Discurso durante a Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão solene do Congresso Nacional destinada à comemoração do Dia Internacional da Mulher e à entrega do Diploma Bertha Lutz em sua 16ª edição.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão solene do Congresso Nacional destinada à comemoração do Dia Internacional da Mulher e à entrega do Diploma Bertha Lutz em sua 16ª edição.
Aparteantes
Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DCN de 09/03/2017 - Página 35
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO SOLENE, CONGRESSO NACIONAL, ASSUNTO, COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, MULHER, ENTREGA, DIPLOMA, BERTHA LUTZ, PREMIO, HOMENAGEM, RECONHECIMENTO, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO SEXUAL, DEFESA, DIREITO A IGUALDADE.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Muito obrigada, Senadora Gleisi, Srªs Deputadas, Senadoras, companheiros e companheiras.

    Neste 8 de março, data que representa não só uma justa homenagem a mulheres americanas que morreram pela simples razão de lutar por melhores trabalhos, aqui no Senado Federal, já há 16 anos, estamos fazendo a sessão do Dia da Mulher juntamente com uma sessão em homenagem a mulheres que lutam pelo direito das mulheres – ou homens, porque homens também podem receber o Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz. Basta que tenham participação efetiva na luta pelos direitos das mulheres e contra a discriminação.

    Eu quero aqui dizer que esta data de 8 de março já está sendo bastante diferente dos 8 de março anteriores. São vários países que estão parando, são vários países onde as mulheres estão gritando, porque nós já estamos cansadas de falar da discriminação e reivindicar nossos direitos. Estamos cansadas, porque ninguém ouve as nossas reivindicações, ninguém ouve as nossas falas. E, quando infelizmente falamos sem que aqueles que detêm o poder nos ouçam, é preciso que falemos mais alto, é preciso que falemos mais alto e é preciso que falemos cada vez mais alto. Este 8 de março representa um volume significativo na voz não só das mulheres brasileiras, mas de todo o mundo, que não aguentam mais, que não suportam mais conviver com situações que são vergonhosas não só para as mulheres, mas que deveriam ser vergonhosas para os homens, principalmente, vergonhosas para o País.

    Eu me refiro ao fato de o Brasil conviver como se fosse normal, Senadora Fátima, com um Parlamento onde mais da metade da população, mais da metade do eleitorado só ocupam 10% das cadeiras, que são as mulheres, seja nas câmaras de vereadores, seja nas assembleias legislativas, seja na Câmara Federal, seja aqui mesmo no Senado. Na Câmara Federal, são 9,9% de mulheres, e o Brasil convive com isso como se fosse normal. Em todo o continente latino-americano, em todo o continente americano, o Brasil só tem, Senador Paim – V. Exª domina muito bem os dados –, mais mulheres no Parlamento do que o Haiti, do que Belize, do que uma ilhazinha chamada Saint Kitts. Nós ganhamos desses; perdemos para a Venezuela, o Paraguai, a Argentina, os Estados Unidos, o México, o Panamá, a Colômbia. Perdemos para todos. Por que não muda? Porque a mudança tem que ocorrer na legislação eleitoral, e quem detém 90% do poder das mudanças são os homens, porque ocupam 90% das cadeiras.

    Falávamos, há pouco, a respeito da sessão de hoje pela manhã da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania em que conseguimos construir uma pauta exclusivamente de temas relativos às mulheres. Falamos que o único projeto que não avançou foi exatamente aquele que reservava vagas nas cadeiras do Senado Federal para as mulheres, mas, Deputada Carmen, conseguimos outro avanço, que foi o estabelecimento...

    O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) – Só para dizer...

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB - AM) – Pois não.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) – ... que o Senador Roberto Rocha pediu vista e não deixou que isso acontecesse. Todos têm que saber.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB - AM) – Pediram vista exatamente do projeto, e não conseguimos votar.

    Votamos, por outro lado, um projeto de cotas importantes que é a presença obrigatória das mulheres nos conselhos das empresas estatais – são 30%, gradativamente, começando em 2018 e indo até 2022. Esse projeto deverá ir brevemente à Câmara dos Deputados. Da mesma forma, a Câmara dos Deputados luta para aprovar uma cota de cadeiras que começa com 10%, vai a 12% e chega a 16,5%, e temos dificuldade, Senadora Emília, de chegar a esse percentual.

    Não apenas é preciso que usemos dos apitos, da voz forte que nós temos, mas é preciso que chacoalhemos a sociedade e que mostremos para os homens que esse não é um espaço exclusivo deles. Esse é um espaço que tem que ser dividido, equalizando com toda a sociedade. Nós somos a maioria da população brasileira e temos o direito, sim, de trabalhar e estar ao lado dos homens construindo as leis deste País, contribuindo para que este País se desenvolva. Nada explica.

    Se o mundo inteiro tem razões para lutar, nós no Brasil temos razões ainda maiores, porque, além de tudo o que nos tiram permanentemente, além dos espaços, além do reconhecimento, além da violência crescente no Brasil... E é bom que se diga que há dois mapas em que o Brasil está colocado no mundo que são exatamente o inverso um do outro: um é o da presença no Parlamento das mulheres, em que nós estamos lá embaixo; outro é o da violência, em que nós estamos lá em cima. Eles têm tudo a ver, porque a falta do empoderamento da mulher faz com que a violência cresça a cada dia.

    Não basta nós termos um nível maior de escolaridade, não basta nós estarmos só no mercado de trabalho, é preciso que estejamos ocupando o poder. Nós temos que pôr fim àquela sociedade em que ele manda e ela obedece. Infelizmente, é assim: eles decidem e nós cumprimos a decisão deles. A hora em que vamos ser reconhecidas e respeitadas é na hora em que, ao lado deles, nós decidirmos também. Por que muitas mulheres que têm independência financeira sofrem violência doméstica? Porque os maridos ainda veem aquela mulher como um objeto seu, como uma propriedade sua. É contra isso que nós temos de lutar.

    E dizia eu...

    A SRª PRESIDENTE (Gleisi Hoffmann. Bloco/PT - PR) – Senadora Vanessa, a nossa homenageada está aqui pedindo para fazer um aparte.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB - AM) – Pois não.

    A SRª RAIMUNDA LUZIA DE BRITO – Pequenininho. Eu, como professora há quase 50 anos – estou hoje com 78 anos, graças a Deus –, sei que tem que começar na escola a ensinar para a menina o que é a mulher, o que a mulher faz, o que nós devemos fazer, para a menina crescer e saber que tem de votar em mulher. Senão, vamos ficar sempre batendo que mulher não vota em mulher, e a mulher não tem voto. Obrigada. (Palmas.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB - AM) – Eu que agradeço à senhora, que engrandece muito o meu pronunciamento.

    Mais do que isso, nós temos que fazer, sim, nós temos que educar os meninos a também nos ajudarem a cuidar das crianças, a lavar a louça, a varrer. Isso não tem nenhum demérito, porque, na hora em que o Brasil se industrializou, em que o mundo viveu a revolução industrial, a mulher tirou a saia, vestiu a calça, colocou a bota e foi para a rua trabalhar. Nesse mesmo instante, o homem tinha que colocar o avental e ir para dentro de casa ajudar suas companheiras, que saíram para ajudar a sustentar suas famílias, mas os homens não fizeram assim. (Palmas.)

    É preciso, sim, que digamos que não existe divisão de gênero no mundo do trabalho, porque a mulher não é melhor para uma coisa do que para outra. Nós somos diferentes fisiologicamente, somos diferentes, sim, mas não podemos ser tratadas com diferença, devemos ser tratadas com igualdade.

    Enfim, para concluir, eu quero apenas aqui resgatar o que várias companheiras que me antecederam falaram. Nós no Brasil temos razões maiores ainda para lutar, para nos mobilizar, porque, além de tudo que nos tiram, agora querem aprovar reformas no âmbito do trabalho, principalmente, a reforma trabalhista e a reforma previdenciária, que prejudicam todos os trabalhadores e trabalhadoras, mas que prejudicam em especial as mulheres. Querem tirar não os bônus, pois eu escuto muita gente falar de um bônus que as mulheres têm hoje, que é o direito de se aposentar cinco anos antes do homem. Isso não é um bônus, isso é uma pequena compensação por tudo o que a sociedade nos impõe: uma jornada de trabalho maior, com salários menores, um trabalho que substitui o Estado brasileiro, sem qualquer remuneração. Então, querer igualar o tempo de aposentadoria...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco/PCdoB - AM) – ... dizendo que a mulher vive mais é a maior injustiça que nós já vimos sendo cometida, porque a mulher trabalha mais. Boa parte da jornada de trabalho dela, que é em casa, a doméstica, é sem nada de remuneração. A mulher vê a sua carreira prejudicada por cumprir a função mais nobre da humanidade, que é a maternidade!

    Companheiros e companheiras, é exatamente por essas razões que nós temos que dizer "não" a essa PEC da reforma da previdência, dizer "não" às reformas que suprimem os nossos direitos. Eu tenho certeza absoluta disso e quero concluir fazendo um apelo aos nossos colegas, companheiros, Senadores homens, assim como aos Deputados: não tirem o que a mulher com muita dificuldade conquistou há algum tempo, não tirem o direito do trabalhador que mais precisa da mão do Estado.

    Muito obrigada, Srª Presidente. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 09/03/2017 - Página 35