Pronunciamento de Jorge Viana em 20/03/2017
Discurso durante a 27ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Solicitação de transcrição nos Anais do Senado, de poema de Santo Agostinho, intitulado "A morte não é nada", em homenagem a seu pai, Wildy Viana, falecido no dia 13 de março de 2017, aos 87 anos, em Rio Branco-AC.
- Autor
- Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
- Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM:
- Solicitação de transcrição nos Anais do Senado, de poema de Santo Agostinho, intitulado "A morte não é nada", em homenagem a seu pai, Wildy Viana, falecido no dia 13 de março de 2017, aos 87 anos, em Rio Branco-AC.
- Aparteantes
- Cidinho Santos, Reguffe.
- Publicação
- Publicação no DSF de 21/03/2017 - Página 30
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM
- Indexação
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- SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, TEXTO, ASSUNTO, HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, PAI, ORADOR, EX-DEPUTADO, RIO BRANCO (AC), ESTADO DO ACRE (AC).
O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Caro Presidente, Senador Thieres, colegas Senadores, todos os servidores que me acompanham pela Rádio e TV Senado, eu estou voltando a Brasília – semana passada eu não estive aqui – e eu queria, em primeiro lugar, agradecer todo o apoio, a solidariedade que tive, porque vivi, como todos nós um dia temos que viver, a perda de um ente muito querido, insubstituível. Refiro-me ao pai, Wildy Viana, que faleceu no dia 13 deste mês, depois de uma enfermidade, uma complicação pulmonar, e nos deixou aos 87 anos.
Na minha ausência, vários colegas apresentaram voto de pesar. O Presidente da Comissão de Relações Exteriores, colega Senador Fernando Collor, aprovou na Comissão voto de pesar; a Senadora Vanessa, os Senadores Paulo Paim, Humberto Costa, Angela Portela e José Pimentel também se manifestaram nesse sentido. E eu não posso voltar ao Senado, voltar ao trabalho, sem agradecer não só a esses colegas, que apresentaram e registram, nos Anais do Senado, uma homenagem a meu pai, Wildy Viana, como também às dezenas de Senadores, Senadoras que me dirigiram palavras de conforto, que me apoiaram, que fizeram, com essas atitudes, um reconhecimento à história de vida do meu pai.
Foi uma semana muito difícil; ontem nós tivemos a missa de sétimo dia. No Acre, a solidariedade e o apoio foram impressionantes. Queria agradecer aos Deputados Federais de todos os Partidos, aos colegas Senadores, também os do Acre. Lá na Assembleia Legislativa do meu Estado, sem nenhuma exceção, todos os Parlamentares fizeram o registro, homenagearam-no.
O meu pai foi Deputado Federal, deputado estadual também, prefeito, vereador, lutou muito sempre. Nascido em Brasileia, num pequeno Município na fronteira com a Bolívia, e com o Peru na época – Brasileia era um Município que se estendia até a fronteira peruana –, venceu na vida, criou uma família, educou-nos, deu-nos os fundamentos de vida que nós procuramos exercer com dignidade, com honestidade, procurando servir, procurando ser justos.
Para mim, ainda é muito cedo – ele nos deixou –, porque ele tinha uma saúde muito boa, apesar dos 87 anos. Minha mãe é um pouco mais velha, tem 91 anos. Nós achávamos que ele ainda ia ficar muito tempo com a gente; foi muito repentino.
É claro que a gente procura conforto na fé, na palavra dos amigos, nos gestos das pessoas que gostam da gente. Ainda hoje, chegando aqui a Brasília, tive a melhor acolhida que eu poderia ter. Quero agradecer essa acolhida que estou tendo e fazer, nos Anais do Senado, este registro: meu pai teve uma carreira de servidor público, foi de tudo um pouco no Acre. Foi autodidata, aprendeu a ser técnico em eletrônica, era consertador de rádio, era radiotelegrafista, era professor de educação física. Teve muita dificuldade para fazer a sua primeira casa, e nunca a concluiu – a casa que nós nascemos e fomos criados na infância. Saiu da vida pública e saiu desta vida aqui para morar na casa do nosso Pai, com dignidade e com muito respeito.
Eu confesso que, primeiro, não imaginava viver este momento da perda do pai, mas as manifestações confortaram o meu coração, da minha família, do meu irmão Tião, que é Governador hoje, da minha irmã, dos sobrinhos, dos meus filhos, das minhas filhas, dos netinhos do meu pai e bisnetos. E, para mim, agora é procurar um conforto nas palavras que ontem, na missa de sétimo dia, eu li. Falei que me sinto muito frágil, muito fraco para ter a compreensão da vida e da morte. Nessas horas, a gente precisa, mais do que nunca, buscar forças nas pessoas que, com sabedoria talvez, procurem na espiritualidade compreender este momento.
Eu fiz a leitura de um texto, que eu também queria fazer aqui para constar nos Anais, em memória do meu pai; um texto de Santo Agostinho: "A morte não é nada". Eu gosto muito de Santo Agostinho, e nós escolhemos este texto para compor o que a gente chama de santinho, que a gente entrega para as pessoas quando da missa de sétimo dia.
E o texto de Santo Agostinho fala assim sobre a morte:
A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.
Me deem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.
A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?
Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho...
[E encerra Santo Agostinho]
Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.
Então, é um texto de Santo Agostinho, que traz um conforto, que tenta traduzir um pouco o que significa este ato mais brutal, mais dolorido, mais duro, o golpe mais certeiro que a gente pode ter na vida: a perda de quem a gente gosta e depende.
No caso, eu tinha, nós tínhamos uma relação muito próxima com meu pai, e, por tudo o que ele fez na vida, eu queria deixar aqui, nos Anais do Senado, os meus agradecimentos a ele, pela família que ele criou, constituiu, pelo trabalho que fez, pelo exemplo que deixou, um exemplo de como devemos lidar com a vida que Deus nos dá: trabalhar com honradez, servir, ter compaixão pelo outro, ajudar o outro. Meu pai sempre foi um ajudador dos outros. E, agora, na sua morte, uma coisa muito bonita foi a quantidade enorme de pessoas muitos pobres que foram lá levar o seu abraço, porque o meu pai tinha amigos pobres.
Nós devemos nos perguntar – nós que ocupamos funções, alguns que têm até condição material mais avantajada – se temos amigos que não têm nada, que não são nada, porque, se essa resposta não for positiva, alguma coisa deve estar errada na nossa vida. Meu pai tinha muitos amigos – muitos – que não tinham nada e que não eram nada. E talvez esse seja um exemplo de que estamos precisando muito nos tempos de hoje.
Por isso, antes de encerrar, eu quero ouvir o colega Reguffe, que está pedindo a palavra, e, depois, o colega Cidinho Santos.
Senador Reguffe.
O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – Senador Jorge Viana, eu quero aqui me solidarizar com V. Exª, lhe dar um abraço e lhe dizer que, neste momento em que há divergências políticas, em que se procuram mais divergências políticas do que convergências, com a sociedade num clima extremamente passional com relação à política, procurando tentar achar defeitos nos políticos, eu acho que há uma coisa que está acima de qualquer disputa política, que é o sentimento no coração das pessoas, a solidariedade à dor do outro. E eu tenho certeza de que o seu pai fez o que podia para educar bem os filhos, para passar a eles os princípios e os valores necessários para esta vida. Perdi meu pai já há algum tempo, cedo, e até hoje me lembro com saudade dele, agradecendo muito a ele e à minha mãe pelos valores e pelos princípios que passaram para mim, porque eu acho que essa é a maior herança que um pai pode passar para um filho – e é essa herança que eu quero deixar para o meu filho. Tenho certeza de que, lá de cima, ele vai estar acompanhando V. Exª, torcendo por V. Exª; e V. Exª sempre vai ter essa saudade dele, mas que V. Exª sempre, na sua vida, se lembre dos ensinamentos que ele passou, porque é isso o que ele quer lá em cima. Tenho certeza de que é um momento triste, não é um momento feliz – ninguém gosta de perder um ente querido –, mas tenho certeza de que, lá de cima, ele vai estar torcendo por V. Exª. E eu queria deixar aqui um abraço sincero e muito afetuoso a V. Exª neste momento.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Obrigado, Senador, querido e bom amigo, Reguffe.
Senador Cidinho.
O Sr. Cidinho Santos (Bloco Moderador/PR - MT) – Senador Jorge Viana, eu também quero manifestar minha solidariedade e dizer da admiração que eu tenho por você desde a primeira vez em que coloquei o pé aqui, no Senado, em 2012. Você foi uma pessoa que me recebeu, me recebeu com humildade, com carinho. Quando estava na Vice-Presidência do Senado, sempre me oportunizou, me deu oportunidades. Eu acompanho sua carreira política já de muito tempo, desde o tempo de Governador, depois no Executivo, depois aqui, no Senado, e, para mim, V. Exª é um exemplo. E hoje vejo o senhor emocionado aqui na tribuna, falando sobre a passagem do seu pai e nos deixando essa reflexão importante. Meu pai também é de origem nordestina – graças a Deus, está vivo ainda – e também tem muitos amigos que são pessoas humildes. E aquilo que o senhor colocou de a gente ter algum amigo que seja humilde, aquele amigo que a gente não espera que possa oferecer nada para a gente, a não ser a amizade e a acolhida, é um ponto que o senhor colocou muito bem, que vale a pena refletir. Minha solidariedade, meus sentimentos a você e a toda sua família. Conte conosco aqui!
O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Muito obrigado, Senador Cidinho.
Obrigado a todos que me acompanharam pela Rádio e pela TV Senado. Eu só queria poder aqui também registrar a gratidão da família pelas meninas que cuidam do meu pai e da minha mãe; pessoas também da família; o pessoal do pronto-socorro, do hospital público onde ele foi acolhido.
Eu, nessa semana em que fiquei lá – e ele passou cinco dias na UTI –, era um dos que se revezavam, entre os irmãos, ficando com ele, sei lá, três noites pelo menos, no hospital, sentado numa cadeira, esperando a melhora dele a noite inteira. Mas era ali um gesto de esperança de que ele se recuperasse, mas também de carinho e de amor por ele. Nós recebemos todo o carinho e a atenção dos servidores públicos que trabalham na saúde pública. Eu queria aqui também agradecer a todos que nos ajudaram a tentar vencer essa batalha contra a enfermidade. Lamentavelmente nós perdemos, como todos haverão de perder um dia.
O registro que eu faço aqui é que eu tenho muito orgulho do pai que eu tinha, da história que ele nos deixou. E eu não tenho nenhuma dúvida de que ele se foi na certeza de que também era amado, era querido.
Eu não sei quantos são assim, mas, se eu estou em Rio Branco, a primeira coisa que faço quando estou lá, não importa o tamanho dos compromissos, é cedinho ir à casa dele, à casa da minha mãe. E, à noite, a última coisa que eu faço é também ir à casa dele. E aconselho, se posso dar um conselho, todo mundo: quem tem ainda uma pessoa de quem gosta muito, pai, mãe, frequente a casa deles, viva o tempo que você puder com eles, aproveite o tempo que tiver com eles – como nós tentamos fazer –, porque a perda é muito grande, e não há retorno.
Então, peço só a Deus que possa cuidar agora, de maneira definitiva – Ele que tem o dom da vida e da morte –, desta figura, que foi muito especial, e, em última instância, a quem eu devo a vida: meu pai, Wildy Viana das Neves.
Obrigado, Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Thieres Pinto. Bloco Moderador/PTB - RR) – Obrigado, Senador Jorge Viana. Quero me solidarizar com V. Exª pela perda desta pessoa querida que era seu pai. Não estava na Comissão, mas fiz um cartão em solidariedade a V. Exª. Eu também já perdi meu pai e minha mãe; eu sei o que é a perda de uma pessoa como o pai da gente ou a mãe ou um irmão, enfim, conheço todas essas dores. É difícil, é muito complicado; V. Exª tem que ser forte para segurar o tranco. É isso, Senador.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Muito obrigado.