Pela Liderança durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão solene do Congresso Nacional destinada à comemoração do Dia Internacional da Mulher e à entrega do Diploma Bertha Lutz em sua 16ª edição.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão solene do Congresso Nacional destinada à comemoração do Dia Internacional da Mulher e à entrega do Diploma Bertha Lutz em sua 16ª edição.
Publicação
Publicação no DCN de 09/03/2017 - Página 21
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO SOLENE, CONGRESSO NACIONAL, ASSUNTO, COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, MULHER, ENTREGA, DIPLOMA, BERTHA LUTZ, PREMIO, HOMENAGEM, RECONHECIMENTO, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO SEXUAL, DEFESA, DIREITO A IGUALDADE.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco/PT - PR. Como Líder. Sem revisão da oradora.) – Obrigada, Senadora Simone Tebet.

    Cumprimento V. Exª e também a Senadora Vanessa. Em nome delas, cumprimento todas Parlamentares aqui presentes, Senadoras, Deputadas, todas as mulheres aqui presentes, os homens presentes e as nossas homenageadas.

    O Prêmio Bertha Lutz é um reconhecimento do Senado Federal aos que se destacaram na defesa dos direitos da mulher e das questões de igualdade de gênero. Nesse sentido, quero aqui render minhas homenagens a Denice Santiago Santos do Rosário, a Diza Gonzaga, a Raimunda Luzia de Brito, a Tati Bernardi e também a Isabel Cristina.

    É um prazer muito grande tê-las neste evento, que é o reconhecimento de mulheres que colaboram para a emancipação e para os direitos das mulheres. Mas eu não posso começar o meu pronunciamento antes que a gente possa ter um ato simbólico de solidariedade às mulheres que estão hoje, no Brasil inteiro, organizadas pelos movimentos sociais, no 8 de março, gritando para que os seus direitos não sejam atingidos por nenhum direito a menos.

    Quero aqui dizer que nós, neste momento, vamos nos solidarizar com o apitaço, ao meio-dia e meia, que já está prestes a acontecer, em solidariedade à parada geral das mulheres do 8 de março, a parada internacional.

    Nós sabemos que o que está em jogo hoje são os direitos que as mulheres conquistaram, principalmente na Constituição de 1988. E o movimento de 8 de março, no Brasil e em mais 50 países, é um movimento de luta específica dos direitos das mulheres, mas também é um movimento de defesa dos direitos conquistados, dos direitos sociais, dos direitos trabalhistas.

    Portanto, eu queria chamar todas nós estamos neste plenário a nos solidarizar com essas mulheres e, por um minuto, fazermos um apitaço que vai ecoar por todo o Brasil.

    Viva as mulheres brasileiras! Viva a nossa luta contra a PEC 287!

(Manifestação da galeria.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco/PT - PR) – Viva as mulheres! Viva a luta das mulheres! (Palmas.)

     E não à PEC 287!

(Manifestação da galeria.)

(Soa a campainha.)

    A SRª PRESIDENTE (Simone Tebet. PMDB - MS) – Eu gostaria de pedir a compreensão das mulheres.

(Soa a campainha.)

    A SRª PRESIDENTE (Simone Tebet. PMDB - MS) – Eu gostaria de pedir a compreensão das mulheres. Aqui ninguém vai tolher, pelo menos enquanto eu presidir, o direito de ninguém se manifestar. Nós não estamos em uma sessão plenária onde não se permitem manifestações. Enquanto eu estiver aqui, essas manifestações serão permitidas. Eu pediria só... Em um acordo que nós fizemos com as colegas Deputadas e Senadoras – eu havia falado aqui –, assim que as colegas falarem, esta plenária vai ter um espaço, e nós poderemos continuar essas manifestações. Só para que nós possamos dar continuidade. Nós temos uma Senadora. Inclusive, o acordo foi combinado com a Senadora Gleisi Hoffmann. Obrigada, Senadora.

    Com a palavra.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco/PT - PR) – Eu que agradeço, cumprimentando novamente todas que estão aqui.

    Hoje é um 8 de março diferenciado. Nós fazemos todos os anos, aqui no Senado, a entrega do Prêmio Bertha Lutz, em conjunto com a Câmara dos Deputados, para reconhecer mulheres que trabalham pelos direitos das mulheres e que fazem a diferença na nossa sociedade por esses direitos. Mas este 8 de março especificamente, a forma como ele foi chamado é para trazer a atenção de nós, mulheres, e da sociedade a pautas de lutas nossas que são muito importantes. E eu gostaria de falar sobre elas.

    Hoje nós estamos tendo um movimento internacional. Mais de 50 países estão mobilizados com suas mulheres e uma grande agenda em favor dos direitos das mulheres, da população, dos seus povos. Hoje é um dia de greve em todos os lugares, um dia de paralisação, um dia de marcha, um dia de bloqueios de estradas, pontes e praças, de greve no trabalho doméstico, de greve dos cuidados, da denúncia de empresas e autoridades que são misóginas. E por que fazemos isso? Porque, infelizmente, nós estamos tendo, sim, um retrocesso em relação aos direitos das mulheres.

    Essa marcha que fazemos hoje, internacionalmente, que reúne 50 países – e aqui no Brasil temos movimentos em todos os Municípios –, foi inspirada pelo dia 21 de janeiro, por um movimento que houve nos Estados Unidos, onde milhões de mulheres foram às ruas manifestarem-se contra a posse de Trump, e também pelas manifestações da Argentina, de "Nenhuma a menos", contra a violência contra as mulheres. Enfim, é uma nova onda de lutas feministas. Não é só o chamado feminismo protagonista da oportunidade pessoal. Esse movimento que surge é um feminismo que quer para todos, para 99% das pessoas, um feminismo de base, um feminismo solidário com as trabalhadoras e suas famílias, uma aliança internacional contra o neoliberalismo.

    Hoje há uma reação violenta aos direitos conquistados pelas mulheres, aos direitos trabalhistas, à saúde, à segurança na velhice. Nós vivemos, na sociedade brasileira – e não só na brasileira –, o sexismo, o racismo, a xenofobia e a transfobia, que estão articulados para retirar direitos e garantias, aumentando a violência na nossa sociedade contra a mulher e contra os diferentes.

    Essa greve internacional, essa parada internacional é para isso, para que mulheres de diferentes partes do mundo estejam nas ruas contra todas essas violências.

    Por isso, não basta nos opormos às políticas misóginas, homofóbicas, racistas que nós estamos vendo ser incentivadas, inclusive por este Governo que está aí, um Governo de homens brancos, que retirou a presença feminina dos cargos de comando. Nós temos que atacar também a política neoliberal contra os direitos sociais, contra os direitos trabalhistas, contra a deterioração das condições de vida das mulheres, das mulheres negras, das mulheres trabalhadoras, das donas de casa, das agricultoras. Nós temos que nos colocar contra a financeirização da economia. É esse o movimento internacional.

    O femininismo do "Faça Acontecer", esse que muitas vezes nos envolve no dia a dia, e outras variantes do feminismo empresarial infelizmente falharam para a esmagadora maioria das mulheres, principalmente as pobres, que não têm acesso à autopromoção e ao avanço individual, cujas condições de vida só podem ser melhoradas através de políticas que defendam a distribuição de renda, a equidade, o equilíbrio social, os direitos trabalhistas e a saúde.

    Por isso é desse feminismo que nós falamos, um feminismo para 99% das pessoas. E isso está emergindo no mundo inteiro: na greve na Polônia, nas grandes manifestações da América Latina, como vimos na Argentina, na Itália, na Coreia do Sul, na Irlanda, protestos e greves pelos direitos das mulheres. São lutas combinadas contra a pauta conservadora que avança nesses países, lutas combinadas contra a violência masculina, a informalização do trabalho, a desigualdade salarial, a oposição que nós queremos à homofobia, à xenofobia, à transfobia, à misoginia. É uma nova agenda também. Por isso, esse feminismo para 99% das mulheres está inspirado nessas coalizões que nós tivemos em diversos países.

    A violência contra as mulheres tem muitas facetas. É a violência praticada pelos homens, masculina, a violência contra os nossos corpos, contra a nossa dignidade, a violência doméstica, mas também é a violência do mercado, é a violência da dívida, das relações, da propriedade, das políticas discriminatórias, da repressão, dos movimentos migratórios. Por isso nós queremos nos opor a estes ataques contra as mulheres, ataques institucionais, políticos, culturais e econômicos.

    Aqui no Brasil, eu não tenho dúvida de que a principal pauta que nós temos é contra o ataque aos direitos que nós conquistamos na Constituição de 1988. Nesse ataque a esses direitos, as mulheres são as mais penalizadas. A reforma da previdência que este Congresso recebeu deste Governo a que nós não creditamos legitimidade é uma reforma perversa, que ataca principalmente as mulheres, as agricultoras, as professoras, retira de nós, mulheres, dez anos de salários - no caso das professoras, são quinze anos de salário – e de benefícios previdenciários, iguala a idade para aposentadoria de homens e mulheres, não leva em consideração a diferença dos trabalhos feitos. É um retrocesso. Aquele avanço da Constituição de 1988, de Dr. Ulysses, aliás, porta-voz do PMDB, o Partido que ajudou a fazer a Constituição cidadã, está sendo agora enterrado por esse mesmo Partido.

    Eu queria lamentar.

    Queria manifestar a minha solidariedade para com as trabalhadoras que estão aqui, neste momento, contra a PEC 287, e dizer que todas nós, todas nós que estamos aqui, todas as mulheres – e inclusive os homens – vamos perder com essa reforma da Previdência, vamos perder com a retirada de direitos, e isso vai afetar os mais pobres, as pessoas mais pobres.

    Portanto, temos de nos unir para que a gente tenha os direitos das mulheres, para que tenhamos a representatividade. Para que possamos vir a este plenário comemorar uma data importante, não podemos deixar os nossos direitos retroagirem. Não à reforma da Previdência! Não à reforma trabalhista! Nós já lutamos aqui para que a PEC 55 não fosse aprovada. Não a essas políticas de desmonte do Estado brasileiro e de entrega das nossas riquezas!

    Nós queremos um Brasil para todos e para todas! Nós queremos um Brasil de direitos e de dignidade. É isso que as mulheres querem. Por isso, nós queremos um feminismo para 99% da população, porque, quando as mulheres são respeitadas, quando as mulheres têm a sua dignidade considerada, a população brasileira também é respeitada e também tem sua dignidade respeitada.

    Portanto, quero aqui manifestar a solidariedade a todas as mulheres que estão por todos os Municípios do Brasil, hoje protestando contra a retirada de direitos. Aquelas que estão ocupando as agências do INSS, que estão paradas em praças públicas, que estão ocupando as rodovias, que estão nas prefeituras. Parabéns, mulheres! É dessa coragem que nós precisamos, porque, se não formos para a rua, ficamos invisíveis; e os que estão atentando contra os nossos direitos serão vencedores.

    Aqui também quero prestar a minha solidariedade a todas as mulheres de todos os países que hoje pararam, principalmente na América Latina e especialmente na Argentina, onde temos um grande movimento de professores que paralisou a capital argentina.

    Parabéns, mulheres! Nós vamos fazer a diferença e vamos puxar esse movimento no Brasil, também conscientizando os homens do que está acontecendo com os direitos conquistados.

    Por isso, por essa greve internacional militante, no 8 de março, nós dizemos "sim". É para o além do faça acontecer. É por um feminismo para 99% das pessoas.

    Viva as mulheres! Viva a nossa luta! Não à reforma da Previdência! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 09/03/2017 - Página 21