Discurso durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão solene do Congresso Nacional destinada à comemoração do Dia Internacional da Mulher e à entrega do Diploma Bertha Lutz em sua 16ª edição.

Autor
José Medeiros (PSD - Partido Social Democrático/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão solene do Congresso Nacional destinada à comemoração do Dia Internacional da Mulher e à entrega do Diploma Bertha Lutz em sua 16ª edição.
Publicação
Publicação no DCN de 09/03/2017 - Página 103
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO SOLENE, CONGRESSO NACIONAL, ASSUNTO, COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, MULHER, ENTREGA, DIPLOMA, BERTHA LUTZ, PREMIO, HOMENAGEM, RECONHECIMENTO, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO SEXUAL, DEFESA, DIREITO A IGUALDADE.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco/PSD - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Muito obrigado, Srª Presidente.

    Quero, de início, já cumprir meu objetivo aqui, que é parabenizar e homenagear a todas as mulheres. Desde que entrei aqui no Senado, tenho tido uma participação, inclusive participando dos congressos da Procuradoria da Mulher em todos os Estados.

    Mas queria lamentar, Srª Presidente, que hoje, o Dia Internacional da Mulher, o dia que era para serem feitas aqui homenagens às mulheres, com raras exceções, foi usado para fazer ataques. O Dia Internacional da Mulher foi usado simplesmente como biombo. Eu não vi imagem mais clara do retrato do que sofrem as mulheres, porque até o seu dia foi usado para fazer ataques políticos. Mas é próprio: quem não respeita velório não vai respeitar o Dia Internacional da Mulher.

    Eu vi aqui, e tiraram as frases – eu estava lá agora há pouco na homenagem que o Presidente Michel Temer fez às mulheres –, aí pinçaram de todo um contexto e tiraram um texto pequenininho, tiraram fora do contexto e disseram que o Presidente fez um ataque às mulheres.

    Ora, ouvi hoje o dia inteiro aqui pessoas dizendo: "As mulheres têm, inclusive, de receber salário a mais, porque elas trabalham fora e trabalham em casa!" E eu quero que um venha me dizer aqui em qual casa neste Brasil que as mulheres não administram tudo. Cuidam dos filhos, sim, preocupam-se até com os adolescentes maiores, com os jovens. Aliás, qual mãe não se preocupa? Quantas mães que não ficam, Senadora Lúcia Vânia, acordadas até que o último filho chegue em casa, que a galera hoje vai para a balada, e a mãe fica ali preocupada? É próprio da mãe.

    E o discurso do Presidente era nessa linha de que, se o lar está bem estruturado, deve-se muito às mulheres. E é uma verdade. Eu sou filho de uma família de nordestino, e minha vó teve 23 filhos. E, se eu estou aqui nesta cadeira hoje, é por causa daquela velhinha. Meu avô vinha para Goiás, Senadora Lúcia Vânia, para o Mato Grosso, e ela ficava lá no Rio Grande do Norte com os 23 filhos. Concordo plenamente com o Presidente: se não fosse minha vó, esses 23 tinham morrido. Aliás, morreram dez.

    Mas tiraram a frase do contexto e disseram que ele falou que a mulher serve para fazer a compra no supermercado. Não foi verdade. Eu estava lá e ele fez tudo dentro de um contexto. Citou todas as qualidades das mulheres e falou: "E tem mais...", no sentido de que quem mais entende de economia neste País hoje não são os economistas; quem mais tem o feeling de tudo que está acontecendo são as mulheres. É mentira? Não é mentira.

    Lembro-me do Dilson Funaro, quando lançou um dos planos econômicos, ele dizia o seguinte: "Nós temos que pegar a economia da dona de casa, nós temos que ter as nossas donas de casa fiscalizando." Por quê? Não vamos fugir à realidade, tomara que mude, que a gente veja os homens fazendo compra, mas não vejo ninguém, homem nenhum fazendo compra, não. Quem faz é a mulher, sim, quem fica fazendo as compras são as mulheres. Espero que mude.

    Lá em casa é diferente, porque há uma japonesa muito brava, e ela me arrasta e faz eu ir fazer junto. A minha utilidade lá é pagar e carregar as compras.

    Mas o que acontece? Eu sinto que, nesse debate, não se está aqui a homenagear as mulheres, infelizmente. Sinto muito que, no velório da Dona Marisa, poucos foram ali para homenageá-la, foram ali para falar de Temer. Tudo neste momento é biombo para falar do Temer. Por quê? Porque se precisa de algum pano de fundo, porque o telhado é de vidro. Então, eu preciso ou das mulheres ou de um velório famoso. Eu preciso de alguma coisa para atacar.

    Mas esqueçam. Não é Temer que vocês estão destruindo. Eu não votei no Temer; vocês o escolheram e disseram que era bom. O que está em jogo aqui, senhores, é o futuro deste País, e eu não vejo ninguém preocupado com isso; é preocupado em se lançar Seu Lula antes para poder fugir do Moro. Aliás, está o depoimento do Lula marcado, e eu estou vendo que já estão fazendo sabe o quê, Senadora Simone Tebet? Estão ajuntando um monte de gente para ir pressionar o juiz. Isso é ou não é obstrução de Justiça?

    Então, o que se está aqui é 2018. Aí vêm falar que o Presidente mandou a mulher para o supermercado. É mentira. Eu estava lá presente, na primeira fila. Se tivesse, eu seria o primeiro a falar: "Falou. Foi retrógrado", mas não foi.

    Nós estamos sem credibilidade, e não é só o PT, somos todos nós aqui, porque a classe política brasileira começou a mentir e faz tempo. Eu quero atacar o outro, eu invento uma mentira – e as pessoas veem, as pessoas hoje se informam. E mentira tem um problema: uma hora a verdade aparece, e é por isso que o Partido que mais tinha credibilidade neste País hoje ficou igual àquele sal insípido de que diz na Bíblia: para nada mais presta a não ser para ser pisado pelos homens. Não sou eu que estou falando, não; todo mundo pisa. O PT virou a Geni. Mas quem fez isso? Foi a oposição? Não. O PT se construiu e se desconstruiu.

    Vieram hoje alguns discursos aqui, Senadora Simone Tebet, que eu não consigo engolir. Desculpem-me! Eu tenho que fazer esse contraponto. Eu tinha que estar aqui homenageando. Estamos aqui diante dessas flores bonitas, mas elas não representam o que foi esta sessão aqui hoje.

    O que eu sinto é que quiseram passar que a Presidente caiu, porque era mulher. Não é verdade. Não é verdade. Aliás, a Presidente, durante muito tempo, foi tida como a gerentona, uma mulher competente. Agora, quando o governo não deu certo, ela respondeu como qualquer um governante responderia. Igualdade perante a lei é isso. Art. 5º da Constituição: igualdade, nós somos todos iguais perante a lei. Agora, é essa igualdade que nós estamos buscando, e a Presidente Dilma não caiu, porque era mulher. Eu tenho que fazer este contraponto: não caiu porque era mulher; a Presidente Dilma caiu porque teve problemas nas suas contas e problemas gravíssimos.

    Eu vi hoje aqui algumas pessoas que nem são desta Casa virem aqui com essa gritaria, fazer apitaço, dizer que foi misoginia, que foi isso e que foi aquilo. Não foi. "Ah! A Presidente honesta caiu, porque era mulher e sem ter cometido nenhum crime." Não é verdade. O crime da Presidente foi um crime administrativo, foi uma falha administrativa, um ato infracional gravíssimo.

    A maior empresa do mundo, a chamada Enron, se arrebentou, porque maquiava, porque pedalava nos seus balanços. Aliás, o slogan da empresa era o seguinte: "Pergunte por quê!", porque ela era quem pagava mais dividendo. Quem investia na Bolsa ganhava muito, e, de repente, quando realmente alguém decidiu perguntar por quê, descobriram que os balanços eram maquiados.

    O Brasil era cantado em verso e prosa até poucos dias, como um arroubo, algo grande na economia. Estávamos aí cantados em verso e prosa. E aí alguém resolveu perguntar por que os nossos balanços só davam superávit. Porque eram maquiados. E ficou aquele rombo.

    Nós pagávamos duas contas com um dinheiro só. Esse foi o problema. O problema pelo qual a Presidente Dilma caiu foi o seguinte, foi a tempestade perfeita, que é o tripé que sustenta qualquer Governo, seja ele monarquia, seja o que for é: economia forte, apoio popular e base política.

    A Presidente perdeu o seu apoio dentro do seu Partido. Por quê? Porque era para o Lula ser o candidato. Esse era o acordo. Cresceram os olhos. Rui Falcão foi para um lado e uma turma para o outro. Eles se dividiram, brigaram. A Lava Jato foi tocada dentro do Ministério da Justiça. Todo mundo sabe disso ali. Tocaram fogo no próprio paiol. Tocaram fogo na lona do circo, não deram conta de apagar, e agora ficam querendo culpar os outros. É lógico que, como luta política, esse discurso faz sentido.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco/PSD - MT) – Mas não venham usar o Dia das Mulheres para fazer isso aqui. Já há todos os outros dias para ficarem falando isso aqui, na tribuna. Agora, no Dia das Mulheres, que era para ser uma homenagem às mulheres, não. E vêm fazer proselitismo. Deixem o Temer! Ataquem o Temer outro dia!

    Outra coisa são as mulheres defendidas aqui, no dia a dia da política. Arrebentar com a imagem da Marcela Temer é normal. Tudo pode. Arrebentam com elas nas redes sociais. Se é companheira, aí, sim. É deplorável o que aconteceu com Maria do Rosário. É deplorável o que aconteceu com Maria do Rosário. Agora, eu vejo indignação só quando é com as companheiras. Então, é preciso parar com a hipocrisia. O problema aqui é a hipocrisia. Não tenho orgulho de bater e não fico feliz em fazer essas pontuações aqui.

    Só mais um minuto, Senadora, e já termino.

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco/PSD - MT) – Não faço aqui discurso de moralidade, discurso de ética, porque acho que isso é básico para nós chegarmos aqui. Agora, quem vestir roupa da Marinha tem que ficar longe da lama. E o Partido dos Trabalhadores foi quem fez esse discurso o tempo inteiro. Apontava o dedo para todo mundo, pedia impeachment até do Presidente do Corinthians. Aí, o que aconteceu? Aconteceu com eles.

    Olha, o PT para bater não tem dó. Mas, na hora em que leva um arranhãozinho, é uma choradeira, um berreiro. Parece pela de porco. Eu nunca vi. Agora, ao se passar por vítima, é uma coisa de louco. Se nós não fizermos o contraponto aqui, em 2018, estão todos aí falando que foram vítimas. É essa cantilena mesmo. Cantilena de golpe, de não sei o quê. Não houve nada disso. Todo mundo acompanhou. Então, cada vez que vierem fazer uma mentira aqui, vou contar dez verdades.

    Essa história que houve aqui...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco/PSD - MT) – ... de misoginia, de que o Governo é machista, vou contar, já encerrando, nesses últimos 50 segundos, Senadora, que Michel Temer – não sou procurador dele – foi o primeiro a montar em São Paulo a delegacia da mulher. Hoje, em todo o país, existe uma delegacia da mulher. Michel Temer foi quem abriu a primeira delegacia neste País.

    Quando ele era Presidente da Câmara, ele foi quem instalou a Procuradoria da Mulher na Câmara. Isso são atos. Isso demonstra se ele é machista, se é misógino ou não.

    Então, Senadora, eu agradeço pela paciência. Desculpe-me a indignação.

    Eu queria me penitenciar com as mulheres, porque eu gostaria de ter feito um discurso hoje só para homenageá-las, mas faço esse discurso para pedir desculpa, primeiro, por boa parte dos colegas ter usado a tribuna aqui para fazer as mulheres, mais uma vez, de escada...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco/PSD - MT) – ...para falar mal dos outros e não para homenageá-las como elas merecem.

    De resto, quero parabenizar a Senadora Lúcia Vânia, a Senadora Simone Tebet, a Senadora Marta Suplicy, a Senadora Regina Sousa, a Senadora Fátima Bezerra, a Senadora Gleisi Hoffmann e a Senadora Vanessa Grazziotin. E que no próximo ano a gente possa realmente fazer uma audiência para homenagear as mulheres brasileiras.

    Muito obrigado, Senadora.


Este texto não substitui o publicado no DCN de 09/03/2017 - Página 103