Discurso durante a 26ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre as manifestações contrárias às reformas previdenciária e trabalhista.

Crítica à alteração no Programa Bolsa Família e elogio à inauguração de obras da transposição do Rio São Francisco pelo ex-Presidente Lula.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Comentários sobre as manifestações contrárias às reformas previdenciária e trabalhista.
GOVERNO FEDERAL:
  • Crítica à alteração no Programa Bolsa Família e elogio à inauguração de obras da transposição do Rio São Francisco pelo ex-Presidente Lula.
Aparteantes
Roberto Requião.
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2017 - Página 15
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMENTARIO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, ASSUNTO, DESAPROVAÇÃO, REFORMULAÇÃO, LEGISLAÇÃO PREVIDENCIARIA, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA, GESTÃO, GOVERNO FEDERAL, SAUDAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, MOVIMENTO SOCIAL, CRITICA, RETIRADA, DIREITOS SOCIAIS.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, ALTERAÇÃO, VALOR, PROGRAMA DE GOVERNO, BOLSA FAMILIA, ELOGIO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, REFERENCIA, EVENTO, INAUGURAÇÃO, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Obrigada, Senador Cássio, que preside esta sessão. O "Helena" é em deferência a minha bisavó. Uso pouco, mas é um nome de que eu gosto.

    Queria cumprimentar os Senadores e as Senadoras que estão aqui, e também a quem nos ouve pela Rádio Senado, nos acompanha pela TV Senado e pelas mídias sociais.

    O que me traz à tribuna hoje é fazer um balanço do que foram as manifestações de ontem por todo o Brasil – aliás, manifestações que surpreenderam. Nós esperávamos, sim, que houvesse manifestações de rua contra a reforma da previdência, contra a reforma trabalhista, enfim, contra o desmonte que esse Governo está fazendo do Estado brasileiro, e fomos surpreendidos pelo volume. Só na Avenida Paulista, centenas de milhares de pessoas, muito mais do que 200 mil pessoas, se reuniram para fazer um protesto contra a reforma da previdência e a reforma trabalhista. O discurso do Presidente Lula foi histórico, acompanhado na Avenida Paulista, mas também acompanhado pela internet, pelas redes sociais, falando exatamente das conquistas do povo brasileiro que estão sendo desmontadas. Calcula-se que ontem mais de 1 milhão de pessoas tomaram as ruas brasileiras para fazer protestos, para dizer a esse Governo que está aí que não concordam com a reforma da previdência, que não concordam com a reforma trabalhista, que não concordam com o desmonte que estamos tendo do Estado brasileiro, principalmente do Estado de bem-estar social.

    Hoje diversos jornais brasileiros mostraram. Há um balanço muito bom pelo 247, que é um site que acompanha muito os movimentos sociais, sobre os eventos, o Mídia Ninja, Jornalistas Livres, todos foram para a rua fazer a cobertura, ouvir as pessoas.

    Quem estava na rua não era filiado ao PT, não era militante da esquerda, não era dos partidos que apoiaram a Presidenta Dilma contra o impeachment, ou que apoiam o Presidente Lula. Não. Eram pessoas que não tinham filiação partidária, que não tinham militância partidária, mas que têm consciência plena do que vai significar essa reforma da previdência, dos direitos que vão ser tirados das pessoas, e isso nenhum Senador, nenhuma Senadora aqui pode dizer que desconhece, ou que vai votar uma reforma aqui achando que ela vai beneficiar a maioria do povo brasileiro.

    Ontem, o Presidente que está aí, que nós consideramos ilegítimo, num esforço de retórica, disse que a sociedade está apoiando as reformas, compreende as necessidades. Eu não sei onde que a sociedade compreende as necessidades de reforma, até porque ontem grande parte da sociedade foi para a rua, e foi exatamente contra a reforma.

    Eu gostaria de perguntar aos Senadores e a quem está nos ouvindo, principalmente às mulheres, se concordam com a elevação da aposentadoria por idade das mulheres de 55 para 65 anos. Será que as mulheres concordam em ter que pagar dez anos a mais, ou trabalhar dez anos a mais para poder se aposentar? Sabe o que significa isso? São 130 salários, 130 benefícios previdenciários que as mulheres vão deixar de ganhar.

    Quem vai ser atingida, principalmente? Primeiro, as trabalhadoras rurais. Foi um avanço nós termos conquistado, na Constituição de 1988, a aposentadoria especial para os trabalhadores rurais, para os agricultores. O que é essa aposentadoria especial? Contribui por 15 anos e, quando tem 55 anos, a mulher se aposenta. E contribui em cima da nota do produtor. Muitas vezes, a contribuição é anual, ou é semestral. Pode ser também mensal, dependendo da atividade agrícola. Se for, por exemplo, o leite, dá para fazer mensal.

    Agora a mudança qual é? Além de fazer a agricultora trabalhar de 55 até 65, ainda vai exigir que a contribuição para a previdência seja de 25 anos e, pior que isso, que a contribuição seja mensal e seja um percentual do salário mínimo. Como o agricultor consegue fazer isso? Ele não tem uma renda que seja mensal, ele não tem uma renda assegurada de mesmo valor todos os meses. Só gente que não conhece a realidade da agricultura pode fazer uma proposta dessa.

    Então, ontem, as agricultoras estavam nas ruas. Eu quero aqui saudar a Contag, saudar Fetraf, saudar a Via Campesina, saudar o MST, os movimentos sociais que estavam mobilizados e com os agricultores e agricultoras nas ruas.

    Eu fui aqui em Brasília, tive oportunidade de vê-los lá, representando esse setor da sociedade que é tão importante para a nossa economia, para a nossa segurança alimentar, para colocar a comida na mesa do trabalhador; 70% do alimento que chega à mesa brasileira vêm da agricultura familiar, vêm do pequeno agricultor – isso porque ele só tem 25% das terras agricultáveis deste País, porque o resto é para grande agricultura!

    Então, é com a aposentadoria dessa gente que este Governo está querendo mexer! Como que a gente pode respeitar um Governo deste que quer tirar dos que mais precisam? Daqueles que ganham praticamente um salário mínimo por mês quer mudar completamente a forma de se aposentar. Dá para ter apoio disso aqui nesta Casa? Será que Senadores e Senadoras vão apoiar? Acham justo isso? Não podem achar justo, não podem achar justo, porque é exatamente tirar do mais fraco.

    Ou, então, do magistério, dos professores. Nós temos aposentadoria especial dos professores. O que é aposentadoria especial dos professores? As professoras se aposentam aos 50 anos, com 30 anos de contribuição; os professores se aposentam aos 55, com 35 de contribuição. Agora vai mudar; continua o tempo de contribuição, mas a idade vai mudar. Todo mundo vai para 65 anos.

    Ora, por que o Constituinte fez uma previdência, uma aposentadoria diferenciada para o professor e para a professora? Pelo desgaste que a profissão tem; desgaste intelectual, desgaste físico; lidar com criança não é fácil. É só alguém que está no Governo que tem cabeça apenas de homem para pensar nisso, porque, quando nós fizemos a Constituição, em 1988, nós tínhamos uma bancada de mulheres muito ativa, chamada de bancada do batom. E uma das coisas que essa bancada conseguiu foi exatamente a universalização da aposentadoria e a diferenciação de aposentadoria por idade para as mulheres.

    Por isso, colocou para as professoras menos e também para os professores menos, porque as mulheres sabem o que significa criar filho, conviver com criança, ficar cerca de seis, sete horas com criança. É muito bonito, é muito legal, é muito poético, mas a realidade não é assim no dia a dia. Desgasta, a criança requer da mãe, requer do professor, requer de quem está com ela uma atenção quase que exclusiva.

    Agora se desmonta isso em nome do quê? É só cabeça de homem que não consegue olhar a realidade do Brasil. Não anda, não é possível! Esse secretário da Previdência não deve ter nunca pisado numa propriedade rural da agricultura familiar, nem deve ter visitado uma escola de periferia, seja ela estadual, ou municipal, em que uma professora tem de estar lá com 30 crianças.

    E no meu Estado é diferente, Senador. Está aqui o Senador Requião, que fez uma revolução na educação paranaense. O Paraná ficou conhecido como um dos Estados com melhor investimento e melhor qualidade de educação no Brasil. Entrou um sucessor, o Beto Richa, que colocou tudo no chão.

    Eles estão colocando escola, Senador Requião, no interior... Eu fui para Barracão. O pessoal me disse que há escola com 52 alunos. O senhor acha que dá para dar aula para ensino fundamental com 52 alunos? É impossível! Como a professora ou o professor vai dar atenção para essas crianças?

    Mas é essa a prática que o Beto Richa está tendo lá no Paraná. E querem ainda aumentar a idade e o tempo de contribuição dos professores para se aposentarem, porque essa cabeça que o Beto Richa tem lá no Paraná é a mesma do Michel Temer aqui, é a mesma do Ministro da Educação aqui. Para eles é isto: educação não é processo de emancipação, de formar cidadania; educação é um processo apenas de formar mão de obra para aquilo que eles precisam. Então, se tiver que formar mão de obra para uma determinada situação, forma-se. É assim que eles veem o processo educacional. Não é de emancipação da pessoa. Então, é muito ruim o que nós estamos vivendo. E é por isso que eles fazem isso com a educação.

    Então, ontem, os professores saíram às ruas deste País. Eu quero saudar os professores, que iniciaram uma greve ontem, uma greve por tempo indeterminado. Aliás, no Paraná foi lindíssimo. Fazia tempo, Senador Requião, que nós não assistíamos a uma manifestação como aquela no Paraná.

    Eu fiquei realmente impressionada pelo número de pessoas que estavam nas ruas – pelo número de pessoas que estavam nas ruas. E estavam lá protestando contra esse desmonte que nós estamos tendo do Estado brasileiro e contra o desmonte do Estado do Paraná, porque o Governador do Paraná resolveu fazer dos professores do Paraná seu inimigo número um. Um homem, um governante que resolve fazer da educação dos professores seu inimigo número um não pode dar certo. Só pode dar errado, como está dando lá.

    Então, a gente tem que chamar a atenção para isso. Então, ontem foram às ruas os professores. Os professores coloriram as ruas deste País para chamar a atenção para a educação, para chamar a atenção contra a aposentadoria, a reforma que está aqui.

    Eu acho que o impacto que nós tivemos ontem dos trabalhadores na rua, porque também pararam os motoristas de ônibus por um período, os metroviários por um período, os sindicalistas... Diversas categorias pararam para mostrar a insatisfação que têm com este Governo.

    Então, se este Governo está achando que está certo, que tem ibope, reveja os seus conceitos, leia os jornais. Pode ler até os jornais em que ele acredita, porque até esses jornais deram, de forma muito aberta, o que significaram as mobilizações de ontem.

    Foram mobilizações em mais de 23 Estados. Nós não estamos falando do Rio, São Paulo ou daqueles Estados em que há, geralmente, o pessoal mais mobilizado. Nós estamos falando de 23 Estados brasileiros em que todas as capitais tiveram mobilização, em que todas as capitais tiveram ato contra a reforma da previdência, ato contra a reforma trabalhista, ato contra o Governo do Michel Temer.

    E ele está se achando, dizendo que a maioria da sociedade compreende as necessidades de reforma. Aliás, onde ele está com a cabeça? Eu não entendo este Governo, porque realmente faz avaliações absolutamente erradas. E espero que a Base do Governo aqui nesta Casa seja um pouco mais consciente, porque a base, se não for consciente, vai ter as respostas das ruas e das urnas, porque ninguém vai aceitar uma reforma da previdência desse tipo como eles estão colocando para ser feita.

    Então, queria recolocar aqui os parabéns, que eu já dei ontem, para todos aqueles que foram para as ruas e dizer que nós estamos aqui, tanto a Bancada do Partidos dos Trabalhos, de que eu sou Líder, mas acredito que também a Bancada de oposição ao Governo, para ser um canal dos movimentos sociais e dos trabalhadores no Congresso Nacional. Nós vamos resistir. Nós somos poucos aqui, muito poucos, mas nós vamos resistir. Nós vamos brigar muito. Se precisar, nós vamos gritar. Nós não vamos deixar as coisas acontecerem de forma mansa e pacífica aqui dentro, não.

    Nós vamos ser a voz das ruas, e as ruas ontem mostraram que querem barrar essa reforma, que não vão aceitar a retirada de direitos. Nós avançamos um patamar mínimo com a Constituição de 1988 e, depois, com programas que os governos do Presidente Lula e da Presidenta Dilma fizeram neste País, melhorando a vida dos mais pobres. E, agora, o que nós temos? Ataque aos mais pobres, aos agricultores, aos professores. Vai sobrar para os policiais. Duvido que sobre para aqueles que têm maior salário, porque essa é a prioridade do Governo.

    Aliás, ontem saiu nos jornais entrevista do Ministro Osmar Terra, do Ministério do Desenvolvimento Social falando das mudanças que quer fazer no Programa Bolsa Família. O senhor conhece, Senador Requião, o Programa Bolsa Família. É aquele que complementa a renda das pessoas em até R$179 por mês. Aqueles que têm uma renda menor do que o salário mínimo per capita, que tem um quarto de salário mínimo per capita. Complementa a renda.

    Aí, a tese do Governo, a tese brilhante desse Ministro é de que temos de ter cuidado para que a pessoa não vá para a informalidade para não perder o Bolsa Família, que é de R$179. Então, ele vai preferir trabalhar informalmente do que ganhar um salário mínimo, para garantir o Bolsa Família. Aí, com essa preocupação, porque ele acha que isso é um problema grande nacional, eles fizeram reformas nas leis dizendo o seguinte: se a pessoa arrumar um emprego formal, ela ainda pode ficar dois anos com o Bolsa Família, mas ela vai ser monitorada. E ele disse que isso seria importantíssimo, assim como achar a porta de saída do Bolsa Família, para a pessoa ir para o mercado de trabalho.

    Eu fico pensando: V. Exª acha, Senador Requião, que uma pessoa que ganha R$179 de complemento de salário, se conseguir um salário decente, mais do que um salário mínimo, vai se submeter a ficar na informalidade, sem pagar aposentadoria, sem ter seus direitos para receber isso? Que cabeça tem essa gente? Por que ele não pergunta a quem ele representa e a quem colocou ele na Câmara – agora, ele está no Ministério –, aos seus apoiadores e à sua base eleitoral como fazem com as operações de crédito que têm junto ao Banco do Brasil para financiar os seus negócios? Se há porta de saída para aqueles que têm dívidas astronômicas com os bancos públicos e que vivem nesta Casa querendo fazer negociação?

    Pergunto: qual é a porta de saída que querem dar àqueles que vivem do rentismo neste País? Não seria bom dar uma porta de saída e dizer:

Meninos, vocês que vivem da renda, da especulação, dos juros altos sobre os títulos públicos, só mais seis meses com esses juros altos. Ninguém vai poder aplicar em título público por mais de seis meses. Aí vocês têm uma porta de saída. Vocês vão para os juros normais de remuneração de mercado.

    Por que não fazem isso? Agora, em cima do pobre, o tempo inteiro estão achando coisa para mexer nos programas.

    Mexer no Programa Bolsa Família, Senador. Estou dizendo: essa gente não conhece o Brasil. Não sabe o que é fome. Não sabe o que é pobreza. Não anda por aí. Fica nos gabinetes, que têm ar-refrigerado, tomando café bom, bebendo água boa, sem ir para o sol, sem ter de trabalhar no pesado, sem ficar desempregado. É essa gente que faz a regra para os mais pobres na sociedade.

    Gente, vamos despertar? Vocês acham que é esse o pessoal do Bolsa Família que causa rombo nas contas públicas do Brasil? Como o do Benefício de Prestação Continuada, Senador. O Benefício de Prestação Continuada foi colocado para dar aposentadoria para aqueles que não conseguiam pagar a aposentadoria ao longo de sua vida, por serem muito pobres, por não conseguirem emprego, pessoas que não tiveram educação, que não tiveram o mínimo de proteção da sociedade.

    Essas pessoas, ao fazerem 65 anos e receberem um quarto do salário mínimo per capita por mês para sua família, têm direito a um benefício, que é o salário mínimo, como se fosse uma aposentadoria para o resto da vida. Então, nós estamos falando do andar muito debaixo da sociedade.

    Aí essa gente que agora está no Palácio do Planalto resolveu mexer nisso. De que forma? Aumentar a idade de 65 para 70 anos é o primeiro passo. Agora, o senhor me diga: uma pessoa que passa fome na vida, que não tem assistência à saúde decente, que não conseguiu educação, que mora em condições ruins consegue ter uma longevidade de até 70 anos? Quem está em condições ruins e não dignas de vida muitas vezes não chega aos 60. O que essa gente tem na cabeça de elevar a idade do Benefício de Prestação Continuada para até 70 anos?

    Mas a maldade não acaba aí. Quando a gente pensa que eles fizeram todas as maldades, há uma outra. Eles vão desvincular o Benefício de Prestação Continuada do salário mínimo, porque eles acham que não tem jeito. Essa gente nunca contribuiu, para que vai ganhar um salário mínimo? Então, eles vão arbitrar um salário, Senador Requião.

    O que tirou as pessoas da miséria neste País não foi o Bolsa Família. O Bolsa Família ajudou. Esses R$179, que são complementares à renda, ajudaram. O que retirou as famílias da miséria neste País foi a política de valorização do salário mínimo e a determinação da Constituição de que nenhum brasileiro ganharia menos que um salário mínimo.

    Agora, o Governo que está aí, que é um Governo da elite quer retirar isso do Benefício de Prestação Continuada. São os mais pobres, aqueles que mais precisam, inclusive as pessoas com deficiência. Não é possível a gente achar que isso é normal. Não é possível!

    O Senador Requião teve uma experiência no Paraná, por exemplo, que é um Estado com um PIB maior que os outros, de colocar um salário mínimo maior do que o salário mínimo nacional. Isso foi vital para algumas regiões mais empobrecidas do nosso Estado. Isso ajudou a retirar gente da miséria e da pobreza. Agora, foi uma decisão política. Essa gente que está aí faz decisão política ao contrário.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Tira dos pobres para dar para os ricos. Eu não entendo isso. E aí quer que a sociedade apoie. A sociedade não vai apoiar. A sociedade vai para a rua, vai continuar indo para a rua para defender os seus direitos, inclusive para não deixar que um Governo de plantão mexa nos programas sociais bem sucedidos que nós tivemos nos últimos tempos.

    Não botem os seus dedinhos no Bolsa Família, que ajudou a tirar os pobres da miséria. Não coloquem os seus dedinhos sujos no salário mínimo. Não coloquem os seus dedinhos no Benefício de Prestação Continuada. Xô! Vocês não têm esse direito, porque vocês já governaram este País e não fizeram pelos pobres. Já governaram este País e não fizeram obras para melhorar a vida a população, como a transposição do São Francisco. Xô! Vocês não têm condições de fazer isso, não têm direito e não têm moral para fazer isso. Nós vamos lutar aqui para não deixar haver esse retrocesso.

    Concedo um aparte ao Senador Requião.

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – Realmente o que me espanta, Senadora Gleisi, é o comportamento do meu amigo Osmar Terra. E eu não digo amigo ironicamente. É meu amigo, sempre tivemos uma excepcional relação. É um antigo militante dos grupos de esquerda no Brasil. Se não me engano, Senadora Vanessa, ele pertencia ao seu partido na época em que era estudante no Rio de Janeiro. Mas o Osmar Terra me dá impressão de que incorporou o espírito da Margaret Thatcher e do Bush. Não é o Osmar que está falando. Ele está propondo o velho liberalismo econômico do Bush e da Thatcher; é o fim do Estado social sem dúvida alguma. E isso, Senadora Gleisi, num momento em que a Itália, depois que derrotou um primeiro-ministro que queria submeter a economia ao capital financeiro, está adotando o Bolsa Família. E o Fundo Monetário Internacional está propondo o Bolsa Família como uma solução para o mundo, para os países que convivem com essa marginalização ocasionada pela pobreza. Mas o que eles estão pretendendo, na verdade – e é por isso que eu até me recuso a analisar a proposta de modificação da Previdência e da CLT –, é o Estado mínimo; é a retirada do Estado das condições de Estado social; é a volta da barbárie; é o liberalismo econômico que está sendo derrotado no planeta Terra, derrotado na Inglaterra com o Brexit – a Inglaterra sai do Mercado Comum Europeu; derrotado na Itália, com a derrota do primeiro-ministro, que teve que renunciar; derrotado na Espanha, que está, há mais de um ano, sem conseguir montar um governo razoável que dê estabilidade à sua política e à sua economia; derrotado em Portugal.

(Interrupção do som.)

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – É o sistema que fez com que Hollande, o Presidente da França, desistisse da sua reeleição, tal a rejeição que conseguiu no processo eleitoral. E, no Brasil, o que eles têm conseguido com isso? Uma pesquisa de apoio espontâneo, numa provável eleição para Presidente da República, deu ao nosso Presidente Michel Temer 1,1% de apoio. Parece que eles não conseguem entender o que está acontecendo. É um erro, é um engano e, por parte de alguns ideólogos financiados pelo capital financeiro e pelos bancos, é uma malandragem para submeter o Brasil ao domínio do capital financeiro do mundo. Antigamente, dizíamos ao imperialismo norte-americano. Eu não vejo assim mais. Os Estados Unidos são vítima do capital financeiro quando saem para investir em outros países com salários baixíssimos, impostos ridículos para aumentar a sua lucratividade, e internamente desemprega de uma forma brutal que chegou a garantir a eleição do "Donaldo" Trump contra Hillary, que representava Wall Street, o capital financeiro, e, de certa forma, Obama, que, apesar da excepcional vantagem, benefício que trouxe ao mundo por ser, depois de 30 anos do Mississipi em Chamas, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, também, de certa forma, cedeu às ingerências e ao domínio do capital financeiro norte-americano. Então, é um erro por parte de alguns e resultado, aqui no Congresso, de uma fisiologia incrível.

    Há uma dificuldade enorme de discutirem economia, e a economia é discutida como foi, ontem à noite, num jantar da Base do Governo no Palácio do Planalto. Não tem cabimento isso! Não se aprofunda o estudo da economia do mundo! Como é que a Alemanha saiu da crise? Saiu com Hjalmar Schacht defendendo a economia interna, cortando os juros, forçando investimentos produtivos e dando trabalho aos alemães. A mesma coisa aconteceu, paralelamente, nos Estados Unidos, com Franklin Delano Roosevelt – o New Deal, o novo pacto –, com a diminuição da carga horária e o aumento do salário mínimo para garantir os consumidores, quando um nacionalista de direita – ou internacionalista de direita, que era o Ford, propunha que, na sua fábrica, os operários tivessem um salário suficiente para comprar o automóvel que produziam. E a proposta de diminuição da carga horária e de aumento do salário foi exatamente dele, quando alertava o Roosevelt que o taylorismo ou o fordismo, a especialização do trabalho na linha de montagem iria aumentar de tal forma a produtividade dos Estados Unidos, adotada pelo conjunto dos industriais, que quebraria paradoxalmente o país. Por quê? Porque não teriam os Estados Unidos consumidores, em função do baixo salário. Então, ele propõe, e o Roosevelt acata a diminuição da carga horária e o aumento dos salários. Mas, aqui, é exatamente o contrário. Não há reforma, Senadora Gleisi, da previdência. Querem acabar com a previdência, que será oferecida para o capital financeiro administrado pelos grandes bancos, como um prêmio por terem participado deste projeto de liquidação do Estado social. Um erro por parte de alguns; patifaria absoluta por parte de outros; e fisiologia irracional por parte do nosso Congresso.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – São os demônios do mercado, Senador Requião, soltos por este Governo para atormentar a vida do brasileiro.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Estava começando a haver melhora da qualidade de vida. Como disse V. Exª, é a concepção do papel do Estado. É visivelmente o Estado mínimo contra um Estado de bem-estar social. Aliás, se o senhor pegar os países que têm economias desenvolvidas, todos têm um grande Estado de bem-estar social. Não se faz desenvolvimento econômico sem a proteção dos mais pobres.

    E eu queria encerrar aqui reforçando o convite para todos estarem junto com o Presidente Lula na Paraíba, em Monteiro, para a inauguração efetiva – a verdadeira – da transposição do Velho Chico, do Rio São Francisco.

    Eu estava olhando aqui, Senador Requião, que se fala em transposição do Rio São Francisco desde 1847. Desde 1847 fala-se da transposição do Rio São Francisco. Todos os governantes passaram pelo País falando disso e prometendo isso.

(Interrupção do som.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Quando o Presidente Lula, com o projeto, resolveu iniciar a obra em 2007, foi motivo de ceticismo, de crítica, como foi motivo de crítica o Bolsa Família – não sei se vocês se lembram –, que era chamado de Bolsa Esmola. E, depois, o PSDB, o mesmo Partido que criticou, veio aqui querer fazer um projeto de regulamentação para tirar uma casquinha do programa porque ia bem. Aí, com o Velho Chico, a mesma coisa: diziam que era impossível, colocaram lá pessoas da comunidade, inflaram pessoas da comunidade para ser contra o projeto, criticaram, fizeram horrores contra o projeto.

    Agora que a transposição do velho Chico é uma realidade, que está levando água para o Sertão, que o Sertão vai virar mar, que está todo mundo comemorando, vão eles lá, de novo, tirar uma casquinha.

    Não sei se V. Exª viu, mas o Alckmin, o Alckmin – pasmem, o Governador de São Paulo, da seca...

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – ... exacerbada em São Paulo, que não conseguiu construir estação de tratamento de água para um Estado – foi tirar fotografia na frente da transposição do Rio São Francisco. É muita cara de pau! Eles criticaram esse projeto, criticaram! Senadores do PSDB foram lá e sequer falaram do Lula. E este Presidente que está aqui foi lá também e não falou do Lula. E o que ele disse, Senador Requião? Que era dinheiro público, do povo e, portanto, não devia nada a ninguém. Se era, por que não fizeram antes? Há quanto tempo esse senhor que está na Presidência influencia governos neste País? E o pessoal que estava antes do Lula também? Então, se é dinheiro público, tome vergonha na cara e coloque o dinheiro público para o que é prioridade. Não! A prioridade deles não é essa. A prioridade deles é dar recursos para aqueles que já têm; é o capital financeiro, são os juros. É isso. E, quando a obra dá certo, todos vão tirar casquinha para a fotografia.

(Interrupção do som.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Vai ficar interrompendo. Está vazio este plenário!

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – Senadora, eu ouvi agora há pouco na internet que o Procurador-Geral da República, o Janot, sugeriu ao Supremo Tribunal, ao Ministro Fachin, que considerasse a prescrição dos crimes cometidos supostamente pelo PSDB e pelo nosso companheiro Aécio Neves. Eu notei que, na internet, isso causou uma revolta muito grande do pessoal mais progressista, nacionalista, à esquerda do processo. Mas eu gostaria de dizer a esses companheiros que não se indignem com esse problema da prescrição dos crimes do PSDB. Eu acho que é até uma situação que deveria ser comemorada com alvíssaras. O PSDB não tem só a prescrição dos seus crimes em vias de ser declarada pelo Supremo.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – Ele prescreveu no Brasil, como todas as suas políticas de dependência, como toda a sua política de Estado mínimo, que prescreveu na Inglaterra, na Itália, na Espanha, na Grécia, na França e no Planeta – e prescreveu no Brasil também. Quando o Presidente Lula tem 1,1% de intenção de votos à Presidência da República...

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Lula, não. Temer.

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – O Presidente Temer.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – O Lula tem 31%. Está na frente das pesquisas.

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – O Lula, no Nordeste, com 47%, com uma média boa no Brasil. Mas, quando o Presidente Temer tem 1,1% de intenção de voto numa espontânea para a Presidência da República, é a decretação definitiva da prescrição do liberalismo econômico. Não é a prescrição do Temer. É a prescrição do conjunto de ideias que levou o Temer à Presidência da República, sustentadas pelo capital financeiro, pelos bancos, pela fisiologia do Congresso

(Interrupção do som.)

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – O PCdoB no comando hoje está nos censurando.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Eu estou achando estranho aqui porque nós estamos com o plenário quase vazio. Há a Senadora Ana Amélia, que vai falar depois de nós, e a Senadora Vanessa está cortando a nossa conversa aqui.

    A SRª PRESIDENTE (Vanessa Grazziotin. Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Não! Não há nada estranho. Senador Requião, Senador Requião...

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – Então, essa prescrição está decretada por erro, por fisiologia e por venalidade também. Eu não tenho dúvida nenhuma de que estamos chegando no fim desse ciclo. E esse fim será ornamentado com jantares da Base no Palácio do Governo, uma Base que não é chamada para participar, que não tem opinião em medida alguma, mas é alimentada com lautos jantares palacianos.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Gostei da prescrição do PSDB. O partido da tarja preta está prescrito.

    Vamos todos à Paraíba, no dia 19, para fazer a inauguração da transposição do Velho Chico com quem verdadeiramente fez isso acontecer.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2017 - Página 15