Pela Liderança durante a 27ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à forma como tem sido conduzida a Operação Carne Fraca.

Autor
Cidinho Santos (PR - Partido Liberal/MT)
Nome completo: José Aparecido dos Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO:
  • Críticas à forma como tem sido conduzida a Operação Carne Fraca.
Publicação
Publicação no DSF de 21/03/2017 - Página 16
Assunto
Outros > AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO
Indexação
  • CRITICA, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, FISCAL FEDERAL AGROPECUARIO, EMPRESARIO, AGRONEGOCIO, SUPERINTENDENCIA REGIONAL, MINISTERIO DA AGRICULTURA (MAGR), LOCAL, ESTADO DO PARANA (PR), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), GOIAS (GO), MOTIVO, IRREGULARIDADE, GRUPO, FRIGORIFICO, CARNE, DESRESPEITO, LEGISLAÇÃO SANITARIA, ADULTERAÇÃO, ALIMENTOS, DESVIO, INTERESSE PUBLICO.

    O SR. CIDINHO SANTOS (Bloco Moderador/PR - MT. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Senador Thieres, que preside esta sessão, caros Senadores, Senadoras, imprensa, TV Senado, eu subo a esta tribuna hoje, Presidente, para reportar os fatos desagradáveis que aconteceram nesse fim de semana: na sexta-feira, o setor produtivo brasileiro foi surpreendido com uma operação da Polícia Federal com o nome de Carne Fraca. Eu acho que, na verdade, carne fraca deve ter o delegado responsável por essa operação, pela irresponsabilidade. A carne fraca deve ser a dele, pela necessidade de aparecer nos holofotes e colocar a principal matriz da nossa economia brasileira na situação de vexame em que se encontra hoje perante o Brasil e perante o mundo. Empresas nacionais consolidadas, com 80 anos, com 100 anos, estão vendo seus nomes jogados no lixo, de forma irresponsável, por essa operação denominada Carne Fraca. Nós brasileiros, que brincamos muito, chegamos a ver, nas redes sociais, fotos de pessoas com espeto e papelão, dizendo que aquilo seria para fazer um churrasco. Quanta ignorância! Quanta idiotice!

    Nós tínhamos a preocupação, em virtude da questão sanitária de outros países, de ocorrer aqui, no Brasil – a possibilidade era remota, mas tinha muita preocupação o Ministério da Agricultura, através do Ministro Blairo Maggi –, a gripe aviária. Mas o que se abateu sobre o nosso País no fim de semana foi muito mais pesado e muito mais complicado do que qualquer gripe aviária, porque, se fosse uma gripe aviária, ela teria efeito apenas no segmento de aves; mas a irresponsabilidade que praticaram atingiu o setor de aves, o setor de suínos e o setor de bovinos em todo o Brasil.

    Hoje vemos todo o mundo, a União Europeia, a China, Singapura, a Coreia do Sul – que tinha uma missão chegando ao Brasil hoje –, suspendendo as importações de carnes do Brasil. Quem não tem conhecimento do setor não sabe do efeito cascata que isso pode acarretar: o nosso sistema de armazenagem não suporta mais de uma semana os produtos que nós temos industrializados ou industrializando ou nas granjas. E, se permanecer essa situação, com certeza, em uma semana, nós teremos um colapso.

    Hoje eu acompanhei alguns produtores, donos de frigoríficos, que já estão falando em abater, em matar os pintinhos que estão no incubatório ou que estão para nascer, com a preocupação de não haver onde colocar esses frangos se permanecerem essas barreiras que nos foram impostas.

    Ao longo de todos esses dias, conversando com os segmentos, conversando com produtores rurais, vejo que, em nenhum momento, preocupou-se com o Brasil. Houve apenas a questão da aparição, de colocar que havia embalagem de papel misturada na carne.

    Eu queria dizer, porque sou do setor, que – e estava muito bem colocado nos áudios –, quando se fala "carne mecanicamente separada", Presidente Thieres, é um processo. Depois que se desossa um frango, tira-se a carne, fica o osso; passa-se por um processo de separação mecânica, que separa o osso da carne, e essa carne vira uma massa. Essa massa tem que ser embalada...

(Soa a campainha.)

    O SR. CIDINHO SANTOS (Bloco Moderador/PR - MT) – ... dentro de sacos plásticos e bandejas plásticas.

    Gostaria que o senhor me concedesse um tempo maior, para que eu pudesse desenvolver meu raciocínio, senão não vou conseguir. Obrigado.

    Coloca-se em bandejas plásticas. O que nós ouvimos claramente nos áudios é o funcionário falando para o chefe dele que acabaram as bandejas plásticas, e o chefe fala: "Então você coloca no papelão." Ou seja, na bandeja de papelão; em nenhum momento mandou-o colocar papelão dentro da carne.

    E você vê a irresponsabilidade do que disseram, porque qualquer empresa minimamente consciente jamais colocaria papelão dentro de uma carne. Se fosse para poder ganhar dinheiro, colocaria chumbo, que pesa mais; moeria chumbo e colocaria; mas não papelão. Nunca ouvi falar uma insanidade desse nível.

    Outra situação colocada é a questão da salmonela. Salmonela existe em qualquer lugar; é uma bactéria. Na sua mão há bactérias, em dinheiro há bactérias. Então ninguém pode pegar mais em dinheiro, porque dinheiro tem salmonela... Você não quer, Senador José Medeiros, pegar em dinheiro mais, porque tem salmonela? Tem salmonela. Evidentemente, dentro de um limite suportável, é normalmente aceito pelas regras do Ministério da Agricultura e aceito em todo o mundo. Mas depois passa por um processo de cozimento. Em qualquer processo por que passa, essa salmonela é descartada.

    Então, tudo o que foi colocado... A questão da cabeça de porco e de miúdos: eu fui à Espanha um tempo atrás e comi cabeça de porco. Com a bochecha do porco, lá na Espanha, serve-se em um prato especial. E é caro também. E aqui colocaram que a cabeça de porco está sendo processada nos miúdos, como se fosse uma coisa proibida. Que coisa...

(Soa a campainha.)

    O SR. CIDINHO SANTOS (Bloco Moderador/PR - MT) – Que coisa lamentável o que aconteceu; eu queria lamentar.

    E queria aqui pedir ao Presidente – o Senador Medeiros que falará depois – que colocasse pelo menos dez minutos, porque senão eu não vou conseguir falar o que tenho para falar aqui. O Medeiros não está com pressa, não.

    O SR. PRESIDENTE (Thieres Pinto. Bloco Moderador/PTB - RR. Fora do microfone.) – Fique à vontade.

    O SR. CIDINHO SANTOS (Bloco Moderador/PR - MT) – Obrigado, obrigado.

    Eu tenho participação em empresas que processam aves – tenho uma sociedade – e, quando vou ao frigorífico, sempre falo que, no frigorifico, a exigência é muito maior do que na minha casa. Na minha casa, ou na casa de qualquer pessoa – Senadora Ana Amélia, que está aqui, é uma dona de casa e sabe –, se cai um frango lá na minha casa, se por acaso a empregada estiver limpando um frango, e o frango cair no chão, você pega o frango, lava-o com água quente, e você corta-o e serve-o. Dentro do frigorífico, se um frango cair no chão, a inspeção federal, que está lá, não permite mais que esse frango volte ao processo; ele tem que ser automaticamente descartado. Então, é um processo tão seguro, que é muito difícil haver qualquer tipo de fraude.

    Para cada fiscal que existe dentro de um frigorífico, um responsável técnico, há os chamados agentes 102. Só na minha unidade frigorífica, no Mato Grosso, para 150 mil aves que nós abatemos por dia, nós temos mais de cem funcionários que trabalham fazendo essa inspeção também. Então, quantos milhares de outros funcionários existem? Será que todo mundo foi corrompido? Então, é uma insanidade que foi colocada.

    Muitas vezes, quando se fala de irregularidade, não significa irregularidade que possa comprometer. Às vezes, é um processo em que, terminando um abate e faltando mais um caminhão, você pede para colocar numa velocidade um pouco maior: "Em vez de trabalhar com 10 mil aves por hora, vamos trabalhar como 10,5 mil aves por hora, para poder abater todo o compromisso do dia". São questões... "Olha, o documento oficial dessa carga não veio, mas veio o e-mail. À tarde chega o documento. Você pode aceitar, fiscal?" Aí ele responde: "Posso aceitar". São todas coisas do dia a dia, e muitas delas não são consideradas irregularidades. Então, a gente lamenta o que foi colocado. Evidentemente, a gente sabe que há investigação sobre alguns funcionários do Ministério no Paraná que não tiveram a conduta desejada – há dois anos que há essa investigação –, mas esses agentes deveriam ter sido responsabilizados, e não exposto o nosso País a essa situação em que nos encontramos hoje.

    Ontem, tive o prazer de participar, junto com o Presidente Temer, que, no domingo, à tarde, conduziu três reuniões – uma com a equipe de Governo; uma com os representantes das entidades, da ABPA, da Abrafrigo, da Abiec e da CNA; e uma, no final do dia, com os embaixadores –, tudo para tentar demonstrar aos outros países e também ao mercado interno que o nosso processo é seguro. Mas hoje, apesar de todos os esforços que foram e que estão sendo feitos, nós temos aí também o aproveitamento de mercados, porque a União Europeia, por exemplo, tinha a maior preocupação com o crescimento do Brasil nesse segmento, porque o Brasil é imbatível nesse segmento da agroindústria. Nós não concorremos no da tecnologia, é muito difícil, mas no agronegócio nós somos imbatíveis. Então, a União Europeia sempre teve uma preocupação com o Brasil e procurava um motivo para colocar nosso produto como um que não fosse de primeira qualidade, e esse motivo nós mesmos, brasileiros, demos para eles. Nós mesmos, brasileiros, demos para a União Europeia motivos para colocar sob suspeição todo o sistema que construímos ao longo de muitos anos.

    No ano passado, Sr. Presidente, foram feitos 852 mil embarques para exportação no País. Desse número, houve apenas 184 notificações internacionais...

(Soa a campainha.)

    O SR. CIDINHO SANTOS (Bloco Moderador/PR - MT) – ..., por não conformidade. E essas 184 notificações foram feitas pelos países. Quando eles recebem a mercadoria brasileira, eles fazem uma nova checagem, uma nova auditoria, e não significa que seja de irregularidade na carne ou qualquer outra irregularidade. Pode ser de rotulagem, pode ser de selo, apenas de não conformidades.

    E o que mais surpreende, Senador Paim, é que em todo esse processo de investigação da Polícia Federal ao longo de dois anos só existe um laudo de um supermercado, no início das investigações, mostrando que... Ontem mesmo vimos no Fantástico o cidadão dizendo: "Olha, era uma salsicha que era para ser de peru e era de frango". Então, isso é um crime! Por que o Ministério da Agricultura, por que o País, que tem laboratórios como o Lanagro, que é referência mundial, não foi participado? Como você pode dizer que nós estamos servindo carne podre para a nossa população se não passou pelo teste de nenhum laboratório? Se nenhuma amostra foi levada para o laboratório? Que irresponsabilidade! Aonde vai chegar esse processo? Com certeza, vai ser mais um processo que vai ser anulado, porque não há um laudo de um laboratório oficial para atestar aquilo que a Polícia Federal afirmou na sua entrevista coletiva da última sexta-feira.

    Então, são fatos lamentáveis que envolvem a nossa segurança alimentar do Brasil. Há muitas pessoas no mercado interno também preocupadas; nós temos que tranquilizá-las quanto à qualidade dos nossos produtos. Há empresas que, em um só dia, perderam de 4 bilhões a 5 bilhões do seu patrimônio. Cito aqui, pela parceria comercial que já tenho há 20 anos com a BRF, dona das marcas Perdigão e Sadia...

(Soa a campainha.)

    O SR. CIDINHO SANTOS (Bloco Moderador/PR - MT) – É uma empresa séria, correta, que procura fazer todas as questões de compliance, uma empresa cujo processo é o mais seguro possível, porque eles têm a preocupação de que qualquer problema envolvendo a marca que eles têm poderia levar a uma situação como essa. São 110 mil funcionários no Brasil, milhares de granjeiros, de suinocultores e de avicultores que estão envolvidos no processo ou indiretamente com uma quantidade de pessoas... Só nesse processo, Presidente, na agroindústria do Brasil hoje, 6 milhões de pessoas trabalham direta ou indiretamente nos frigoríficos de aves, suínos e bovinos.

    Então, há uma preocupação muito grande com nosso setor, com o que pode acontecer nos próximos dias.

    No caso da BRF, já tive oportunidade, juntamente com a Senadora Ana Amélia, de visitar a fábrica deles em Dubai e de ver o processo que eles têm lá e que é referência para o mundo: abate-se o frango aqui no Brasil, leva-se para fazer o processamento em Dubai, e de lá distribui-se para os mercados árabes.

    No ano de 2016, tivemos ainda a oportunidade de estar na Malásia, inaugurando uma fábrica da BRF também. Estava com o processo de expansão também na Índia e em outros países. E, ao vermos o nome de uma empresa como a BRF, de marcas consolidadas no Brasil, sendo jogado na lata de lixo, como foi colocado por essa investigação, lamentamos muito, da mesma forma como em relação à Seara, à Friboi e a outras marcas em menor valor.

    Hoje, me ligou o dono de um frigorífico do Paraná, um amigo meu, que disse, desesperado, que, nos autos da Polícia Federal constatou-se que um funcionário do Ministério, de Londrina, tinha ligado para ele dizendo que havia um importador de aves...

(Soa a campainha.)

    O SR. CIDINHO SANTOS (Bloco Moderador/PR - MT) – ... da China querendo importar produtos; perguntou se ele teria interesse em participar e ele disse que tinha interesse, que tinha os contratos encaminhados, mas poderia conversar. Esse áudio fez com que essa operação fosse para cima dele e, hoje, pela exposição que ocorreu, todos os bancos ligaram para ele, preocupados, suspendendo créditos e colocando-o numa situação dificílima – tudo em função de uma decisão impensada e que, com certeza, trará graves consequências para o agronegócio brasileiro.

    Muita gente brinca com piadas na internet, mas, na verdade, todos nós estamos no mesmo avião. E muita gente torce para que esse avião caia, mas, desde o produtor de milho do interior do Brasil até o produtor de soja, o avicultor, o suinocultor, aquela pessoa que engorda um boi, que tira o leite de uma vaca, todos têm de começar a se preocupar, porque isso pode ter consequências terríveis para a economia do nosso País.

(Soa a campainha.)

    O SR. CIDINHO SANTOS (Bloco Moderador/PR - MT) – E não é motivo de alegria, não: é motivo de preocupação.

    Para encerrar, Presidente, quero louvar a iniciativa do Presidente Michel Temer de chamar essa responsabilidade para ele. O Ministro Blairo Maggi, após todo o trabalho ao longo de um ano – de viagens internacionais, de divulgação do potencial do Brasil, de tudo o que foi feito para melhorar o ambiente de negócios para as nossas exportações do agronegócio –, vê tudo ir por água abaixo, num ato de total irresponsabilidade de alguns órgãos, inclusive de governo.

    Eu disse ao Presidente Michel Temer ontem que realmente é lamentável que um órgão de governo tenha tomado uma decisão e feito uma operação dessa natureza sem que, ao menos, o Governo soubesse e, muito menos, tivesse conhecimento, para dizer que isso vai interferir na nossa economia.

    Se tivesse de punir, como se tem de punir os maus funcionários, que se punisse, mas não que se expusesse da forma como foram expostas...

(Soa a campainha.)

    O SR. CIDINHO SANTOS (Bloco Moderador/PR - MT) – ... as nossas agroindústrias, um setor em que somos bons, somos reconhecidos mundialmente.

    Por fim, quero sugerir ao Ministro Blairo que nos próximos dias faça – não vejo outra alternativa – uma rodada nesses principais mercados do Brasil e do mundo, principalmente a China e a União Europeia, para conversar com os governos e com os consumidores desses países e mostrar com números que o nosso processo é seguro, que se pode consumir o nosso produto. Abrir, como estamos abertos, a missões internacionais para certificar o nosso processo, e tranquilizar o nosso consumidor interno mostrando que isso foi apenas um ponto fora da curva, que o nosso processo é seguro, que os nossos produtos são de qualidade. E mais, quando uma pessoa compra um frango em um supermercado, quando ele chega em casa e abre esse frango...

(Interrupção do som.)

    O SR. CIDINHO SANTOS (Bloco Moderador/PR - MT) – ... e esse frango tem qualquer inconformidade, na embalagem consta o SAC, o 0800. Hoje, nenhum consumidor é besta, pois existe a internet, existem os serviços de reclamação, existem os serviços de atendimento ao consumidor. Ele reclama e o produto é substituído. Se há dois anos o povo brasileiro está comendo carne podre, por que ninguém reclamou? Por que a reclamação foi tão baixa? Você acha que o povo não iria reclamar, se estivesse dessa forma?

    Então, é uma irresponsabilidade muito grande, repito, com o Brasil, da forma como foi colocado. Espero que o Governo consiga, nos próximos dias, fazer as auditorias nas 21 unidades que estão sob regime especial para mostrar ao Brasil e ao mundo que o nosso sistema é seguro.

    Para encerrar, presto a minha solidariedade a todas as empresas envolvidas. Que Deus nos abençoe, que consigamos superar esse...

(Interrupção do som.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/03/2017 - Página 16