Discurso durante a 22ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a comemorar o centenário do poeta Manoel de Barros.

Autor
Garibaldi Alves Filho (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RN)
Nome completo: Garibaldi Alves Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão especial destinada a comemorar o centenário do poeta Manoel de Barros.
Publicação
Publicação no DSF de 14/03/2017 - Página 19
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, OBJETIVO, COMEMORAÇÃO, CENTENARIO, NASCIMENTO, POETA, MANOEL DE BARROS.

    O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (PMDB - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Eminente Senador Pedro Chaves, eu gostaria de fazer um pedido à Mesa: que ela me enviasse o nome das pessoas que estão nos honrando com a sua presença na direção dos trabalhos.

    Eu cumprimentaria o meu colega, o Senador Waldemir Moka. Cumprimento o Sr. Senador Thieres Pinto, cumprimento o Deputado Federal Izalci Lucas – estou de acordo com o cerimonial. Cumprimento a Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, a Srª Maria Inês Fini; cumprimento o Vice-Presidente do Conselho Curador da Fundação Manoel de Barros, o Sr. Marcos Henrique Marques; cumprimento a representante do Ministro de Estado da Educação, a Srª Regina de Assis.

    Eu gostaria de dizer, Sr. Presidente, Senador Pedro Chaves, que me associo inteiramente à iniciativa de V. Exª e pediria desculpas ao Senador Waldemir Moka e ao Senador Cristovam Buarque pela intimidade que eles demonstraram com a obra do nosso homenageado, o poeta Manoel de Barros.

    Eu confesso a minha ousadia, porque não tive o privilégio de estar com ele, de conhecer, até mesmo, melhor a sua obra. E, antes que me perguntem o que eu estou fazendo aqui, eu diria aos senhores e às senhoras que fui movido aqui por um dever de homenagear um poeta, num momento dos dias correntes em que até parece paradoxal, parece até fantasioso imaginar que a arte da poesia ainda se afiguraria como modelo superior de representação da alma humana. Por que eu digo isso, Sr. Presidente?

    Afinal de contas, o canto dos poetas parece converter-se paulatinamente em assobios ralos, longe do toque mágico que outrora provocava nos corações de homens e mulheres aqui e no mundo inteiro. Na era atual – e eu não sou muito familiarizado com isso –, na era atual dos tuítes, a arte digital em profusão nos leva a que não sobre mais tempo para uma apreciação mais detida sobre a composição de uma construção poética. Com franqueza, isso é lamentável. Isso é uma pena. Não é nostalgia; pode até parecer, pelos cabelos brancos que eu ostento, mas, mesmo assim, ainda em dias recentes – e foi isso que me trouxe à tribuna –, quando surge um expoente do calibre do notável Manoel de Barros, isso desaparece. Isso muda, Senador Waldemir Moka.

    Na verdade, a impressão que se tem é de que a poesia, de tempos em tempos, ressurge das cinzas e desponta novamente como uma arte nobre e renovadora do espírito criativo. Posso estar sendo até pessimista, mas creio que estou sendo realista.

    Ao longo do seu excepcional trabalho artístico, o mato-grossense Manoel de Barros demonstrou tanta suavidade estilística quanto alto rigor linguístico.

    A senhora vai me permitir, mas eu pedi uma pesquisa à consultoria do Senado, e os consultores são, às vezes, segmentados e têm a oportunidade de conhecer várias obras. É por isso que estou dizendo que, atravessando uma vida – hoje, comemoramos o seu centenário –, Manoel de Barros jamais abriu mão de suas conexões telúricas com a lavoura, com o cheiro e as coisas da terra. Isso já foi dito aqui magistralmente, muito melhor, pelo Senador Pedro Chaves, pelo Senador Waldemir Moka, por Cristovam Buarque. É sempre muito difícil falar depois de Cristovam Buarque! Falar depois do Senador Cristovam Buarque, sim, é muito difícil!

    Não é por acaso que assim se definiu, certa vez, e em um curto poema:

A maior riqueza do homem é a sua incompletude.

Nesse ponto sou abastado.

Palavras que me aceitam como sou – eu não aceito.

    Simplicidade formal e orgânica combinada, nesse poeta, com a complexa filosofia existencial: eis o segredo de seu imbatível sucesso literário.

    Sr. Presidente, senhoras e senhores convidados que aqui vieram, revistas internacionais dão conta de que o ser humano tem uma apreciação inconsciente de obras poéticas, e o fenômeno estaria ligado a aspectos da construção do texto, como a rima e o ritmo. Em suma, a poesia, tão popularmente cantada e exaltada até há bem pouco tempo, parece embutida, como se fosse uma intuição profunda. À luz dessas considerações, Manoel de Barros merecidamente deveria ter ocupado lugar de destaque no panteão das letras portuguesas e brasileiras.

    Na correspondência atual, uma cadeira na Academia Brasileira de Letras teria sido de ideal tamanho. Com certeza, eu, que não tenho – e confesso novamente – a intimidade com a vida literária dele, tenho certeza de que oportunidades e convites não lhe faltaram.

    No entanto, na modéstia que lhe era bem afeita, jamais reivindicou reconhecimento para além dos elogiosos comentários que abundaram ao seu redor, com a justa conta da infinita qualidade de suas obras.

    Sua consagração somente se deu nas décadas de 1980 e 1990, quando Millôr Fernandes publicou suas poesias nos maiores jornais do País.

    Manoel de Barros era considerado um poeta espontâneo, como já foi dito aqui. Quem fala por último corre um risco: o de se tornar repetitivo. Mas, para homenagear um esteio da literatura como Manoel de Barros – e esse sorriso dele conquista qualquer um –, quantas vezes se repetirem, mais vezes se tornarão necessárias.

    Então, Sr. Presidente, eu gostaria de homenageá-lo, dizendo que, por uma feliz coincidência, amanhã, dia 14 de março, transcorre o Dia Nacional da Poesia. Como ocorre desde a segunda metade dos anos de 1970 – não é lá em Corumbá, mas em Natal –, será comemorada a data com várias atividades. Eu acredito que também lá.

    Mas o que é certo é que quero pegar aqui uma carona no meu discurso – e todos os convidados irão permitir a partir da Mesa –, para, ao mesmo tempo que homenageio esse grande poeta pelo seu centenário, saudar a poesia potiguar, saudando muitos poetas.

    Corro até o risco da omissão de algum nome, mas gostaria de lembrar Auta de Souza, Diógenes da Cunha Lima, Esmeraldo Siqueira, Fabião das Queimadas, Falves Silva, Ferreira Itajubá, Henrique Castriciano, Homero Homem, J. Medeiros, Luís Carlos Guimarães, Marize Castro, Moacy Cirne, Nei Leandro de Castro, Newton Navarro, Nísia Floresta e Zila Mamede.

    Houve um tempo em que se dizia na minha terra que, em cada esquina, havia um jornal e que, em cada cidade, havia um poeta.

    Viva Manoel de Barros!

    Agora, eu direi: viva Manoel de Barros e viva a poesia brasileira!

    Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/03/2017 - Página 19