz se o agricultor ou a agricultora, no cabo da enxada, tiver de ficar até 65.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Ele não conhece a realidade deste País, nem em revista deve ver. É um absurdo o que nós estamos vivendo, gente. Vai fazer um agricultor pagar por 25 anos a Previdência? Tem que tomar vergonha na cara!

    O que está acontecendo no Brasil é um acinte. E disseram: "Vamos tirar a Dilma que nós resolvemos isso". Resolvam! Resolvam! Cadê o PMDB, que não está neste plenário, que está vazio? Cadê o PSDB, que não está neste plenário, que está vazio? Por que não vêm aqui falar do PIB? Vão dizer o quê? Que é uma herança maldita da Dilma? Mentira! No governo Dilma, caiu em 2015, e nós alertávamos: não coloque o Joaquim Levy.

    É uma barbaridade o que nós estamos vendo neste País. Nós tínhamos de fazer o que o Lula fez em 2008 e em 2009. Vocês se lembram da crise de 2008 e de 2009? Pois bem, foi uma crise muito grande, quebrou banco americano, a economia americana foi ao chão, e o Lula disse: "Aqui vai ser marolinha". Mas sabem por que ele disse que aqui seria marolinha?

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Porque ele sabia como enfrentar a crise. Sabia que o Governo, o Estado, quando não existe dinheiro em circulação, deve pôr dinheiro. O que o Presidente Lula fez? Foi lá e aumentou as parcelas do seguro-desemprego. Não posso ter gente desempregada e achar que as pessoas não devem ter ajuda! São 13 milhões de famílias que estão passando por isso. Aumentou o Bolsa Família, o número de famílias e aumentou o valor. E mais do que isso: aumentou o valor do salário mínimo real.

    Qual foi o reajuste que o Governo de Michel Temer deu ao salário mínimo? Não foi real, foi a inflação. Aliás, aquilo que nós tínhamos mandado no Orçamento para 2017 ele reduziu.

    Então, é um Governo que não está nem aí, está preocupado com o sistema financeiro, em pagar dívida. O Brasil vai ao chão. Aliás, já está no chão. Vai ao fundo do poço. Não há como recuperar uma economia desse jeito. Ou o BNDES entra, dando crédito às nossas empresas...

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – ... nós retomamos o conteúdo nacional, colocamos dinheiro em circulação principalmente na mão dos mais pobres, ou não há como recuperar a economia.

    Não adianta o Ministro Meirelles fazer discurso e dizer que vai melhorar. Não adianta os articulistas econômicos do Governo dizerem que está tudo muito bom, porque não está. E não somos nós que estamos dizendo. São os números que estão aqui. E números que mostram, mês após mês, como a economia está sendo deteriorada.

    Agora, saiu num veículo de imprensa, há poucas horas, uma informação de que o próprio Governo tem um estudo que mostra que o PIB cairá este ano 1,1%. Então, estão enganando a quem? Estão enganando a população? Estão brincando de fazer governo? Vão desmontar este País? Nós não podemos deixar isso acontecer.

    Por isso são importantes as manifestações de amanhã das mulheres. Trata-se de uma manifestação chamada pelos direitos das mulheres, mas também...

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – ... pelo direito da população. É o feminismo para 99% das pessoas. Nós queremos uma economia inclusiva. Nós não queremos reforma da previdência. Nós queremos emprego, trabalho. Nós queremos dignidade. E é para isso que as mulheres vão parar amanhã neste País, como é importante a paralisação que nós vamos ter no dia 15 aqui no Brasil. Temos que mostrar para esse Governo que ele não sabe o que está fazendo.

    Aliás, se ele lesse pesquisa, já se envergonharia. O Temer tem 89% de rejeição, 89%! É um escândalo, uma vergonha isso. Nenhum outro governante teve tanta rejeição como esse que está aí. E por que é que tem rejeição? Porque está acabando com a economia do País e tirando os direitos do povo brasileiro.

    Eu faço um apelo a este Senado, aos nossos Senadores: por favor, vamos tentar salvar o Brasil, não deixar que isso aconteça. A notícia hoje do PIB de 2016 mostra bem a que veio esse Governo que tirou a Presidenta Dilma.

    Muito obrigada, Srª Presidenta.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/03/2017 - Página 30