Discurso durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão solene do Congresso Nacional destinada à comemoração do Dia Internacional da Mulher e à entrega do Diploma Bertha Lutz em sua 16ª edição.

Autor
Benedita da Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Benedita Souza da Silva Sampaio
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão solene do Congresso Nacional destinada à comemoração do Dia Internacional da Mulher e à entrega do Diploma Bertha Lutz em sua 16ª edição.
Publicação
Publicação no DCN de 09/03/2017 - Página 37
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO SOLENE, CONGRESSO NACIONAL, ASSUNTO, COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, MULHER, ENTREGA, DIPLOMA, BERTHA LUTZ, PREMIO, HOMENAGEM, RECONHECIMENTO, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO SEXUAL, DEFESA, DIREITO A IGUALDADE.

    A SRª BENEDITA DA SILVA (PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Srª Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, Deputadas, Deputados, eu queria cumprimentar as agraciadas neste dia nas pessoas – vou dizer o nome – de Denice Santiago, que já não está conosco, Diza Gonzaga, Raimunda Luzia, Tati Bernardi e Isabel Cristina.

    Eu estou aqui para falar em nome da Bancada feminina do Partido dos Trabalhadores. Por isso, faço questão de citá-las: Erika Kokay, Ana Perugini, Maria do Rosário, Margarida Salomão, Luizianne Lins.

    Nós estamos no Dia Internacional da Mulher. E eu fiz questão de estar nesta tribuna, porque, há um ano, aqui estava eu nesta tribuna, quando a Presidenta Dilma Rousseff veio a esta Casa prestigiar exatamente o Dia Internacional da Mulher e também as agraciadas do Diploma Bertha Lutz. Eu me lembro de que aqui estava também o Vice-Presidente da República, Michel Temer. E eu disse uma coisa – algumas feministas se manifestaram na hora, mas depois elas foram entender. Eu me virei para o Vice-Presidente da República e disse: "Tome conta dela para que ela tome conta do País". Pareceu uma praga, porque, de repente, eu vejo que esse homem, que tinha o papel de zelar com responsabilidade pela democracia que deu os votos legítimos à Presidenta Dilma, deu um golpe neste País. Eu não posso, no Dia Internacional da Mulher, esquecer que nós votamos em uma mulher para presidir este País e que ela não concluiu o seu mandato. E eu me sinto traída com o meu voto! (Palmas.)

    Até agora, nenhum homem provou que essa mulher é uma delinquente, que ela foi contra os interesses da população brasileira e que cometeu algum ilícito. Portanto, como mulher, principalmente como mulher, seria para mim uma farsa chegar a esta tribuna e não, memoravelmente, fazer este comentário.

    Eu quero cumprimentar ainda a nossa Senadora Emília, que também foi nossa Ministra das Mulheres. Tenho como memorável o seu trabalho, que deu o pontapé inicial, e nós implantamos neste País a política para as mulheres.

    Eu gostaria que vocês pudessem compreender que não estamos fazendo um discurso amargo. Nós estamos apenas relembrando a luta da mulher brasileira. É isto que eu faço neste momento: relembrar que nós estamos correndo um risco de perder todas as nossas conquistas, conquistas que duraram para nós décadas e décadas, séculos e séculos.

    Eu pontuei cada uma das nossas agraciadas para chamar a atenção para o que está acontecendo neste momento. Nós vimos que precisamos combater a discriminação racial. Ouvimos o que falou aqui a nossa Embaixadora. Eu não posso fazer um discurso do 8 de março pura e simplesmente negando a realidade deste País e a responsabilidade desta Casa de ter leis que possam verdadeiramente respaldar essas iniciativas.

    Este nosso 8 de março brasileiro soma-se com todas as demais mulheres internacionalmente para dizer "não" a uma reforma que traz prejuízo, seja a reforma trabalhista, seja a reforma previdenciária. Dizer isso no dia 8 de março é chamar a atenção para a maioria da população brasileira, que somos nós mulheres.

    Eu quero fazer outro registro que compreendo ser importante fazer agora: nós estamos com uma reforma trabalhista, mas há um ano desde que, nesta Casa e na Câmara dos Deputados, nós aprovamos os direitos das trabalhadoras domésticas baseados na CLT. Pois este Governo está mandando uma reforma trabalhista que, além de tirar os direitos de todos os trabalhadores, pega também os 7,5 milhões de trabalhadoras domésticas que saíram da senzala da casa-grande e vieram agora para usufruir dos direitos conquistados após décadas e décadas. Pois bem, elas não poderão usufruir. Nós estamos trabalhando, principalmente as mulheres, que têm tripla jornada de trabalho, essas mulheres que nós sabemos que, desde a casa-grande, eram reconhecidas no seu trabalho, e hoje elas perdem essa oportunidade.

    Nós sabemos que as mulheres ganham menos que os homens, exercendo a mesma função. Estamos cansadas desse diagnóstico, porque nós sabemos também que as mulheres negras ganham 40% menos que os homens brancos. Se nós mulheres como um todo ganhamos menos que os homens, as mulheres negras ganham muito menos.

    Esse é o nosso 8 de março. Por isso, não à reforma trabalhista, porque a reforma trabalhista vai voltar ao Século XVIII, vai voltar à casa grande e à senzala para os trabalhadores e trabalhadoras deste País, sem contar os benefícios de prestação continuada, que vão atender uma população de idosos, de pessoas com deficiência e da nossa juventude que terão o seu orçamento pela metade, abaixo do salário mínimo.

    Então, como é que nós podemos ter alguma coisa para comemorar neste 8 de março, senão ir para a rua e dizer que não queremos essa reforma previdenciária? Ela é cruel!

    Queremos também dizer que agora os professores, que sabemos perfeitamente que têm defendido a educação no nosso País, que cuidam dos nossos filhos, que cuidam do futuro deste País, porque a educação é principal, primordial... Ela é estratégica. Ela é revolucionária na vida dos seres humanos! Essas professoras não terão mais a sua aposentadoria especial! Elas vão perder a sua aposentadoria especial!

    No entanto, se nós tivéssemos tempo, daríamos números concretos para dizer que a Previdência não é deficitária. Provaríamos que falta, além de uma fiscalização, impor que se cumpra a Constituição brasileira, porque ela garante os recursos para a Seguridade Social. Vamos observar que os recursos parcos que tivemos até então foram suficientes para atender milhões e milhões de trabalhadores e trabalhadoras, daqueles que devem ser os seus beneficiários.

    De toda forma, quero homenagear essas mulheres que têm nos orgulhado. Esta Casa faz uma boa lembrança, trazendo para nós esta comemoração do dia 8 de março e dando esse Diploma Bertha Lutz, uma mulher de garra, uma mulher de fibra! Uma mulher que soube como nunca estar como Parlamentar para defender os direitos, sem temer, porque é isso que nós fazemos, como a voz de Che Guevara: "Endurecer sem perder a ternura."

    Somos rosas, mas os nossos espinhos, de vez em quando, têm que dar algumas espetadas.

    Esperamos que a reforma não venha – a reforma previdenciária e a trabalhista –, porque nós, mulheres, não queremos nenhum direito a mais.

    Obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 09/03/2017 - Página 37