Comunicação inadiável durante a 27ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações acerca da operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal no dia 17 de março de 2017.

Autor
José Medeiros (PSD - Partido Social Democrático/MT)
Nome completo: José Antônio Medeiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO:
  • Considerações acerca da operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal no dia 17 de março de 2017.
Aparteantes
Cidinho Santos.
Publicação
Publicação no DSF de 21/03/2017 - Página 27
Assunto
Outros > AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO
Indexação
  • CRITICA, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, FISCAL FEDERAL AGROPECUARIO, EMPRESARIO, AGRONEGOCIO, SUPERINTENDENCIA REGIONAL, MINISTERIO DA AGRICULTURA (MAGR), LOCAL, ESTADO DO PARANA (PR), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), GOIAS (GO), MOTIVO, IRREGULARIDADE, GRUPO, FRIGORIFICO, CARNE, DESRESPEITO, LEGISLAÇÃO SANITARIA, ADULTERAÇÃO, ALIMENTOS, DESVIO, INTERESSE PUBLICO.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, todos que nos acompanham, eu tenho ouvido recentemente muita discussão sobre essa operação que houve no final de semana. Mas, antes de falar desse assunto, eu gostaria de agradecer a todos os Senadores, a todos os internautas, enfim, a todos que me mandaram mensagens e vídeos nesse final de semana. Quero agradecer aqui ao Senador Cidinho, ao Senador Thieres, ao Senador Paulo Paim, enfim, a todos que me felicitaram. Mando um abraço especial para o Rafael, de Campo Novo do Parecis, e suas filhinhas, para o Dr. Masaro, enfim, para todos. Dizem que, após os 40 anos, não são mais parabéns: a gente é solidário. Você não felicita mais, deseja solidariedade, mas agradeço a todos.

    Eu quero dizer o seguinte, Sr. Presidente: vi a discussão aqui sobre a reforma e gostaria, se V. Exª me permitir... Eu respeito muito o pronunciamento do Senador Paulo Paim e quero dizer que, no entanto, há uma pessoa ilustre, no Brasil, que discorda um pouco a respeito da reforma da previdência. Quero colocar um pouquinho a opinião dele. Veja bem o que Lula acha disso (Reprodução de áudio de celular):

[...] feita em 1923, se não me falha a memória. A gente morria com 60 anos de idade, com 50 anos de idade. Hoje a gente está morrendo com 75. Eu já estou quase lá, estou com 70, não é? Mas, sabe, é preciso, na medida em que avança cientificamente a nossa sobrevivência, a nossa longevidade, você não pode ficar com a mesma lei que tinha, feita há 50 anos atrás. É preciso que você avance.

    Bem, é só para dizer que, às vezes, quando você está no governo tem uma opinião e depois muda totalmente.

    Eu estou vendo essa discussão sobre a reforma da previdência e não estou emitindo opinião, Senador Thieres, porque ela ainda vai chegar aqui, nós vamos discutir isso aqui. Está lá na Câmara, então não há por que a gente sofrer por antecipação. Essa reforma pode vir de um jeito, pode vir de outro, mas não sabemos de que jeito ela chega aqui. Por isso, não vou me antecipar, mas resolvi colocar esse vídeo para notar a diferença entre o discurso do ex-Presidente quando estava no governo e agora na Avenida Paulista.

    Sr. Presidente, fomos, na semana passada, tomados de assalto pela notícia de que a maior operação da Polícia Federal já feita no País tinha encontrado carne moída com papelão, tinha encontrado carne podre... Sr. Presidente, cabe a cada um de nós refletir a respeito desse tema. Primeiro, há os que estão demonizando a PF, outros estão demonizando os frigoríficos, outros estão demonizando a guerra de mercado. Eu digo o seguinte: houve acertos e também erros de parte a parte. Eu penso que é natural que um homem tenha prazer no seu trabalho, mas também é natural que uma instituição, como a Polícia Federal, possa ter também alguém que possa fazer uma análise política e uma análise a respeito de como serão divulgados os fatos.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – No hall da Superintendência da Polícia Federal de Mato Grosso do Sul há uma placa, pelo menos havia uma placa inoxidável escrita da seguinte forma, um texto do jurista Eleazar, que dizia o seguinte: Se quiserdes ser policiais, sede. Mas, sabei sê-lo. O policial não é o semblante mau, não é o chapéu por sobre os olhos, não é a vestimenta, não é o andar empertigado, não é nada disso. Um policial é acima de tudo um pai, um tio, um irmão, a mãe de família, enfim, é um cidadão como qualquer um outro que exerce sua profissão, com a diferença de que o policial trabalha em determinado momento da sua vida com valores inestimáveis, com valores impossíveis de você metrificar, de você medir, valores como a honra, como a moral, que, por vezes, demoram uma vida inteira para serem construídos e segundos para serem destruídos.

    Trabalhei na polícia, Senador Cidinho, por 22 anos, e me lembro dos meus instrutores que diziam: "Muito cuidado! Muito cuidado!" Não é nem com a arma adversária, mas com o que você trabalha. Você trabalha com vidas, você trabalha com valores. Você trabalha, muitas vezes, com aquele casal que teve uma pequena briga e, de repente, você expõe a vida desse casal. Ele cometeu um pequeno deslize, foi dar uma namorada por ali, foi pego pela polícia e você vai expor essa vida, uma vida que poderia ser reconstruída, e por aí vai. 

    Então, não faço críticas ao trabalho da Polícia Federal, mas faço reflexões, porque quem vai ser punido não será o Sr. JBS, não vai ser quem está por cima. Lá, no Nordeste, diz-se o seguinte: só quem pode é quem está por cima. Sabe quem vai ser punido, Cidinho? Vai ser o coitado daquele pecuarista que tem as suas vaquinhas lá e para quem a esperança era vendê-las para poder sobreviver. A carne, com certeza, vai lá embaixo, não vai sobrar para pagar o capim que a vaca comeu. 

    Essas coisas podem ser feitas com todo rigor. Você pode fazer com todo rigor. Puna. "O supermercado está vendendo a carne que não está em bom estado..." Você pode prender o dono do supermercado, pode fazer o que for, mas você precisa ter cuidado com a sua atuação, porque não é um trabalho comum – não é um trabalho comum.

    Por outro lado, vamos santificar quem aprontou? Não. Esse erro já vem de muito longe. Principalmente, o erro começa quando resolveram – não sei que decisão foi essa, se foi decisão de governo – colocar todos os ovos da produção brasileira de carne praticamente em uma cesta só. As plantas frigoríficas de Mato Grosso foram quase todas fechadas e as de Goiás também. Agora fica parecendo uma lavoura clonada. Deu uma larva em um pé de planta e derrubou todo o sistema. A grande verdade é que nós agora estamos como aquela presa que está debilitada. Todos que são nossos concorrentes vão tentar usar esse fato para explorar a nossa fraqueza. É bem verdade que estão acusando o Brasil de ter esses problemas, de estarmos em uma situação difícil, mas é bom lembrar que o Brasil é a única nação, neste momento, que está sendo passada a limpo.

    Essa operação também tem seus pontos positivos. Eu não tenho dúvida de que, daqui para frente, o Ministério da Agricultura vai receber mais apoio. E cabe louvar aqui: eu não quero falar de 33 corruptos, Senador Cidinho. Eu quero falar do restante dos 11 mil servidores que cumprem bem a sua função. Eu quero falar do sistema brasileiro que funciona muito bem, do restante que foi competente e que faz os nossos produtos serem dos melhores do mundo.

    Sofremos esse abate por uma série de erros, mas creio que cabe a nós agora levantar a cabeça e saber que, por traz dessa cadeia...

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – ... há muitas pessoas que necessitam, Senador Thieres, desse segmento funcionando muito bem. Mas precisamos discutir, a partir disso, se queremos continuar com esse modelo.

    Penso que a fiscalização maior não tem que ser nem nesse setor, porque dele os fiscais agropecuários dão conta muito bem, eu não tenho dúvida disso. Agora precisamos pensar nos aportes, no capitalismo de Estado que foi feito em cima disso para deixar o setor produtivo brasileiro tão vulnerável.

    E, já marchando para o final, Senador Thieres, eu vejo que, mais do que nunca, nós precisamos, situação e oposição, neste momento, unir-nos por essa... Não se trata de uma questão partidária. Quanto mais tentarem jogar para a galera, quanto mais tentarem explorar esse assunto, mais prejuízo vão trazer para o Brasil.

(Soa a campainha.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Mas para que Brasil? Para aqueles coitados que estão lá na roça a esta hora, cuidando das suas vaquinhas.

    O Sr. Cidinho Santos (Bloco Moderador/PR - MT) – Conceda-me um aparte, Senador Medeiros.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Se o Presidente permitir... Já encerrei.

    O Sr. Cidinho Santos (Bloco Moderador/PR - MT) – Pois não. Eu queria, primeiramente, parabenizá-lo pelo seu aniversário na data de ontem, desejar muitos anos de vida, muita saúde. Aqui o pessoal não chama de você, chama de V. Exª. V. Exª é uma pessoa de que tive a oportunidade de me aproximar mais aqui, no Senado, uma pessoa que admiro bastante. É um prazer ser seu amigo e compartilhar com você, como companheiro de Bancada, representando o nosso Estado de Mato Grosso. E depois quero parabenizar pelo seu discurso, as colocações muito bem feitas, porque, na verdade, se nós estamos falando de uma cadeia produtiva, estamos falando desde o granjeiro até a parte de cima, a parte do frigorífico, do abate, da comercialização. Eu queria dizer sobre o que falei há pouco, sobre o trabalho da Polícia Federal.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cidinho Santos (Bloco Moderador/PR - MT) – Toda entidade, qualquer órgão tem seus erros e seus acertos. Eu tenho amigos que são policiais federais, que são pessoas corretíssimas. O Brasil louva a ação da Polícia Federal em várias ações que já foram feitas, principalmente na Lava Jato, mas entendo – e falei isso ontem para o próprio Diretor-Geral, Dr. Daiello – que talvez tenha sido um ato precipitado o que a Polícia Federal expôs. Não foi a Polícia Federal, foi uma pequena parte da Polícia Federal, foi um delegado que deu essa entrevista coletiva sem, muitas vezes, conhecimento técnico sobre aquilo a que realmente se reportava. Eu quero entender que vamos ter a oportunidade agora de, juntamente com o Ministério da Agricultura, explicar as questões técnicas. Vamos superar este momento. Com certeza, não vai ser fácil, mas iremos superar. Obrigado pelo aparte.

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – Eu que agradeço.

    Agradeço ao Sr. Presidente, dizendo que não tenho dúvida de que nós vamos superar mais essa dificuldade e, lógico, a Polícia Federal...

(Interrupção do som.)

    O SR. JOSÉ MEDEIROS (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) – ... crédito com a população brasileira.

    Eu sugiro até que possa ser dado o media training para quem vai conduzir essas entrevistas, Senador Thieres, porque, veja bem: é uma operação que pode mudar, daqui para frente, alguns costumes que haviam aí – e que fique de lição, o prejuízo foi muito grande –, mas que poderia ser feito da mesma forma, punindo os responsáveis e os que atentaram contra a saúde pública e, ao mesmo tempo, sem trazer esse prejuízo internacional ao Brasil. Fica aqui a dica. Não sei nem se é o delegado quem conduz o departamento de marketing, mas fica aqui esse alerta, porque, como diz a própria operação, a carne é fraca e, às vezes, os holofotes fazem com que muitos falem mais do que deveriam.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/03/2017 - Página 27