Discurso durante a 28ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca da repercussão econômica e social da Operação Carne Fraca.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO:
  • Considerações acerca da repercussão econômica e social da Operação Carne Fraca.
Publicação
Publicação no DSF de 22/03/2017 - Página 13
Assunto
Outros > AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO
Indexação
  • COMENTARIO, RESULTADO, ATIVIDADE ECONOMICA, COMERCIO, ECONOMIA NACIONAL, MOTIVO, REALIZAÇÃO, OPERAÇÃO, AUTORIA, POLICIA FEDERAL, OBJETO, INVESTIGAÇÃO, FRIGORIFICO, IRREGULARIDADE, PRODUÇÃO, CARNE, PREJUIZO, SAUDE, CONSUMIDOR, REGISTRO, POSSIBILIDADE, REDUÇÃO, ATIVIDADE INDUSTRIAL, DEFESA, IMPORTANCIA, COMBATE, CORRUPÇÃO.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Muito obrigada, Presidente desta sessão, Senador Antonio Carlos Valadares.

    Caros colegas, Senadoras e Senadores, nossos telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, vou voltar, pela relevância do tema, à questão da Operação Carne Fraca, que foi motivo do meu pronunciamento ontem. Volto hoje à tribuna para dar sequência ao tratamento da mesma questão pelas implicações sociais, econômicas, de comércio e de economia que tem esse procedimento, mas sobretudo por uma questão, a meu juízo, crucial em nosso País.

    Nós somos sempre aqui olhados pela sociedade com um grau de fiscalização e rigor extraordinário – e tem que ser assim. A política só vai melhorar quando a sociedade fiscalizar os atos dos Parlamentares, sejam do Senado, da Câmara Federal, das assembleias, das câmaras de vereadores. Quanto maior for a fiscalização e o rigor da exigência do eleitor em relação aos seus líderes políticos, melhor será a atividade política, isenta disso que estamos vendo todo dia: Lava Jato, corrupção, caixa dois, caixa três, tudo isso. Mas não podemos fazer vista grossa, Senador Medeiros, quando acontecem irregularidades envolvendo outros agentes públicos, como os fiscais federais agropecuários ou como os agentes da Polícia Federal. No regime republicano e democrático, as instituições precisam ter a noção exata das consequências de tudo o que fazem.

    Por isso, eu louvo aqui a iniciativa tomada, em primeiro momento, pelo Presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Luís Boudens. Ele fez uma defesa candente da operação da Polícia Federal chamada Carne Fraca. Nessa ponderação, além de defender a operação que a Polícia Federal está fazendo, ele lembrou que a operação, abro aspas, "é de suma importância, uma vez que as empresas e servidores públicos [servidores públicos] envolvidos negligenciaram de forma grave a saúde dos consumidores" e reforçou o compromisso dos agentes federais com o combate à corrupção no Brasil e com os interesses da sociedade. Esse líder da Polícia Federal poderia até acrescentar: resguardados também os interesses de Estado, que estão acima das nossas vaidades pessoais, dos nossos interesses ideológicos, estão muita acima, porque a Nação é a soma de todos nós, de um sentimento maior.

    Nessa operação, portanto, não poderia haver, dois anos depois de iniciada, uma conclusão com algumas fragilidades que não apenas comprometem o coordenador da operação, mas podem, sim, comprometer a instituição responsável pela investigação. Por isso, também saúdo a posição obtida agora por telefone... Falei com o Presidente e líder da Anffa Sindical, que representa os fiscais e auditores fiscais federais agropecuários, Maurício Porto, que me disse o seguinte:

Somos a favor da operação, da investigação e da separação dos maus colegas daqueles que agem com ética e com rigor técnico e também defendemos [Reforçou Maurício Porto, no contato que tive agora com ele] a necessidade de que nomeações para esses cargos técnicos, como também das empresas estatais, ocorram por competência, mas sobretudo por meritocracia, não com aquele famoso QI, quem indica.

    E, nesse QI, está subentendido algum interesse escuso, no decorrer do exercício desse trabalho de fiscalização, algum interesse que não deve prevalecer nessas relações institucionais de fiscalização do sistema, um sistema extraordinariamente relevante para o nosso País.

    Vários ministros – inclusive nossos colegas aqui, como Kátia Abreu, Blairo Maggi, que hoje ocupa o Ministério, Luiz Fernando Furlan, Pratini de Moraes, Francisco Turra, Roberto Rodrigues – trabalharam árdua e intensamente para que o Brasil conquistasse a posição que hoje detém no mercado internacional de carnes. E, de uma hora para outra, Senador Medeiros, como numa ladeira, um caminhão desgovernado chega e, sem freios, vai derrubando tudo por diante.

    Essa imagem pode significar bem a interrupção de um processo industrial numa cadeia produtiva de gado, de suínos, de frangos e aves, que não apenas envolve a carne, mas envolve, como eu disse ontem, o produtor de ração, o produtor de produtos veterinários, o produtor de produtos químicos, o produtor de toda a cadeia, o produtor de embalagens, o produtor de plásticos – é uma cadeia produtiva –, o transportador, o que vende combustível, o comércio da cidade, especialmente daqueles centros produtores onde a agroindústria – como lá, em Santa Catarina, em Chapecó, por exemplo, a capital da agroindústria – concentra enormes unidades produtoras e indústrias.

    Então, o que aconteceu com a operação foi exatamente isto: interrompeu-se um processo de produção. E, para retomar isso, há de se perguntar àquele criador de frangos: "E agora o que é que eu faço com os frangos? Continuo alimentando?" Ele vai perder dinheiro, e a carne brasileira está perdendo dinheiro por conta da Operação Carne Fraca.

    A operação deveria ter concentrado o seu foco na corrupção – na corrupção –, porque o próprio fiscal que fez a denúncia, e fez muito bem – ouvi a declaração dele no Fantástico –, o Sr. Daniel, declarou: "O problema é a corrupção, não é a qualidade da carne, que é ótima, é muito boa a carne brasileira." Acontece que nós ficamos olhando e falando, Senador Valadares, da qualidade da carne no Brasil. A maior parte da carne consumida é consumida aqui.

    Eu sou do Rio Grande do Sul, onde existe um crime que poucos sabem o nome: abigeato. Senador Valadares, talvez o senhor raramente tenha ouvido, mas o senhor é um intelectual e sabe, abigeato. Essa palavra é muito comum no meu Estado, mas, nos outros Estados, poucos sabem o que é abigeato. Abigeato é a expressão roubo de gado, é a expressão usada para qualificar o roubo de gado. E há muita gente desistindo da atividade pelo roubo de gado. Rouba-se, abate-se na própria estrada, às vezes, animais que foram contaminados, não se sabe de que jeito. É uma carne clandestina.

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Valadares. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) – E chama-se lá, em Sergipe, de matar boi na folhinha.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Matar boi...

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Valadares. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) – Na folhinha.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Na folhinha. Imagine só...

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Valadares. Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) – Embaixo da árvore.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Veja só. No abigeato, também embaixo da árvore se mata. Ainda há uma sombra, porque, lá no Nordeste, tem que ser com uma sombra, mas, lá no Rio Grande, vou lhe dizer...

    Isso é um problema sério. E essa carne de abate clandestino, que não tem fiscalização nenhuma, vai para o mercado. Em qualquer lugar, em qualquer cidade, aqui mesmo, em Brasília, nas barbas do poder, se for a feiras...

(Soa a campainha.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – ... vai ver lá pendurado o porquinho, vai ver pendurado lá o cordeiro, vai ver pendurada lá a galinha a ser vendida a céu aberto, Senador. É o costume e a cultura brasileira, e não se cuida disso.

    Nós estamos falando de um setor que emprega 7 milhões de brasileiros – 7 milhões de brasileiros – e que movimentou, em 2016, R$176 bilhões. São 392 frigoríficos credenciados.

    E, veja, este gráfico aqui pode ser muito claro para a nossa TV Senado, para as pessoas entenderem que a maior parte da produção fica aqui, no mercado interno, mas que é, na exportação de produtos manufaturados, de valor agregado, que se gera emprego...

(Soa a campainha.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – ... porque da soja não vai o grão, vai o farelo que alimenta o porco ou o frango. E o frango vai processado, industrializado em pedaços para a Europa, para a América Latina, para o Oriente Médio – no caso dos frangos, porque ele só importa frango –, com um regime de abate especial segundo o rito muçulmano. Tudo isso é observado no abate, nesses frigoríficos, que seguem para atender às exigências de um mercado internacional cada vez mais exigente e rigoroso.

    Nós temos que nos preocupar, Senador, também, primeiro, em focar o combate duro e feroz contra a corrupção, em separar esses maus fiscais, que se venderam por um prato de lentilhas e que contaminaram a categoria dos fiscais federais, que trabalham com honestidade, defendendo a qualidade da produção brasileira.

    Nós temos que cuidar do pequeno produtor de aves ou de suínos lá do interior do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul, do seu Sergipe, de Goiás, do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul, de qualquer lugar, que hoje está perguntando: "O que vou fazer com esses animais? Vou ter que continuar? A indústria vai parar? O que vai acontecer?"

(Interrupção do som.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – O preço já está caindo.

    Já estou terminando, Senador Valadares. (Fora do microfone.)

    O preço já está caindo no mercado internacional, e alguns mercados, como a União Europeia, fecharam as portas à produção brasileira, um mercado que foi conquistado a duras penas por ministros que se comprometeram a fazer o dever de casa.

    E hoje, ao ver as imagens em supermercados no Japão, Senador Valadares, vendo que não vai apenas aquele pacote com a carne identificada, frango desossado, perna de frango desossada, mas que está lá do lado – sabe o que, Senador? – a bandeira do Brasil... E nós que nos orgulhamos muito da Varig, que era nos céus do mundo, são as aves que vão, não voando, mas que vão nos transportes frigorificados, por contêineres especializados de alta qualidade, para esses mercados, levando a bandeira do Brasil, levando também uma produção de empregos e gerando...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – ... muitos impostos, (Fora do microfone.)

    impostos que pagam a escola, que pagam a saúde, que pagam a educação dos filhos desses pequenos agricultores, pequenos criadores de suínos, de aves, pequenos pecuaristas, médios pecuaristas, que fornecem a essas empresas. Temos que pensar nas pessoas e atingir com essa operação a corrupção e não aquilo que é precioso para o Brasil, que é a sua produção de qualidade no mercado de carnes.

    Espero que o prejuízo seja recuperado no mais curto espaço de tempo, mas isso ficará na memória, bem como o ensinamento para que nós não aceitemos a corrupção não só aqui, dentro desta Casa, mas em todas as relações que existem entre os agentes públicos, sejam os fiscais federais agropecuários, sejam os policiais federais da Polícia Federal, que tanto orgulham os brasileiros com essas operações de grande êxito, para tornar...

(Interrupção do som.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Fora do microfone.) – ... o Brasil melhor do que é.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/03/2017 - Página 13